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MÁRCIO FALCÃO
DE BRASÍLIA
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Em carta de renúncia ao mandato na Câmara entregue nesta quinta-feira (5), Valdemar Costa Neto (PR-SP) se colocou como vítima de déspotas poderosos, em referência ao Judiciário, e cobra do Congresso uma reação.
Valdemar entregou seu mandato minutos após o STF (Supremo Tribunal Federal) determinar a sua prisão pelos crimes cometidos no mensalão. Ele ainda não se apresentou à Polícia Federal. A carta de despedida do Congresso foi lida pelo deputado Luciano Castro (PR-RR).
Valdemar Costa Neto renuncia ao mandato
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No texto, Valdemar afirma que decidiu deixar a Câmara porque não "cogita impor ao parlamento a oportunidade de mais um constrangimento institucional".
Sérgio Lima/Folhapress | ||
Deputado Valdemar Costa Neto em entrevista ao programa Poder e Política |
Ele é o segundo deputado a perder o mandato devido ao escândalo --na terça (3), José Genoino (PT-SP) também abriu mão do mandato como forma de escapar da cassação.
Segundo ele, a saída exige uma resposta do Congresso. "Este gesto, não desobriga o Congresso do devido propósito que restaure a autoridade que lhe é conferida pela Constituição Federal. O Legislativo tem o dever de providências enérgicas, sobretudo quando sua autonomia é questionada por circunstancias de patrocínio inconfessável", escreveu.
"A restauração da força e da imagem do parlamento brasileiro reivindica coragem e espírito público. Coragem para enfrentar déspotas poderosos e seus aliados. Espírito público para não se deixar abalar pelos ataques que alimentam a ingenuidade dos que opinam sem conhecimento de causa", completou.
Valdemar reiterou que foi condenado por crimes que não cometeu. Ele afirma que o mensalão foi acerto de campanha por caixa dois. O STF, no entanto, o condenou a 7 anos e 2 meses de prisão por envolvimento num esquema de desvio de recursos públicos que abasteceu a compra de apoio político no começo do governo Lula.
"Certo de que pagarei pelas faltas que já reconheci, reitero que fui condenado por crimes que não cometi. Serenamente, passo a cumprir uma sentença de culpa, flagrantemente destituída do sagrado direito ao duplo grau de jurisdição".
Essa é a segunda vez que ele renuncia ao mandato por conta do mensalão. Em 2005, quando a Folha revelou o escândalo, Valdemar foi o primeiro parlamentar a deixar o Congresso. Era deputado federal pelo PL quando o caso do mensalão veio à tona.
APOSENTADORIA
Como aderiu à Previdência da Câmara antes de 1997, quando o IPC foi extinto, o parlamentar terá direito a aposentadoria mensal de R$ 16.773.
A Câmara ainda tem dúvidas sobre quem vai ocupar a vaga de Valdemar. O primeiro substituto é Helcio Antonio Silva (PT-SP) vice prefeito de Mauá (SP). Se ele recursar, assume Gustavo Petta (PCdoB-SP), ex-presidente da UNE.
Leia a íntegra da carta:
Senhor presidente,
Venho por meio desta comunicar à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados irrevogável decisão, relacionada ao exercício do meu mandato de deputado federal, delegado pela inexpugnável vontade popular, no curso das eleições de 2010.
Tomo a iniciativa desta carta, senhor presidente, orientado pelo respeito que devo ao Poder Legislativo brasileiro, enfraquecido por um vazio jurídico que impõe ao parlamentar a impossibilidade de dois julgamentos, garantidos a todos os brasileiros sem mandato eletivo.
Ainda que a Constituição garanta a este parlamentar o direito ao exercício do mandato até o fim de eventual processo de cassação na Câmara dos Deputados, não cogito impor ao parlamento a oportunidade de mais um constrangimento institucional.
Este gesto, entretanto, senhor presidente, não desobriga o Congresso Nacional do devido propósito que restaure a autoridade que lhe é conferida pela Constituição Federal. O Poder Legislativo tem o dever de providências enérgicas, sobretudo quando sua autonomia é questionada por circunstâncias de patrocínio inconfessável.
A restauração da força e da imagem do parlamento brasileiro, senhor presidente, reivindica coragem e espírito público. Coragem para enfrentar déspotas poderosos e seus aliados. Espírito público para não se deixar abalar pelos ataques que alimentam a ingenuidade dos que opinam sem conhecimento de causa.
Certo que pagarei pelas faltas que já reconheci, reitero que fui condenado por crimes que não cometi. Serenamente, passo a cumprir uma sentença de culpa, flagrantemente destituída do sagrado direito ao duplo grau de jurisdição.
Inspirado pelo respeito aos eleitores que me delegaram a representação que traz uma extensa folha de serviços prestados, renuncio ao meu mandato de deputado federal da República Federativa do Brasil.
Valdemar Costa Neto
Divulgação | ||
Carta de renúncia do deputado Valdemar Costa Neto, que teve o mandado de prisão emitido pelo STF |
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