Categorias com data-base nos três primeiros meses do ano tiveram ganho real, acima da inflação, de 1,4%, em média, em comparação a 1,96% em 2012
30 de abril de 2013 | 21h 32
Cleide Silva e Renan Carreira, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - A inflação reduziu os ganhos dos trabalhadores no primeiro trimestre. A média de aumento real de categorias com data-base no período foi de 1,4%. Embora seja uma prévia, o dado indica ganho menor que o obtido em todo o ano de 2012, de 1,96%. O porcentual de categorias que conseguiram negociar reajustes acima da inflação também caiu para 87%, ante 94,6%.
Os dados são do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que não tem comparativos com o primeiro trimestre de 2012, pois só consolida resultados semestrais. Mostram, porém, que a perda já vinha ocorrendo desde o segundo semestre de 2012. Na primeira metade do ano, 96% das categorias conseguiram aumento real, com ganho médio de 2,23%.
O coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre, acredita em reversão dos dados principalmente a partir do segundo semestre. "A inflação já começa a cair, há um cenário mais positivo para o PIB e para a produção industrial." Em sua opinião, os ganhos dos trabalhadores em 2013 deverão ficar muito próximos aos de 2012.
Segundo Silvestre, ocorreram cerca de 90 negociações de janeiro a março. Entre as categorias com data-base no período estão os frentistas de São Paulo e trabalhadores da construção civil do Rio de Janeiro.
Mais greves. Especialistas ouvidos pela Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, apostam que a inflação alta vai dificultar as negociações de reajuste salarial, o que pode resultar em aumento de greves. "Com inflação em alta e crescimento da produtividade em ritmo menor, a tendência é de que as discussões sobre salários entre empresas e sindicatos sejam mais acaloradas", diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. "Com isso, a gente pode ver mais greves em 2013."
O quadro pode se agravar porque não há perspectiva de que a pressão inflacionária decorrente do mercado de trabalho aquecido vá desacelerar, segundo o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC).
Para ele, reduzir as pressões inflacionárias advindas do aumento do rendimento dos trabalhadores passaria por convencer as pessoas de que o BC vai buscar trazer a inflação para o centro da meta (4,5%) ou provocar uma desaceleração econômica que leve a um aumento do desemprego. "Nenhuma dessas alternativas está sendo buscada", ressalta.
"É provável que as empresas voltem a negociar índices abaixo da inflação", diz o gerente sênior da área de Gestão de Capital Humano da Deloitte, Fábio Mandarano. Para ele, as empresas vão buscar compensar um reajuste menor com aumento, por exemplo, na Participação nos Lucros e Resultados (PLR). / COLABOROU CARLA ARAÚJO
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