CORONEL LUIZ ERNANI CAMINHA GIORGIS
“O CLAMOR DO
POVOBRASILEIRO CONTRA O COMUNISMO”
Em 2 de abril de 1964, no Rio de Janeiro, mais
de um milhão de pessoas encheram as ruas proclamando sua
determinação de permanecerem livres. Raramente uma
grande nação esteve mais perto do desastre e se recuperou do
que o Brasil em seu recente triunfo sobre a subversão vermelha. Os elementos da
campanha comunista para a dominação—propaganda, infiltração, terror—estavam em
plena ação. A rendição total parecia iminente... e então o povo disse: Nãol Esta narrativa conta como um povo defendeu resolutamente
a sua liberdade. Mais do que isso, constitui um claro plano de ação
para cidadãos preocupados em nações ameaçadas pelo comunismo.
A NAÇÃO QUE SE SALVOU A SI MESMA
O palco estava completamente armado e
determinado o cronograma para a primeira fase da tomada de posse pelos comunistas. Nos calendários
dos chefes vermelhos do Brasil—assim como nos de Moscou, Havana e Pequim—as
etapas para a conquista do poder estavam marcadas com um círculo vermelho: primeiro,
o caos; depois, guerra civil; por fim, domínio comunista total. Havia anos que os vermelhos olhavam com água na boca o grande país, maior que a parte
continental dos Estados Unidos e que contém 80 milhões de habitantes,
aproximadamente metade da população da América do Sul. Além de imensamente rico
em recursos ainda inaproveitados, o Brasil era a enorme chave para todo o
continente. Como o Brasil se limita com 10 países da América do Sul, exceto Chile e Equador—seu
domínio direto ou indireto pelos comunistas ofereceria excelentes oportunidades
para subverter um vizinho após outro. A captura deste fabuloso potencial
mudaria desastrosamente o equilíbrio de forças contra o Ocidente. Comparada com
isso, a comunização de Cuba era insignificante.
Por fim estava
tudo preparado. A inflação
piorava dia a dia; a corrupção campeava; havia inquietação por toda a
parte—condições perfeitas para os objetivos comunistas. O Governo do Presidente
João Goulart estava crivado de radicais; o Congresso, cheio de instrumentos dos
comunistas. Habilmente, anos a fio, os extremistas da esquerda tinham semeado a
ideia de que a revolução era inevitável no Brasil. Dezenas de volumes eruditos
foram escritos acerca da espiral descendente do Brasil para o caos económico e
social; a maioria concordava em que a explosão que viria seria sangrenta,
comandada pela esquerda e com um elenco acentuadamente castrista. Os
brasileiros em geral olhavam o futuro com a fascinação paralisada de quem
assiste impotente à aproximação de
um ciclone. Uma expressão brasileira corrente era: "A questão
não é mais de saber se a revolução virá, mas de quando virá".[1]
O país estava realmente maduro
para a colheita. Os vermelhos tinham introduzido toneladas de munições por
contrabando, havia guerrilheiros bem adestrados, os escalões inferiores das
Forças Armadas estavam infiltrados, planos pormenorizados estavam prontos para
a apropriação do poder, feitas as "listas de liquidação” dos anticomunistas
mais destacados. Luiz Carlos Prestes, chefe do Partido Comunista Brasileiro,
tecnicamente ilegal, mas agressivamente ativo, vangloriava-se publicamente:
"Já temos o poder, basta-nos apenas tomar o Governo!"
Amadores Contra Profissionais
E então, de repente—e arrasadoramente para os
planos vermelhos —algo aconteceu. No último instante, uma contra-revolução
antecipou-se à iniciativa deles. A sofrida classe média brasileira,
sublevando-se em força bem organizada e poder completamente inesperado, fez sua
própria revolução—e salvou o Brasil.
Sem precedentes
nos anais dos levantes políticos
sul-americanos, a revolução foi levada a efeito não por extremistas, mas por
grupos normalmente moderados e respeitadores da lei. Conquanto sua fase
culminante fosse levada a cabo por uma ação militar, a liderança atrás dos
bastidores foi fornecida e continua a ser compartilhada por civis. Sua ação foi rápida
(cerca de 48 horas do início ao término), relativamente sem derramamento de
sangue (apenas uma dúzia de pessoas foi morta) e popular além de todas as
expectativas.
Uma vitória
colossal para .o próprio Brasil, ela foi ainda maior para todo o mundo livre.
Pois, como comentou um categorizado funcionário do Governo em Brasília:
"Ela marca a mudança da maré, quando todas as vitórias pareciam ser vermelhas,
e destrói completamente a afirmação comunista de que “a história está do nosso
lado “
Quanto a seu
significado, diz Lincoln Gordon, Embaixador dos Estados Unidos no Brasil:
"Os futuros historiadores é
bem possível que registrem a revolução brasileira como a mais decisiva vitória
pela liberdade em meados do século XX. Esta foi uma revolução
doméstica, feita com as próprias mãos, tanto na concepção como na execução.Como foi, exatamente, que
os brasileiros conseguiram esta vitória magnífica? A história secreta desta
revolução do povo—planejada e executada por amadores mobilizados para a luta
contra revolucionários vermelhos—é um modelo para toda nação analogamente
ameaçada, uma prova animadora de que o comunismo pode ser detido de vez,
quando enfrentado com energia por um povo suficientemente provocado e decidido.
Deriva Para o Caos
A história começa pouco depois da
renúncia do Presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961. Seu sucessor, o
Vice-Presidente Goulart, de tendências esquerdistas, mal chegado de uma visita
à Rússia e à China Vermelha, apenas assumiu o poder e deixou transparecer
claramente em que direção ia conduzir o país.
.
Sem ser
comunista, Jango procedia como se o fosse. Sedento de poder, Goulart julgava
estar tornando os camaradas instrumentos de suas ambições; em vez disso, eram eles que faziam dele
seu instrumento. As portas, há
anos entreabertas à infiltração vermelha, foram escancaradas. A inflação,
estimulada por enchentes de papel-moeda emitido em administrações anteriores e
agora acelerada por Jango, subia em espiral, enquanto o valor do cruzeiro caía
dia a dia. O capital, vitalmente necessário para desenvolver o país, fugia para
o estrangeiro; os investimentos alienígenas secavam rapidamente sob o peso das
restrições e das constantes ameaças de desapropriação.
"A Hora é Agora"
alarmados com a perigosa deriva para o caos, alguns homens de negócio e profissionais
liberais reuniram-se no Rio em fins de 1961, dizendo: "Nós, homens de
negócio, não mais podemos deixar a direção do país apenas aos políticos”.
Convocando outras reuniões no Rio e em São Paulo, declararam:
"A
hora de afastar o desastre é
agora, não quando os vermelhos já tiverem o controle completo do nosso
Governo!".
Dessas reuniões nasceu o Instituto de
Pesquisas Economicas e Sociais (IPES), destinado a descobrir exatamente o que
ocorria por trás do cenário político e o que se poderia fazer a respeito. Outras
associações já existentes, como o CONCLAP (Conselho Superior das Classes Produtoras),
formado pelos chefes de organizações industriais, tanto grandes como pequenas;
o GAP (Grupo de Ação Política); o Centro Industrial e a Associação Comercial,
também se empenharam em atividades de resistência democrática. Essas organizações
ramificaram-se rapidamente através do país. Embora agindo independentemente,
esses grupos conjugavam suas descobertas, coordenavam planos de ação. Produziam
cartas circulares apreciando a situação política, faziam levantamentos da
opinião pública e redigiam centenas de artigos para a imprensa respondendo às
fanfarronadas comunistas.
Para descobrir
como funcionava no Brasil o aparelho subterrâneo treinado por Moscou, o IPES formou seu
próprio serviço de informações, uma força-tarefa de investigadores (vários
dentro do próprio Governo) para reunir, classificar e correlacionar informes
sobre a extensão da infiltração vermelha.
.
Guarnecidos de Vermelhos
Os investigadores não tardaram a descobrir um cavalo-de-tróia
vermelho, de dimensões bem mais assustadoras do que alguém imaginava. Muitos
comunistas disfarçados, "plantados" em ministérios e órgãos
governamentais anos antes, tinham conseguido alçar-se até postos-chaves na
administração federal. A maioria dos ministérios e repartições públicas
estavam guarnecidos de comunistas e simpatizantes a serviço das metas de
Moscou. O chefe comunista Prestes apregoava em público: "Dezessete dos
nossos estão no Congresso"—todos eleitos em chapas de outros partidos.
Além disso, dezenas de deputados simpatizantes faziam acordos com os
comunistas, apoiando-os em muitas questões, sempre atacando o
"imperialismo dos EUA"—mas jamais criticando a Rússia Soviética.
Atenção Especial à Educação
O mais sabidamente infiltrado era o Ministério da Educação. Um dos
mais íntimos conselheiros de Goulart era Darcy
Ribeiro, que, como Ministro da Educação, serviu-se de cartilhas para
ensinar a milhões de analfabetos o ódio de classes marxista.
Especialmente
mimada pelo Ministério
da Educação era a UNE (União
Nacional dos Estudantes), cuja diretoria era completamente dominada por
vermelhos e cujos 100.000 sócios constituem a maior organização estudantil
nacional da América Latina. Durante anos um subsídio anual do Governo, de cerca
de 150 milhões de cruzeiros, era entregue aos diretores da UNE— sem que
tivessem de prestar contas. Assim garantidos, eles se dedicavam integralmente à
agitação política entre os estudantes. Parte desse subsídio era usada para
financiar excursões à Cuba Vermelha e visitas a grupos irmãos de estudantes
comunistas em outros países da América Latina. Fortalecida ainda mais por substanciais fundos de guerra oriundos de
Moscou, a UNE publicava panfletos inflamados e um jornal semanal marxista
virulentamente antiamericano. Fingindo-se empenhado em combater o
analfabetismo, um grupo da UNE passou dois meses distribuindo material de
leitura, no qual se incluía
o manual de guerrilhas do castrista "Che"
Guevara—impresso em português por comunistas brasileiros da linha vermelha
chinesa. Líderes da UNE especializavam-se em fomentar greves escolares e
comícios estudantis, demonstrações públicas e distúrbios de rua.
Lins e Silva Hermes
Lima Abelardo Jurema Raul Ryff Brizola
Engenheiros do Caos
A infiltração, constataram os
investigadores, fora-se tornando maior e cada, vez menos oculta a cada mês que
passava. Suficientes para fazerem soar campainhas de alarma foram as
nomeações de certos homens feitas logo no início do Governo Goulart, como Evandro Lins e Silva, eminente
advogado, há muito defensor de causas comunistas, para Procurador-Geral da
República; e o Professor Hermes Lima,
um admirador de Fidel Castro, para Primeiro-Ministro (ambos foram
posterio-mente nomeados para o Supremo Tribunal Federal). O principal entre os
mais veementes defensores de medidas esquerdizantes era Abelardo Jurema, Ministro da Justiça de Goulart. E o secretário de
imprensa do Presidente era Raul Ryff,
de ligações notórias com o Partido
Comunista havia mais de 30 anos.
O principal
porta-voz do regime Goulart era Leonel
Brizola, cunhado de Jango, Governador do Estado do Rio Grande do Sul e
depois Deputado pelo Estado da Guanabara. Ultranacionalista, odiando os Estados
Unidos, Brizola era classificado como "um homem temerariamente mais radical do que o próprio chefe
vermelho, Luiz Carlos Prestes''.
Por toda a parte
havia "técnicos
de conflito", comunistas do caos. Adestrados em escolas de subversão atrás
da Cortina de Ferro, eram peritos em criar o caos, para depois promover
agitações em prol das "reformas", levar o Governo a fazer grandes
promessas que nunca poderia cumprir e, em seguida, aproveitar o desespero
resultante para gritar: "Revolução!" O número desses técnicos não
era grande—não havia mais de 800, tendo uns 2.000 adeptos em órgãos do Governo.
Diz o Dr. Glycon de Paiva, do Conselho
Nacional de Economia: "É tática comunista clássica darem a impressão de
que são muitos. Na verdade, só uns poucos devotados são necessários para levar
a efeito a derrubada de um país. Os povos livres cometem o erro de não darem
importância a qualquer força sem efetivos consideráveis. Nós aprendemos pelo
processo difícil".
Quase diariamente vinham à luz as mais espantosas provas de que uma revolução
vermelha estava em processo. No empobrecido Nordeste, onde se justificava a
preocupação pelas flagrantes injustiças praticadas
por abastados proprietários rurais contra camponeses famintos,
"barbudos" de Castro, perambulavam pelo campo suscitando a revolta.
O transporte para instrutores cubanos em guerra de guerrilhas, assim como para
centenas de jovens brasileiros que iam a Cuba fazer cursos especiais de
subveráão de 20 dias, era assegurado por aviões diplomáticos em voos regulares
de ida e volta para Havana. Irradiações da China Vermelha, em português,
ficavam no ar quase oito horas por dia, conclamando os camponeses a se
sublevarem contra os proprietários das terras.
Típico da eficiência dos
investigadores democráticos foi a descoberta que fizeram, em setembro de
1963, de um grande carregamento de armas que se encontrava a caminho do
Brasil, procedente da Europa Oriental. Alertado, o Exército Brasileiro enviou
uma tropa ao navio e conseguiu confiscar toneladas de armas portáteis, munições,
metralhadoras, equipamento de comunicações de campanha e montões de
propaganda vermelha em português.
O Método "Enriqueça Depressa"
As contínuas investigações
dos peritos de informação do IPES revelaram mais do que subversão. A corrupção
generalizada—bem acima do comumente aceito como parte da vida política da
América Latina —estendia-se do palácio presidencial para baixo. No momento em que Goulart e seus extremistas de esquerda
atribuíam
todas as dificuldades do Brasil aos "exploradores e sanguessugas
norte-americanos", havia gente no Governo metendo as mãos no dinheiro
público com a maior sem-cerimônia. Estava claro que qualquer auxílio a regiões
empobrecidas, inclusive contribuições da Aliança
Para o Progresso, tinham de
transpor uma pesada pista de obstáculos de mãos ávidas e dedos hábeis.
Com uma renda declarada de menos de 50 milhões de cruzeiros em 1963, Goulart, por
exemplo—conforme documentos apreendidos pelo Conselho Nacional de Segurança depois
que ele fugiu para o exílio— gastou 236 milhões
de cruzeiros somente em suas fazendas de Mato Grosso.
Enquanto Goulart insistia no confisco das
propriedades dos latifundiários e na distribuição da terra aos camponeses, os
registros de imóveis demonstram que ele rapidamente somava imensas
propriedades às que já tinha. Só depois que Jango fugiu pode o Brasil medir a
sinceridade dele em matéria de partilha de terras. Proprietário de terras apenas
em São Borja, quando iniciou sua vida pública, ao abandonar o país em abril
passado Goulart era o maior latifundiário
do Brasil, possuindo em seu nome mais de 7.700 quilometros quadrados de
terras, uma área quatro vezes e meia superior à do Estado da Guanabara. E havia os que compartilhavam
as oportunidades de ficarem ricos depressa. Indiscrições sobre uma iminente
mudança na política oficial, como sobre taxas de câmbio, davam milhões a
favoritos palacianos. Empreendimentos de qualquer genero eram vinculados a
comissões e retribuições em dinheiro.
Verificou-se que um membro do “staf” de Jango tinha um "bico"
como "ministro-conselheiro de assuntos economicos numa embaixada no
exterior"—emprego a que nunca dedicou um dia de trabalho, mas adicionava
mais de 15 milhões de cruzeiros ao seu salário anual de oito milhões e meio_. O
tráfico de influência era um fato. Um dos deputados do PTB, de Goulart, estava
fazendo uma fortuna acrescentando 1.295 funcionários à sua folha de pagamento
ern troca de fatia dos vencimentos
deles.
Outro negociozinho confortável,
explorado por um "do peito" do Governo, era conseguir bons empregos
públicos para quem pudesse pagar-lhe uma taxa de um milhão e meio de cruzeiros.
Um governador de Estado estava fazendo fortuna com contrabando; outro recebeu
uma verba de seis bilhões e meio de cruzeiros para a construção de rodovias e
calmamente embolsou o total.
Além
de todas essas velhacarias de alto calibre, que podiam ser documentadas,
inúmeros milhões de cruzeiros desapareciam sem deixar rastro no poço sem fundo
da corrupção que campeava.
Propaganda por Panfleto
Os líderes da classe média brasileira,
armados com as montanhas de provas reunidas por seus investigadores,
puseram-se então a agir. Sua missão: despertar seus tolerantes e cordiais
patrícios, cujas condescendentes atitudes políticas eram resumidas muito
frequentemente na frase: "Está certo, ele é comunista, mas é uma boa
praça!"
Os anticomunistas
organizaram dossiês
sobre os chefes comunistas e seus colaboradores, dentro e fora do Governo, e
distribuíram-nos largamente entre os líderes da resistência e os jornais.
Eles visavam principalmente à crescente classe assalariada do país, a grande
sofredora com a galopante inflação. Diretores de organizações comerciais e de fábricas convocavam reuniões
regulares dos empregados, discutiam o significado oculto dos acontecimentos
correntes, davam-lhes panfletos.
Um livrinho barato, escrito por André Gama,
dono de uma pequena fábrica de Petrópolis, e intitulado 'Nossos Males e Seus
Remédios’, teve uma circulação superior a um milhão de exemplares. Outro
documento, escrito em linguagem simples, explicava como o sistema democratico
funciona melhor do que outro qualquer, detalhava as tragédias da Hungria e de
Cuba, e avisava: "Está acontecendo aqui!"
A distribuição desse e de outros
materiais anticomunistas a princípio foi clandestina, depois tornou-se ostensiva.
Os lojistas punham os folhetos denunciadores dentro de embrulhos e sacos de
compras. Os ascensoristas davam-nos a passageiros que se queixavam da situação. Os barbeiros
punham-nos dentro das revistas que eram lidas pelos fregueses que esperavam a
vez. Um tipógrafo do Rio imprimiu secretamente 50.000 cartazes com caricaturas
de Fidel Castro fustigando seu povo e a legenda: "Você quer viver sob a
chibata dos comunistas?" A noite mandou vários ajudantes colocá-los em
lugares públicos.
Os
contra-revoiucionários
da classe média do Brasil pagavam pelo tempo no rádio e na televisão para
divulgarem suas revelações. Quando a pressão do Governo fechou muitas estações
de rádio e TV a todos menos aos mais radicais propagandistas, eles formaram
sua própria "Rede da Democracia" de mais de 100 estações em todo o
Brasil. De outubro de 1963 até a revolução, as estações dessa rede, organizada
por João Calmon, diretor dos Diários Associados, iam para o ar na mesma hora em
que o esquerdista Leonel Brizola arengava ao público.
NOTA: Detido após
a revolução e perguntado por que falhara o golpe vermelho, o General Assis
Brasil, o esquerdista Chefe do Gabinete Militar do Presidente Goulart, deixou
escapar: "Aquela desgraçada rede de rádio e TV, assustando a opinião
pública e provocando todas aquelas marchas de mulheres!").
Os investigadores
não
descobriram apenas o que tinha acontecido, mas também o que estava para
acontecer. Adotando as táticas dos próprios vermelhos, trabalhadores
infiltravam-se nos altos conselhos dos sindicatos trabalhistas, fingindo-se
comunistas, mas denunciando regularmente as maquinações vermelhas. Repetidas
vezes os planos dos vermelhos foram desmantelados, quando oradores e escritores
da oposição iam para a imprensa e para o rádio revelar o que se preparava.
Certa feita, os vermelhos estavam discretamente reunindo 5.000 pessoas para
uma viagem a Brasília, numa "peregrinação espontânea" para
influenciar a ação do Congresso. Quando os anticomunistas denunciaram a
manobra dias antes, a “peregrinação" foi cancelada.
Uma Imprensa Destemida
Os principais jornais brasileiros cedo
entraram na luta. Comunicando regularmente as descobertas dos grupos de resistência e mantendo por conta
própria cerrada fuzilaria editorial, destacavam-se os dois mais influentes
jornais do Rio, O Globo e
o Jornal do Brasil, bem
como O Estado de São. Paulo,
da capital paulista, e o Correio
do Povo, o mais antigo e mais respeitado jornal independente do
Rio Grande do Sul
ROBERTO PISANI MARINHO MANOEL F. DO NASCIMENTO BRITO JULIO DE MESQUITA FILHO
Por seu destemor,
os jornais brasileiros pagaram pesado preço em matéria de perseguição pelo Governo.
Quando João Calmon publicou uma revelação comprometedora de quanta inverdade havia no pretenso interesse de Leonel Brizola pela reforma
agrária—sendo
o próprio Brizola interessado em terras—este tentou silenciá-lo mandando executar
a hipoteca de empréstimos feitos aos Diários Associados pelo Banco do Brasil.
Para manter a cadeia funcionando, anunciantes brasileiros prontamente pagaram
adiantadamente seus contratos de 12 meses, adiando assim o fechamento.
Por publicar uma
narração
corajosa e reveladora do que viu durante uma visita que fez à Rússia em 1963, o
dono do Jornal do Brasil, Manoel Francisco do Nascimento Brito, viu seu
jornal incorrer nas iras do Governo, que mais tarde, no dia 31 de março, ordenou
a sua invasão por elementos do Corpo de Fuzileiros Navais.
Feminina e Formidável
Mas é às mulheres do Brasil que
cabe uma enorme parcela de crédito pela aniquilação da planejada conquista
vermelha. Em escala sem paralelo, na história da América Latina, donas de casa lançaram-se
à luta aos milhares, fazendo mais para alertar o país para o perigo do que
outra força qualquer. "Sem as mulheres", diz um líder de classe média
da contra-revolução, "nunca teríamos podido sustar a tempo o mergulho do
Brasil em direção à ditadura. Muitos dos nossos grupos de homens tinham de
trabalhar disfarçadamente, mas as mulheres trabalharam às claras... e como trabalharam!"
A vela de ignição
e a força propulsora do levante das mulheres foi uma minúscula amostra de 45
quilos de energia feminina: Dona Amélia
Molina Bastos, do Rio, ex-professora primária, de 59 anos de idade, esposa de
um general reformado do corpo médico do Exército. Dona Amélia Bastos dizia :-"Quem tem
mais a perder do que nós mulheres?" Ela ouviu uma
noite, em meados de 1962, seu marido e alguns líderes anticomunistas discutirem desanimados
a ameaça que se agigantava. “Subitamente concluí que a política se havia
tornado demasiado importante para ser deixada inteiramente nas mãos dos homens.' No dia seguinte, 12 de junho, Dona Amélia
convidou à sua casa várias amigas e vizinhas. Com fogo nos olhos, ela perguntou: -“Quem tem mais a perder com o que está
acontecendo no nosso país do que nós mulheres? Quem está pagando as contas do
armazém cada vez mais altas por causa da inflação? Quem está vendo, sem nada
poder fazer, as nossas economias, cuidadosamente acumuladas, destinadas à
educação de um filho ou filha, minguarem ao ponto de não darem sequer para
comprar uma roupinha de verão para criança? E de quem será o futuro que
desaparecerá senão o de nossos filhos e netos, se a política radical do Governo
levar a nossa pátria ao domínio comunista?
Naquela mesma
noite foi formado o primeiro centro da CAMDE
(Campanha da Mulher Pela Democracia). E no dia seguinte, com 30 donas de
casa mobilizadas, Dona Amélia
foi aos jornais do Rio pedir atenção para seu protesto contra a nomeação por
Goulart de seu avermelhado primeiro-ministro. Em O Globo, disseram-lhe:
"O protesto de 30 mulheres não quer dizer muita coisa. Mas se a senhora puder
marchar até aqui com 500 mulheres ...". Pegando no telefone, Dona Amélia e seu nascente grupo
reuniram as 500 mulheres, e dois dias depois se apresentaram a Roberto Marinho,
diretor do jornal—e o fato mereceu manchetes de primeira página. O protesto não
sustou a nomeação, mas estabeleceu o poder das mulheres para influenciar a opinião
pública.
A "Corrente de Simpatia"
quando a sala de estar de Dona Amélia não mais pôde acomodar todas as donas
de casa ansiosas por tomar parte na CAMDE, ela mudou suas reuniões para salões
paroquiais de igrejas, formou dezenas de outras pequenas "células" em
casas de família. Cada mulher que comparecia era encarregada de organizar
outra reunião com 10 de suas amigas; por sua vez estas tinham
de recrutar outras. Para financiar suas atividades, elas economizavam nos orçamentos
domésticos e pediam ajuda às amigas com posses. As mulheres da CAMDE insistiam
em ação.
Formavam comícios de protesto público;
ficavam horas diariamente ao telefone; escreviam cartas (certa vez, mais de
30.000) a congressistas para "assumirem posição firme em prol da
democracia". Pressionavam firmas comerciais para que tirassem sua
publicidade do jornal Última Hora, punham anúncios em jornais avisando
sobre suas reuniões, apareciam em comícios públicos para discutir com
esquerdistas e desafiar os agitadores, distribuíam milhões de circulares e
livretos preparados pelas organizações democráticas denunciando o namoro do
Governo com os vermelhos.
Além disso, produziam
literatura própria, especialmente orientada no sentido das preocupações
femininas; mais de 200.000 exemplares só de um trabalho, descrevendo o que as
mulheres podiam fazer, foram distribuídos pela CAMDE às suas
sócias, cada uma devendo tirar cinco cópias e mandá-las a possíveis candidatas
a sócias.
Quando o diretor
esquerdista dos Correios e Telégrafos
vedou a distribuição de mensagens e publicações da CAMDE, Dona Amelinha
organizou uma força de "senhoras estafetas" para entregar o material
de automóvel, convencendo pilotos de companhias de aviação brasileiras a
transportá-lo para lugares distantes.
As donas de casa
da classe média
não se limitaram a seu próprio ambiente. Elas se concentraram, por exemplo,
nas mulheres do sindicato dos estivadores, fortemente influenciado pelos
vermelhos. "Vocês devem convencer seus maridos!", diziam àquelas
mulheres. Muitas o conseguiram, e não poucos foram os estivadores assim
convertidos à democracia, comunicando depois às suas esposas: "Não somos
mais comunistas!"
O Murmúrio das Orações
mesmo nas favelas, ponto especial de ataque da
propaganda vermelha, formavam-se unidades da CAMDE. Uma delas, numa favela na
Zona Sul do Rio, denominada Rocinha, nasceu do pedido de socorro de uma
lavadeira a Dona Amelinha. —Este
lugar aqui—disse a mulher —está cheio de comunistas. Eles dizem que querem
ensinar a gente a ler e escrever, e trazem divertimentos para nós. Mas os
únicos livros
que usam são
cartilhas cubanas, as únicas fitas que passam são de guerrilheiros cubanos. Imediatamente formou-se uma célula
na Rocinha, centralizada na casa dessa lavadeira; organizaram-se classes de
alfabetização, forneceram-se livros. E dali a pouco as mulheres da Rocinha
estavam em condições de discutir com os vermelhos em seu próprio nível, dizendo
aos candidatos comunistas ao Congresso e a propagandistas da União Nacional
dos Estudantes: "Vão embora. Sabemos o que é que vocês estão querendo!" Os vermelhos partiram em busca de presas mais fáceis.
A difusão das organizações femininas
foi espetacular. Algumas tornaram-se filiais da CAMDE; outras, como a LIMDE (Liga das Mulheres Democráticas)
em Belo Horizonte, possuíam identidade própria. As mulheres de Belo Horizonte, no Estado brasileiro talvez mais
ferrenhamente anticomunista, eram a coragem personificada. Quando o Congresso
das Uniões
dos Trabalhadores da América Latina (CUTAL),
dirigido pelos vermelhos, anunciou um comício a ser efetuado em Belo Horizonte,
tendo como oradores principais dois organizadores comunistas vindos da Rússia,
as líderes da LIMDE mandaram um recado curto ao CUTAL: "Favor ficar
cientes que, quando chegar o avião trazendo esses homens, centenas de mulheres
estarão deitadas na pista!" Elas cumpriram a palavra, e o avião nunca pousou na capital mineira; em vez disso, prosseguiu para Brasília,
As mesmas
mulheres realizaram demonstração
igualmente eficaz em fevereiro de 1964. Um "Congresso de Reforma
Agrária" devia reunir-se em Belo Horizonte, tendo como orador principal o
cunhado de Goulart. Quando o Deputado Brizola chegou ao saguão, encontrou-o
tão apinhado com 3.000 mulheres que não conseguiu fazer-se ouvir acima do
ruído dos rosários e do murmúrio das preces pela libertação da pátria. Saindo,
Brizola viu as ruas igualmente cheias de mulheres rezando até aonde a vista
podia alcançar. O Deputado Brizola foi impelido para fora de Belo Horizonte,
levando no bolso, sem o pronunciar, um dos mais violentos discursos da sua
carreira. Em 12 meses, grupos assim atuaram em todas as cidades grandes, de Belém a Porto Alegre.
CONTINUA
NA 2ª PARTE, PRÓXIMA REMESSA, QUANDO SERÁ APOSTO O
MEMENTO
PERTINENTE.
[1]
clarence W. hall,
redator do Reader's Digest e antigo redator-chefe do Christian
Herald, passou algumas semanas no Brasil quando a revolução
ainda estava viva na memória de todos. Juntamente com outro redator, William L.
White, entrevistou demoradamente pessoas que tomaram parte nos acontecimentos,
altos funcionários do Governo, militares e cidadãos de todas as classes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário