terça-feira, 10 de dezembro de 2013

UM CARRO OU UMA NAVE? ANÁLISE: ACELERAMOS O INSANO 918 SPYDER





2,6 segundos. Esse é o tempo necessário para o esportivo chegar a 100 km/h com seus 887 cv. Uma fera incrivelmente fácil de domar

por LEANDRO ALVARES, DE VALÊNCIA (ESPANHA)
 
 
10/12/2013 12h43 - atualizado às 20h09 em 10/12/2013
Porsche 918 Spyder (Foto: Divulgação)
Se dinheiro não traz felicidade, então esqueceram de avisar os designers e engenheiros da Porsche responsáveis pela construção, a partir de uma folha de papel em branco, do impressionante 918 Spyder. Só de olhar para esse superesportivo híbrido, qualquer um passa a exibir um gigantesco sorriso no rosto. Imagine então após acelerá-lo em uma pista de corrida como a de Valência, na Espanha? A alegria se transforma em uma gargalhada espantosa, graças às várias constatações positivas a bordo do alemão monstruoso, dócil e apaixonante.
Tente não se espantar com isso: um carro equipado com três motores, sendo dois elétricos que podem ser recarregados na tomada de casa e um a gasolina, que totalizam absurdos 887 cv. E o que dizer do torque máximo de 130,5 kgfm (quase a força de dois BMW M5)? São números capazes de fazer até um Mark Webber da vida, ex-piloto de Fórmula 1 contratado para ser o piloto da Porsche no Mundial de Endurance, ter o mínimo de respeito na hora de acelerar a máquina.
Porsche 918 Spyder (Foto: Divulgação)
Mas ao contrário de outros esportivos bem menos potentes e de condução arisca, o 918 Spyder seduz pela facilidade de pilotagem. E posso dizer que não fui delicado durante as seis voltas pelos sinuosos 4.005 metros do autódromo Ricardo Tormo. Acelerei forte, atingindo 285 km/h na reta dos boxes, e ataquei com vontade trechos como a fechada Curva 2 e a de alta Curva 13, que antecede a reta principal. Em cada um dos cinco modos de condução oferecidos pelo roadster, o comportamento da carroceria foi preciso, sem necessidade de contraesterço do volante de direção elétrica e reações muito diretas.
Ao longo das voltas, foi possível avaliar os cinco tipos de “sabores” do novo Porsche, selecionados por meio de um botão giratório posicionado do lado direito do volante. Entrei no carro e me acomodei no banco tipo concha - não muito confortável, com regulagem manual de distância e elétrica para altura do assento. Ajustei também a altura do volante (não há como alterar a profundidade) e virei a chave de partida. Um indicativo “ready” surgiu no painel, dando a senha para engatar a posição D na minúscula alavanca de câmbio. Então, saí com o carro sem emitir qualquer barulho, movido apenas pelos motores elétricos.
Porsche 918 Spyder (Foto: Divulgação)
Tanto o propulsor elétrico dianteiro de 129 cv quanto o traseiro de 168 cv são alimentados por baterias de íons de lítio. Eles permitem que o 918 Spyder acelere até 150 km/h sem a intervenção do motor central-traseiro 4.6 V8, de 608 cv. Emitindo um som parecido com o de uma nave, o Porsche consegue percorrer 30 km nesse modo e fazer de 0 a 100 km/h em pouco mais de seis segundos.
Porsche 918 Spyder (Foto: Divulgação)
Na segunda volta, altero o seletor para Hybrid. Nele, os três motores trabalham alternadamente, com foco na eficiência do consumo. Uma pisada mais vigorosa no acelerador faz o propulsor V8 despertar e espalhar seu rugido pela pequena cabine, já que as saídas de escapamento ficam acima do motor, praticamente na orelha do motorista.
Ao abrir a terceira passagem, troquei para o modo Sport. Nele, o motor a gasolina passa a ser a força motriz principal, e os elétricos passam a auxiliá-lo como uma espécie de turbo. O Porsche começou a gritar mais forte, mas sem perder os traços de docilidade. Na quarta volta, mudei para a posição "race" e passei a gargalhar ainda mais. Nesse modo, a asa traseira retrátil se levanta, o motor a gasolina passa a ser exigido em carga máxima e os elétricos atuam com três quartos de sua potência extrema. Além disso, o câmbio PDK automatizado de dupla embreagem e sete marchas opera de maneira mais esportiva, efetuando trocas na faixa das 9.150 rpm. Um absurdo!
Porsche 918 Spyder (Foto: Divulgação)
Mas quem disse que acabou? No modo "race", é possível apertar o botão vermelho que fica no centro do seletor. É o quinto e último tipo de condução oferecida, a "hot lap". Isso mesmo, um programa para você fazer a pole position. Com ele, o 918 Spyder trabalha no limite máximo de potência da trinca de motores. Sangue nos olhos e reações alucinantes, capazes de fazer o superesportivo ir a 100 km/h em apenas 2,6 s. De 0 a 200 km/h, são necessários somente 7,2 s, ou 19,9 s para ir de 0 a 300 km/h.
Tão impressionante quanto o poder de aceleração do 918 Spyder é o sistema híbrido de frenagem. Além dos enormes discos de freios e pinças de cerâmica, o modelo utiliza os motores elétricos para iniciar o processo de segurar a carroceria. No modo 100% elétrico, a sensação ao pisar no pedal da esquerda é um pouco estranha. O freio parece mais sensível, mas bastam alguns metros para se acostumar. Em altas velocidades, é possível montar sem dó no freio que o controle do carro se dá de maneira precisa, sem qualquer rebolada da traseira. Contribui para essa estabilidade a distribuição de peso (43% no eixo dianteiro e 57% no traseiro), a tração nas quatro rodas, o baixo centro de gravidade e as suspensões independentes semelhantes às de modelos de corrida.
Porsche 918 Spyder (Foto: Divulgação)
Para garantir o máximo de desempenho e segurança, a Porsche abusou no uso de materiais nobres. Desde o monocoque de fibra de carbono até as rodas de magnésio, tudo para resultar em 41 kg a menos no peso final do modelo, que é de 1.674 kg.
Fora da pista, em um passeio pelas ruas de Valência, pude admirar e compreender melhor os comandos do painel e constatar alguns pontos negativos do 918 Spyder. Entrar e sair da cabine, por exemplo, é algo complicado, e os retrovisores estreitos dificultam a visão. O conforto para o passageiro não é dos maiores, por causa da posição totalmente vertical do banco. Mas acredito que qualquer um faça um esforço para ter a chance de dar uma voltinha nessa máquina.
Porsche 918 Spyder (Foto: Divulgação)
Na cabine, o console flutuante tem tela sensível ao toque semelhantes às de celulares de última geração. Os comandos são muito intuitivos, e a mistura de alta tecnologia com velocidade atiça ainda mais o desejo de acelerar o belíssimo Porsche.
Os alemães acertaram tão em cheio nesse superesportivo que chega a ser difícil imaginar o que virá de evolução na próxima geração. A atual terá apenas 918 unidades, três delas destinadas ao mercado brasileiro 0 chegarão por volta de março, com preços acima de R$ 3 milhões. Sem dúvida, o 918 Spyder é um carro à frente de seu tempo e vai dar muito trabalho para rivais como LaFerrari e McLaren P1.
Viagem a convite da Porsche

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