quinta-feira, 8 de agosto de 2013

“A DISSIDÊNCIA ESTÁ CRESCENDO EM CUBA”



:: FRANCISCO VIANNA (da mídia da Flórida, EUA)
Quinta feira, 08 de agosto de 2013

Um conhecido ativista dissidente cubano disse à imprensa da Flórida que a dissidência cubana está crescendo de forma rápida e organizada e que o regime comunista da ilha vive seus últimos tempos.

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O dissidente mais conhecido de Cuba é Jorge Luis García Pérez, de codinome "Antúnez", afirma que a resistência ao castrismo está progressivamente mais intensa e mais organizada na ilha cárcere dos irmãos Castro. (Foto: EFE)

               Antúnez disse à mídia da Flórida que “o movimento dissidente de Cuba está crescendo e de forma organizada pela participação maior das mulheres, dos negros, dos que vivem nas cidades do interior e, pela primeira vez, por cubanos que fugiram para a Flórida, ganharam a vida, e hoje estão muito ricos. Estes vêm com sadia ambição e aumentada esperança, a possibilidade de investirem seus capitais em sua terra natal, assim que a ditadura dos Castros cair juntamente com o regime socialista que mantém o país como um dos mais pobres e miseráveis do planeta”.
Falando à mídia em Miami, Jorge Luís García Pérez disse também que, embora a decisão do Presidente Barak Obama de suspender quase todas as restrições às viagens e remessas de dinheiro cubano-americanas à ilha seja bem intencionada, a Casa Branca também “quebrou uma tradição de solidariedade” com a dissidência.
Os cubanos, separados por décadas de animosidade, têm podido viajar e tornar a se ver e de encontrar, mas “isso não tem ajudado em nada” a melhorar as políticas e econômicas – e, portanto sociais – da ilha, que tem funcionado como um moderno “gulag” dos Irmãos Castro e sua reduzidíssima burguesia que forma o politiburo cubano, os únicos a levarem uma vida de ricos.
Depois de passar 17 anos nas masmorras castristas, condenado por gritar slogans antissocialistas em público durante um discurso do então Ministro da Defesa, Raúl Castro, em 1990, o dissidente, de 48 anos, só não foi fuzilado porque já era bastante conhecido interna e externamente e, hoje, é uma dos mais combativos de Cuba. No domingo passado fez sua primeira viagem ao exterior e voou para a Flórida, onde foi recebido por jornalistas locais e por empresários cubanos. Antúnez é o mais recente dissidente a ser permitido viajar para o exterior depois que Havana retirou muitas das restrições migratórias em janeiro último. Entre tais dissidentes estão Guillermo Fariñas, Antonio Rodiles, a blogueira Yoani Sánchez e Berta Soler, líder das Damas de Branco.
Enquanto os grupos dissidentes cubanos têm sido comandados por intelectuais idosos, preservadores dos ideais democráticos, cristãos e de uma economia de livre mercado, segundo Antúnez, esses mesmos grupos têm mostrado um crescimento e uma organização maior nos últimos anos com a incorporação de ativistas negros como ele, de mulheres como as Damas de Branco e de pessoas que vivem as agruras da escassez no interior na ilha, que é muito maior dos que vivem em Havana.

O PAPEL DAS PROVÍNCIAS

Antúnez mora na pequena cidade de Placetas, um município de apenas 50 mil habitantes, e garante que a resistência anticomunista “mais brava” se concentra atualmente nas províncias pelo fato de que, lá, as pessoas se conhecem e confiam entre si, ao passo que os residentes de Havana somente conhecem seus vizinhos mais próximos e, mesmo assim, o nível de confiança entre eles é relativamente pequeno. Isso ocorre em virtude da ação da polícia secreta do regime que policia todas as atividades das pessoas e ainda oferece benesses para quem denuncia ações consideradas contra o regime.
Provas de que essa resistência é cada vez maior consistem no número de grafites e cartazes contra o governo que aparecem a cada amanhecer, na crescente taxa de abstenção nas inúteis eleições em listas de candidatos preparadas pelo politiburo cubano, e, finalmente, nas queixas que se tornam cada vez mais frequentes e ostensivas expressas por diversos setores das Forças Armadas, antes consideradas totalmente leais à ditadura dos Castros.
Raúl Castro, que sucedeu seu enfermo irmão Fidel, em 2006, tem respondido com um aumento de perseguições, ameaças e detenções, que agem apenas como coação moral, uma vez que os detidos são postos logo depois em liberdade vigiadas em locais isolados da ilha, disse Antúnez.
Da mesma forma que a maioria dos dissidentes cubanos, Antúnez também rechaça as “reformas econômicas” levadas a cabo por Raúl Castro durante os últimos cinco anos, que denunciam como uma tentativa de fazer só o necessário para garantir a sobrevivência do falido e desacreditado sistema comunista da ilha junto à maioria da população.
NÃO HÁ MELHORAS

Apesar de essas reformas terem trazido “algumas pequeníssimas melhoras para alguns setores da população, principalmente de Havana”, em geral, isso só serviu para que o povo aumentasse o seu desejo por menos intervenção estatal em suas vidas, uma vez que “tudo o que o governo faz é cada vez mais interpretado como armadilhas e trambiques para retirar do povo os parcos recursos que ainda provêm de um PIB minúsculo onde o grosso do resultado econômico fica nos bolsos da pequena burguesia do politiburo comunista do PCC”.
“O povo quer pão, mas também quer a liberdade de ir e vir e de empreender, e o movimento oposicionista não vai se conformar com reforminhas inúteis”, declarou o dissidente. Também disse que “ahierarquia da Igreja Católica de Cuba tem sido insensível ao trabalho dos grupos dissidentes, que cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, “não goza de credibilidade” entre os cubanos.
Quanto aos jornalistas estrangeiros acreditados em Havana, Antúnez disse que os dissidentes lhes enviam com regularidade ‘comunicados à imprensa’, fotos e vídeos, mas é raro que publiquem suas informações. Cuba tem expulsado vários jornalistas estrangeiros cujas publicações em seus países o PCC considera por demais negativa. Os repórteres de Havana são “insensíveis à dor” da oposição “ou estão em ampla cumplicidade” com o regime.
Antúnez, que contribuiu com a fundação do Movimento Nacional de Resistência Cívica Pedro Luis Boitel, e sua esposa, Yris Tamara Pérez Aguilera, ativista do Movimento Rosa Parks de Direitos Civis, têm planos de permanecer fora de Cuba por uns dois meses. Pretendem se reunir na quinta feira em Miami com os congressistas Ileana Ros-Lehtinen e Mario Díaz-Balart e o ex-parlamentar Lincoln Díaz-Balart, todos republicanos cubano-americanos de Miami. Ainda não sabem se irão a Washington e a outros países para falar sobre Cuba.
O dissidente disse que ele e sua esposa têm, por vezes, a impressão de que as pessoas de fora da ilha veem as denúncias de abusos relatados pelos dissidentes como possíveis exageros, mesmo que os dissidentes a miúdo não informam tudo o que sofrem.

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