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ISABEL FLECK
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Com um PIB de 35% do total latino-americano e crescimento que supera os vizinhos do Mercosul, a jovem Aliança do Pacífico --que completa um ano em junho-- dividiu a região e já desperta o interesse como "a alternativa pró-mercado" do continente.
Diante de um Mercosul com imagem fragilizada por decisões políticas recentes, como a suspensão do Paraguai, e pela lentidão em fechar um acordo de livre comércio com a União Europeia, o grupo formado por Colômbia, Chile, Peru e México tomou para si o papel de "novo motor econômico e de desenvolvimento da América Latina" --na definição do presidente colombiano, Juan Manuel Santos.
De fora, o Brasil acompanha o crescimento do bloco vizinho tentando não mostrar preocupação. Segundo o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, a Aliança "não tira o sono" do Brasil. Para o Itamaraty, não existe "inveja" ou medo de "perder espaço".
Editoria de Arte/Folhapress |
No entanto, o contraponto mais liberal ao Mercosul está criado e ganha atenção --o que se deve, em parte, pelo papel "pouco ativo" do Brasil e do bloco do sul, na opinião do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
"O Brasil não conseguiu exercer uma liderança capaz de impedir a fragmentação da América do Sul", disse FHC à Folha. "Os países do Mercosul, como se sabe, não se esforçaram muito por acordos comerciais e tampouco avançaram na direção de formar um verdadeiro bloco integrado."
Em 2011, os quatro países da Aliança do Pacífico já exportaram 10% a mais em bens e serviços que os cinco membros do Mercosul (incluindo os dados da Venezuela, que então não fazia ainda parte do bloco).
O crescimento registrado em 2012 entre os integrantes do grupo do Pacífico foi de 4,9%, em média --índice bem acima dos 2,2% do Mercosul.
E enquanto as negociações de um acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia se desenrolam lentamente após mais de uma década de discussões, a Aliança já atraiu França, Espanha e Portugal como membros observadores.
Para o Brasil, em especial, o bloco do Pacífico ameaça o que era até então uma importante vantagem comparativa do país: o tamanho do mercado. Juntos, os países da Aliança têm população de 209 milhões e PIB de US$ 2 trilhões --importância próxima aos 198 milhões de habitantes e US$ 2,4 trilhões de PIB do Brasil.
"Para atrair investimentos, a Aliança é muito mais interessante que o Brasil, porque é do tamanho do país, mas cresce mais rápido e tem condições melhores em termos de qualidade de políticas, com inflação baixa e economias menos fechadas", avalia Armando Castelar Pinheiro, coordenador de Economia Aplicada do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da Fundação Getulio Vargas.
O governo brasileiro nega ameaça, já que o "dinamismo" do comércio dos países da Aliança com os europeus é diferente do do Mercosul.
"O tamanho das economias e o fluxo de bens que exportamos para a Europa é outro. Pode haver uma ou outra sobreposição de interesses, mas tanto em escala como em produto não há por que temer perder espaço", diz Tovar Nunes, porta-voz do Itamaraty.
COMPETITIVIDADE
O Brasil sabe, contudo, que o novo bloco na região exigirá maior competitividade para disputar o mercado tanto com os países que formam o bloco como dentro deles.
Na cúpula da Aliança em Cali, na última semana, o grupo definiu a exclusão total de tarifas para 90% dos produtos comercializados dentro do bloco --ao menos para 50%, as regras começam a valer em 30 de junho. Fora do bloco, os quatro membros mantêm, somados, acordos de livre comércio com mais de 50 países.
O Itamaraty destaca ter acordos de complementação econômica com Chile, Colômbia, Peru e México, o que garantiria benefícios tarifários nas trocas comerciais. Só no primeiro trimestre de 2012, porém, as exportações brasileiras para os quatro países caíram, em média, 10%.
"Se estamos perdendo mercado, não é por falta de acordo", avalia Nunes.
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