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DE SÃO PAULO
O diplomata brasileiro Eduardo Saboia, encarregado de negócios em La Paz (espécie de embaixador interino), disse em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, que partiu dele a decisão de trazer o senador opositor boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil no último sábado (24).
"Tomei a decisão de conduzir essa operação pois havia risco iminente à vida e à dignidade de uma pessoa", disse Saboia.
O diplomata afirmou que houve um pedido do Itamaraty para que ele não desse entrevistas sobre o assunto, mas que resolveu falar após o seu nome ser citado em uma nota do órgão.
O Ministério das Relações Exteriores disse que abrirá inquérito para investigar a saída de Pinto de La Paz e a sua entrada no território brasileiro. Saboia foi convocado por telefone e é esperado nesta segunda em Brasília para prestar esclarecimentos.
Segundo o diplomata, havia uma violação constante de direitos humanos porque não havia uma negociação em curso para a saída do senador da embaixada. "Havia um problema de depressão. Ele começou a falar em suicídio", disse, explicando que Molina ficou em um "cubículo" perto da sua sala por mais de 400 dias. "Havia um risco para as pessoas que trabalhavam na embaixada".
"Eu me sentia como se eu tivesse um DOI-CODI ao lado da minha sala de trabalho. É um confinamento prolongado sem o verdadeiro empenho para solucionar."
Saboia afirmou que por duas vezes esteve em Brasília relatando que a situação era "ruim" --inclusive, pedindo para deixar o posto. "Não [iria] compactuar com uma situação [como essa] que atenta à dignidade e também à honra do meu país", afirmou.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
EXPLICAÇÕES
O governo da Bolívia pediu explicações no domingo ao Brasil sobre a saída de Roger Pinto do país.
"Estamos pedindo informações oficiais, tanto ao governo do Brasil como a outras autoridades locais, sobre como se produziu a fuga de Pinto", disse a ministra boliviana da Comunicação, Amanda Dávila. Ela afirmou que a Bolívia "não negociou a saída" do senador e não concedeu o salvo-conduto para que ele fosse ao Brasil, pois o parlamentar enfrenta processos por corrupção e inclusive foi condenado a um ano de prisão em um dos casos.
Apesar da confusão diplomática criada pela saída do senador ao Brasil, o governo em La Paz diz que as relações entre os dois países não serão afetadas.
"Esse caso não afeta as relações com o Brasil. As relações entre Bolívia e Brasil continuam numa situação de absoluta cordialidade e respeito", disse a ministra Dávila. Segundo ela, "o governo boliviano e o presidente Evo Morales sempre expressaram, e o continuam fazendo, todo seu afeto e respeito pela presidente [Dilma] Rouseff, e pelo governo brasileiro".
O ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, argumentou que "não há uma ruptura nas relações bilaterais". O dirigente disse que não acredita nessa possibilidade pois em casos em que políticos bolivianos fugiram para o Paraguai e os Estados Unidos não houve uma crise diplomática.
"Com o Brasil temos que ser muito prudentes. O que é Roger Pinto no meio de uma dinâmica comercial de US$ 2 bilhões ou US$ 3 bilhões? O que é Roger Pinto? Um suspiro no ar. Não se deve dar mais voo do que tem", afirmou.
Editoria de Arte/Folhapress |
A VIAGEM
O senador boliviano deixou a embaixada em um veículo oficial brasileiro escoltado por soldados, segundo o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado brasileiro, Ricardo Ferraço (PMDB-ES).
A viagem de La Paz até Corumbá (MS) teria durado 22 horas. De lá, Molina pegou um avião particular até Brasília.
O governo boliviano sempre se negou a conceder o salvo-conduto necessário para que Molina pudesse deixar vir ao Brasil, com o argumento de que ele não é um perseguido político, mas um acusado de corrupção.
O CASO
O parlamentar recebeu asilo do Brasil em junho do ano passado com o argumento de que é perseguido pelo governo Evo Morales --alegava sofrer ameaças de morte.
Mas ele não podia deixar a embaixada por falta de salvo-conduto da Bolívia --permissão necessária para que o asilado deixasse o país em segurança.
Em junho, o político recebeu sentença de um ano de prisão após ser acusado de causar danos econômicos ao Estado.
Segundo a acusação, enquanto era diretor da Zona Franca de Cobija, em 2000, Pinto teria desviado cerca de R$ 3,5 milhões para a Universidade Amazônica de Pando.
O senador nega que tenha havido desvio e defende que o dinheiro foi aplicado na universidade.
Foi a primeira sentença contra o oposicionista, que enfrenta mais de 20 processos no país.
O político e seu partido, o Convergência Nacional, argumentavam que os processos eram arranjados e que ele não tinha acesso a um julgamento imparcial
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