quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Eleitor não é cliente





(*) Felipe Gini –
felipe_gini_02Desde o surgimento do conceito moderno de marketing em 1950, no pós-guerra, quando o foco era a oferta de produtos ou serviços de qualidade a baixo custo, houve uma evolução em que o foco mudou do produto para o atendimento das necessidades e expectativas dos clientes. Agora, o chamado marketing político busca um novo posicionamento, priorizando um profundo e íntimo relacionamento com o eleitor, em que ganham destaque a adjetivação de valores, o lirismo na missão do plano de governo e o falso compromisso real dos candidatos com o eleitor e a sua rede de relacionamentos.
Marketing é uma palavra em inglês originada em “market” que significa mercado, derivada do latim “mercare”, definição para o ato de comercializar produtos na antiga Roma. Já o marketing político é uma abominação ética. Enquanto tudo o que se produzia como candidato era eleito sem muitos sobressaltos, ou melhor, era comprado pelo eleitor, não havia necessidade de grande esforço para ludibriar cidadãos em prol de um plano de poder.
Em 1982, o marketing foi levado pela primeira vez às massas e, portanto, as pequenas e médias empresas, os profissionais liberais, autônomos e governantes aquém de Hitler e Stalin. Assim, o marketing passou a ser uma preocupação direta de todas as esferas da sociedade. E, infelizmente, passou a pautar as ações e reações dos políticos por todo o mundo. Acompanhando a “evolução” da sociedade, o marketing transformou-se em uma coisa bem mais complexa do que era anteriormente, assim como o próprio comportamento em sociedade tornou-se mais complexo. Mas a verdade é que grande parte dos cidadãos continua sem entender direito essa nova face do marketing político que se apresenta.
Partidos que buscam o sucesso começam a entender e adaptar-se a esta nova realidade, a fim de se posicionarem adequadamente no mercado de eleitores. Não basta apenas ter uma boa equipe de profissionais e atender às expectativas de seus clientes votantes; o partido da era do marketing 3.0 já desenvolve um profundo relacionamento com o mercado votante para construir uma ideologia sustentável a longo prazo, no intuito de tornar seu plano de governo uma convicção pessoal de seu eleitorado.
Essa é uma guerra de semiótica, publicidade subliminar e construção de narrativas imagéticas, e não basta ao partido oferecer projetos e políticos de qualidade, como também não basta conhecer o seu eleitor-alvo e adaptar o discurso para atender às necessidades e expectativas deste eleitor. É preciso ir além e construir uma base de credibilidade junto a este seu eleitor e seu grupo de relacionamento, com publicações, institutos ou cursos doutrinatórios; é preciso utilizar as novas tecnologias, a internet, as redes sociais, dispositivos móveis como os iPods, Smartphones, e até uma forma eficiente de e-commerce, como forma de se integrar de maneira íntima e profunda à cultura das novas gerações, influenciando continuamente e construindo seus projetos de governo com a ajuda do eleitorado pelas suas redes sociais.
Tendências como abaixo-assinados através de sites e o intercambio de informação entre militantes virtuais, bem como a capilarização de seus valores e sua missão na sociedade, ganham importância nesse novo cenário. Neste sentido, o marketing político transforma o administrador público em marca forte não apenas em termos da qualidade dos projetos ou da ética, mas em termos dos objetivos maiores do partido, o qual precisa ter um forte compromisso com a sustentabilidade do plano de poder do mesmo e uma excelente relação com todos os afiliados, ou seja, com os eleitores, colaboradores, funcionários, fornecedores, sócios e o mercado político em geral.
Vocês enxergam a mesma abominação ética que eu? A implementação da teoria do marketing na comunicação de propaganda política é o que tem feito a maioria dos problemas relacionados a reeleição de nomes evidenciados como inaptos ou promíscuos, bem como o desvirtuamento do voto consciente. Voto não pode ser decisão de compra, partidos não podem ser empresas, candidatos não devem ser produtos, planos de governo não são marketing mix e principalmente eleitores não são consumidores.
(*) Felipe Gini odeia escrever na terceira pessoa, é formado em Marketing, pós-graduado em Administração, mestre em Publicidade e cursa pós-graduação em Ciência Política. Quando pequeno sonhava em ser presidente, mas hoje acha que não tem conhecimento suficiente para tal, se contentando com algum cargo executivo em uma localidade de até 50 mil habitantes para implementar sua tese de mestrado que está em construção – “Anarquia: sistema político para cidades com menos de 50 mil habitantes”.

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