19 de setembro de 2009, em Noticiário Internacional, por Guilherme Poggio
Carta de geólogo da Petrobrás põe em cheque capacidade da empresa e viabilidade das novas descobertas na ‘Amazônia Azul’
Senhores Deputados / Senhoras Deputadas.
É que toda e qualquer declaração atual sobre qualquer possível volume depetróleo descoberto no PRÉ-SAL não passa de pura especulação. Não existe no mundo ninguém e nenhum geólogo de petróleo em nenhuma companhia de petróleo, inclusive na PETROBRAS, que consiga chegar a um desses valores declamados em prosa e verso e provar que ele é verdadeiro. São somente estimativas, em virtude da falta de uma base confiável de parâmetros que permitam cubar qualquer reserva de petróleo dessa ordem de grandeza.
Deste modo, é uma falácia a afirmação de que temos um lençol de petróleo no PRÉ-SAL de tamanho 800km x 200km ao longo da Costa Leste Brasileira.
Portanto, este marco regulatório, que se tenta aprovar em regime de urgência, sem uma discussão ampla com a sociedade, é apenas a volta pura e simples, de forma disfarçada, ao monopólio estatal de petróleo; um verdadeiro desserviço que estão prestando ao BRASIL, um verdadeiro crime de lesa-pátria.
Nossos técnicos são criativos, mas tecnologia de ponta nós não desenvolvemos, as nossas universidades não desenvolvem. Nós importamos os componentes e, com o jeitinho que nos é peculiar, montamos as ferramentas e os equipamentos e os operamos. Daí dizerem que dominamos a tecnologia para exploração em águas profundas.
Nada disso! Dominamos somente a parte operacional, porque toda a tecnologia é desenvolvida lá fora, por encomenda da PETROBRÁS, é claro, mas a tecnologia para fabricação de ferramentas e equipamentos para exploração e produção de petróleo em águas profundas nós não temos, não dominamos.
O ‘fracasso’ em Piranema
Como se sabe, a pressa é inimiga da perfeição. A exploração do Campo de Piranema, em águas profundas do Estado de Sergipe, pode ser um bom exemplo para reflexão por todos nós. A pressa em se mandar construir no estrangeiro uma plataforma de “casco redondo” – a primeira do mundo na propaganda da PETROBRAS – a peso de ouro, quando se podia construir uma plataforma com o casco em outro formato qualquer em um estaleiro nacional, sem que o campo descoberto estivesse sequer parcialmente delimitado e o estudo da sua viabilidade econômica pudesse ser feito com mais segurança, parece não ter dado certo.
Em documento enviado a Procuradoria da República no Estado de Sergipe, e também encaminhado aos Senhores e Senhoras ( Oficio_SAJR-PR-SE_nº_70-2009), eu questionei, poucos anos atrás, a desnecessidade da construção da plataforma de produção antes da delimitação do campo com a perfuração de mais poços exploratórios, denominados poços pioneiros adjacentes e poços de extensão. E fiz esse questionamento com a minha experiência de cerca de 20 anos trabalhando na Bacia de Sergipe e Alagoas e de Pernambuco e Paraíba como geólogo de petróleo exploracionista da PETROBRAS, que me habilita a fazer declarações técnicas sobre tipos de acumulações existentes nessas Bacias, tipos de rochas reservatórios e seus mecanismos de produção.
A PETROBRAS, não sei por quais motivos, nunca veiculou para a imprensa e Bolsa de Valores, que as rochas reservatórios do Campo de Piranema eram pseudos turbiditos (corpos arenosos imersos numa gigantesca massa de folhelhos), com pressão anormalmente alta para a profundidade em que se encontram atualmente, o que podia caracterizar corpos de pequenas dimensões, e cuja produção logo entraria em depleção (S. f. Med. 1.. Redução de qualquer matéria armazenada no corpo. Aurélio). E parece ser o que já está ocorrendo, bem antes que o esperado.
Por gentileza, Senhores e Senhoras, leiam no texto a seguir a preocupação da bancada federal do Estado de Sergipe com a diminuição drástica da produção de petróleo no Campo de Piranema, em águas profundas de Sergipe:
[...] Parlamentares da bancada de Sergipe, por iniciativa do deputado Albano Franco (PSDB), se reuniram no fim da manhã desta quarta-feira, dia 26.08.2009, com o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, para cobrar explicações sobre a paralisação da produção de Petróleo no campo de Piranema, localizado em Estância. “Os problemas seriam de ordem técnica. O senhor Gabrielli nos garantiu que a produção será retomada até o início do mês de setembro”, disse o deputado José Carlos Machado (Democratas-SE) ao sair do encontro.
A produção no campo de Piranema foi paralisada há 15 dias sem que o prefeito do Município de Estância, Ivan Leite, ou mesmo a população obtivesse qualquer explicação sobre o ocorrido. O deputado José Carlos Machado, que discursou sobre o assunto nesta semana no Plenário da Câmara dos Deputados, lembrou do grande investimento feito para iniciar a prospecção de petróleo no campo de Piranema e reclamou da gradativa diminuição do repasse dos royalties ao município. “Houve um investimento de cerca de 500 milhões de reais para colocar esse campo em operação, informação anunciada com toda a pompa possível pelo presidente Lula da Silva em 2007, durante a inauguração. Recentemente, me foram apresentados dados que mostram que o município de Estância arrecadou em setembro de 2008, de royalties referentes à produção de Piranema, mais de R$1,4 milhão. Em janeiro deste ano, houve uma queda de 75%, e o município recebeu somente R$ 304 mil. Em junho passado, o total arrecadado foi de apenas de R$ 133 mil.. Quem sofre com isso? A população, é claro”, afirmou [....]
A PETROBRAS pode até afirmar que a suspensão da produção foi de ordem técnica, mas fica uma dúvida no ar: falha com os equipamentos dos poços em produção no fundo do mar ou os reservatórios são mesmo limitados e não conseguem mais manter a produção inicial do Campo de Piranema?
A verdade é que a produção não foi interrompida abruptamente e sim veio caindo ao longo dos meses, como mostra parte final do texto acima: “[...] o município de Estância arrecadou em setembro de 2008, de royalties referentes à produção de Piranema, mais de R$1,4 milhão. Em janeiro deste ano, houve uma queda de 75%, e o município recebeu somente R$ 304 mil. Em junho passado, o total arrecadado foi de apenas de R$ 133 mil. [...]”.
Portanto, infelizmente, tudo indica que os poços ora em produção no Campo de Piranema já entraram em depleção acentuada. Resumindo: para atingir e manter a produção de 10.000 barris diários no Campo a PETROBRAS terá que perfurar e colocar muitos poços em produção em muito pouco tempo – o que não é logisticamente recomendável nem possível (faltam plataformas de perfuração no mercado) – o que esgotaria as reservas do campo mais rapidamente ainda, evidenciando a total desnecessidade da construção da tão imprescindível plataforma de casco redondo, a toque de caixa e repique de sino, nas últimas eleições, como se o seu formato fosse realmente determinante para a extração do petróleo, o qual se encontra nos reservatórios há milhões de anos.
Sendo assim, e voltando ao marco regulatório do PRÉ-SAL, solicito aos Senhores Senadores e Senhores Deputados, Senhoras Senadoras e Senhoras Deputadas, com o pensamento voltado exclusivamente para o bem do BRASIL e de nossas gerações futuras, que deixem para analisar o marco regulatório depois das eleições de 2010 e que discutam isso até a exaustão com toda a sociedade, porque é a única coisa sensata a se fazer no momento: O PETRÓLEO DO PRÉ-SAL É A ÚLTIMA FRONTEIRA.
Por favor, Senhores e Senhoras, não permitam que essa pressa injustificável transforme as descobertas do PRÉ-SAL em algo semelhante ao desastre que está se delineando para o Campo de Piranema, em águas profundas de Sergipe.
Atenciosamente.
Ivo Lúcio Santana Marcel
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