segunda-feira, 4 de março de 2013

Contaminada por metano, área com 1.200 pessoas tem risco de explosão


Escola desativada na zona norte virou ocupação de sem-teto; Cetesb atestou risco no local, mas Prefeitura ainda não retirou moradores

03 de março de 2013 | 19h 55


Artur Rodrigues, de O Estado de S.Paulo
Os cerca de 1.200 sem-teto que ocupam uma área contaminada por gás metano, na Cachoeirinha, zona norte de São Paulo, sabem que vivem sobre um barril de pólvora. Eles moram no mesmo terreno de uma escola e uma creche municipais que foram desativadas em 2010, após um laudo da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) atestar risco de explosão. Nem por isso deixam de acender centenas de fogões ao mesmo tempo diariamente na hora das refeições.
A Cetesb realizou a última vistoria dia 11 de janeiro e constatou que "a situação é preocupante e a área deve ser desocupada". A Prefeitura foi notificada, mas ainda não retirou os moradores.
"Às vezes, falo para os meus filhos fecharem a válvula do botijão de gás e descubro que já está desligada. O gás é tanto que meus filhos ficam com dor de cabeça", diz a faxineira Kátia de Oliveira, de 31 anos, uma das moradores da ocupação na Rua Mendonça Júnior, onde ficavam Emef Clovis Graciano e a Emei Vicente Paulo da Silva.
Os sem-teto são ligados à Frente de Luta por Moradia (FLM). A líder da ocupação, Geni Monteiro, de 42 anos, afirma que só descobriu que o local estava contaminado depois que todos já estavam morando lá. "A Prefeitura veio aqui e falou que só tínhamos 24 horas para sair. Mas falamos que queríamos uma alternativa de moradia e acabou ficando por isso mesmo. Não voltaram mais", afirma.
Segundo Geni, na Subprefeitura da Freguesia Ó, ninguém atendeu representantes do grupo que cobravam a inclusão em projetos de moradia. "No caso do Center Norte resolveram a situação. Aqui, onde só vive gente pobre, não dão nenhuma assistência", diz, se referindo ao shopping que ficou dois dias interditado por "risco potencial" de explosão, causado igualmente pelo acúmulo de metano no subsolo, em outubro de 2011. Ele foi reaberto após instalação de drenos para dispersão do gás.
Antes da construção das unidades de ensino, funcionava um aterro sanitário irregular no local. O laudo da Cetesb afirma que o local tem concentração de gás metano no subsolo e águas subterrâneas. A companhia afirma que há potencial risco de explosão. O nível se encontra entre 5% e 15% do gás. "Os técnicos constataram a desativação e desmonte de todo o sistema de extração de vapores que operava no local, bem como do estado dos poços de monitoramento para avaliação da área das escolas", afirma a Cetesb, em nota.
Improviso. Assim como uma favela, a ocupação acontece à base do improviso. As instalações elétricas são feitas por meio de gatos. Parte dos moradores vive nos prédios das antigas escolas, mas a maioria tem de se ajeitar em barracos construídos do lado de fora. A construção desordenada dá um aspecto de labirinto, o que tornaria ainda mais difícil a retirada dos moradores em caso de acidente.
Sem ter para onde ir desde que foi obrigada a sair de uma área de risco no Jardim Peri Alto, a desempregada Ivonete Barros, de 33 anos, gastou R$ 300 em madeirite para construir um barraco dentro da área da escola. "Saí de uma área de risco e vim para outra", diz ela.

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