sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Adolescentes africanas fugitivas de guerra são prostituídas em SP




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CÉSAR ROSATI
DE SÃO PAULO
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Adolescentes africanas fugitivas de países em guerra estão sendo prostituídas em São Paulo. O esquema, comandado por uma máfia de origem europeia, foi denunciado nesta semana a uma comissão de deputados federais que investiga casos de exploração sexual infantil no Brasil.
Nos últimos quatro anos, o juiz da Vara de Infância e Juventude Paulo Fadigas acumulou pelo menos 30 casos de garotas africanas trazidas para o Brasil para serem prostituídas. São jovens carentes vindas do Congo, Eritreia, Somália e Angola.
Após ouvir as meninas e se certificar da veracidade das informações, denunciou o caso à CPI da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes da Câmara dos Deputados nesta semana, em São Paulo.
A máfia usa a fragilidade das meninas para convencê-las a sair da África. Constantemente estupradas em seus países de origem elas vêm para o Brasil com a esperança de ganhar dinheiro justamente com a prostituição.
Editoria de Arte/Folhapress
Segundo o juiz, a idade das meninas trazidas para o Brasil varia de 16 a 17 anos. O perfil delas é semelhante: na África, viviam em um país miserável em guerra, presenciavam ou sofriam estupros e passavam fome com frequência.
"Elas recebem uma proposta para trabalhar no Brasil. Uma menina relatou que havia sido estuprada várias antes de viajar do Congo para cá. Ai ela aceita qualquer proposta para fugir dessa realidade", disse o magistrado. O trajeto entre o país de origem e a capital paulista muitas vezes dura dias.
"As meninas cruzam diversas fronteiras para chegar até aqui", afirmou o juiz. Quando chegam a São Paulo, muitas já são encaminhadas para casas de prostituição em diversas regiões da cidade.
Chegando a São Paulo, elas são "hospedadas" em pequenos prostíbulos espalhados pela cidade, alguns deles na região de Pinheiros, na zona oeste. Algumas garotas conseguiram escapar do esquema e procuraram ajuda na Vara da Infância e Juventude.
Para o juiz Fadigas, no entanto, o número de adolescentes africanas vítimas da exploração sexual pode ser muito maior, pois não são todas que procuram ajuda. "Não conseguimos ter o controle de toda a situação. Só procuramos proteger aquelas que buscam ajuda, por isso investigo o caso", disse.
Relatora da CPI, a deputada federal Liliam Sá (PROS-RJ), afirma que os traficantes se aproveitam das facilidades para entrar no Brasil pelos aeroportos. De acordo com ela, não há um controle rigoroso de entrada e saída de menores estrangeiros nos terminais.
"Adolescentes estrangeiros que entram no país não passam por nenhuma entrevista, não se faz nenhum tipo de fiscalização, pois esse controle deveria ser feito no país de origem do jovem", disse.
De acordo com a deputada, na Argentina, por exemplo, quando se desembarca com uma criança, os pais ou responsáveis têm de apresentar, novamente, os documentos que comprovem que ela está entrando legalmente no país.
A Polícia Federal disse que já investiga casos como os revelados pelo juiz Paulo Fadigas. Os detalhes da investigação, porém, não foram revelados.

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