quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Partidários de Morsi atacam prédios públicos e governo autoriza uso de munição letal



Número de mortos no massacre de quarta-feira no Egito chega a 638, segundo governo
15 de agosto de 2013 | 8h 13

O Estado de S. Paulo


(Atualizada às 16h33) CAIRO - No dia seguinte ao massacre de partidários do presidente deposto Mohamed Morsi, o a Irmandade Muçulmana, grupo do qual Morsi faz parte, convocou novos protestos e atacou prédios públicos e igrejas em todo país. O governo reagiu, autorizando a polícia a usar munição letal contra os manifestantes. O ministério da Saúde do Egito elevou para 638 o número de pessoas mortas pela repressão.

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Ahmed Gomaa / AP
Mesquita de Rabaa, ocupada por partidários de Morsi, foi parcialmente destruída

Na quarta-feira, após vários dias de ameaças, as forças do governo invadiram com violência dois acampamentos dos partidários de Morsi no Cairo. Os confrontos se espalharam rapidamente, e uma fonte do Ministério da Saúde informou na quinta-feira que 638 pessoas morreram e mais de 3,5 mil ficaram feridas no Cairo, em Alexandria e em várias outras cidades.

A Irmandade Muçulmana diz que o número de mortos foi bem superior, sendo que um porta-voz chegou a falar em 3.000. É impossível verificar de forma independente a dimensão da violência.

O Cairo e outras cidades tiveram uma noite relativamente calma depois do derramamento de sangue na quarta-feira, quando o governo provisório declarou estado de emergência com validade de um mês e impôs um toque de recolher noturno na capital e em dez províncias.

Pela manhã, no entanto, centenas de partidários da Irmandade Muçulmana do Egito invadiram um prédio do governo no Cairo e atearam fogo na entrada do edifício, apesar da repressão deflagrada pelas forças de segurança do país, disseram testemunhas e a TV estatal.

No local onde ficava um dos acampamentos, garis recolhiam nesta quinta-feira os restos ainda fumegantes das barracas, e soldados desmontavam o palanque que havia no meio do terreno. Um veículo blindado queimado estava abandonado no meio da rua.

O Ministério egípcio do Interior deu instruções às forças de segurança do país para que empreguem munição letal para enfrentar qualquer ataque contra as instituições governamentais e os soldados da ordem. Em comunicado, o Ministério apontou que tomou esta decisão "por conta dos ataques terroristas da Irmandade Muçulmana contra instituições e a polícia, suas tentativas de se apoderar de armas e a interdição de caminhos para semear o caos".

O estado de emergência e o toque de recolher devolvem ao Exército poderes de prender suspeitos indefinidamente, algo que vigorou durante décadas no Egito até a rebelião popular que derrubou o ditador Hosni Mubarak, em 2011.

O Exército diz não desejar manter o poder, e alega que interveio para destituir Morsi em julho atendendo ao forte clamor popular pela renúncia dele. O governo provisório instalado depois disso prometeu realizar novas eleições em cerca de seis meses, mas os esforços para restaurar a democracia no Egito estão sendo ofuscados por uma crise política que polarizou o país entre grupos pró e anti-Morsi, primeiro presidente eleito democraticamente na história egípcia.

O vice-presidente Mohamed ElBaradei, ganhador do Nobel da Paz em 2005 e principal nome liberal no governo provisório, renunciou em protesto contra a violência da quarta-feira. / REUTERS e EFE 

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