Em meio a uma crise entre o Palácio do Planalto e sua base aliada, deputado mineiro diz que 'boa parte do PMDB tem simpatia pelo senador Aécio Neves'
Marcela Mattos, de Brasília
Deputado Leonardo Quintão: 199 assinaturas para criar a CPI da Petrobras (Janine Moraes/Agência Câmara)
"Não podemos tapar os nossos olhos. Precisamos ter maturidade e rediscutir a posição do partido"
O deputado mineiro Leonardo Quintão é um exemplo claro da insatisfação que se espalhou pela bancada do PMDB na Câmara com o governo Dilma Rousseff. Enquanto o Palácio do Planalto tentava contornar a crise que travou a articulação política no Congresso nas últimas semanas, ele percorreu o plenário coletando assinaturas de deputados para criar uma CPI da Petrobras. Aproveitando os ânimos acirrados, recolheu 199 nomes, 52 deles somente na sua bancada - são necessárias 171 assinaturas para abrir a comissão. "O descontentamento dos parlamentares do PMDB com o governo tem aumentado muito", afirmou Quintão ao site de VEJA. Para o peemedebista, a crise tem duas frentes: a dificuldade dos parlamentares em conseguir recursos nos ministérios e as negociações eleitorais nos estados. Leia a entrevista.
O PMDB recolheu assinaturas para a criação de uma CPI contra a Petrobras. Foi uma ameaça ao governo? De forma alguma. Eu me considero da base. Agora, ser base é também ter voz e diálogo, o que nós não temos. A questão da Petrobras ocorreu pela falta de diálogo da presidente [da Petrobras] Graça Foster com o Congresso. Em uma estratégia pessoal, ela decidiu vender os ativos para investir no pré-sal. Nós consideramos isso um erro porque está causando prejuízo para a Petrobras. Não podemos ter na maior empresa do Brasil uma política que seja determinada por pensamentos individuais.
Mas essa CPI poderia trazer problemas para o governo. Eu espero que não crie uma crise. Mas, a despeito desse risco, eu não posso ser servil e fechar meus olhos. O maior impacto é fechar os olhos e deixar esse patrimônio ser vendido por um preço abaixo do mercado, dando prejuízo de bilhões de dólares para a Petrobras e para o povo brasileiro. A CPI vai impedir isso e dar um freio nessa desordem. A maioria dos deputados que assinou a proposta é da base, foram mais de cem da base. Acho que CPI não é só para retaliar o governo, e sim dar rumo ao governo.
O presidente da Câmara, Henrique Alves, sinalizou que a CPI não vai ser instaurada. Acho que essa é a primeira fala dele, temos de conversar. Não cabe ao presidente dizer que sim ou que não. Acho que pega mal ao Parlamento inviabilizar essa investigação. Se a presidente Graça realmente determinar que vai dialogar e que esse patrimônio não vai ser entregue a grupos econômicos, eu acho que já é um grande avanço. Agora, vamos investigar.
No ano passado, o senhor desistiu da disputa da prefeitura de Belo Horizonte para abrir espaço para o candidato do PT, Patrus Ananias, com a garantia de um ministério. O senhor se sente enganado por não ter recebido o cargo? Geralmente, em politica não acontece assim como aconteceu comigo. Eu respeito a presidente Dilma, ela escolhe os seus ministros. Mas o ponto disso tudo é que eu não pedi para dialogar, não ofereci a minha desistência. Já tinha a minha candidatura registrada, já estava com a campanha toda estruturada e me procuraram pedindo para desistir em prol do projeto nacional. Eu entendi naquele momento que era importante aceitar, mas defendi meu estado e disse que o PMDB e Minas Gerais estavam sub-representados nos ministérios. Infelizmente, durante esse processo, o meu partido se apequenou, desistiu de lutar por um cargo maior, aceitando o Ministério da Agricultura. Fico triste de o PMDB ter se apequenado.
Na disputa pelo governo de Minas Gerais, há espaço para o PMDB apoiar a candidatura do senador Aécio Neves à Presidência? Boa parte do PMDB tem simpatia pelo Aécio Neves. Mas o jogo político começa no ano que vem. O senador tem uma habilidade muito grande de convencimento. A gente tem de ser franco nesse diálogo: se a parceria não for boa para o PT e o PMDB, o partido tem a obrigação de procurar os seus caminhos.
Essa é a vontade do senhor? Isso não depende de mim. Na semana que vem vou enviar uma carta para o presidente Valdir Raupp pedindo que o partido possa explicitar o que quer, para mostrar para a militância peemedebista qual o rumo do partido: ou buscar a coligação com o PT ou abrir diálogo com o PSDB. Nós vamos consultar as nossas bases. O senador Aécio tem a simpatia de boa parte dos peemedebistas de Minas Gerais. Eu sou da ala do PMDB que vai lutar para ter candidatura própria em Minas.
O governador Eduardo Campos procurou o senhor em busca de apoio em Minas? O Eduardo Campos me procurou. A intenção dele é de criar um palanque aqui no estado. Certamente a preferência do PMDB, caso decida apoiar outro nome, seria o Aécio. Mas ele me procurou, disse que a tendência é que seja candidato à Presidência da República. Ele me convidou para ser candidato ao governo estadual. Caso o PMDB decida não participar das eleições, pode ser uma opção.
Há uma crise entre o PMDB e o PT? Realmente o relacionamento não está bom. O descontentamento dos parlamentares do PMDB com o governo tem aumentado muito, mas não envolve a questão do pedido de CPI. Essa insatisfação a gente tem condição de resolver, mas precisa ter maturidade e não dizer que não existe o problema. Não podemos tapar os nossos olhos. Precisamos ter maturidade e rediscutir a posição do partido.
O PMDB quer mais espaço no governo? Quando o PT precisa do PMDB sabemos sentar para conversar. Mas quando o PMDB precisa do PT, temos de saber dialogar. O caso do Rio de Janeiro é notório. É o governo mais importante do PMDB. Não faz sentido a base se dividir. O governador está correto em defender o partido no estado. Caso o PT não entenda que seja importante, o governador também se sente na liberdade de tomar seu rumo.
Qual a origem desse descontentamento? Os deputados reclamam que os ministros do próprio PMDB não os atendem. Sempre que os parlamentares procuram os ministérios do PMDB, voltam sem ser atendidos. Isso fragiliza o mandato do parlamentar. O PMDB tem de ser representado dentro do governo de acordo com seu tamanho. Temos a vice-presidência da República, que é um cargo muito importante, mas temos de rever a nossa posição.
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O presidente da Câmara, Henrique Alves, sinalizou que a CPI não vai ser instaurada. Acho que essa é a primeira fala dele, temos de conversar. Não cabe ao presidente dizer que sim ou que não. Acho que pega mal ao Parlamento inviabilizar essa investigação. Se a presidente Graça realmente determinar que vai dialogar e que esse patrimônio não vai ser entregue a grupos econômicos, eu acho que já é um grande avanço. Agora, vamos investigar.
No ano passado, o senhor desistiu da disputa da prefeitura de Belo Horizonte para abrir espaço para o candidato do PT, Patrus Ananias, com a garantia de um ministério. O senhor se sente enganado por não ter recebido o cargo? Geralmente, em politica não acontece assim como aconteceu comigo. Eu respeito a presidente Dilma, ela escolhe os seus ministros. Mas o ponto disso tudo é que eu não pedi para dialogar, não ofereci a minha desistência. Já tinha a minha candidatura registrada, já estava com a campanha toda estruturada e me procuraram pedindo para desistir em prol do projeto nacional. Eu entendi naquele momento que era importante aceitar, mas defendi meu estado e disse que o PMDB e Minas Gerais estavam sub-representados nos ministérios. Infelizmente, durante esse processo, o meu partido se apequenou, desistiu de lutar por um cargo maior, aceitando o Ministério da Agricultura. Fico triste de o PMDB ter se apequenado.
Na disputa pelo governo de Minas Gerais, há espaço para o PMDB apoiar a candidatura do senador Aécio Neves à Presidência? Boa parte do PMDB tem simpatia pelo Aécio Neves. Mas o jogo político começa no ano que vem. O senador tem uma habilidade muito grande de convencimento. A gente tem de ser franco nesse diálogo: se a parceria não for boa para o PT e o PMDB, o partido tem a obrigação de procurar os seus caminhos.
Essa é a vontade do senhor? Isso não depende de mim. Na semana que vem vou enviar uma carta para o presidente Valdir Raupp pedindo que o partido possa explicitar o que quer, para mostrar para a militância peemedebista qual o rumo do partido: ou buscar a coligação com o PT ou abrir diálogo com o PSDB. Nós vamos consultar as nossas bases. O senador Aécio tem a simpatia de boa parte dos peemedebistas de Minas Gerais. Eu sou da ala do PMDB que vai lutar para ter candidatura própria em Minas.
O governador Eduardo Campos procurou o senhor em busca de apoio em Minas? O Eduardo Campos me procurou. A intenção dele é de criar um palanque aqui no estado. Certamente a preferência do PMDB, caso decida apoiar outro nome, seria o Aécio. Mas ele me procurou, disse que a tendência é que seja candidato à Presidência da República. Ele me convidou para ser candidato ao governo estadual. Caso o PMDB decida não participar das eleições, pode ser uma opção.
Há uma crise entre o PMDB e o PT? Realmente o relacionamento não está bom. O descontentamento dos parlamentares do PMDB com o governo tem aumentado muito, mas não envolve a questão do pedido de CPI. Essa insatisfação a gente tem condição de resolver, mas precisa ter maturidade e não dizer que não existe o problema. Não podemos tapar os nossos olhos. Precisamos ter maturidade e rediscutir a posição do partido.
O PMDB quer mais espaço no governo? Quando o PT precisa do PMDB sabemos sentar para conversar. Mas quando o PMDB precisa do PT, temos de saber dialogar. O caso do Rio de Janeiro é notório. É o governo mais importante do PMDB. Não faz sentido a base se dividir. O governador está correto em defender o partido no estado. Caso o PT não entenda que seja importante, o governador também se sente na liberdade de tomar seu rumo.
Qual a origem desse descontentamento? Os deputados reclamam que os ministros do próprio PMDB não os atendem. Sempre que os parlamentares procuram os ministérios do PMDB, voltam sem ser atendidos. Isso fragiliza o mandato do parlamentar. O PMDB tem de ser representado dentro do governo de acordo com seu tamanho. Temos a vice-presidência da República, que é um cargo muito importante, mas temos de rever a nossa posição.
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