Por Carlos Chagas
Com todo o respeito e guardadas as proporções, há quem estabeleça um paralelo entre o Lula e Stalin, ainda que também registradas certas diferenças. Começando por estas, é verdade que na fundação do PT o Lula já era o Lenin, ou seja, sua trajetória não foi como a de Stalin, que começou nos quadros intermediários do Partido Bolchevique, subordinado ao líder maior, até galgar o posto máximo de csar de todas as Rússias. Aqui, o chefe inconteste sempre foi o Lula.
No entanto o paralelo é perfeito quando se atenta para a estratégia de Stalin de ir gradativamente se livrando dos Velhos Bolcheviques. Mesmo falando em renovação, não em depuração nem expurgo, revela-se há tempos um Lula obstinado em afastar quantos estiveram com ele na fundação do PT ou que logo depois se destacaram. Claro que os métodos são outros. Não existem fuzilamentos, mas o resultado é igual.
Basta notar que os líderes sindicalistas de 1980 sumiram, substituídos na CUT por marionetes sem iniciativa própria. Mais ou menos como a degola feita no Exército Vermelho, tomando-se como evidente exercer a central sindical o mesmo papel que as forças armadas soviéticas exerciam naqueles idos. A CUT lembra o braço armado do regime soviético, mas está sem generais, exatamente como a URSS ao ser invadida pela Alemanha de Hitler.
Vale à pena citar alguns políticos de expressão nos primórdios do PT que foram mandados embora ou tomaram a iniciativa de sair. Apesar do risco de esquecer montes deles. Sem falar nos intelectuais que pularam fora ou se viram defenestrados. Mas o que dizer de Marina Silva, Heloísa Helena, Plínio de Arruda Sampaio, Airton Soares, Bete Mendes, Cristóvan Buarque e tantos mais? Sem esquecer os que parecem próximos de tornar-se hóspedes da Lubianka, como Eduardo Suplicy, Paulo Pain, Humberto Costa, Lindbergh Farias, Wellington Dias, Arlindo Chinaglia e outros.
Ainda agora parecem estar em andamento os Processos de Moscou, valendo não resistir à tentação de comparar Aloísio Mercadante e Marta Suplicy a Kamevev e Zinoviev. Ano passado, nas eleições para a prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad foi tirado do nada para que os atuais dois ministros não botassem o pescoço de fora. Agora, nas preliminares para a escolha do candidato a governador, Mercadante submete-se a ficar à margem e até reconhece e agradece a imposição. Penitencia-se por ter sido influente. Marta também, aguardando-se o anúncio de algum ungido submisso aos ucasses do chefe. Parece que vai ser assim nos demais estados, pois a palavra do Lula é renovação. Mas não seria depuração? Expurgo?
Para reinar absoluto, o Lula não hesitou em mandar embora Wladimir Palmeira, de forma parecida como a de que Stalin mandou embora Leon Trotski: para o exílio, ainda bem que sem a picareta de Ramon Mercader. José Genoíno está para Bukárin tanto quanto José Dirceu, sempre fieis mas no fim fuzilados. Haverá um Béria nessa comparação? Dizem que fisicamente Rui Falcão parece-se com o todo-poderoso chefe da NKVD. Dilma segue o figurino de Molotov, porque integra a corte do nosso csar dos trópicos, engolindo ordens e decisões que gostaria de não adotar. Para os otimistas, o guia genial dos povos não perde por esperar. Logo surgirá um Kruschev, que não sabemos quem será.
Em suma, conclui-se hoje pelo aniquilamento dos últimos vestígios do espírito revolucionário do PT, trocado pela burocracia a serviço de Stalin, perdão, do Lula, que no Comitê Central ninguém ousa contraditar, com medo do expurgo ou da depuração, melhor corrigindo, da renovação. Enveredar pela História será oportuno, porque se ela não nos diz o que fazer, sempre apontará o que devemos evitar...
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