Existem variadas formas de se medir a estatura de um homem, de um regime ou de uma situação. Depende da régua que se usa. Ou do uso que se queira fazer dela.
Até onde a vida ─ o que ao fim e ao cabo é só o que nos resta ─ entra nesta composição? Não sei. Ou melhor, o que sei não se coaduna com o que vejo.
Falo de Hugo Chávez. “Retornado” de Cuba após meses de isolamento e dúvidas, chega a Caracas sem que ninguém o tenha visto. Ou se viu, como estava.
Este foi o primeiro passo. Depois, uma foto com as filhas. Montagem? Real? Um único momento de lucidez? Não se sabe. Mas o novo Simon Bolívar não poderia morrer longe da pátria.
Ao retornar, o primeiro aviso: está mal. Como na piada famosa, “sua avó subiu no telhado”. Depois, piorou. Notícia divulgada em uma “plenária” latino-americana, dessas que acontecem duas vezes por mês, sem que ninguém (muito menos eles) saiba para que sirvam ou quais os resultados.
O que assusta é o uso da vida e da morte como propaganda de um regime que o cadáver pretende deixar como legado. O que espanta é a manipulação da verdade como instrumento de continuidade do pesadelo que não se encerra com o fim do caudilho.
Terá Chávez ─ ainda ─ consciência do que se faz? Ou será um corpo inerte à espera do melhor momento de um anúncio que parece, a cada dia, mais inevitável? Estará sendo usado ou deixando-se usar? Até onde esta régua mede a infâmia? Acreditará na posteridade ou o impulso do poder pelo poder é um câncer ainda mais letal que aquele que o mata?
Um homem que deixa a própria vida ser transformada em um espetáculo dantesco e tenebroso, à espera da morte, não é medido com a minha régua.
A pantomima que se ensaia à vista de todos tem uma peculiaridade: trata-se de realidade. Um homem vai morrer.
Aos sucessores desta herança destrutiva, interessa a morte anunciada, oculta e mitificada. Ao próprio, a terra não lhe será leve. Infelizmente.
Hugo Chávez em agonia é o exemplo maior da idolatria do poder. De quem, abrindo mão da vida e da dignidade, se oferece em sacrifício em nome de nada. De nenhum valor. De nenhuma verdade. Abusando da falsificação. Até do último ato que todo e qualquer ser humano terá que encenar. Ou viver.
Se não bastasse o que fez em vida, na busca de um poder eternizado, usa a morte nesta tentativa.
Sinto por ele. Sinceramente. Esta batalha ─ contra a morte ─ sempre será perdida. Por todos. Cedo ou tarde. Resta saber, de cada um, como se comportar na saída de cena. A última. Final. Que não comporta mentiras. Mesmo em se tratando de Hugo Chávez.
Pena.
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