terça-feira, 20 de agosto de 2013

Gritaria por causa de prisão de marido brasileiro de jornalista americano é muito barulho por nada. A Scotland Yard cumpriu o seu dever. Fico mais tranquilo



O brasileiro David Miranda, marido do jornalista americano Glenn Greenwald, que é correspondente do jornal britânico Guardian e que mora no Brasil, foi retido pela Scotland Yard no Aeroporto de Heathrow, em Londres, neste domingo. A decisão foi tomada com base na Lei de Combate ao Terrorismo, aprovada no Reino Unido em 2000. Ela permite que as autoridades detenham um suspeito para interrogatório por até nove horas. Miranda ficou em poder das autoridades por oito horas e 55 minutos. Uma quase precisão… britânica! Já se faz por aí um barulho dos diabos. Muito barulho por nada!
Vi primeiro a notícia no Fantástico, anunciada em tom de escândalo, como se Miranda tivesse sido vítima de uma arbitrariedade, da ação discricionária de algum estado ditatorial. Lá vou eu. É chato dizer, contraria as teses politicamente corretas e bate de frente com antiamericanismo rombudo que até parte da grande imprensa resolveu assumir, nesta fase em que pretende ser mais “moderninha” do que as redes sociais, mas o fato é que a polícia britânica seguiu a lei, cumpriu o seu papel e demonstrou estar atenta. Fico mais tranquilo que assim seja. Ou então vejamos.
Eu mesmo, acompanhando a narrativa do Fantástico, de início, pensei: “Pô, que absurdo! Prenderam o cara só porque é marido do jornalista que divulgou os documentos de Edward Snowden, o vira-casaca americano”… Mas constatei, em seguida, que não era bem assim. O que Miranda foi fazer na Europa? Ele voltava da Alemanha. Havia passado uma semana em companhia da documentarista Laura Poitras, que estava em Hong Kong com Glenn Grenwald quando Snowden forneceu ao jornalista as “provas” da espionagem que os EUA estriam fazendo mundo afora. Segundo o próprio Greenwald, a viagem do marido foi financiado pelo Guardian. Ele havia levado documentos sobre o caso para Laura avaliar e trazia outros vazados por Snowden, que estavam, informou, em arquivo protegido por senha.
Então deixem-me ver se entendi direito. Snowden é um traidor, que trabalhava no serviço de inteligência dos EUA e decidiu passar adiante informações a que só teve acesso em razão da sua condição. No momento, goza de um refúgio temporário de um ano na Rússia, aquela democracia exemplar… E tem convite para se estabelecer em outras ainda mais edificantes, como Venezuela, Bolívia, Nicarágua… Felizmente, para o bem geral do… mundo, os serviços secretos britânico e americano trocam informações. É uma boa notícia saber que essa comunicação funciona. Greenwald, certamente, já é um sujeito visado. Afinal, ele se tornou o divulgador das informações surrupiadas por Snowden (a propósito: este rapaz vive de quê? De luz?). Houve por bem, então, usar o marido para o, digamos, tráfego de documentos do Brasil para a Alemanha e da Alemanha para o Brasil, contendo, sabemos agora, novos vazamentos.
Qual é o motivo do espanto? “Ah, a policia aprendeu telefone, computador, câmera, cartões de memória, DVDs e até jogos eletrônicos que estavam com David.” Bem, dada a natureza da questão, é o mínimo que se espera, não é mesmo? Snowden é um criminoso, ora. O jornalista americano tem o direito de publicar o que bem entender — e conseguir — do que está em poder daquele rapaz. Mas não deve esperar que os serviços de inteligência dos EUA ou do Reino Unido colaborem. Se puderem evitar que um traidor desse quilate seja bem-sucedido, fará isso.
A gritaria é a escandalização do nada. Já disse o que penso sobre Snowden e também sobre algumas opiniões de Greenwald — embora americano, é de um antiamericanismo delirante. Escreveu, por exemplo, um texto asqueroso sobre o atentado de Boston, praticamente justificando o ocorrido — a rigor, sua cantilena justifica qualquer terror. Em recente depoimento no Senado brasileiro, pintou os EUA como um grande satã, que estaria menos interessado em combater o terror do que em cuidar de seus interesses. Ao Fantástico, o jornalista americano acusou o que seria um ato de intimidação.
O Itamaraty se manifestou em nota: “Trata-se de medida injustificável por envolver indivíduo contra quem não pesam quaisquer acusações que possam legitimar o uso de referida legislação”. Por que não? Snowden tornou público justamente o sistema destinado ao combate ao terror. Parte do material, como é sabido, estava sendo transportando pelo marido de Greenwald.
Para encerrar: só não vale acusar a polícia britânica de racismo e homofobia, né? O governo que Snowden atingiu em cheio é o do negro Barack Obama. E o país que deu abrigo ao amigão de Greenwald, a Rússia, é aquele onde proselitismo gay rende cadeia… Para fechar: não há lei que impeça o jornalista de divulgar informações repassadas por um traidor. Mas não vejo por que ele deva ficar bravo de a Scotland Yard não colaborar com ele. Só faltava isso.
Ah, sim: no Brasil, que não tem uma lei de combate ao terrorismo, a coisa seria diferente. Tanto é assim que, em Banânia já libertou terrorista de verdade. Mas fica para outro post.
Por Reinaldo Azevedo
18/08/2013
 às 14:08

Relatório que compromete PT e Lewandowski será analisado por Cármen Lúcia

Por Rodrigo Rangel, na VEJA desta semana:
A ministra Cármen Lúcia, há sete anos no Supremo Tribunal Federal (STF), é conhecida por não se envolver nas ruidosas contendas que com frequência fazem pesar o ambiente na mais alta corte do país. Mineira, ela corre de confusão. Na quinta-feira da semana passada, por exemplo, enquanto seus colegas Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski discutiam com dedo em riste ao final de mais uma sessão destinada a julgar os recursos dos mensaleiros, a ministra apressou-se em sair da sala contígua ao plenário onde o bate-boca se desenrolava. Agora, como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia está diante de um dilema que porá à prova seu hábito de evitar divididas. Na semana passada, VEJA revelou que o TSE sumiu com pareceres técnicos que sugeriam a reprovação das contas do PT no período do mensalão e da campanha da presidente Dilma Rousseff – e que o desaparecimento de tais documentos ocorreu por interferência direta de Lewandowski, então presidente do tribunal. A pressão exercida pelo ministro consta do relatório final de uma sindicância realizada pelo próprio TSE cujo resultado está nas mãos de Cármen Lúcia. Caberá a ela decidir o que fazer diante da revelação: adotar providências para passar o episódio a limpo ou deixar que o caso fique como um estranho mal-entendido. 
Para ler a continuação dessa reportagem compre a edição desta semana de VEJA no IBA, no tablet ou nas bancas.
Por Reinaldo Azevedo
18/08/2013
 às 4:05

Mais estelionato eleitoral – Haddad corta policiais da Operação Delegada, e São Paulo vira um camelódromo. É o que faz. Vamos ver qual era a sua promessa, gravada em vídeo

Escrevi nesta sexta dois textos (aqui e aqui) sobre o desempenho do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Sim, é um tema que interessa mais de perto aos paulistanos, mas tem alcance geral porque Haddad é um candidato que Lula tirou do bolso do colete, foi inventado por ele e fabricado por João Santana. No oitavo mês de gestão, o prefeito parece empenhado em desdizer cada linha do que anunciou na campanha. Os textos cujos links vão acima explicam essa minha afirmação. Na decisão mais escandalosamente estelionatária, o prefeito mandou anunciar que o tal “Arco do Futuro”, principal proposta do então candidato, não sairá do papel. Mas a coisa não para por aí, não.
Leiam trecho do que informa Arthur Rodrigues no Estadão. Volto em seguida:
*
O número de policiais militares contratados pela Operação Delegada da Prefeitura de São Paulo caiu pela metade desde o início da gestão Fernando Haddad (PT). Vitrine do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) e promessa de continuidade na campanha do petista, o projeto foi desidratado no primeiro semestre e seu contingente teve redução de 3.439 para 1.853 PMs. Com menos policiais na fiscalização, ambulantes tomam as ruas e comerciantes cobram a volta do efetivo.
Criada em 2009, a operação virou uma franquia que já chegou a 17 cidades do Estado e está em processo de implementação em outras 40. Na capital, porém, a relação entre Haddad e o comandante-geral da PM, Benedito Roberto Meira, sempre foi tensa. O petista não queria o foco no combate aos camelôs e tentou fazer com que os PMs trabalhassem à noite na periferia, sem sucesso.
“A (Operação) Delegada caminha para acabar”, diz o vereador coronel Alvaro Camilo (PSD), que instalou o programa quando era comandante-geral da PM. Segundo ele, com a redução do efetivo, os policiais não dão conta de fiscalizar o comércio de rua na cidade. O Estado percorreu vias do centro e constatou grande número de ambulantes mesmo onde ainda há policiais da operação, como nas Ruas 25 de Março, José Paulino e Santa Ifigênia. “Cuidava de um quarteirão. Agora, tenho de cuidar de três. Vira um jogo de gato e rato”, diz um PM na Santa Ifigênia.
Na região da Avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona sul, a retirada de 50 dos 67 PMs da operação causou mobilização da associação de moradores Ame Jardins. “Aumentaram as ocorrências de furto e roubo e teve um caso de saidinha de banco”, diz João Moradei Junior, diretor da entidade. O grupo cobrou da Prefeitura e os PMs voltaram às ruas da região.
(…)
“A população reclamou muito da violência dos policiais. A Operação Delegada não era uma meta nossa de campanha e não é prioridade do governo. Segurança é uma questão de Estado e que o Município contribui na medida do possível”, disse a secretária municipal de Planejamento, Leda Paulani.
(…)
Voltei
Entre demonizar a Polícia Militar e entregar a cidade aos camelôs, Fernando Haddad, o gênio da raça, optou pelas duas coisas. E que se note: o combate ao comércio ilegal também é atribuição da Guarda Metropolitana. Mas sabem como é… Existe amor em São Paulo na gestão petista, não é mesmo? Haddad preferiu aumentar o contingente de guardas municipais nos parques em que os endinheirados fazem ginástica. Um homem do povo, enfim!
Prestem atenção à fala da secretária. Afirma que a Operação Delegada não era uma meta e tenta jogar o abacaxi nas mãos do Estado. Pois bem, também nesse caso, há o que dizia o candidato e o que faz o prefeito. 

Voltei
Ele não só diz que vai manter como propõe aumentar o “escopo”, pondo policiais para fazer a segurança de equipamento de saúde — tarefa também da Prefeitura. Poder-se-ia dizer: “Há menos PMs combatendo camelôs porque estão cuidando de postos de saúde!”. Errado! Não estão. O prefeito cortou o número de policiais da operação, reduzindo-a a pouco mais da metade. Entre não combater os camelôs e não oferecer segurança aos postos municipais de atendimento à saúde, o “novo homem” escolheu as duas coisas. Eis aí mais uma clara manifestação do estelionato eleitoral.
Por Reinaldo Azevedo
18/08/2013
 às 4:03

Fora do Eixo deixa um rastro de calotes na cidade em que nasceu

A essa altura, um mistério precisa ser decifrado: qual será o segredo de Pablo Capilé, o chefão do Fora do Eixo? Terá ele o dom da abdução? Por que tantos caem na sua lábia, inclusive no comércio, um ramo em que certa desconfiança é parte do jogo? Não sei. Diziam-me, antes que eu o tivesse visto, que era uma pessoa articulada, fluente, culta… Vi algumas de suas performances. Não! O que se pode dizer com certeza é que a ignorância raramente foi tão arrogante. Mas, de algum modo, seduz. Uma reportagem da Folha deste domingo informa o rastro de calotes que o grupo deixou em Cuiabá, onde tudo começou. Transcrevo trechos do texto de Rodrigo Vargas. Volto depois.
*
O pacote de notas multicoloridas, semelhantes às de jogos de tabuleiro, enche uma gaveta no caixa do restaurante de José Ignácio Lima, no centro de Cuiabá. O que os papéis representam, porém, está longe de ser brincadeira. “São R$ 21 mil, ou quase 2.000 refeições, que tento receber há três anos, sem sucesso”, diz Lima. As notas, de 1, 5, 10 e 50, são Cubo Cards, “moeda alternativa” lançada em 2003 pelo Espaço Cubo, grupo cultural mato-grossense que foi o embrião do grupo Fora do Eixo, hoje sediado em São Paulo e com braços pelo país. (…) “O acordo era que, se aceitasse os Cards como pagamento, eu trocaria parte em dinheiro e receberia parte em propaganda. Fiquei com este monte de papel”, diz Lima.
Trato semelhante foi feito com a rede de papelarias de Zerrer Salim, outro “colecionador” involuntário de Cubo Cards. Com R$ 22 mil a receber, ele conta que fechou um acordo com o Fora do Eixo e aceitou um longo parcelamento. “Não adiantou. Recebi apenas R$ 2.000 neste ano.” O rastro de calotes inclui artistas, donos de estúdios musicais e ao menos três hotéis. Um deles acionou na Justiça o líder do grupo, Pablo Capilé, e obteve sentença favorável, ainda não executada.
(…)
Voltei
O Fora do Eixo vive basicamente de dinheiro público — de estatais ou via leis de incentivo, que implicam renúncia fiscal. Seus métodos começam a sair do bueiro. É espantoso! Assim como Pablo Capilé não nega que o grupo usasse bens de seus internos (cartão de crédito e carro, por exemplo), Lenice Lenza, outra representante da turma — que parece ser o braço direito do líder da seita —, admite que as dívidas existem. Entendo. O Fora do Eixo se diz “coletivista”. Os valentes não viram mal nenhum em, como posso dizer?, socializar hotéis, papelaria, artistas…
Fiquemos de olho: a partir de agora, os que financiarem esses caras se tornam corresponsáveis por seus métodos.
Por Reinaldo Azevedo
17/08/2013
 às 4:43

LEIAM ABAIXO

— Estelionato eleitoral – Bastaram oito meses para que a realidade sepultasse as fantasias com que a campanha de Haddad enganou os paulistanos. Estamos diante de um dos maiores vexames políticos a que a cidade assistiu. E Lula já prepara um outro Haddad, agora para o Estado inteiro!;
— Haddad, o prefeito fora do eixo, anuncia que não fará o “Arco do Futuro” porque não há dinheiro. Não me digam! Sim, existe estelionato eleitoral em São Paulo!;
— Carta Capital X Fora do Eixo 3 – A estupefaciente entrevista do Fora do Eixo. Ele explica como e por que se apropria dos bens de seus “internos”;
— Fora do Eixo X Carta Capital 2 – Revista omite que um dos autores do texto é um ex-Fora do Eixo; jornalistas que o criticam por isso omitem que são “atuais Fora do Eixo”;
— Fora do Eixo X Carta Capital 1 – Reportagem da revista demole a casa de Capilé e choca alguns ditos “progressistas”;
— Súmula do Supremo é de emprego obrigatório, a menos que seja antes derrubada. Ou: Pressuposto para integrar o STF, ou qualquer órgão público, é a vergonha na cara;
— Lewandowski prepara terreno para tentar beneficiar trio mensaleiro do PT;
— Os mortos do Egito sem direito nem mesmo à notícia. Ou: Islamofilia da imprensa ocidental esconde os cadáveres dos cristãos;
— Lewandowski e Barbosa quase saem no tapa por causa de um bispo… Imaginem quando chegar a hora do recurso de Dirceu, o “papa”… Ou: De um lado, chicana, sim; do outro, destempero;
— Saca? É Capilé recorrendo à “mídia tradicional” para tentar se explicar, saca? Mas ele não explicou nada, sacou? E disse por que não paga cachê. A lógica me pareceu pré-capitalista. Mas com dinheiro da Petrobras e do Banco do Brasil! Saca? Saca!!!;
— Governo de SP entrega à Justiça pedido de indenização contra a Siemens;
— Senador cobra explicações sobre verbas da Petrobras e do Banco do Brasil repassadas ao “Fora do Eixo”, de Capilé;
— Além de reter cachê de artistas, Capilé dá calote em hotel;
— Um dia depois de declarações infelizes, novo ministro do STF tenta se redimir. Embargos infringentes dirão se é Dr. Jekyll ou Mr. Hyde;
— O nosso blog na página de Juan Arias, do “El País”;
— Coitado do Rio de Janeiro! Tão perto do Cristo, tão longe de Deus!;
— Lobão acerta os orelhudos vermelhos;
— A OAB no Rio envergonha e enxovalha o estado de direito; virou babá de mascarados que espalham o terror na cidade
Por Reinaldo Azevedo
17/08/2013
 às 4:15

Estelionato eleitoral – Bastaram oito meses para que a realidade sepultasse as fantasias com que a campanha de Haddad enganou os paulistanos. Estamos diante de um dos maiores vexames políticos a que a cidade assistiu. E Lula já prepara um outro Haddad, agora para o Estado inteiro!

O tema é, sei disto, do particular interesse dos leitores — e eleitores — paulistanos, mas tem, como vocês verão, um alcance geral. Fernando Haddad, ex-ministro da Educação, foi feito candidato à Prefeitura da maior cidade do país por vontade de Luiz Inácio Apedeuta da Silva. O chefão petista apostava numa cara nova — “o homem novo para um novo tempo” — que não tivesse o passivo de rejeição acumulado por nomes como Marta Suplicy e Aloizio Mercante. A “intelligentsia” petista, saibam, não gosta nem da cidade nem do Estado de São Paulo. Esses gênios os consideram reacionários. Haddad foi escolhido candidato porque Lula acha que ele “não tem jeito de petista” — ou por outra: o chefão decidiu enganar a classe média que a Marilena Chaui tanto detesta… O comando partidário também concluiu que seria preciso apresentar alguma coisa inusitada para o grande público. Foi assim que surgiu o tal “Arco do Futuro”. Haddad prometia uma verdadeira revolução na cidade, criando um novo corredor de desenvolvimento, que supunha investimentos pesados em infraestrutura, transporte, urbanismo etc. Acabou. No oitavo mês de sua gestão, o prefeito confessa que a sua campanha era escandalosamente mentirosa. Não tem mais Arco do Futuro coisa nenhuma!
Para disputar o governo do Estado em 2014, Lula inventou outro Haddad, outro “homem novo”: o ainda ministro da Saúde (e, sobretudo, da doença), Alexandre Padilha — que também não parece, mas é… Na campanha eleitoral do ano que vem, os paulistas podem esperar novos milagres de computador… Antes que continue, peço que vocês assistam a um vídeo da campanha do agora prefeito. Não toma muito tempo. Reparem no jeito de super-homem, um gigante, que tem São Paulo nas mãos. Volto em seguida.
Voltei
Depois de fazer um diagnóstico dos problemas da cidade, diz o então candidato, a partir de 1min06s, com aquele seu jeitinho cute-cute, escandindo as sílabas di-rei-ti-nho, como um menino que não su-ja o shor-ti-nho :
“Por incrível que pareça, não houve quem pensasse numa grande solução para alterar esse desequilíbrio. Para desconcentrar a cidade, para evitar que o centro seja um ímã perverso a atrair e repelir milhões de pessoas e veículos diariamente. A face mais visível disso são os terríveis congestionamentos”. Huuummm…
A partir de 2min31s, o sabichão anuncia:
“Solução existe, mas é preciso pensar novo, mas tem que pensar novo. É preciso urgentemente de um projeto que espalhe o desenvolvimento, criando novos polos de empresas, descentralizando a cidade. E eu tenho esse projeto. Com ele, é possível melhorar em poucos anos a vida de todos os paulistanos. Para criar este projeto, eu ouvi os melhores urbanistas. Demos a ele o nome de Arco do Futuro”.
Aí, como vocês devem ter visto, aos 2min54, obedecendo às ordens do marqueteiro João Santana, Haddad estendeu a mão e, como num passe de mágica, o tal “Arco do Futuro” apareceu. Ninguém faz maquetes tão animadas como o PT. Ninguém deixa de cumprir o que prometeu com tanta cara de pau e sem-cerimônia como os petistas. A partir dos 2min58s, o milagre da multiplicação de obras vai se desenhando na tela, como nas imagens abaixo, que extraí do vídeo.
Tudo isso é de mentirinha. Como de mentira era o programa de Haddad. Como de mentira era o “Arco do Futuro”.
Não é um homem corajoso
Haddad não é um homem corajoso. Nunca foi. Todas as vezes em que o Enem deu problema — e não foram poucas —, ele escalou alguém de sua equipe para se explicar. Quando estourou o escândalo do kit gay, também sumiu, e seus auxiliares tiveram de se virar. Não foi diferente desta vez. Quem deu a notícia de que o tal Arco tinha ido para a cucuia foi a secretária de Planejamento, Leda Paulani, em audiência, nesta sexta, na Câmara dos Vereadores. Transcrevo (em vermelho) um trecho do texto publicado na VEJA.com:
“A secretária municipal de Planejamento, Leda Paulani, disse nesta sexta-feira, em audiência na Câmara Municipal, que as intervenções para abertura e alargamento de avenidas entre as rodovias Dutra e Anhanguera, ao longo da Marginal Tietê, “são obras muitos caras”, que foram pensadas para revitalizar o entorno do rio Tietê e que “o governo não teria condição de fazer”.
O projeto Arco do Futuro continha obras nos bairros de Vila Maria, Vila Guilherme, Santana, Tucuruvi, Casa Verde, Cachoeirinha, Freguesia do Ó, Brasilândia, Pirituba, Lapa, Sé e Mooca. Todas elas faziam parte do Plano de Metas da gestão e foram canceladas.
Retomo
O “Arco do Futuro” de Haddad, assim, vai se resumir às obras que já estavam em andamento, que ele herdou. Não me lembro de um estelionato eleitoral ter-se provado com tanta rapidez. Insisto: o tal “Arco” era “o” pilar do programa de governo. Que Serra o quê! O tucano era ultrapassado, asseguravam os petistas. Bom mesmo — e novo! — era Haddad. Sem dúvida, ele inovou na celeridade com que rasgou seu “programa de governo”.
Fora do Eixo
Abaixo, publico um vídeo com uma  “entrevista” feita por Pedro Alexandre Sanches, jornalista ligado ao grupo “Fora do Eixo”, dos dos subordinados de Pablo Capilé, e que foi contratado pela Prefeitura. É ele quem passou a cuidar da Virada Cultural. A primeira da gestão Haddad, como se sabe, foi um fiasco e, atenção!, cancelou boa parte dos eventos que tradicionalmente aconteciam nos bairros da periferia. Juca Ferreira, secretário de Cultura da cidade (ex-ministro da área na gestão Lula), nomeado pelo Fora do Eixo (hoje, é Capilé quem manda nele também), tentou emprestar verniz social à decisão discriminatória: afirmou que os pobres tinham o direito de ir para o centro. Ora vejam: a pedra angular do programa de Haddad era um programa de descentralização do desenvolvimento, mas a Virada Cultural desprezou bairros periféricos. Tudo pelo social. Mas volto à entrevista.
Sanches, do Fora do Eixo, passou a comandar na Internet o “Hora H” (“H” de Haddad, entenderam???), um programa de supostas entrevistas que integrava a campanha eleitoral do petista. No vídeo abaixo, ele conversa com os petistas José de Fillipi, que foi caixa da campanha de Dilma e coordenou o programa do candidato petista, e Carlos Zarattini. Vocês não precisam ver tudo (ninguém merece!). Atentem para a fala de Zarattini a partir de 6min42s. Dá a entender que a Haddad pretende ser o chefe de Alckmin: “O Metrô vai construir um determinado trecho: a Prefeitura vai entrar com o dinheiro, mas ele vai ter de fazer um trecho do metrô combinado com a Prefeitura e num determinado prazo”. O prefeito, como sabe e percebe qualquer paulistano, não está conseguindo cuidar nem da zeladoria da cidade.
Ao defender o voto no petista, Fillipi afirma, com aquela sem-cerimônia típica de um petista:“Aliás, o outro candidato, do PSDB, já teve a sua oportunidade; ficou pouco tempo; acho que não se envolveu com a cidade como deveria, acho que não gostou… Enfim, o Fernando Haddad, você vai perceber que ele ama São Paulo, e nós estamos precisando de um prefeito assim”. É… Nós precisamos de um prefeito que, no oitavo mês de mandato, anuncia que seu programa era mesmo uma farsa.
Tudo muito instrutivo. Lula, que já deu um Haddad a São Paulo — com as consequências conhecidas —, vai oferecer outro Haddad em 2014, desta vez, ao Estado. Chama-se Alexandre Padilha. Que os eleitores tenham pena de si mesmos e se lembrem que o “Arco do Futuro” dos petistas é, oito meses depois, nada mais do que uma promessa do passado.
O nome disso é estelionato eleitoral.
Por Reinaldo Azevedo
16/08/2013
 às 22:40

Haddad, o prefeito fora do eixo, anuncia que não fará o “Arco do Futuro” porque não há dinheiro. Não me digam! Sim, existe estelionato eleitoral em São Paulo!

Ah, Fernando Haddad…
O prefeito de São Paulo foi apresentado ao distinto público, com aquele seu jeitinho manso, como um super-herói, capaz de operar milagres, razão por que eu apelidei de Supercoxinha. Ele não gostou. Se alguém pronuncia meu nome perto dele, o homem vira uma fera.
Notícia do dia: o “Arco do Futuro” (lembram dele?) de Haddad é coisa do passado. Não vai dar. Ele não vai fazer. Não há dinheiro. Na VEJA.com, leio o que segue, com informações do Estadão Conteúdo (em vermelho):
Prestes a completar o oitavo mês de gestão em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad (PT) desistiu de executar parte de uma das principais bandeiras de sua campanha eleitoral, o projeto urbanístico Arco do Futuro. As obras de apoio viário ao longo da Marginal Tietê, um dos pilares do projeto de revitalização urbana da capital paulista, foram excluídas do Plano de Metas de Haddad para os quatro anos de governo (2013-2016).
A secretária municipal de Planejamento, Leda Paulani, disse nesta sexta-feira, em audiência na Câmara Municipal, que as intervenções para abertura e alargamento de avenidas entre as rodovias Dutra e Anhanguera, ao longo da Marginal Tietê, “são obras muitos caras”, que foram pensadas para revitalizar o entorno do rio Tietê e que “o governo não teria condição de fazer”.
O projeto Arco do Futuro continha obras nos bairros de Vila Maria, Vila Guilherme, Santana, Tucuruvi, Casa Verde, Cachoeirinha, Freguesia do Ó, Brasilândia, Pirituba, Lapa, Sé e Mooca. Todas elas faziam parte do Plano de Metas da gestão e foram canceladas.
(…)
Voltei
Pois é… Fernando Haddad não se inteirou da realidade da Prefeitura antes de se candidatar? Certamente, sim! Apareceu, por acaso, alguma despesa extra de tal sorte gigantesca que lhe tenha arrancado os recursos esperados? Candidatar-se assim parece fácil, não? Vai a público, promete mundo e fundos e, depois, na hora da realização, diz: “Desculpem! Não temos dinheiro”.
Com o devido respeito, este senhor está se mostrando uma piada. A outra grande ideia que ele teve é meter um imposto de R$ 0,50 na gasolina, por intermédio da Cide, e usar a arrecadação para financiar transportes públicos. Haddad é um governante notável: permitam-lhe arrancar dinheiro da brasileirada, e ele fará grandes coisas… Reveste a sua cascata com a linguagem do social: quem tem carro financia o transporte público etc. O problema é que a elevação da gasolina incide sobre toda a cadeia da economia. Mais: a Petrobras, que é uma empresa mista, está pleiteando também o reajuste da gasolina porque está importando o produto mais caro do que está vendendo aqui. Resultado: prejuízo para a empresa e para os acionistas. “Importando gasolina? Mas Lula não sujou as mãos de petróleo, anunciando a autossuficiência?” Sim! Ocorre que aquelas mãos sujas eram só uma metáfora, entendem? Se o governo ceder à Petrobras, e seria o certo, e a Haddad, e seria o errado, a gasolina iria lá para a casa do doutor Carvalho. E o país para o buraco.
Comovente mesmo este senhor!
Cadê os paulo-freirianos? Por que se calam?
Haddad decidiu ainda botar para quebrar na educação. Sem ter tido, até agora, uma só boa ideia para elevar a qualidade de ensino, resolveu introduzir a reprovação em cinco das nove séries do ensino fundamental (hoje, existe em apenas duas). Nem sou contra a medida em essência, não. Eles é que eram. A petezada, abduzida por Paulo Freire, especialmente a intelligentsia universitária, é que acha(va) a reprovação uma coisa reacionária. Tivesse sido reinstituída por tucanos, os “inteliquituais” sairiam por aí gritando como o coelho de Bambi: “Fogo na floresta!”. Agora, os covardes calaram a boca. É bem verdade que a reprovação só serve, assim, para dar uma enganadinha, mais uma, na “classe média” que Marilena Chaui odeia. Haddad decidiu instituir a “dependência”, que é um modelo que vigora em universidades e em algumas escolas particulares do ensino médio: o aluno é reprovado em algumas disciplinas, fica obrigado a cursá-las de novo, mas é promovido. Assim, o gênio da raça institui a reprovação e um truque para impedi-la.
Poderia discorrer aqui longamente sobre a natureza da “dependência” e por que tende a ser, em essência, uma picaretagem. Mas prefiro ficar no óbvio: com que infra-estrutura Haddad vai fazer isso? Com quais professores? A depender do modelo, a encheção de saco dos mestres será tal que eles darão um jeito de aprovar o aluno no conselho de classe e pronto! Mas o Supercoxinha terá aplicado o seu truquezinho. Os áulicos de Haddad na imprensa dão a entender que é uma verdadeira “revolução”.
Não sou, assim, do PSTU ou do PSOL (hehe…), mas uma das coisas mais asquerosas nos petistas é esse oportunismo sem medida, essa falta absoluta de princípios, esse exclusivismo moral que reivindicam, de sorte que o que eles fazem, pouco importa o que seja, será sempre “progressista”. A mesma ação, se adotada por adversários, será considerada reacionária. Quem introduziu a chamada aprovação automática no Brasil foi o PT, quando Paulo Freire era secretário da Educação da… cidade de São Paulo! Na campanha eleitoral de 2010, Aloizio Mercadante, hoje ministro da Educação, tratou o modelo como se fosse uma invenção tucana.
Ao anunciar que não há dinheiro para o Arco do Futuro, a Prefeitura anuncia também um estelionato eleitoral gigantesco, tanto quanto a reprovação é um estelionato ideológico. Mas sabem como é, tudo é feito com muito jeitinho. Afinal, esse é o homem que levou para dentro da Prefeitura um tal movimento “Existe Amor em SP”, que, sabemos agora, é uma das criações de Pablo Capilé, do Fora do Eixo, que também nomeou Juca Ferreira secretário da Cultura.
Eis Haddad, um prefeito definitivamente fora do eixo.
Por Reinaldo Azevedo
16/08/2013
 às 21:06

Carta Capital X Fora do Eixo 3 – A estupefaciente entrevista do Fora do Eixo. Ele explica como e por que se apropria dos bens de seus “internos”

O leitor certamente estranhou o título acima. “Desde quando uma entidade ou grupo concede entrevista, Reinaldo?” Ora, desde nunca! Mas assim é no Fora do Eixo — afinal, sabem como é, começo a desconfiar que Pablo Capilé não seja coisa deste mundo… Alguma qualidade secreta ele deve ter para que tantos caiam na sua conversa. Adiante. Parece que, depois da publicação da reportagem, a revista decidiu enviar algumas questões a Capilé. Dando curso à fantasia que caracteriza o grupo, foram supostamente respondidas pelo “coletivo”, embora as pessoas do discurso se misturem, ora a primeira do singular, “eu” (quem será?), ora um “nós”, que também pode ser plural majestático. A íntegra está aqui. Transcrevo trechos. Digo uma palavra, umazinha só, que pode até ser favorável a Capilé: nesta entrevista ao menos, ele não esconde o que faz. Não nega — talvez tema o cotejo com as provas — que o Fora do Eixo se aproprie dos bens de seus internos. Ele explica como isso se dá, segundo a lógica do coletivismo. Nega ainda que pessoas sejam usadas como iscas sexuais e classifica isso de “ofensa” às mulheres das casas. O problema é que, na reportagem da Carta, quem confessa ter sido convidado a desempenhar esse papel é um rapaz. Leiam trechos da entrevista. Volto para encerrar.
*
Carta Capital: Dos oito ex-integrantes do Fora do Eixo que a CartaCapital ouviu, quatro aceitaram ser identificados. Os demais se sentiram intimidados e têm medo de retaliações por parte de membros do Fora do Eixo. A que vocês atribuem o medo que essas pessoas sentem? O que vocês diriam para esses e outros ex-integrantes?
Fora do Eixo: Diríamos que ninguém precisa ter medo de nada, e que muito nos espanta este tipo de declaração. Inclusive, chega a ser estranho esta reação sendo que todas as pessoas que passaram pela rede sempre puderam colocar estas angústias quando estavam dentro dela. A rede não pratica intimidação, até mesmo porque, o que poderíamos fazer? São 10 anos de trabalho sem nenhum histórico de violência ou perseguição para que as pessoas não se identifiquem. Isso é muito sensacionalismo. (…) Para mim, levantar estas questões de forma difamatória, sem citar as pessoas e os casos de perseguição não é a melhor forma de se abordar a questão.
(…)
CC: Além da bilheteria e dos editais, há diversas pessoas que tiveram os bens apropriados pelo Fora do Eixo. Segundo ex-integrantes, o uso do cartão de crédito e a apropriação de bens como computadores ou automóveis são práticas usuais. Isso é uma prática sistemática da organização e apoiada por vocês?
FdE: Não, isso não é uma prática nossa. Muito nos impressiona que todas as perguntas e questionamentos que têm chegado não exploram a nossa forma de se organizar, mas buscam enquadrá-la e criminalizá-la como se fosse um modelo convencional de empresa. Primeiro, como é um processo coletivo, esta pessoa que chega já tem acesso a uma série de coisas que já existem. A destinação de seus bens para o uso do processo é um ato livre. Se você tem um carro e vem para uma casa, é natural que este carro seja usado, até porque já tem muita gente emprestando coisas para que o processo exista e se realize. Se você tem um cartão de crédito e quer disponibiliza-lo pra ações da rede, a mesma coisa. Não tem uma prática de apropriação, tem um processo que gera consensos e consentimentos livres e esclarecidos. Da mesma forma que muita gente chega sem ter nada e, a partir da construção coletiva e colaborativa, bens materiais são disponibilizados para esta pessoa desempenhar suas atividades. É importante ficar claro, o Fora do Eixo trabalha com a perspectiva de propriedade coletiva e compartilhada, com definições claras para o acesso pessoal. A chave para entender isso não está numa leitura maniqueísta ou na abordagem que tenta ver o Fora do Eixo como uma empresa capitalista. É muito desonesto, principalmente para pessoas que participaram deste processo e fizeram suas escolhas, partirem pra uma criminalização depois que se desapontam com uma experiência. Não existe sequestro compulsório de bens e é um absurdo a Carta Capital afirmar em uma pergunta que “há diversas pessoas que tiveram os bens apropriados pelo Fora do Eixo”. Não existe apropriação nenhuma desses itens. Obviamente, as pessoas que saem do FdE levam o que é de sua propriedade: sejam cartões, computadores ou automóveis. Se nos apropriássemos estaríamos com estes itens até hoje.
CC: O FdE começou a receber dinheiro público durante a gestão do tucano Wilson Santos, em Cuiabá. O que mudou para o coletivo hoje em dia descartar o apoio do PSDB?
FdE: As politicas públicas não são partidárias. Não acreditamos em política de governo, acreditamos em políticas de Estado. A pergunta está muito mal feita e descontextualizada. O Estado não é o PT e muito menos o PSDB! Alguns partidos estão abertos ao diálogo e outros não, mas as políticas publicas independem deles.
CC: CartaCapital colheu diversos relatos do uso sexual de mulheres para atrair novos integrantes ou parceiros para o FdE. E, em menor número, de homens. Seria proibido pela direção não apenas namorar pessoas de fora da casa, mas também namorar alguém “de dentro” de forma espontânea, já que seriam relações que “não trazem ativos” para a rede –sempre de acordo com relatos de ex-integrantes. A cúpula do FdE decide quem deve namorar quem, como parte de uma estratégia de crescimento interno? A prática, que teria até nome (“catar e cooptar”), faz parte da estratégia da rede?
FdE: Estas acusações são gravíssimas e quem as coloca tem que estar preparado para provar. Temos plena convicção que isso, além de ser uma grande mentira, é um ato gravíssimo de calúnia e difamação, e muito nos espanta uma revista como a CartaCapital, que inclusive tem jornalistas que já estiveram muito próximos à rede, trazer a tona uma calúnia, sem provas.
(…)
CC: MPL, DAR, MH2O, Mães de Maio, moradores da Favela do Moinho, o Cordão da Mentira e outros movimentos sociais já fizeram críticas ao FdE. Recentemente, um integrante da Mídia Ninja foi expulso da favela do Moinho e outros já haviam sido hostilizados em protestos. Ao que vocês atribuem a hostilidade de diversos movimentos sociais ao FdE e suas iniciativas, como a Mídia Ninja?
FdE: Ao mesmo tempo somos parceiros e temos recebido diversas moções de apoio e solidariedade de vários outros movimentos como o MST, a CUFA, o Afroreggae, a Agencia de Redes pra Juventude, o Movimento Nacional dos Direitos Humanos, o Movimento Ação Griô, o Movimento de Povos de terreiro, a UJS, e vários movimentos ambientais, sociais e culturais. Existe algum ponto de consenso nos movimentos sociais? O que existe, no nosso entendimento, é um espaço enorme de diversidade e de disputa de narrativas e alinhamentos a partir dos valores e interesses dos movimentos.
(…)
CC: Ao que vocês acham que se deve a proliferação de depoimentos contra o FdE na última semana?
FdE: Vivemos num momento de grandes mudanças. As jornadas de junho no Brasil, alinhadas a diversos movimentos que correm o mundo todo hoje, mais as mudanças tecnológicas vividas recentemente nos colocam no olho do furacão, neste processo de mudanças sociais dramáticas, trazidas pelo digital. Somos um laboratório de experiência de rede digital único no Brasil e talvez único em todo o mundo. Trabalhamos fortemente nos últimos 10 anos dentro do circuito cultural e a pelo menos três anos estamos num diálogo constante com diversos setores da sociedade brasileira. Fazemos tudo isso de forma aberta e transparente entendendo que somos Beta, e que estamos em processo permanente de atualização. E pra completar tivemos uma enorme visibilidade nos últimos dias com o sucesso e quantidade de questionamentos que a Mídia Ninja teve e trouxe. Como movimento fortemente enraizado nas redes sociais, também recebemos os ônus e bônus de tudo que acontece ali. Ou seja, natural que um movimento que questiona sistemas de representatividade na rede, receba primeiramente os resultados disso.
(…)
Voltei
Sou tentado a contestar Capilé resposta a resposta, chegando a minúcias. Mas ele não vale tudo isso. Alguns aspectos bem pontuais relativos à entrevista que ele deu — ooops!, ele não! O coletivo. Capilé, pelo visto, também é uma legião.
1: O medo dos que não querem aparecer não é de agressão física (ou não é só esse). É que se trata de gente que pertence a essa tal circuito alternativo de produção cultural, onde Capilé dá as cartas — inclusive no que concerne a financiamento público. É ele quem manda na Secretaria de Cultura da Cidade de São Paulo — Juca Ferreira é seu chapa — e é um tubarão no Ministério da Cultura. Agora fica mais claro como Ana de Hollanda caiu (fica para outro post).
2: Releiam a resposta do “coletivo” Capilé. Ela não difere em nada do que dizem alguns chefes de seitas picaretas que se apropriam dos bens dos fiéis. A desculpa é sempre a mesma: “A doação foi espontânea”. Capilé reveste a sua cascata com um verniz coletivista, mas está tudo dito ali. Testemunho do ex-membro Rafael Rolim:
“Solicitaram um cartão de crédito que eu tinha em conjunto com meus pais para comprar passagens. Como a confiança era total, fui induzido a compartilhar a senha. Em um mês e meio gastaram 21 mil reais no meu cartão. Compraram um Macbook Pro novo para o Capilé, o que só soube quando a fatura chegou”.
3: A que ele atribui as denúncias? Ah, gente, é coisa da nova era, do alinhamento dos astros, sabe-se lá… Uma coisa do outro mundo mesmo!
Por Reinaldo Azevedo
16/08/2013
 às 20:12

Fora do Eixo X Carta Capital 2 – Revista omite que um dos autores do texto é um ex-Fora do Eixo; jornalistas que o criticam por isso omitem que são “atuais Fora do Eixo”

Leia primeiro o post anterior.
A Carta Capital publicou uma reportagem que demole a casa de Pablo Capilé, o chefão do Fora do Eixo, que é a estrutura em que se ancora a tal Mídia Ninja. O texto é assinado por Lino Bocchini e Piero Locatelli. Não vi nada de errado com a reportagem em si. Ocorre que a Carta comete um pecado fundamental. Não chega a comprometer a matéria, mas há um dado que precisa ficar claro em nome da transparência.
A revista, parece-me, estaria obrigada a informar que Bocchini, que é seu editor de Midia Online, é um ex-integrante (ou parceiro, sei lá como se diz) da Mídia Ninja e já esteve muito próximo do Fora do Eixo. Não tenho como saber quão próximo porque, confesso, esses detalhes da religião inventada por Capilé me escapam.
A Carta não informou isso por quê? A meu juízo, a proximidade havida torna a voz de Bocchini ainda mais autorizada. Afinal, ele é dos que viram e viveram aquele negócio. Sim, poderia haver quem considerasse que isso o torna particularmente suspeito. Eu, por exemplo, nunca omiti dos meus leitores que fui trotskista. Ajuda ou atrapalha para que avaliem o que penso? É o tipo de julgamento que cabe ao leitor fazer. A omissão joga uma desnecessária sombra de suspeição sobre a reportagem.
Não deixa de ser divertido ler os fanáticos do Fora do Eixo a levantar nas redes sociais as hipóteses as mais estrambóticas para justificar a publicação da reportagem. Há até quem veja “desvio de direita” na Carta Capital… Ulalá! Tão logo a reportagem começou a circular, os abduzidos de Capilé deram início à difamação dos autores e da própria revista. E a Carta fez o quê? Chamou isso de tática da “direita autoritária”. É mesmo??? Coitada da direita! Apanha até quando não é ela que fica com as verbas da Petrobras ou do Banco do Brasil. A propósito: “direita autoritária” que dizer que existe uma não autoritária ou que o autoritarismo é um apanágio da direita? Mais ainda: esquerda autoritária não difama?
Laís está de volta
Laís Bellini, a moça que me odeia (é bom que fique claro!!!) e que postou no Facebook o depoimento mais horripilante sobre o Mundo de Capilé, postou uma mensagem no perfil de Bocchini no Facebook que é dos mais eloquentes. Ela me detesta, reitero, o que não a impede de levantar uma questão pertinente. Jornalistas de esquerda, alguns deles também financiados por estatais, estão cobrando do repórter que assuma a sua condição de ex-Ninja ou ex-Fora do Eixo. Vejam o que escreve, com acerto, a moça:
Acho engraçado o Renato Rovai publicar/utilizar constantemente o site da revista Fórum para publicar sobre o Fora do Eixo e também não dizer que é um Fora do Eixo. Como o Pedro Alexandre Sanches questionou o Lino Bocchini por não ter se posicionado durante a matéria que assinou como ex-Fora do Eixo, eu me pergunto se o Rovai também não deveria se posicionar como Fora do Eixo em todas as matérias que publica como jornalista sobre a rede Fora do Eixo, em todas as transmissões em que participa. Acho legal que você PAS [Pedro Alexandre Sanches], como também jornalista que é, se expresse abertamente, exponha sua crítica, mas também explicite que é também um parceiro do Fora do Eixo, assim como Rovai é e assim como Lino já foi.
Mais bizarro ainda é a Revista Fórum soltar no mesmo texto a informação sobre o protocolo de Aloysio Nunes, do PSDB, que pede esclarecimentos ao FdE com relação a verbas e afins. O parágrafo nada mais quer do que associar as denúncias e a reportagem da Carta Capital a uma suposta mobilização junto da direita, o que chega a ser um absurdo, já que os argumentos da direita não condizem com tantos diversos relatos e textos que vêm sendo divulgados de movimentos de esquerda, de mídias da esquerda e de quem tá na disputa por uma discussão de política cultural realmente descentralizada e com participação da população, sem intermediários.
Encerro
É isso aí. Não me parece que, para repudiar trabalho escravo, estelionato e apropriação indébita, as pessoas precisem ser “de direita”. Eu até acharia bacana que essa fosse uma moralidade exclusiva dos conservadores, mas não é verdade. Como também não é verdade que todo conservador rejeite essas práticas nefastas. Quando coisas assim acontecem, a ficha de muita gente cai. Há muitos inocentes, ou bobalhões, que se convenceram de que as esquerdas detêm o monopólio da virtude. Eu prefiro que gente como Laís continue do lado de lá, odiando os conservadores. Quem sabe, ao combater, lá entre eles, as práticas deletérias que ela denunciou, ajude a tornar a esquerda um pouquinho melhor, né? Mas isso é lá com eles. Prometi três posts sobre essa história, mas acho que vou escrever quatro. O mais importante ficará para a madrugada. Daqui a pouco, mais um.
Por Reinaldo Azevedo
16/08/2013
 às 19:15

Fora do Eixo X Carta Capital 1 – Reportagem da revista demole a casa de Capilé e choca alguns ditos “progressistas”

Ai, ai, ai… Eu nunca achei que pudesse chegar este dia, mas chegou. A que me refiro? Nunca achei que poderia reproduzir aqui um texto da… Carta Capital! Mas sabem como é… Acontece, às vezes, de até essa revista fazer a coisa certa — ao lado de outra muito errada (vocês saberão a que me refiro). Em toda a sua história, deve ser a segunda vez que aprovo uma abordagem da publicação — a outra se deu no caso Cesare Battisti. Vamos ver. Na sua mais recente edição, a revista publicou uma reportagem sobre o grupo “Fora do Eixo”, liderado por Pablo Capilé, um misto, assim, de Che Guevara da Internet com Jim Jones.
Não sou leitor da Carta Capital. O texto me chegou porque começou a circular na Internet e me foi enviado pelos leitores. A reportagem — muito bem escrita, noto — é assinada por Lino Bocchini e Piero Locatelli. Não traz grandes novidades no cotejo com tudo o que se publicou neste blog e resulta do tsunami que atingiu a praia de Capilé desde que dei visibilidade aqui ao testemunho da cineasta Beatriz Seigner, postado no Facebook, corroborado, no dia seguinte, poroutro, ainda mais detalhado e escabroso, de autoria de Laís Bellini, aquela moça que fez questão de deixar claro que, embora crítica do Fora do Eixo, não gosta de mim — o que acho compreensível. É perfeitamente possível detestar, a um só tempo, o Fora do Eixo e o Reinaldo Azevedo. 
O texto da Carta Capital tem o particular mérito de dar o devido relevo à prática do Fora do Eixo de se apropriar dos bens daqueles que decidem se internar em suas “casas”, o que, pasmem!, é admitido por Capilé, que engrola algumas desculpas indesculpáveis sobre a natureza do… coletivismo! O texto também ressalta o incentivo às, como posso chamar?, táticas de sedução que seriam empregadas pelo grupo — tarefa que só caberia às pessoas bonitas. Parece que aos feios cabe trabalhar mais. Mas essa talvez não seja uma regra de valor universal por lá…
Deixando claro
Vamos deixar clara uma coisa? Antes que os autores da reportagem tenham de se explicar a seus amigos de esquerda ou por eles sejam trolados, obrigando-os a declarar que repudiam tudo o que penso (acompanhando, eventualmente, de alguns xingamentos) e que não podem ser responsabilizados por eu ter decidido republicar o texto, eu mesmo me apresso: os autores não têm nada com isso e, muito provavelmente, repudiam tudo o que eu penso. Pronto! É possível que concordemos com ao menos parte das críticas que se podem fazer ao Fora do Eixo, como devemos concordar que, nesta sexta, faz um frio dos diabos em São Paulo. Os amigos de Lino Bocchini e Piero Locatelli devem considerar, em nome do bom senso possível, que pessoas com as convicções as mais distantes podem ter um núcleo de concordância a respeito de coisas que não dependem da vontade de um lado ou de outro. É certo que Bocchini, Locatelli e Azevedo aceitam que a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.
Mas chega. Vamos à reportagem (o link da página da Carta vai lá no alto) — até porque este é o primeiro de três posts.
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Fora do Eixo
Na esteira dos protestos de junho, a Mídia Ninja emergiu como uma novidade instigante, um novo modelo de jornalismo. A concepção é simples e barata: por meio de celulares, os repórteres ninjas transmitem pela internet as imagens dos acontecimentos. Não há texto nem edição, apenas os vídeos em estado bruto em transmissões que facilmente duram seis horas. Na página do grupo no Facebook, há ainda fotos dos atos.
O sucesso repentino tornou-se, porém, uma fonte de dor de cabeça. Tudo começou com a presença de dois de seus expoentes no Roda Viva, programa de entrevistas da TV Cultura, em 5 de agosto. O jornalista paulistano Bruno Torturra, até então, era a única face do Mídia Ninja, acrônimo de “Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação”. A novidade foi a presença de Pablo Capilé, criador do coletivo Fora do Eixo, guru de uma nova forma de ativismo. Ficou clara a ligação umbilical dos dois (Ninja e Fora do Eixo), antes praticamente desconhecida.
Por que essa relação virou alvo de tantas críticas? Em pequenos círculos, não é de hoje, corriam acusações contra o movimento. A exposição de Capilé amplificou as acusações nas redes sociais, espaço de excelência do grupo. Nos últimos dias, CartaCapital ouviu oito ex-integrantes e debruçou-se sobre a estrutura organizacional do coletivo. Metade deixou-se identificar. Os demais preferiram não ter seus nomes citados, por medo de represálias, mas confirmam as informações dos ex-colegas. Emergem da apuração um aglomerado controverso, acusações de estelionato, dominação psicológica e ameaças.
Nas casas, os integrantes dividem quartos, dinheiro, comida e roupas. E estão submetidos ao “processo” do Fora do Eixo. “Primeiro te isolam. Proíbem de sair na rua ´sem motivo´, impedem de encontrar amigos ou estabelecer qualquer contato com pessoas de fora. Depois, vem a apropriação de toda a sua produção. O cara sai sem grana, sem portfólio e distante dos amigos antigos. Sem apoio psicológico ou da família vai demorar a se restabelecer social e profissionalmente”, diz o fotógrafo Rafael Rolim, 29 anos, 3 deles na organização, em contato direto com Capilé. Rolim e os demais integrantes ouvidos pela revista endossam o depoimento da ex-integrante Laís Bellini, postado nas redes sociais.
A cineasta Beatriz Seigner foi a primeira a criticar o coletivo. Em texto postado no Facebook dois dias após o Roda Viva, diz, entre outros pontos, que o Fora do Eixo rompeu acordos e não lhe pagou por exibições de seu filme. Escreveu ainda sobre o volume de trabalho dos integrantes, que não teriam direito à vida pessoal ou diversão. Se disse ainda impressionada com a devoção à figura de Capilé. E comentou a repercussão: “Chegaram centenas de mensagens de coletivos e artistas do Brasil todo agradecendo o desmonte da rede. Estou aliviada.”
No dia seguinte foi a vez de Laís Bellini. Segunda ex-integrante a se manifestar, seu longo relato é considerado por outros ex-membros o mais completo e fiel retrato do dia-a-dia do coletivo. Laís descreve uma estrutura radicalmente rígida e verticalizada, baseada em forte dominação psicológica. Para exemplificar, revela que foi afastada de um amigo antigo que vivia sob o mesmo teto – “Disseram: ´Laís, o Gabriel era seu amigo lá em Bauru. Aqui vocês não têm que ficar de conversa. Aqui dentro vocês não são amigos”; Laís revelou ainda o “choque-pesadelo”, prática que consiste em por uma pessoa na sala e “quebrá-la” moralmente, aos berros; a moça narrou ainda que a cúpula controla horários e saídas à rua e que o trabalho é extenuante e sem folga nem aos domingos. São vigiados até bate-papos no Facebook ou Gtalk. Laís está em meio a uma longa viagem pela América Latina, sem data pra voltar. A distância, diz, lhe deu coragem para falar. “Quando postei, tirei toneladas do ombro e comecei a chorar. Tomei coragem para dizer o que muitos têm medo mas que todos sabem que é verdade”.
Um dos pontos levantados pelos entrevistados é o uso dos integrantes como uma espécie de isca sexual, o chamado Catar e Cooptar. “Há reuniões na cúpula para definir quem vai dar em cima de você e te fisgar pra dentro da rede”, afirma Laís. O designer Alejandro Vargas, que morou por 3 anos na Casa Fortaleza, dá mais detalhes: “Numa viagem rolou um papo que ‘deveria ficar ali’, sobre ‘fazer a entrega para a rede’. Diziam: ‘tem o cara ou menina mais feios, mas que trampam muito’ e tem aqueles com ‘mais chances de ter relações’. Tem que fazer a entrega para alimentar o estímulo de quem é menos provido de beleza, inclusive de fora da rede, para trazer para dentro”.
Rolim acrescenta: “‘Catar e Cooptar’ é o termo usado pelo Pablo, com todas as letras e constantemente. Eu mesmo fui proibido por ele de me aproximar de uma pessoa com quem tinha afinidade porque, ‘para o processo’, eu deveria estar solteiro, eu era uma boa ‘isca’. Relações espontâneas entre dois integrantes, por amor, também não são bem vistas. Casais assim são pressionados a desmanchar, e é proibido ter relações com pessoas de fora da rede, a não ser por ordem superior. Capilé nega a prática. “As relações afetivas não são determinadas por regras do movimento, mas construídas por cada indivíduo, a partir dos desejos de cada um.”
O Fora do Eixo nasceu em 2005, e seu nome faz menção ao fato de a iniciativa ter começado em centros distantes de São Paulo e do Rio. Capilé é de Cuiabá. Do Mato Grosso, o coletivo expandiu-se para Uberlândia (MG) e Rio Branco (AC), e dali para outras cidades. A relação com os artistas funciona assim: uma banda iniciante entra na programação de eventos culturais do grupo e faz shows em algumas cidades. Não paga passagem, hospedagem e alimentação (fica nas casas Fora do Eixo). Em contrapartida, não recebe cachê. O dinheiro arrecadado com suas apresentações financia o movimento.
Capilé e seus apoiadores calculam 2000 integrantes, mas o Fora do Eixo se resume a sete casas (São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Porto Alegre, Belém e Porto Velho), onde vivem em média dez ativistas, ou seja, cerca de 70 no total. Há ainda algumas casas de coletivos parceiros, como em Bauru e São Carlos. Quando se soma os agregados, na estimativa mais otimista, a organização tem hoje 200 participantes.
Oficialmente, o financiamento é baseado em shows e editais do governo ou de empresas estatais e privadas. Existe, no entanto, uma terceira fonte significativa: a apropriação de dinheiro e bens particulares de colaboradores. “Solicitaram um cartão de crédito que eu tinha em conjunto com meus pais para comprar passagens. Como a confiança era total, fui induzido a compartilhar a senha. Em um mês e meio gastaram 21 mil reais no meu cartão. Compraram um Macbook Pro novo para o Capilé, o que só soube quando a fatura chegou”, lamenta Rolim.
Vargas acrescenta: “É prática cotidiana a utilização dos cartões de quem mora nas casas. E como não tínhamos salário, logo a dívida do cartão entrou no SPC e na Serasa, e até hoje tenho o nome sujo”. Laís, por sua vez, saiu com uma dívida de 5 mil reais. O FdE nega a prática de apropriação, mas reconhece o uso de dinheiro e automóveis dos integrantes. “A destinação de seus bens para o uso do processo é um ato livre. Se você tem um carro e vem para uma casa, é natural que este carro seja usado. Se você tem um cartão de credito e quer disponibilizá-lo para ações da rede, a mesma coisa”. Na última segunda-feira 12 o coletivo lançou um “portal de transparência”, mas não menciona o uso sistemático do dinheiro e bens dos integrantes.
O livro de cabeceira de Capilé é uma pista para entender como ele comanda o grupo. 48 Leis do Poder, lançado em 2000 no Brasil pela editora Rocco, é direcionado a empresários e traz dicas como “faça com que as pessoas venham até você: use uma isca, se necessário” e “faça com que os outros trabalhem para você, mas leve sempre o crédito”. Outra pista, esta fornecida por Laís, é a proibição de se assistir nas casas o vídeo Controle Mental – Como se Tornar um Líder de Culto.
Capilé criou um reino particular a partir de “simulacros” do mundo real. A contabilidade virou “Banco FdE”. Eventos com debates formam uma “Universidade FdE”. Viagens viram “colunas”. O lobby político é o “Partido da Cultura”. E a comunicação tornou-se “Mídia Ninja”.
Aos 34 anos, Capilé dedica-se intensamente ao movimento. Dorme pouco, alimenta-se mal e fuma muito. Viaja tanto que, não raro, cumpre agenda em três cidades em um mesmo dia. Está sempre desconfiado e conectado, e com baterias reservas. E é dono de uma retórica eloquente e messiânica.
Há um claro projeto político, e o coletivo não deixa de exercer sua influência. O Fora do Eixo teve peso na indicação, entre outros, do secretário municipal de cultura de São Paulo, Juca Ferreira, do subsecretário estadual de cultura do Rio Grande do Sul, Jéferson Assumção, do secretário estadual de educação do Acre, Daniel Zen, e de três dos secretários municipais de Porto Velho.
A organização não discrimina espectro ideológico. Sua ampliação em Cuiabá se deu sob as asas do PSDB, quando ganhou verbas públicas na gestão de Wilson Santos na prefeitura. Nas eleições do ano passado, apoiaram o petista Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo e Mauro Nazif, atual prefeito de Porto Velho, do PSB. O senador mais próximo do grupo é Randolfe Rodrigues, do Psol. A respeito, o FdE disse não acreditar em política de governo, mas “em políticas de estado.”
A nova aposta é a Rede de Marina Silva. O coletivo esteve no lançamento da legenda em Brasília, e Torturra afirmou no Roda Viva ser marinista. Caso o partido consiga registro no Tribunal Superior Eleitoral, o plano de Capilé é lançar Torturra candidato a deputado federal pela Rede em 2014. “Ele é o nosso homem com rejeição zero”, afirmou o cuiabano em mais de uma ocasião.
A relação do Fora do Eixo com parte da esquerda e dos movimentos sociais tem sido atribulada, desde antes da criação da Mídia Ninja. Alguns grupos fazem duras críticas aos ativistas por despolitizar manifestações, ao trocar causas concretas por slogans genéricos. Entre os grupos que tiveram embates com o Fora do Eixo estão Mães de Maio, o Movimento Passe Livre, o Desentorpecendo a Razão, os moradores da Favela do Moinho e o Cordão da Mentira.
Capilé costuma negar que o coletivo e a Mídia Ninja sejam a mesma coisa, mas quem esteve nas casas reafirma os laços entre os dois. “O projeto nasce e vive no Fora do Eixo, segue a mesma estrutura, tem as mesmas hierarquias e cargos. Mas tem outro nome, para evitar a rejeição que o FdE provoca. Mas quem dá o OK são as mesmas pessoas que dão OK em tudo no Fora do Eixo, e quem vai para rua cobrir são moradores das casas ou colaboradores do FdE”, esclarece Gabriel Zambon, coordenador do Ninja em Belo Horizonte até maio último.
Mesmo antes da recente leva de críticas, estava em curso um esforço para desvincular os dois. Capilé segue, contudo, confiante no poder de sedução de sua retórica e do mundo que criou. E vive a repetir: “para cada um que sai do Fora do Eixo tem dez querendo entrar”.
Por Reinaldo Azevedo
16/08/2013
 às 17:21

Súmula do Supremo é de emprego obrigatório, a menos que seja antes derrubada. Ou: Pressuposto para integrar o STF, ou qualquer órgão público, é a vergonha na cara

O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo, decidiu abraçar uma tese que, obviamente, ajuda a vida dos mensaleiros e pode livrar da cadeia dois petistas de alto coturno (leia posts abaixo). A tentativa é de tal sorte canhestra e abstrusa que não deve prosperar. Ou, então, caso contrário, melhor o tribunal fechar as portas e abrir no lugar uma loja de secos & molhados. A Casa, infelizmente, já parece um boteco às vezes, e lamento ter de dizer isso quando, obviamente, ali estão, sim, grandes juristas. Mas é claro que nem mesmo o STF escaparia a uma lenta, mas contínua, decadência da razão. Como a gente acompanhou o dia a dia dessa espiral negativa, acaba não se surpreendendo tanto. Mas, se decidimos operar um corte sincrônico, fazer o retrato da hora, e se nos lembramos, ao mesmo tempo, dos fundamentos nos quais se assenta uma corte suprema numa democracia, é o caso de a gente se escandalizar, sim, que o ministro Lewandowski se entregue a certos, como chamarei?, desfrutes… intelectuais.
Lembre-se de novo. Um dos mensaleiros, o bispo Rodrigues, alega, num embargo de declaração, que o acordo financeiro entre seu partido de então, o PL, e o PT foi celebrado no fim de 2002. Muito bem. O crime lhe rendeu a condenação por corrupção passiva (três anos) e lavagem de dinheiro (três anos e meio). Em 2002, a pena mínima para corrupção (passiva ou ativa) era de um ano; a máxima, de 8. A partir de novembro de 2003, com a aprovação da Lei 10.763, a mínima passou a ser de dois, e a máxima, de 12. Ao se fazer a dosimetria de uma pena, sempre se parte do minimo e se consideram atenuantes e agravantes.
Sigamos. O acordo, dizem os mensaleiros, se deu no fim de 2002, mas os pagamentos ocorreram depois, quando já estava em vigência a Lei 10.763. ATENÇÃO! O Supremo, como informa Larysssa Borges, tem uma súmula: a 711. “Súmula”, leitor, é uma decisão tomada pelos ministros do Supremo para disciplinar determinadas decisões que são de APLICAÇÃO OBRIGATÓRIA. Não compete a cada ministro dizer se a aplica ou não, a depender do seu gosto. Uma súmula pode, sim, ser derrubada ou vencida por outra? Pode. Mas, para tanto, é preciso, sem querer ser tautológico, que ela seja… derrubada ou superada.
Vamos ver o que diz a Súmula 711 (vai em maiúsculas, como está no site do Supremo):
SÚMULA Nº 711
A LEI PENAL MAIS GRAVE APLICA-SE AO CRIME CONTINUADO OU AO CRIME PERMANENTE, SE A SUA VIGÊNCIA É ANTERIOR À CESSAÇÃO DA CONTINUIDADE OU DA PERMANÊNCIA.
Entendamos
Havendo duas leis, uma delas quando o crime começou a ser cometido e outra posterior a esse início, os ministros estão obrigados a aplicar a “lei penal mais grave” se esse crime teve continuidade ou se  tornou permanente depois da aprovação dessa lei mais dura.
Ora, a lei mais dura, reitere-se, é de novembro de 2003. Como resta escandalosamente sabido, os pagamentos feitos no curso do chamado escândalo do mensalão tiveram continuidade depois de novembro de 2003. O próprio bispo Rodrigues recebeu pagamento depois dessa data. Por isso, por unanimidade — e com o voto de Lewandowski, diga-se —, o tribunal decidiu aplicar a lei mais dura, que parte de uma pena mínima de dois anos para corrupção ativa ou passiva.
O absurdo
Atenção! O embargo de declaração é um instrumento impróprio para, nesse caso, tentar rever a pena. A pena que está no acórdão não decorre de uma omissão, de uma obscuridade ou de uma contradição. Clara e conscientemente, os ministros decidiram aplicar uma súmula que está em vigência. O acórdão expressa o voto do plenário, com base numa disposição de aplicação obrigatória. A não ser que Lewandowski tente convencer seus pares de que o crime do mensalão começou e acabou no fim de 2002. Foi isso, ministro?
Temos assim que:
a) é um absurdo recorrer a um embargo de declaração nesse caso. Esse instrumento pode, sim, até rever uma sentença, mas, para tanto, ela precisa ter sido motivada pelo tal erro, omissão ou obscuridade;
b) não tendo sido, e não é, o caso, tal esforço é mera manobra procrastinatória; é a chamada chicana;
c) posso não gostar que advogados recorram a chicanas, mas se trata de um recurso da defesa;
d) cabe aos tribunais, aos juízes, afastar a manobra.
Lewandowski, no entanto, afetando a pureza d’alma dos homens interessados apenas numa pena justa, resolve ser partícipe, sim, da chicana. E, como já demonstrei aqui, não é a primeira vez. No bate-boca lamentável que manteve com Joaquim Barbosa (e censuro os dois por isso em particular), algumas falas suas (em vermelho) merecem ser comentadas:
“Mas, presidente, estamos com pressa do quê? Nós queremos fazer justiça.”
Se não for cinismo, é tolice. Pressa? Que pressa? O escândalo explodiu há oito anos. Este senhor deveria dizer em que país do mundo civilizado um caso como esse já não estaria encerrado, com os culpados cumprindo pena. Lewandowski deveria levar a sério a máxima de que, se algo só dá no Brasil, ou é jabuticaba ou é besteira. Pressa? Lewandowski, como revisor do processo, redigiu um voto de, se não me engano, 1.400 páginas. Retardou o quanto pôde o julgamento. Sua prolixidade contribuiu para tirar do julgamento o ministro Cezar Peluso e quase inviabiliza a participação de Ayres Britto. Só o seu voto sobre uma questão preliminar, no primeiro dia de julgamento, tinha imodestas 70 páginas, consumindo quase três horas. E o que se votava ali? Se o processo seria ou não dividido, remetendo para a primeira instância os réus que não tinham prerrogativa de foro. O tribunal já havia votado aquela questão duas vezes, inclusive com o voto contrário de… Lewandowski, que, então, mudara de opinião. Ninguém sabia que Bastos apresentaria aquela demanda. Em tese, nem o ministro. Mas ele opera prodígios: tinha um voto improvisado de 70 páginas. Tivesse tido essa agilidade para concluir a revisão, esse processo já teria chegado ao fim. Vamos a mais uma fala sua.
“Eu estou trazendo um argumento apoiado em fatos, em doutrina. Eu não estou brincando. Vossa Excelência está dizendo que eu estou brincando? Eu não admito isso!”
Qual doutrina? Quem é o doutrinador que diz que uma súmula pode ser jogada no lixo sem que seja revogada ou superada? Quem é o doutrinador que diz que um embargo de declaração serve para rever uma pena, quando o acórdão espelha a vontade UNÂNIME do tribunal, assentada numa súmula?
“Vossa Excelência preside uma Casa de tradição multicentenária…”
Acho que Lewandowski deveria ter se lembrado disso quando, crítico feroz da lei da Ficha Limpa, passou a ser um fanático da causa; quando, tendo votado contra a divisão do processo, passou a defendê-la depois; quando, tendo votado segundo a Súmula 711, tenta a sua revogação branca, sabendo, assim espero, que se trata de causa perdida. Com que propósito, então, está a operar?
“Eu estou trazendo votos fundamentados…”
Quais são os fundamentos? De resto, com a devida vênia, passo a desconfiar dos fundamentos de quem defende com igual energia uma tese e o seu contrário, como estamos vendo Lewandowski fazer pela… terceira vez.
Concluindo
A reação de Joaquim Barbosa foi descabida. Há o risco de transformar Lewandowski naquilo que ele, definitivamente, não é: vítima. Ao contrário: experimentado, longe de ser ingênuo, ele sabia muito bem que estava prestes a provocar um tumulto, até porque conhece suficientemente aquele que se colocaria como o seu principal antagonista. O que Joaquim Barbosa não percebe, com a sua vaidade furiosa, é que o seu opositor no julgamento instrumentaliza essa sua fúria vaidosa e a usa a favor das teses as mais exóticas.
De fato, o STF é um tribunal de tradição multicentenária. O pressuposto para estar ali deveria ser a vergonha na cara.
Por Reinaldo Azevedo
16/08/2013
 às 15:52

Lewandowski prepara terreno para tentar beneficiar trio mensaleiro do PT

Por Laryssa Borges, na VEJA.com. Volto no próximo post:
O áspero bate-boca entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, que encerrou precocemente a última sessão plenária do julgamento do mensalão, nesta quinta-feira, intrigou os advogados dos réus e os demais integrantes da corte. Não que o antagonismo e as rusgas entre os dois magistrados, que ocupam o papel de relator e revisor do mensalão, respectivamente, seja novidade. O que chamou a atenção foi a virulência com que Barbosa tentou impedir o colega de tribunal de discorrer sobre a possibilidade de aplicar-se uma legislação mais branda na definição da pena dos mensaleiros condenados por crimes de corrupção. A reação pareceu — e foi — desmedida. Mas também é fato que a intervenção de Lewandowski pouco tinha de inocente.
Após a confusão, o site de VEJA ouviu de dois ministros da corte e de advogados envolvidos no julgamento a mesma avaliação: Barbosa identificou na conduta de Lewandowski uma tentativa de preparar terreno para aliviar a pena de réus centrais do esquema, mais precisamente a cúpula do PT no auge do mensalão.
A briga começou porque Barbosa acusou Lewandowski de tentar usar um embargo de declaração — recurso destinado a esclarecer eventuais omissões ou contradições na sentença — para reabrir um tópico do julgamento. O questionamento foi apresentado pelo réu Bispo Rodrigues, que era deputado federal do extinto PL (hoje PR) na época do escândalo. Rodrigues foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro — seis anos e três meses de prisão. Ele questiona o fato de ter sido condenado por corrupção passiva com base na Lei 10.763, de 2003, que prevê penas mais altas para corrupção. O argumento do réu é que o acordo financeiro firmado entre o PT e o PL ocorreu em 2002, quando estava em vigor uma legislação mais branda para crimes de corrupção.
Legislação
Questionamentos sobre qual lei contra a corrupção deve ser aplicada nas condenações aparecem nas peças de defesa do trio petista. Uma mudança no entendimento assentado pela corte no acórdão poderia representar, no mínimo, um ano a menos de cadeia para José Dirceu e Delúbio Soares. No caso de José Genoino, a sentença final poderia ficar abaixo dos seis anos de reclusão em regime semiaberto. “Para quem foi condenado, um ano faz muita diferença”, diz o advogado Luiz Fernando Pacheco, que defende Genoino no mensalão.
Para Pacheco, que também questiona o uso da lei mais severa no apenamento do ex-presidente do PT, o crime de corrupção ativa se consolida na promessa ou oferta de vantagem indevida, e não no efetivo pagamento da propina aos mensaleiros. “O tribunal entendeu que a corrupção se exaure na promessa”, afirma o advogado. Por esta tese, seria irrelevante se e quando corruptor e corrupto receberam os benefícios que pretendiam.
O debate sobre a lei de corrupção ocorre porque, em novembro de 2003, uma nova legislação entrou em vigor, ampliando as penas para corruptos e corruptores para intervalos de dois a doze anos. Os advogados de defesa alegam que os acordos para a distribuição de recursos no esquema criminoso teriam acontecido antes da vigência desta lei e, portanto, sob o guarda-chuva de uma norma mais benéfica (com penas de um a oito anos).
Na próxima quarta-feira (dia 21), o plenário do STF vai retomar a discussão sobre a lei de corrupção que deve ser aplicada no julgamento do mensalão. Além de dar continuidade à análise do recurso do ex-deputado Bispo Rodrigues, os ministros preveem julgar recurso do advogado Rogério Tolentino, ex-braço direito do operador do mensalão, Marcos Valério. No recurso, a discussão é exatamente a mesma.
A partir de agora, as discussões levarão em conta dois aspectos: 1) o fato de o delito de corrupção ser formal e se consumar instantaneamente com a simples solicitação ou promessa da vantagem, independentemente do efetivo recebimento da vantagem; 2) se deve ser aplicado no caso do mensalão a súmula 711 do STF, que estabelece que se aplica a lei mais severa se a participação criminosa se estendeu no tempo e se uma parte dos crimes ocorreu na vigência da lei mais grave.
Por Reinaldo Azevedo
16/08/2013
 às 15:33

Os mortos do Egito sem direito nem mesmo à notícia. Ou: Islamofilia da imprensa ocidental esconde os cadáveres dos cristãos

Vejam este vídeo. É uma igreja copta, incendiada por milícias islâmicas no Egito. Volto em seguida.
No ano passado, pelo menos 105 mil pessoas foram assassinadas no mundo por um único motivo: eram cristãs. O número foi anunciado pelo sociólogo Maximo Introvigne, coordenador do Observatório de Liberdade Religiosa, da Itália. E, como é sabido, isso não gerou indignação, protestos, nada. Segundo a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), 75% dos ataques motivados por intolerância religiosa têm como alvos os… cristãos. Mundo afora, no entanto, o tema quente, o tema da hora — e não é diferente da imprensa brasileira —, é a chamada “islamofobia”.
Existe  islamofobia? Sem dúvida. Muitas vezes, no entanto, entra nessa categoria a justa reação de países ocidentais à tentativa de comunidades islâmicas de impor seus costumes à revelia das legislação dos países democráticos que as abrigam. O dado inquestionável, no entanto, é que a “islamofobia” gera, quando muito, manifestações de preconceito — em si mesmo odiosas. Já a “cristofobia” causou a morte de 105 mil pessoas só no ano passado. Há lugares em que ser cristão é, com efeito, muito perigoso: Nigéria, Paquistão, Mali, Somália e… Egito — especialmente depois da chamada “revolução islâmica”, ou “Primavera”, na linguagem, vamos dizer assim, floral da deslumbrada imprensa ocidental.
Números: desde a deposição de Mohamed Morsi, 52 templos cristãos, da Igreja Copta, foram atacados no país, especialmente no interior — 17 desses ataques aconteceram nos últimos dois dias, depois do confronto entre o Exército e as forças da Irmandade Muçulmana, que resultaram em centenas de mortos. Atenção! Organizações cristãs estimam em pelo menos 200 os cristãos assassinados por milícias islâmicas só depois da queda do líder da Irmandade Muçulmana.
A onda de indignação que se seguiu ao massacre dos partidários da Irmandade é justa. Não há como o mundo civilizado aceitar essa prática. E não serei eu aqui a relativizar a tragédia — nem de forma oblíqua. Até porque nunca sou oblíquo. Pago o preço de jamais ser ambíguo; não costumo esperar o andamento dos fatos e a consequente onda de opinião majoritária para deixar claro o que penso. Nem sempre é uma operação tranquila. O que me parece inaceitável é que os constantes ataques aos cristãos no Egito, desde a dita “revolução”, não tenham merecido jamais o devido destaque. “Ora, Reinaldo, por que o destaque seria ‘devido’? Só porque são cristãos?” Não! Porque eram e são agressões motivadas pela intolerância. Não há uma contabilidade oficial dos cristãos mortos — não que eu tenha encontrado ao menos. Mas passei aqui umas boas três horas e pouco lendo o noticiário desde a primeira ocupação da praça Tahrir, que resultou na queda de Hosni Mubarak. Somando-se todas as ocorrências, os mortos devem passar de 500. Protestos mundo afora? Quase nada!
Os islâmicos são muito mais eficientes em fazer circular a sua versão dos fatos. E com isso não estou negando o massacre. Mas indago: mereceu o devido destaque o fato de que os partidários de Mursi também estavam armados? “Ah, dar relevo a esse fato poderia servir para justificar as mortes.” Não justifica nada. Apenas se cumpre o dever de informar o que aconteceu. Adama Dieng, assessor especial de Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, alertou para o risco de represálias aos cristãos. Risco? O vídeo lá no alto fala por si. Os ataques se intensificaram depois da queda de Mursi, mas são uma rotina desde que teve início a chamada “Primavera” no país. “Primavera” para quem?
Os coptas correspondem a 10% da população egípcia, estimada em 85 milhões de pessoas. Estamos falando de uma comunidade que reúne ao menos 8,5 milhões. Ainda que fossem apenas 85 pessoas! Uma Primavera libertária protegeria o seu direito de escolher uma religião. Não a “primavera” promovida pela Irmandade Muçulmana. Dei aqui destaque a uma entrevista que Duda Teixeira, de VEJA, fez em 2011 com Esam El-Eriam, porta-voz da Irmandade. Segundo ele, os responsáveis pela perseguição aos cristãos eram os partidários de Mubarak (o presidente deposto), os americanos e os israelenses. Teixeira, então, lhe dirigiu a seguinte pergunta, que mereceu uma resposta estupefaciente (seguem em vermelho):
Eu e meu fotógrafo viajamos até Soul, onde uma igreja e casas de cristãos foram incendiadas. Os moradores muçulmanos nos impediram de entrar na vila, acusaram-nos de ser espiões estrangeiros e nos ameaçaram… Parece-me improvável que estivessem a serviço de americanos e israelenses.
Se quiser, posso dar o telefone de uma pessoa na vila de Soul para acompanhá-los em segurança.
Entenderam? Igreja e casas de cristãos tinham sido incendiadas. Os muçulmanos impediam o acesso à vila, mas bastava um simples telefonema do representante da Irmandade — que nada tinha a ver com aquilo, claro!!! — para que os jornalistas entrassem “em segurança” na área proibida. Por que, então, a Irmandade não impediu os ataques? Resposta: porque eram promovidos, como resta evidente, por seus partidários.
O mais trágico nessa história toda, é bem provável, ainda está por vir. Eu cansei de ler na imprensa brasileira, americana, francesa, espanhola, de todo lugar, textos que chamavam a Irmandade Muçulmana de “força moderada”. Não me impressiona que essa gente tenha conseguido vender essa imagem à, digamos assim, “intelligentsia” ocidental, preguiçosamente “islamofílica” e, não custa lembrar, anti-Israel. É um desdobramento natural do antiamericanismo, um dos filhos bastardos das esquerdas socialistas. O socialismo morreu, sim, mas seus subprodutos compõem hoje em dia o establishment cultural. Quem se dedicar ao estudo das ideias encontrará facilmente os dutos que ligam a esquerda à propaganda islâmica — embora as revoluções islâmicas costumem enforcar esquerdistas. Eles não ligam. Lembro que Michel Foucault, por exemplo, escreveu verdadeiras odes em prosa à revolução iraniana, na qual conseguia enxergar, não estou brincando, até mesmo um apelo sensual, de natureza, pasmem!, homoerótica. Não estou brincando nem exagerando. Os homossexuais, como Foucault, foram pendurados em guindastes, pelo pescoço, em praça pública pelo regime dos aiatolás. Há gente que tem a ambição de saber o que se passava pela mente perturbada daquele senhor…
Encerro
Não existe democracia se inexistem valores democráticos. Se a Irmandade Muçulmana continuasse no poder — ou se vier a recuperá-lo —, retoma-se, ou a ela se dá continuidade, a rotina de caçar cristãos. Matam-se 10 hoje, 20 amanhã, 25 um pouco mais adiante. Nada que escandalize o mundo reverentemente islamofílico. Milícias muçulmanas massacraram, ao longo de cinco ou seis anos, pelos menos 400 mil cristãos em Darfur. Não valeram metade da tinta — ou dos bytes — dispensados aos mortos de há dois dias no Egito. Não, senhores! Não estou aqui a dizer que se deveria tratar essa tragédia como rotina. O que estou a dizer, sim, é que o mundo precisa começar a se importar também com os mortos sem pedigree militante ou que estão fora das ideias que compõem a metafísica influente.
Seria estúpido, mentiroso, falso, intelectualmente criminoso afirmar que os mortos de agora fizeram por merecer. De jeito nenhum! Mas não dá para fazer de conta que essa carnificina esteja fora dos planos da Irmandade Muçulmana, que moderada nunca foi. Fosse, não teria tentando usar a eleição democrática para implementar uma ditadura religiosa. O açougue que se vê nas ruas integra, infelizmente, a lógica do martírio, que compõe o universo escatológico dessa gente. A Irmandade tinha boas razões para antever que estava empurrando o país para o caos. E continuou na sua marcha. No fim das contas, morrer pela causa é considerado glorioso. Os algozes, que fazem o serviço sujo, são os odiosos colaboradores involuntários dessa mística do sacrifício.
Por Reinaldo Azevedo
16/08/2013
 às 4:11

LEIAM ABAIXO

— Lewandowski e Barbosa quase saem no tapa por causa de um bispo… Imaginem quando chegar a hora do recurso de Dirceu, o “papa”… Ou: De um lado, chicana, sim; do outro, destempero;
— Saca? É Capilé recorrendo à “mídia tradicional” para tentar se explicar, saca? Mas ele não explicou nada, sacou? E disse por que não paga cachê. A lógica me pareceu pré-capitalista. Mas com dinheiro da Petrobras e do Banco do Brasil! Saca? Saca!!!;
— Governo de SP entrega à Justiça pedido de indenização contra a Siemens;
— Senador cobra explicações sobre verbas da Petrobras e do Banco do Brasil repassadas ao “Fora do Eixo”, de Capilé;
— Além de reter cachê de artistas, Capilé dá calote em hotel;
— Um dia depois de declarações infelizes, novo ministro do STF tenta se redimir. Embargos infringentes dirão se é Dr. Jekyll ou Mr. Hyde;
— O nosso blog na página de Juan Arias, do “El País”;
— Coitado do Rio de Janeiro! Tão perto do Cristo, tão longe de Deus!;
— Lobão acerta os orelhudos vermelhos;
— A OAB no Rio envergonha e enxovalha o estado de direito; virou babá de mascarados que espalham o terror na cidade;
— Agora são os black blocs que usam gás de pimenta contra a polícia. Mas os coleguinhas continuam apaixonados por aqueles que querem espancá-los;
— Serra pede prévias e diz que será candidato;
— Cobertura de baderna em SP e no Rio evidencia que a imprensa está cedendo às pressões de milícias, como a Mídia Ninja e o subjornalismo petralha, financiado por estatais e governos do PT. Nesse mundo, a ordem democrática se submete à violência e ao terror. O jornalismo terá de escolher: ou defende os valores que garantem a própria democracia ou também vandaliza;
— Câmara dos Deputados aprova royalties do pré-sal para saúde e educação;
— Protesto promovido por PT e extrema esquerda para parar São Paulo fracassa; como de hábito, a turma apela à violência;
— Repórter anuncia: “Polícia DETEU dois manifestantes”. Seria o Apocalipse?;
— Na CCJ, que julga o caso Donadon, aparece o fantasma dos mensaleiros. Ou: Relatório em separado de Jutahy Jr. busca impedir a chicana. Ou ainda: É possível haver parlamentar sem direitos políticos?
Por Reinaldo Azevedo
16/08/2013
 às 4:01

Lewandowski e Barbosa quase saem no tapa por causa de um bispo… Imaginem quando chegar a hora do recurso de Dirceu, o “papa”… Ou: De um lado, chicana, sim; do outro, destempero

Vocês viram, ou leram respeito, o bate-boca entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski. Vou começar por censurar quem estava com a razão técnica, embora isso tenha perdido relevo para o seu temperamento irascível. Eu, que escrevo sobre essas coisas, até posso afirmar que Lewandowski estava fazendo chicana — isto é, atuando com o intuito deliberado de retardar o julgamento. Mas Barbosa? Não lhe cabe dirigir esse tipo de acusação a um colega, por mais que discorde dele. O julgamento está sendo transmitido ao vivo, os jornais, sites e blogs estão aí, tudo está aos olhos de todo. Mas Barbosa é quem é. Mesmo quando no exercício da chefia do Poder — e isso recomenda especial contenção —, põe o homem acima da cargo. A atuação de Lewandowski, com a devida vênia, é mesmo exasperante, para ser delicado. Mas não cabe ao presidente do tribunal acusar um membro da corte de fazer chicana. Ainda que Lewandowski estivesse a fazer… chicana!
Qual é o busílis?
Os ministros discutiam um embargo de declaração do ex-deputado do PL Bispo Rodrigues. Ele foi condenado por corrupção passiva (3 anos) e lavagem de dinheiro (3 anos e seis meses). O Congresso endureceu a pena para corrupção em novembro de 2003, quando foi aprovada a Lei 10.763. A pena mínima passou de 1 para 2 anos, e a máxima, de 8 para 12. Muito bem: é direito do réu ser processado pela lei que vigia quando o crime foi cometido.
O que alega Rodrigues? Que os acordos financeiros entre o PL e o PT foram celebrados no fim de 2002, na vigência, portanto, da lei mais branda. Ocorre que os pagamentos foram efetivamente feitos quando já vigorava o novo texto. Antes que avance, uma nota: se Rodrigues não foi condenado à pena máxima, mas só a três anos, por que a reclamação? Porque a dosimetria é pensada tendo como base a pena mínima, a partir da qual se aplicam os agravantes e atenuantes. Sigamos.
Esse assunto já tinha sido debatido pela corte e, por unanimidade, escolheu-se, conforme súmula do próprio STF, aplicar a lei mais dura. REITERO: POR UNANIMIDADE, COM O VOTO DE LEWANDOWSKI! Ora, ainda que o acordo tivesse sido celebrado antes, se o dinheiro não tivesse sido repassado, nem mesmo teria havido o crime. Mas foi. E na vigência da nova lei. Assim, razão para Barbosa se exasperar, convenham, havia. Mas não poderia ter reagido como reagiu. Ele estrilou ao perceber que Lewandowski estava prestes a acolher o embargo — seria provavelmente voto vencido. Celso de Mello tentou contemporizar. Transcrevo o rebu:
Celso de Mello – Os argumentos são ponderáveis. Talvez pudéssemos encerrar essa sessão e retomar na quarta-feira. Poderíamos retomar a partir deste ponto específico para que o tribunal possa dar uma resposta que seja compatível com o entendimento de todos. A mim me parece que isso não retardaria o julgamento, ao contrário, permitiria um momento de reflexão por parte de todos nós. Essa é uma questão delicada.
Barbosa – Eu não acho nada ponderável. Acho que ministro Lewandowski está rediscutindo totalmente o ponto. Esta ponderação…
Lewandowski – É irrazoável? Eu não estou entendendo…
Barbosa – Vossa Excelência está querendo simplesmente reabrir uma discussão…
Lewandowski – Não, estou querendo fazer justiça!
Barbosa – Vossa Excelência compôs um voto e agora mudou de ideia.
Lewandowski – Para que servem os embargos?
Barbosa – Não servem para isso, ministro. Para arrependimento. Não servem!
Lewandowski – Então, é melhor não julgarmos mais nada. Se não podemos rever eventuais equívocos praticados, eu sinceramente…
Barbosa – Peça vista em mesa!
Celso de Mello – Eu ponderaria ao eminente presidente, talvez conviesse encerrar trabalhos e vamos retomá-los na quarta-feira começando especificamente por esse ponto. Isso não vai retardar…
Barbosa – Já retardou. Poderíamos ter terminado esse tópico às 15 para cinco horas…
Lewandowski – Mas, presidente, estamos com pressa do quê? Nós queremos fazer justiça.
Barbosa – Pra fazer nosso trabalho! E não chicana, ministro!
Lewandowski – Vossa Excelência está dizendo que eu estou fazendo chicana? Eu peço que Vossa Excelência se retrate imediatamente.
Barbosa – Eu não vou me retratar, ministro. Ora!
Lewandowski – Vossa Excelência tem obrigação! Como presidente da Casa, está acusando um ministro, que é um par de Vossa Excelência, de fazer chicana. Eu não admito isso!
Barbosa – Vossa Excelência votou num sentido, numa votação unânime…
Lewandowski – Eu estou trazendo um argumento apoiado em fatos, em doutrina. Eu não estou brincando. Vossa Excelência está dizendo que eu estou brincando? Eu não admito isso!
Barbosa – Faça a leitura que Vossa Excelência quiser.
Lewandowski – Vossa Excelência preside uma Casa de tradição multicentenária…
Barbosa – Que Vossa Excelência não respeita!
Lewandowski – Eu?
Barbosa – Quem não respeita é Vossa Excelência.
Lewandowski – Eu estou trazendo votos fundamentados…
Barbosa – Está encerrada a sessão!
Lewandowski, o reincidente
Não dá! Uma corte suprema não pode se dar a esses desfrutes. Isso é ruim para o tribunal e para o país.
Lewandowski, cumpre notar, é reincidente nesse tipo de prática. Lembram-se do primeiro dia do julgamento? Por duas vezes, no curso do processo, COM O SEU VOTO, o tribunal se recusou a desmembrar o processo. Negou-se, amparado na lei, a enviar para a primeira instância os réus que não tinham foro especial. E o que fez o ministro no primeiro dia do julgamento?
Votou a favor de um recurso preliminar de Márcio Thomaz Bastos para… desmembrar o processo! Vale dizer: também ali, a exemplo do que fez nesta quinta, Lewandowski votava contra Lewandowski. Seu voto, então, que deveria ser um improviso, já que, em tese, ninguém sabia que Bastos entraria com esse pedido, tinha… 70 páginas! Foram mais de duas horas votando sobre uma questão preliminar, acatando-a, que ele próprio já havia por duas vezes recusado.
Como presidente do TSE, o ministro fez uma das considerações mais duras que já li contra a Lei da Ficha Limpa. Tempos depois, ele se tornou o mais entusiasmado defensor dessa mesma lei.
O bate-boca de ontem, que quase chega a sopapos nos bastidores se deu por causa de um bispo… Imaginem quando chegar a vez de Dirceu, o “papa”…
Por Reinaldo Azevedo

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