Covardia explícita – A antecipação da campanha presidencial, que oficialmente só começará em meados de 2014, teve um propósito específico. Dar tempo aos eventuais candidatos para organizarem a artilharia que apontarão para os adversários.
Como a situação do PT é mais delicada por causa dos inúmeros escândalos de corrupção da era Lula e a letargia do governo de Dilma Rousseff diante da crise econômica, o jogo sujo já começou, mas capítulos mais sórdidos e rasteiros ainda hão de surgir adiante.
A primeira vítima da peçonha político-eleitoral é a ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça e ex-corregedora do CNJ. Dona de currículo e trajetória irrepreensíveis e sem jamais ter seu nome ventilado nas coxias insanas do Direito, como costuma acontecer na órbita do poder, a ministra Eliana Calmon está a um passo de se filiar ao PSB, partido do governador Eduardo Campos (PE), e em 2014 concorrer ao Senado Federal ou disputar o governo da sua terra natal, a Bahia.
Contudo, não se deve descartar o fato de que a ministra seria uma candidata a vice de peso em eventual chapa de Eduardo Campos, que continua de olho no Palácio do Planalto. Ora, se o Brasil elegeu uma presidente, por qual razão não pode eleger uma mulher para a vice-presidência.
A ministra do STJ é acusada de ter recebido em setembro de 2012, de uma só vez, R$ 84,8 mil sob a rubrica de auxílio-alimentação. Naquele mês, o contracheque de Eliana Calmon foi de R$ 113.009,50. Além do salário de ministra e o auxílio-alimentação, Eliana Calmon recebe mensalmente um adicional de R$ 2.792,56, como abono de permanência por já ter alcançado o período necessário para a aposentadoria e permanecer em atividade. O que é excelente para um país onde o desmando e a impunidade é a cartilha do cotidiano.
A verba de auxílio-alimentação segue norma do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que concede o benefício a todos os magistrados do País, por meio da Resolução 133 do órgão. Ora, se nada de errado ou ilegal há no fato de a ministra Eliana Calmon ter recebido aquilo a que tem direito, não havia razão para essa denúncia barata e muito menos para que o assunto reverberasse na imprensa na condição de maior das transgressões.
No momento em que deveria mostrar à população a realidade dos fatos que têm levado o País ao retrocesso, permitindo a cada brasileiro a oportunidade de raciocinar diante da verdade, a imprensa brasileira se curva a interesses escusos e transforma o ofício da informação em fofoca de fundo de quintal.
Se o desejo da grande imprensa é causar polêmica e construir manchetes, na Esplanada dos Ministérios há um sem fim de enredos. No Congresso Nacional, por exemplo, o auxílio-moradia concedido aos parlamentares foi destinado, em alguns casos e durante anos para a compra de imóveis na capital dos brasileiros, quando o valor deveria ser utilizado para custear despesas de hospedagem. Como conseguir informações nos meandros da política exige um acordo de cavalheiros, esses assuntos normalmente repousam eternamente nos subterrâneos.
Na Praça dos Três Poderes, mais precisamente no Palácio do Planalto, há também vários assuntos que merecem ser explorados. O crucifixo que estava no gabinete presidencial foi levado por Lula, mas nenhum veículo de imprensa, exceto o ucho.info, se preocupou em continuar cobrando de Lula a devolução de um patrimônio público. A assessoria de imprensa da Presidência informou que o ex-presidente levou o objeto que lhe foi presenteado por um amigo português, mas o crucifixo está no gabinete presidencial desde a era Itamar Franco.
Há nos escaninhos palacianos, escondido com a devida vênia oficial, a compra de um caro relógio Cartier, na loja da conhecida marca em Nova York, com um dos cartões corporativos da Presidência da República. O então presidente Lula foi questionado sobre o assunto, mas não respondeu. Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, também foi cobrada a dar explicações sobre o tema, durante depoimento na Comissão de Infraestrutura do Senado, mas preferiu ignorar a cobrança.
Isso mostra que mesmo sem ainda ter se filiado ao PSB ou qualquer outra legenda que seja do seu agrado, a ministra Eliana Calmon já preocupa alguns políticos acostumados ao jogo rasteiro e sórdido.
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