Levado a deixar o cargo após episódio com Bolívia, chanceler é substituído por atual representante do Brasil nas Nações Unidas, Luiz Alberto Figueiredo Machado, e passará a ocupar posto em Nova York
26 de agosto de 2013 | 20h 10
Tânia Monteiro e Lisandra Paraguassu - O Estado de S. Paulo
Desgastado com a fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina, que provocou uma crise diplomática entre o Brasil e o governo de Evo Morales, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, foi levado a pedir demissão nesta segunda-feira, dia 26. Em seu lugar, foi imediatamente designado o embaixador do Brasil nas Nações Unidas, Luiz Alberto Figueiredo Machado.
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A queda do chanceler tornou-se inevitável após a irritação no Palácio do Planalto com a fuga do senador boliviano de oposição, organizada pelo encarregado de negócios do Brasil em La Paz, Eduardo Saboia. Diante do que qualificou de "gravíssimo episódio", a presidente Dilma Rousseff decidiu imediatamente afastar o chanceler, tentando demonstrar ao próprio Evo sua indignação com o ocorrido.
Dilma indicou Patriota, diplomata de carreira, para o lugar de Figueiredo, na sede em Nova York das Nações Unidas. Saboia, por sua vez, será submetido a um processo administrativo e deverá ser "severamente" punido, segundo fontes do Palácio, pelo que a presidente Dilma está chamando de "grave quebra de hierarquia". A saída de Patriota, com quem Dilma já se desgastara, precipita a reforma ministerial programada para o fim do ano.
Dilma já havia conversado com Patriota e determinado que ele cancelasse sua viagem à Finlândia e permanecesse no Brasil para resolver o problema. A presidente estava "inconformada" com o episódio e com a quebra de hierarquia e queria saber exatamente quem estava a par da operação idealizada por Saboia.
Por isso, convocou no início da tarde desta segunda-feira ao Planalto os ministros da Defesa, Celso Amorim – a quem estavam subordinados os fuzileiros que fizeram a segurança do senador boliviano e às Forças Armadas –, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, responsável pela Polícia Federal. Queria saber se eles tinham conhecimento da operação realizada em La Paz.
Recados. O senador boliviano conseguiu escapar de seu país após cruzar de carro de La Paz até Corumbá. Ele viajou em um automóvel da missão diplomática brasileira, escoltado por fuzileiros navais. Ao cruzar a fronteira, tomou um avião até Brasília.
O Brasil havia concedido asilo diplomático a Pinto, mas o governo Evo recusava-se a conceder um salvo conduto para que ele deixasse a Bolívia. Com o impasse, o congressista passou mais de 450 dias em um quarto da embaixada.
A conversa entre Dilma e Patriota foi rápida, no Palácio do Planalto. A irritação da presidente era maior porque a quebra da hierarquia de Saboia não se resumia à operação da madrugada de domingo. A Presidência havia explicitamente desautorizado uma "operação resgate" do senador boliviano, sem o salvo-conduto do governo Evo.
Enquanto Dilma falava com Patriota no Planalto, em rápida audiência, Saboia estava sendo ouvido pela Secretaria-Geral do Ministério das Relações Exteriores, dando as suas explicações para o inquérito administrativo aberto contra ele. O diplomata poderá acabar exonerado do cargo.
A posse do novo ministro deverá ocorrer na quarta-feira – ele desembarca no Brasil nesta terça. Dilma distribuiu nota oficial informando que "aceitou" o pedido de demissão de Patriota e agradecendo a sua "dedicação e empenho nos mais de dois anos que permaneceu no cargo" e anunciou sua indicação para a Missão do Brasil na ONU.
Figueiredo já acompanha a presidente Dilma na próxima sexta-feira na reunião da Unasul, em Paramaribo. Dilma não telefonou para Evo Morales e deve encontrá-lo apenas na reunião da Unasul. A Bolívia protestou ontem contra a fuga do opositor.
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