Cesário Ramalho da Silva
Nos últimos 40 anos, o agro brasileiro obteve extraordinários ganhos de produtividade. Graças às pesquisas científicas que resultaram no domínio da tecnologia de produção agropecuária nos trópicos, o Brasil deixou de ser importador para ser protagonista na produção e exportação de alimentos, fibras, agroenergia e produtos diferenciados, como flores, madeira, celulose e tantos outros.
Alcançamos a segurança alimentar, com qualidade, preços competitivos e de modo sustentável,e ainda geramos constantes excedentes exportáveis. De 1975 a 2011, o valor da cesta básica caiu mais de 50%. No ciclo de um ano, o Brasil consegue produzir comida para 1 bilhão de pessoas.
Para ter ideia de como o produtor passou a fazer mais com menos, a área plantada dobrou, mas a produção de grãos cresceu cinco vezes nas últimas quatro décadas, rompendo a casa das 180 milhões de toneladas. Se tivéssemos mantido a mesma produtividade, precisaríamos hoje de mais 100 milhões de hectares para produzir o que produzimos em apenas 50 milhões.
Na proteína animal, o País ampliou em quatro vezes a produção de carne bovina, triplicou a de carne suína e se tornou o terceiro maior produtor de carne de frango. Consolidou-se como o maior exportador de café, açúcar, suco de laranja, etanol e soja, e o terceiro em algodão, levando-nos a ficar atrás apenas dos EUA e da União Europeia no ranking mundial dos maiores exportadores de produtos agropecuários.
Toda essa grandeza coincide com a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que completa 40 anos. Criada em 26 de abril de 1973, a instituição tornou-se o maior agente de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para geração de tecnologia de ponta para o agro. São feitos da Embrapa o melhoramento genético, gerando cultivares específicos para cada região; a transformação das terras pobres do Cerrado em solos férteis; rotação de culturas, técnicas para recuperação e manejo de pastagens e controle de pragas e doenças; novos processos de adubação, como a fixação biológica de nitrogênio; pesquisas em sanidade animal, reprodução, nutrição, entre outras inovações.
No entanto, o jogo agrícola internacional é dinâmico, e o Brasil tem de investir muito mais em pesquisa para que concorrentes não revertam a situação. Uma eventual defasagem tecnológica fará com que países que antes não traziam riscos passem a trazer.
O aparelhamento político em curso no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que vem esvaziando a bagagem técnica da pasta - sem lhe dar calibre político -, não pode se estender à Embrapa. O desmantelamento do Mapa preocupa e precisa ser estancado antes que se propague e atinja nosso maior expoente em inteligência para pesquisa agropecuária, trazendo prejuízos ao agro e, consequentemente, ao País. Como sabiamente disse um dos seus mais respeitáveis pesquisadores, Evaristo Eduardo de Miranda, a Embrapa não trabalha para o produtor, trabalha para o consumidor, que se beneficia de tudo o que é proporcionado pelo agro.
Aumento populacional e maior longevidade, incremento de renda e consumo crescente são os vetores do avanço contínuo da demanda mundial por produtos agropecuários,num quadro em que a oferta não acompanha. Num cenário cada vez mais restritivo de produção, pautado por desafios financeiros, sociais, ambientais e institucionais, o agro terá de acentuar sua produção verticalmente (mais produtividade), tendo como chave de evolução a tecnologia e as suas mais diversas ferramentas, com destaque para a biotecnologia, a nanotecnologia e a genômica.
O futuro está atrelado ao uso da ciência em favor do conhecimento e novas tecnologias. Para, no mínimo, não perder o posto privilegiado que conquistou, o agro do Brasil precisa de uma retaguarda estratégica ancorada em mais investimentos em ciências agrárias, o que passa neste momento pela blindagem e proteção do nosso maior patrimônio nessa área, a Embrapa. Fonte: OESP, 27 de abril de 2013.
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