20 de fevereiro de 2013, em Noticiário Nacional, Relações Internacionais, por Guilherme Poggio
Fernando Exman
O governo federal quer aproveitar a viagem que a presidente Dilma Rousseff fará nesta semana à África para tentar reforçar ainda mais a presença das empresas brasileiras na região. O desafio, entretanto, é grande: além do desconhecimento de parte considerável do empresariado sobre as potencialidades do mercado africano, as empresas brasileiras precisam enfrentar a concorrência de outras companhias estrangeiras, principalmente da China. Está em jogo um mercado de aproximadamente 1 bilhão de consumidores, com demanda em alta pelos mais vários tipos de bens e serviços e um crescimento econômico superior à média mundial.
Dilma participará na sexta-feira da cúpula América do Sul – África (ASA), em Malabo, Guiné Equatorial. O tema do encontro é justamente o fortalecimento da cooperação entre países em desenvolvimento. Em seguida, ela desembarcará na Nigéria, parceiro considerado estratégico no continente.
“A China tem ganhado participação na África. Mas, em termos de comércio, o crescimento da participação da China na África não é em detrimento da participação brasileira. O Brasil também cresceu seu “market share” em detrimento de outros”, disse a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Tatiana Prazeres, destacando que a participação do continente africano nas exportações brasileiras passou de 3,9% para 5% entre 2003 e 2012 e as importações permaneceram em 6% do total no mesmo período.
Na avaliação de autoridades brasileiras, a oferta de linhas de crédito vem tendo um papel estratégico na disputa pelo mercado africano e os ambiciosos programas de financiamento da China têm feito a diferença. Como consequência, um grupo de trabalho coordenado pela Presidência da República discute novas formas de impulsionar o comércio com o continente africano. Um dos aspectos discutidos é o lançamento de mecanismos de financiamento.
Em 2010, registra um estudo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a China substituiu o Banco Mundial (Bird) como principal fonte de financiamento dos países africanos. Entre 2001 e 2010, os empréstimos concedidos à África pelo Exim Bank chinês, instituição voltada ao fomento às exportações e importações do país asiático, foram estimados em US$ 67,2 bilhões. Já os financiamentos do Banco Mundial nesse mesmo período totalizaram US$ 54,7 bilhões.
O próprio Banco Mundial já analisou a questão. No relatório “Construindo pontes: O papel crescente da China como financiadora da infraestrutura da África Subsaariana”, de 2009, o Bird mostrou que o crescimento do comércio entre a China e a África foi acompanhado por uma maior ajuda econômica oferecida pelo país asiático a partir de 2001. Em contrapartida, diversas obras de infraestrutura executadas pelos chineses na África têm como garantia ou são pagas com petróleo, minério de ferro, cromo ou cacau, diz o Bird. Hoje, a China é o principal fornecedor do continente, e encontra na África um destino para os seus produtos de alto valor agregado. O país asiático também se consolida como o maior comprador de produtos africanos, ultrapassando os Estados Unidos.
A China demonstra que pretende manter tal papel. Em agosto de 2012, anota o estudo do Ministério do Desenvolvimento, o país anunciou a concessão de crédito de US$ 20 bilhões em três anos para projetos de infraestrutura, agricultura e desenvolvimento na África.
Num ritmo mais tímido, o Brasil também tem disponibilizado apoio às exportações à região. Entre 2008 e 2012, por exemplo, o valor desembolsado por programas oficiais alcançou US$ 4,8 bilhões.
O Brasil ainda mantém uma série de programas de cooperação técnica com o continente. Cerca de 150 iniciativas em aproximadamente 40 países são mantidas pelo Brasil, segundo o Itamaraty.
Outro sinal da maior aproximação entre o Brasil e a África é o crescimento do total de empresas brasileiras que atuam no comércio bilateral. Enquanto o total de empresas brasileiras exportadoras caiu nos últimos anos, o número de empresas que vendem para a África subiu 39% entre 2003 e 2012, para 3.810. Já as empresas que importam produtos africanos totalizaram 1.739 em 2012, alta de 84%.
O Ministério do Desenvolvimento também prevê uma alta nas exportações de serviços por parte de empresas brasileiras e, consequentemente, uma elevação dos embarques de bens relacionados a esses projetos. Nas contas do ministério, cada US$ 100 milhões em exportações de serviços geram US$ 30 milhões em exportações de equipamentos e outros produtos.
“Esses investimentos brasileiros na África puxam consigo exportações de bens que de outra maneira dificilmente ocorreriam”, afirmou Tatiana Prazeres, destacando ser uma característica da balança comercial Brasil-África a atuação de “trading companies” de propriedade das construtoras brasileiras. “As exportações são feitas por uma empresa, a comercial exportadora, que traz produtos de empresas de menor porte.”
FONTE: Valor Econômico, via resenha do EB
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