Não bastasse o risco concreto de uma investigação sobre uma forte evidência de crime de informação privilegiada no mercado de DI Futuro – no qual investidores aplicam na taxa média das operações interbancárias de empréstimo por um dia, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, volta a sofrer pressão de investidores da Petrobrás – onde ele acumula o poderoso cargo de presidente do Conselho de Administração.
Exatamente às 14 horas de ontem, 17 de abril, foi protocolada, no Palácio do Planalto, uma carta endereçada à Presidenta Dilma Rousseff. O curto documento é um recado de investidores insatisfeitos com os desmandos, incompetências e indícios de corrupção na estatal de economia mista. A mensagem, curta e grossa, deixa Dilma diante de um dilema shakespeariano: responder, ou não responder, eis a questão. Não responder será vergonhoso, sobretudo para quem alardeia que é uma pessoa transparente, e que seu governo apura todas as denúncias de corrupção suficientemente embasadas.
Responder poderá ser um desastre. Como explicar, por exemplo, os termos do Acordo de Quotistas assinado durante o período em que Ela acumulava as funções de ministra de Minas e Energia e presidenta do Conselho de Administração da Petrobras? Tal Acordo, além de entregar o cartório da produção e comercialização de Gás Natural Liquefeito a uma empresa privada, deixou, de maneira criminosa, brechas para que essa empresa parceira, eternamente, superfature contra a Petrobras. Investidores suspeitam que o caso da Gemini pode se repetir em outros contratos de parceria da Petrobrás.
A pressão interna e externa sobre Dilma, para tirar Mantega o mais depressa possível das funções que ocupa, é tão ou mais consistente que o aumento especulativo da inflação brasileira – fruto da ganância, combinada com a falta de infraestrutura, a fatal carga tributária injusta e elevada, junto com a suicida política de juros altos em um governo altamente corrupto e ineficiente e que não tem coragem ou competência para cortar gastos inúteis ou improdutivos.
Os problemas tendem a se agravar. Até porque Dilma não vai tirar Mantega de nenhum cargo – embora o ministro já tenha até manifestado a vontade de “sair” para ficar – em um esquema parecido com o de Antônio Palocci Filho – que toca os negócios governamentais nos bastidores, sem ter cargo público. O chefão Luiz Inácio Lula da Silva, presidente parelelo da República Sindicalista do Brasil, também não permite que Mantega saia. Afinal, o ministro é homem de sua inteira confiança.
No caso da Petrobrás, tem outro detalhe fundamental. Mantega é quem dá absoluto respaldo ao “poder paralelo” na companhia presidida por Maria das Graças Foster. As grandes decisões da empresa são tomadas por Mantega e Almir Guilherme Barbassa – diretor financeiro desde a gestão de Sérgio Gabrielli e presidente da PFICo (Petrobras International Finance Co) – braço financeiro da estatal de economia mista, onde a União, acionista majoritária, dita as regras do capimunismo. Dilma e Graça são reféns do poder de Mantega e Barbassa.
O texto “Dilma e as maracutaias na Petrobras” é mais uma fonte de desgaste para o governo no mercado financeiro, no momento em que a estratégia de comunicação do Palácio do Planalto e da Petrobrás praticam o ilusionismo de botar jornais amigos para veicularem que “investidores estão mais animados com a Petrobrás”. Não estão! Inclusive por que ontem, em função da subidinha da taxa selic pelo Banco Central, circulou uma recomendação para que sejam evitados investimentos de longo prazo no Brasil.
A Cartinha
A carta foi enviada pelo engenheiro João Batista Pereira Vinhosa, lá da pequena Itaperuna, no noroeste do Estado do Rio de Janeiro:
Excelentíssima Senhora Dilma Rousseff
Presidenta da República
O site www.maracutaiasnapetrobras.com.br foi criado para centralizar as diversas denúncias de falcatruas federais praticadas contra a empresa cujo Conselho de Administração foi presidido por V. Exª. de 2003 a 2010. Tendo como objetivo impedir que os vários crimes de lesa-pátria cometidos contra a empresa caiam no esquecimento, o site reproduz as mais diferentes acusações que foram tornadas públicas e ignoradas pelas autoridades competentes.
Como se vê, o nome de V. Exª. é destaque em duas das referidas denúncias: nas entrevistas do ex-diretor de Gás e Energia da Petrobras Ildo Sauer, e nas matérias sobre o caso Gemini – espúria sociedade por meio da qual o cartório da produção e comercialização de Gás Natural Liquefeito foi entregue a um grupo multinacional.
Resumidamente, o professor Sauer, diretor da Petrobras de 2003 a 2007, afirmou: “O ato mais entreguista da história foi o leilão de petróleo para Eike (...) tanto Lula, quanto Dilma, quanto os ex-ministros, os dois do governo anterior e um do governo Lula, estavam nessa empreitada (...) Isso demandaria uma investigação ou da Polícia ou do Ministério Público para saber se há ilícitos, mas, politicamente, eu entendo que houve um problema gravíssimo de responsabilidade do então presidente da República e de sua czar da energia, a atual presidenta da República.”
Sobre a Gemini, o site reproduz o artigo “Roberto Gurgel, Dilma Rousseff e o tráfico de influência na Petrobras”, que evidencia o erro do MPF ao arquivar minhas acusações, alegando que “o objeto destas peças informativas é, exclusivamente, o suposto tráfico de influência imputado à Presidenta da República”.
O mais extraordinário nesse arquivamento é que o MPF não se manifestou nem mesmo sobre o fraudulento Acordo de Quotistas que deixou a Petrobras refém da sócia majoritária da Gemini. A propósito, esse fraudulento Acordo de Quotistas data de janeiro de 2004 – época em que V. Exª. acumulava as funções de Ministra de Minas e Energia e de Presidenta do Conselho de Administração da Petrobras.
Finalizando, Excelência, uma constatação: diante da total omissão daqueles que deveriam agir, cabe a V. Exª. usando da autoridade de seu cargo, determinar a apuração dos citados fatos, que estão arrasando a credibilidade da Petrobras.
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