Colombo diz que foi a Brasília pedir ajuda e teve de negar 'oficialmente' a ajuda da Força Nacional para não atrapalhar plano
18 de fevereiro de 2013 | 2h 03
BRUNO PAES MANSO , ENVIADO ESPECIAL , FLORIANÓPOLIS - O Estado de S.Paulo
O governador Raimundo Colombo (PSD), de 52 anos, chega para receber os jornalistas com uma calça de ginástica e uma camisa esportiva branca. Cumprimenta os sete profissionais que o aguardavam na residência oficial, na tarde de ontem. Diz que sentiu ter tirado um peso dos ombros depois da operação e admitiu que "errou" no caso que provavelmente deu origem aos ataques. Segundo afirma, também foi obrigado a dizer que não queria a presença da Força Nacional de Segurança para garantir o impacto das medidas. Católico fervoroso, Colombo conta que rezou todas as manhãs para pedir que sua vaidade não atrapalhasse o processo. A fé, ele afirma, o ajudou a manter o segredo da operação, apesar das fortes cobranças.
Vocês foram pegos de surpresa pelos ataques?
Havia já uma informação. Eles (o Primeiro Grupo Catarinense, acusado de comandar os ataques) fazem dez anos no dia 3 (a data de fundação é 03/03/03). Nosso serviço de inteligência vinha detectando movimentos. Acho que um dado determinante foi a prisão de uma advogada (Fernanda Flecker), no fim de janeiro. Todas as investigações levam para importância grande dela no processo, que quebrou a operação financeira da facção.
Foi a causa principal?
Não, houve um conjunto. Aquele episódio de Joinville (em que policiais disparam contra presos dominados, que foi filmado pelas câmeras internas) talvez tenha agravado. Nós também fizemos seis operações no Morro do Horácio (onde o tráfico é chefiado por Rodrigo da Pedra, que está preso e é considerado um dos principais líderes do PGC).
Uma das causas da primeira onda de ataques em novembro foi a recolocação de Carlos Alves na direção da Penitenciária de São Pedro de Alcântara, onde se encontra a cúpula da facção, dez dias depois de sua mulher ser assassinada a mando de facção. Alves passou a ser acusado de tortura. Isso foi um erro?
Sim, foi um erro. Na crise, eu conversei com ele diretamente, nós ponderamos e ele é um funcionário muito bom, ajudou a reestruturar o sistema. Mas houve uma situação humana. Ele pediu para voltar a trabalhar. Você imagina o impacto na vida de um pessoa. Ele é um líder conceituado e ninguém imaginou que viriam essas consequências. O assassinato da mulher dele foi o ápice do processo. Mas de qualquer forma o crime organizado ia se mostrar, fazer o que fez.
O governo demorou para agir?
Nossa ideia foi a de quebrar a espinha dorsal do crime organizado. A gente levantou todos os dados, foi a Brasília, logo no começo. Confidencialmente levei ao ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) as informações que tinha, com um plano estratégico feito pela nossa inteligência com a ajuda dos órgãos de inteligência nacional. Aí foi concebida a operação, que resultaria em um mesmo momento em transferência e prisão.
Por que o senhor dizia que não queria ajuda?
Eu fui obrigado a dizer. Caso contrário a gente estaria mostrando a cara e a dimensão da operação. Eu fui muito questionado, mas eu não posso mudar uma estratégia porque estou sendo criticado. Eu preciso fazer o que é certo e pagar o preço se for o caso. Eu não podia contar. Eu acertei com a força no dia 6, mas as entrevistas eram dissimuladas. Eu era obrigado a dizer.
Isso prejudicou sua imagem?
Eu sacrifiquei a popularidade, não tenho dúvida. Mas estou convencido que fiz o certo.
Em 2010 já foram transferidos 40 presos do PGC para prisões federais, que voltaram e ordenaram ataques. A transferência não é só paliativo? Nos presídios federais, esses presos não ampliam os contatos?
Nós vamos construir prisões em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), com isolamento, aqui no Estado. Agora, nos presídios federais, eles vão ficar isolados, 22 horas por dia.
Os quarenta transferidos agora são os mesmos de 2010?
Alguns sim, outros não.
Por que estourou essa onda de violência justamente em Santa Catarina?
Continuamos a ser um dos Estados menos violentos do Brasil. Este ano foi um dos anos menos violentos. No verão, houve um assassinato de um gaúcho, um latrocínio. No carnaval houve só uma morte de acidente rodoviário. Agora, em Salvador, Recife, São Paulo, Rio, veja os números e você vai ficar impressionado. Só que Santa Catarina virou a bola da vez...
As drogas são o problema?
Droga sintética é a principal preocupação nossa no momento porque a distribuição é por aqui. Infelizmente, Florianópolis tem um nível de operação de droga sintética muito grande. É um processo que vem da Europa e Florianópolis é um ponto muito influente de distribuição da droga.
O PCC está aqui no Estado, junto do PGC?
Desses 40 transferidos, três eram ligados ao PCC. Quem comanda mesmo é o PGC. Aqui, eles são grupos dissidentes.
Não são parceiros?
Não, há aqui uma certa disputa, tanto que 37 foram para uma cadeia e 3 do PCC para outra.
Em relação a isso (a atuação do PCC), o senhor já conversou a respeito com o governador de São Paulo?
Sim, conversei com o Alckmin em novembro (na primeira onda onda de ataques). Ele me ligou e me deu dicas de como agir com a facção.
O senhor é a favor da liberalização das drogas?
Não. Nem do jogo.
Nada como um fim de semana com sol para transformar a cara de Florianópolis, que na sexta de madrugada recebeu o apoio da Força Nacional de Segurança para tentar conter os ataques dos criminosos. No lado leste da ilha, a Praia de Joaquina estava lotada de guarda-sóis que se espremiam na areia.
Para os turistas, a violência dos ataques fica distante. Na noite de sábado, perto da meia-noite, era possível encontrar famílias passeando tranquilas pelas ruas do centro. Desde que a operação começou, na madrugada de sexta, seis novas ocorrências foram registradas. Pelo menos no fim de semana, a situação ficou bem mais calma.
Mas as prisões de suspeitos aumentaram durante a tarde de sábado e o dia de ontem. Ao todo foram cumpridos 144 mandados de prisão. /B.P.M.
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