quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

( 2 ) “CAMPANHA BRASIL ACIMA DE TUDO/2013” BOLETIM NR 10/1ª PARTE



                            

CORONEL LUIZ ERNANI CAMINHA GIORGIS
COLABORAÇÃO ATRAVÉS DA ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DO RIO GRANDE DO SUL-AHIMTB/RS











“O CLAMOR DO POVOBRASILEIRO CONTRA O COMUNISMO”
Em 2 de abril de 1964, no Rio de Janeiro, mais de um milhão de pessoas encheram as ruas proclamando sua determinação de permanecerem livres. Raramente uma grande nação esteve mais perto do desastre e se recuperou do que o Brasil em seu recente triunfo sobre a subversão vermelha. Os elementos da campanha comunista para a dominação—propaganda, infiltração, terror—estavam em plena ação. A rendição total parecia iminente... e então o povo disse: Nãol Esta narrativa conta como um povo defendeu resolu­tamente a sua liberdade. Mais do que isso, constitui um claro plano de ação para cidadãos preocupados em nações ameaçadas pelo comunismo.

A NAÇÃO QUE SE SALVOU A SI MESMA

O palco estava completamente armado e determinado o cronograma para a primeira fase da tomada de posse pelos comunistas. Nos calendários dos chefes vermelhos do Brasil—assim como nos de Moscou, Havana e Pequim—as etapas para a conquista do poder estavam marcadas com um círculo vermelho: primeiro, o caos; depois, guerra civil; por fim, domínio comunista total. Havia anos que os vermelhos olhavam com água na boca o grande país, maior que a parte continental dos Estados Unidos e que contém 80 milhões de habitantes, aproximadamente metade da população da América do Sul. Além de imensamente rico em recursos ainda inaproveitados, o Brasil era a enorme chave para todo o continente. Como o Brasil se limita com 10 países da América do Sul, exceto Chile e Equador—seu domínio direto ou indireto pelos comunistas ofereceria excelentes oportunidades para subverter um vizinho após outro. A captura deste fabuloso potencial mudaria desastrosamente o equilíbrio de forças contra o Ocidente. Comparada com isso, a comunização de Cuba era insignificante.
Por fim estava tudo preparado. A inflação piorava dia a dia; a corrupção campeava; havia inquietação por toda a parte—condições perfeitas para os objetivos comunistas. O Governo do Presidente João Goulart estava crivado de radicais; o Congresso, cheio de instrumentos dos comunistas. Habilmente, anos a fio, os extremistas da esquerda tinham semeado a ideia de que a revolução era inevitável no Brasil. Dezenas de volumes eruditos foram escritos acerca da espiral descendente do Brasil para o caos económico e so­cial; a maioria concordava em que a explosão que viria seria sangrenta, comandada pela esquerda e com um elenco acentuadamente castrista. Os brasileiros em geral olhavam o futuro com a fascinação paralisada de quem assiste impotente à aproximação de um ciclone. Uma expressão brasileira corrente era: "A questão não é mais de saber se a revolução virá, mas de quando virá".[1]
O país estava realmente maduro para a colheita. Os vermelhos tinham introduzido toneladas de mu­nições por contrabando, havia guer­rilheiros bem adestrados, os escalões inferiores das Forças Armadas estavam infiltrados, planos pormenorizados estavam prontos para a apropriação do poder, feitas as "listas de liquidação” dos anticomunistas mais destacados. Luiz Carlos Prestes, chefe do Partido Comunista Brasileiro, tecnicamente ilegal, mas agressivamente ativo, vangloriava-se publicamente: "Já temos o poder, basta-nos apenas tomar o Governo!"

Amadores Contra Profissionais
E então, de repente—e arrasadoramente para os planos vermelhos —algo aconteceu. No último ins­tante, uma contra-revolução antecipou-se à iniciativa deles. A sofrida classe média brasileira, sublevando-se em força bem organizada e poder completamente inesperado, fez sua própria revolução—e salvou o Brasil.
GENERAL MOURÃO        CARLOS LACERDA E M. PINTO ADEMAR DE BARROS
Sem precedentes nos anais dos levantes políticos sul-americanos, a revolução foi levada a efeito não por extremistas, mas por grupos normalmente moderados e respeitadores da lei. Conquanto sua fase culminante fosse levada a cabo por uma ação militar, a liderança atrás dos bastidores foi fornecida e continua a ser compartilhada por civis. Sua ação foi rápida (cerca de 48 horas do início ao término), relativamente sem derramamento de sangue (apenas uma dúzia de pessoas foi morta) e popular além de todas as expectativas. Uma vitória colossal para .o próprio Brasil, ela foi ainda maior para todo o mundo livre. Pois, como comentou um categorizado funcioná­rio do Governo em Brasília: "Ela marca a mudança da maré, quando todas as vitórias pareciam ser vermelhas, e destrói completamente a afirmação comunista de que “a história está do nosso lado “
Quanto a seu significado, diz Lincoln Gordon, Embaixador dos Estados Unidos no Brasil: "Os futu­ros historiadores é bem possível que registrem a revolução brasileira como a mais decisiva vitória pela liber­dade em meados do século XX. Esta foi uma revolução doméstica, feita com as próprias mãos, tanto na concepção como na execução.Como foi, exatamente, que os brasileiros conseguiram esta vitória magnífica? A história secreta desta revolução do povo—planejada e executada por amadores mo­bilizados para a luta contra revolucionários vermelhos—é um modelo para toda nação analo­gamente ameaçada, uma prova animadora de que o comunismo pode ser detido de vez, quando enfrentado com energia por um povo suficien­temente provocado e decidido.

Deriva Para o Caos
A história começa pouco depois da renúncia do Presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961. Seu sucessor, o Vice-Presidente Goulart, de tendências esquerdistas, mal chegado de uma visita à Rússia e à China Vermelha, apenas assumiu o poder e deixou transparecer claramente em que direção ia conduzir o país.

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Sem ser comunista, Jango procedia como se o fosse. Sedento de poder, Goulart julgava estar tornando os camaradas instrumentos de suas ambições; em vez disso, eram eles que faziam dele seu instrumento. As portas, há anos entreabertas à infiltração vermelha, foram escancaradas. A inflação, estimulada por enchentes de papel-moeda emitido em administrações anteriores e agora acelerada por Jango, subia em espiral, enquanto o valor do cruzeiro caía dia a dia. O capital, vitalmente necessário para desenvolver o país, fugia para o estrangeiro; os investimentos alienígenas secavam rapidamente sob o peso das restrições e das constantes ameaças de desapropriação.

"A Hora é Agora"
alarmados com a perigosa deriva para o caos, alguns homens de negó­cio e profissionais liberais reuniram-se no Rio em fins de 1961, dizendo: "Nós, homens de negócio, não mais podemos deixar a direção do país apenas aos políticos”. Convocando outras reuniões no Rio e em São Paulo, declararam:

 "A hora de afastar o desastre é agora, não quando os vermelhos já tiverem o controle completo do nosso Governo!".

Dessas reuniões nasceu o Instituto de Pesquisas Economicas e Sociais (IPES), destinado a descobrir exatamente o que ocorria por trás do cenário político e o que se poderia fazer a respeito. Outras associações já existentes, como o CONCLAP (Conselho Superior das Classes Pro­dutoras), formado pelos chefes de organizações industriais, tanto grandes como pequenas; o GAP (Grupo de Ação Política); o Centro Industrial e a Associação Co­mercial, também se empenharam em atividades de resistência democrática. Essas organizações ramificaram-se rapidamente através do país. Embora agindo independentemente, esses grupos conjugavam suas descobertas, coordenavam planos de ação. Produziam cartas circulares apreciando a situação política, faziam levantamentos da opinião pública e redigiam centenas de artigos para a imprensa respondendo às fanfarronadas comunistas.
Para descobrir como funcionava no Brasil o aparelho subterrâneo treinado por Moscou, o IPES formou seu próprio serviço de informações, uma força-tarefa de investigadores (vários dentro do próprio Governo) para reunir, classificar e correlacionar informes sobre a extensão da infiltração vermelha.
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Guarnecidos de Vermelhos
Os investigadores não tardaram a descobrir um cavalo-de-tróia ver­melho, de dimensões bem mais assus­tadoras do que alguém imagina­va. Muitos comunistas disfarçados, "plantados" em ministérios e órgãos governamentais anos antes, tinham conseguido alçar-se até postos-chaves na administração federal. A maioria dos ministérios e repartições públi­cas estavam guarnecidos de comu­nistas e simpatizantes a serviço das metas de Moscou. O chefe comunis­ta Prestes apregoava em público: "Dezessete dos nossos estão no Con­gresso"—todos eleitos em chapas de outros partidos. Além disso, dezenas de deputados simpatizantes faziam acordos com os comunistas, apoian­do-os em muitas questões, sempre atacando o "imperialismo dos EUA"—mas jamais criticando a Rússia Soviética.
Comunistas não eram os ministros, mas os consultores de alto nível, e às vezes apenas os subordinados ao mi­nistro, ou os redatores de relatórios em que se baseavam altas decisões. Alguns alardeavam abertamente: "Não nos interessa quem faça os dis­cursos, desde que sejamos nós que os escrevamos!" O Ministério de Minas e Energia era dominado completamente por um grupo assim. O Diretor-Geral dos Correios e Telé­grafos, Dagoberto Rodrigues, ofi­cial do Exército, conhecido como esquerdista, liberou certa vez grande quantidade de material de propaganda soviética e cubana apreendida pelo Governo Federal com a explica­ção vaga: "Examinei este material e concluí que não é subversivo. Nos próprios sindicatos, o con­trole comunista era esmagador. Re­petidamente o Governo intervinha em eleições sindicais a fim de garan­tir a escolha de candidatos comunis­tas, especialmente em indústrias que podiam prontamente paralisar o país.

Atenção Especial à Educação
O mais sabidamente infiltrado era o Ministério da Educação. Um dos mais íntimos conselheiros de Gou­lart era Darcy Ribeiro, que, como Ministro da Educação, serviu-se de cartilhas para ensinar a milhões de analfabetos o ódio de classes mar­xista.
Especialmente mimada pelo Mi­nistério da Educação era a UNE (União Nacional dos Estudantes), cuja diretoria era completamente dominada por vermelhos e cujos 100.000 sócios constituem a maior organização estudantil nacional da América Latina. Durante anos um subsídio anual do Governo, de cerca de 150 milhões de cruzeiros, era entregue aos diretores da UNE— sem que tivessem de prestar contas. Assim garantidos, eles se dedicavam integralmente à agitação política entre os estudantes. Parte desse sub­sídio era usada para financiar excur­sões à Cuba Vermelha e visitas a grupos irmãos de estudantes comu­nistas em outros países da América Latina. Fortalecida ainda mais por subs­tanciais fundos de guerra oriundos de Moscou, a UNE publicava panfletos inflamados e um jornal semanal mar­xista virulentamente antiamericano. Fingindo-se empenhado em comba­ter o analfabetismo, um grupo da UNE passou dois meses distribuindo material de leitura, no qual se incluía o manual de guerrilhas do castrista "Che" Guevara—impresso em por­tuguês por comunistas brasileiros da linha vermelha chinesa. Líderes da UNE especializavam-se em fomen­tar greves escolares e comícios estu­dantis, demonstrações públicas e distúrbios de rua.
           Lins e Silva       Hermes Lima         Abelardo Jurema             Raul Ryff                     Brizola

Engenheiros do Caos
A infiltração, constataram os investigadores, fora-se tornando maior e cada, vez menos oculta a cada mês que passava. Suficientes pa­ra fazerem soar campainhas de alar­ma foram as nomeações de certos homens feitas logo no início do Gover­no Goulart, como Evandro Lins e Silva, eminente advogado, há muito defensor de causas comunistas, para Procurador-Geral da República; e o Professor Hermes Lima, um admi­rador de Fidel Castro, para Primeiro-Ministro (ambos foram posterio-mente nomeados para o Supremo Tribunal Federal). O principal entre os mais veementes defensores de medidas esquerdizantes era Abelar­do Jurema, Ministro da Justiça de Goulart. E o secretário de impren­sa do Presidente era Raul Ryff, de ligações notórias com o Partido Comunista havia mais de 30 anos.
O principal porta-voz do regime Goulart era Leonel Brizola, cunhado de Jango, Governador do Estado do Rio Grande do Sul e depois De­putado pelo Estado da Guanabara. Ultranacionalista, odiando os Esta­dos Unidos, Brizola era classificado como "um homem temerariamente mais radical do que o próprio chefe vermelho, Luiz Carlos Prestes''.
Por toda a parte havia "técnicos de conflito", comunistas do caos. Adestrados em escolas de subversão atrás da Cortina de Ferro, eram pe­ritos em criar o caos, para depois promover agitações em prol das "reformas", levar o Governo a fazer grandes promessas que nunca pode­ria cumprir e, em seguida, aprovei­tar o desespero resultante para gritar: "Revolução!" O número desses téc­nicos não era grande—não havia mais de 800, tendo uns 2.000 adeptos em órgãos do Governo.


Diz o Dr. Glycon de Paiva, do Conselho Nacional de Economia: "É tática comunista clássica darem a impressão de que são muitos. Na verdade, só uns poucos devotados são necessários para levar a efeito a derrubada de um país. Os povos livres cometem o erro de não darem importância a qualquer força sem efetivos consi­deráveis. Nós aprendemos pelo pro­cesso difícil".
Quase diariamente vinham à luz as mais espantosas provas de que uma revolução vermelha estava em processo. No empobrecido Nordeste, onde se justificava a preocupação pelas flagrantes injustiças praticadas por abastados proprietá­rios rurais contra camponeses fa­mintos, "barbudos" de Castro, pe­rambulavam pelo campo suscitando a revolta. O transporte para instrutores cubanos em guerra de guerri­lhas, assim como para centenas de jovens brasileiros que iam a Cuba fazer cursos especiais de subveráão de 20 dias, era assegurado por aviões diplomáticos em voos regulares de ida e volta para Havana. Irradiações da China Vermelha, em português, ficavam no ar quase oito horas por dia, conclamando os camponeses a se sublevarem contra os proprietá­rios das terras.
Típico da eficiência dos investi­gadores democráticos foi a desco­berta que fizeram, em setembro de 1963, de um grande carregamento de armas que se encontrava a cami­nho do Brasil, procedente da Europa Oriental. Alertado, o Exército Bra­sileiro enviou uma tropa ao navio e conseguiu confiscar toneladas de armas portáteis, munições, metra­lhadoras, equipamento de comuni­cações de campanha e montões de propaganda vermelha em portu­guês.

O Método "Enriqueça Depressa"
               As contínuas investigações dos peritos de informação do IPES re­velaram mais do que subversão. A corrupção generalizada—bem acima do comumente aceito como parte da vida política da América Latina —estendia-se do palácio presidencial para baixo. No momento em que Goulart e seus extremistas de es­querda atribuíam todas as dificul­dades do Brasil aos "exploradores e sanguessugas norte-americanos", havia gente no Governo metendo as mãos no dinheiro público com a maior sem-cerimônia. Estava claro que qualquer auxílio a regiões em­pobrecidas, inclusive contribuições da Aliança
Para o Progresso, tinham de transpor uma pesada pista de obstáculos de mãos ávidas e dedos hábeis.
Com uma renda declarada de me­nos de 50 milhões de cruzeiros em 1963, Goulart, por exemplo—con­forme documentos apreendidos pelo Conselho Nacional de Segurança de­pois que ele fugiu para o exílio— gastou 236 milhões de cruzeiros so­mente em suas fazendas de Mato Grosso.
Enquanto Goulart insistia no confisco das propriedades dos la­tifundiários e na distribuição da terra aos camponeses, os registros de imóveis demonstram que ele rapida­mente somava imensas propriedades às que já tinha. Só depois que Jango fugiu pode o Brasil medir a sinceri­dade dele em matéria de partilha de terras. Proprietário de terras ape­nas em São Borja, quando iniciou sua vida pública, ao abandonar o país em abril passado Goulart era o maior latifundiário do Brasil, pos­suindo em seu nome mais de 7.700 quilometros quadrados de terras, uma área quatro vezes e meia supe­rior à do Estado da Guanabara. E havia os que compartilhavam as oportunidades de ficarem ricos depressa. Indiscrições sobre uma imi­nente mudança na política oficial, como sobre taxas de câmbio, davam milhões a favoritos palacianos. Em­preendimentos de qualquer genero eram vinculados a comissões e re­tribuições em dinheiro.
Verificou-se que um membro do “staf” de Jango tinha um "bico" como "ministro-conselheiro de as­suntos economicos numa embaixa­da no exterior"—emprego a que nunca dedicou um dia de trabalho, mas adicionava mais de 15 milhões de cruzeiros ao seu salário anual de oito milhões e meio_. O tráfico de influência era um fato. Um dos deputados do PTB, de Goulart, estava fazendo uma fortuna acrescentando 1.295 funcioná­rios à sua folha de pagamento ern troca de  fatia dos vencimentos deles.
Outro negociozinho confortável, explorado por um "do peito" do Go­verno, era conseguir bons empregos públicos para quem pudesse pagar-lhe uma taxa de um milhão e meio de cruzeiros. Um governador de Es­tado estava fazendo fortuna com contrabando; outro recebeu uma verba de seis bilhões e meio de cru­zeiros para a construção de rodovias e calmamente embolsou o total. Além de todas essas velhacarias de alto calibre, que podiam ser documentadas, inúmeros milhões de cruzeiros desapareciam sem deixar rastro no poço sem fundo da corrup­ção que campeava.

Propaganda por Panfleto
Os líderes da classe média bra­sileira, armados com as montanhas de provas reunidas por seus investi­gadores, puseram-se então a agir. Sua missão: despertar seus toleran­tes e cordiais patrícios, cujas con­descendentes atitudes políticas eram resumidas muito frequentemente na frase: "Está certo, ele é comunista, mas é uma boa praça!"
Os anticomunistas organizaram dossiês sobre os chefes comunistas e seus colaboradores, dentro e fora do Governo, e distribuíram-nos lar­gamente entre os líderes da resistên­cia e os jornais. Eles visavam princi­palmente à crescente classe assala­riada do país, a grande sofredora com a galopante inflação. Diretores de organizações comer­ciais e de fábricas convocavam reu­niões regulares dos empregados, dis­cutiam o significado oculto dos acontecimentos correntes, davam-lhes panfletos.


Um livrinho barato, escrito por André Gama, dono de uma pequena fábrica de Petrópolis, e intitulado 'Nossos Males e Seus Remédios’, teve uma circulação su­perior a um milhão de exemplares. Outro documento, escrito em lin­guagem simples, explicava como o sistema democratico funciona me­lhor do que outro qualquer, deta­lhava as tragédias da Hungria e de Cuba, e avisava: "Está acontecendo aqui!"
A distribuição desse e de outros materiais anticomunistas a princípio foi clandestina, depois tornou-se os­tensiva. Os lojistas punham os fo­lhetos denunciadores dentro de em­brulhos e sacos de compras. Os as­censoristas davam-nos a passageiros que se queixavam da situação. Os barbeiros punham-nos dentro das re­vistas que eram lidas pelos fregueses que esperavam a vez. Um tipógrafo do Rio imprimiu secretamente 50.000 cartazes com caricaturas de Fidel Castro fustigando seu povo e a legenda: "Você quer viver sob a chibata dos comunistas?" A noite mandou vários ajudantes colocá-los em lugares públicos.

Os contra-revoiucionários da clas­se média do Brasil pagavam pelo tempo no rádio e na televisão para divulgarem suas revelações. Quando a pressão do Governo fechou muitas estações de rádio e TV a todos me­nos aos mais radicais propagandis­tas, eles formaram sua própria "Rede da Democracia" de mais de 100 esta­ções em todo o Brasil. De outubro de 1963 até a revolução, as estações dessa rede, organizada por João Calmon, diretor dos Diários Associados, iam para o ar na mesma hora em que o esquerdista Leonel Brizola arengava ao público.
NOTA: Detido após a revolução e per­guntado por que falhara o golpe vermelho, o General Assis Brasil, o esquerdista Chefe do Gabinete Mi­litar do Presidente Goulart, deixou escapar: "Aquela desgraçada rede de rádio e TV, assustando a opinião pública e provocando todas aquelas marchas de mulheres!").
              
Os investigadores não descobri­ram apenas o que tinha aconteci­do, mas também o que estava para acontecer. Adotando as táticas dos próprios vermelhos, trabalhadores infiltravam-se nos altos conselhos dos sindicatos trabalhistas, fingindo-se comunistas, mas denunciando re­gularmente as maquinações verme­lhas. Repetidas vezes os planos dos vermelhos foram desmantelados, quando oradores e escritores da opo­sição iam para a imprensa e para o rádio revelar o que se preparava. Certa feita, os vermelhos estavam discretamente reunindo 5.000 pes­soas para uma viagem a Brasília, numa "peregrinação espontânea" para influenciar a ação do Congresso. Quando os anticomunistas denun­ciaram a manobra dias antes, a “pe­regrinação" foi cancelada.

Uma Imprensa Destemida
Os principais jornais brasileiros cedo entraram na luta. Comunicando regularmente as descobertas dos grupos de resistência e mantendo por conta própria cerrada fuzilaria editorial, destacavam-se os dois mais influentes jornais do Rio, O Globo e o Jornal do Brasil, bem como O Estado de São. Paulo, da capital paulista, e o Correio do Povo, o mais antigo e mais respeitado jornal independente do Rio Grande do Sul
                     ROBERTO PISANI  MARINHO                MANOEL F. DO NASCIMENTO  BRITO                        JULIO DE MESQUITA FILHO
Por seu destemor, os jornais brasileiros pagaram pesado preço em matéria de perseguição pelo Governo. Quando João Calmon publicou uma revelação comprometedora de quanta inverdade havia no pretenso interesse de Leonel Brizola pela reforma agrária—sendo o próprio Brizola interessado em terras—este tentou silenciá-lo mandando executar a hipoteca de empréstimos feitos aos Diários Associados pelo Banco do Brasil. Para manter a cadeia funcionando, anunciantes brasileiros prontamente pagaram adiantadamente seus contratos de 12 meses, adiando assim o fechamento.
Por publicar uma narração corajosa e reveladora do que viu durante uma visita que fez à Rússia em 1963, o dono do Jornal do Brasil, Manoel Francisco do Nascimento Brito, viu seu jornal incorrer nas iras do Governo, que mais tarde, no dia 31 de março, ordenou a sua invasão por elementos do Corpo de Fuzileiros Navais.

Feminina e Formidável
 Mas é às mulheres do Brasil que cabe uma enorme parcela de crédito pela aniquilação da planejada conquista vermelha. Em escala sem paralelo, na história da América Latina, donas de casa lançaram-se à luta aos milhares, fazendo mais para alertar o país para o perigo do que outra força qualquer. "Sem as mulheres", diz um líder de classe média da contra-revolução, "nunca teríamos podido sustar a tempo o mergulho do Brasil em direção à di­tadura. Muitos dos nossos grupos de homens tinham de trabalhar disfar­çadamente, mas as mulheres trabalharam às claras... e como trabalharam!"


A vela de ignição e a força pro­pulsora do levante das mulheres foi uma minúscula amostra de 45 quilos de energia feminina: Dona Amélia Molina Bastos, do Rio, ex-professora primária, de 59 anos de ida­de, esposa de um general reformado do corpo médico do Exército. Dona Amélia Bastos dizia :-"Quem tem mais a perder do que nós mulheres?" Ela ouviu uma noite, em meados de 1962, seu marido e alguns líderes anticomunistas discutirem desanima­dos a ameaça que se agigantava. Subitamente concluí que a política se havia tornado demasiado importante para ser deixada inteiramente nas mãos dos homens.' No dia seguinte, 12 de junho, Dona Amélia convidou à sua casa várias amigas e vizinhas. Com fogo nos olhos, ela perguntou: -“Quem tem mais a perder com o que está acontecendo no nosso país do que nós mulheres? Quem está pagando as contas do armazém cada vez mais altas por causa da inflação? Quem está vendo, sem nada poder fazer, as nossas economias, cuidadosamente acumuladas, destinadas à educação de um filho ou filha, minguarem ao ponto de não darem sequer para comprar uma roupinha de verão para criança? E de quem será o futuro que desaparecerá senão o de nossos filhos e netos, se a política radical do Governo levar a nossa pátria ao domínio co­munista?

Naquela mesma noite foi forma­do o primeiro centro da CAMDE (Campanha da Mulher Pela De­mocracia). E no dia seguinte, com 30 donas de casa mobilizadas, Dona Amélia foi aos jornais do Rio pedir atenção para seu protesto contra a nomeação por Goulart de seu aver­melhado primeiro-ministro. Em O Globo, disseram-lhe: "O protesto de 30 mulheres não quer dizer muita coisa. Mas se a senhora puder marchar até aqui com 500 mu­lheres ...". Pegando no telefone, Dona Amé­lia e seu nascente grupo reuniram as 500 mulheres, e dois dias de­pois se apresentaram a Roberto Marinho, diretor do jornal—e o fato mereceu manchetes de primeira página. O protesto não sustou a nomeação, mas estabeleceu o poder das mulheres para influenciar a opinião pública.

A "Corrente de Simpatia"
quando a sala de estar de Dona Amélia não mais pôde acomodar to­das as donas de casa ansiosas por to­mar parte na CAMDE, ela mudou suas reuniões para salões paroquiais de igrejas, formou dezenas de outras pequenas "células" em casas de fa­mília. Cada mulher que comparecia era encarregada de organizar outra reunião com 10 de suas amigas; por sua vez estas tinham de recrutar outras. Para financiar suas atividades, elas economizavam nos orça­mentos domésticos e pediam ajuda às amigas com posses. As mulheres da CAMDE insistiam em ação.
For­mavam comícios de protesto públi­co; ficavam horas diariamente ao telefone; escreviam cartas (certa vez, mais de 30.000) a congressistas para "assumirem posição firme em prol da democracia". Pressionavam fir­mas comerciais para que tirassem sua publicidade do jornal Última Hora, punham anúncios em jornais avisando sobre suas reuniões, apa­reciam em comícios públicos para discutir com esquerdistas e desafiar os agitadores, distribuíam milhões de circulares e livretos preparados pelas organizações democráticas denunci­ando o namoro do Governo com os vermelhos.
Além disso, produziam literatura própria, especialmente orientada no sentido das preocupações femininas; mais de 200.000 exemplares só de um trabalho, descrevendo o que as mulheres podiam fazer, foram distribuídos pela CAMDE às suas sócias, cada uma devendo tirar cinco có­pias e mandá-las a possíveis candi­datas a sócias.
Quando o diretor esquerdista dos Correios e Telégrafos vedou a dis­tribuição de mensagens e publica­ções da CAMDE, Dona Amelinha organizou uma força de "senhoras es­tafetas" para entregar o material de automóvel, convencendo pilotos de companhias de aviação brasileiras a transportá-lo para lugares distantes.
As donas de casa da classe média não se limitaram a seu próprio am­biente. Elas se concentraram, por exemplo, nas mulheres do sindicato dos estivadores, fortemente influen­ciado pelos vermelhos. "Vocês de­vem convencer seus maridos!", di­ziam àquelas mulheres. Muitas o conseguiram, e não poucos foram os estivadores assim convertidos à de­mocracia, comunicando depois às suas esposas: "Não somos mais co­munistas!"

O Murmúrio das Orações

mesmo nas favelas, ponto espe­cial de ataque da propaganda ver­melha, formavam-se unidades da CAMDE. Uma delas, numa favela na Zona Sul do Rio, denominada Rocinha, nasceu do pedido de so­corro de uma lavadeira a Dona Amelinha. —Este lugar aqui—disse a mulher —está cheio de comunistas. Eles di­zem que querem ensinar a gente a ler e escrever, e trazem divertimen­tos para nós. Mas os únicos livros que usam são cartilhas cubanas, as únicas fitas que passam são de guer­rilheiros cubanos. Imediatamente formou-se uma cé­lula na Rocinha, centralizada na casa dessa lavadeira; organizaram-se classes de alfabetização, forneceram-se livros. E dali a pouco as mulheres da Rocinha estavam em condições de discutir com os vermelhos em seu próprio nível, dizendo aos can­didatos comunistas ao Congresso e a propagandistas da União Nacional dos Estudantes: "Vão embora. Sa­bemos o que é que vocês estão que­rendo!" Os vermelhos partiram em busca de presas mais fáceis.
A difusão das organizações femi­ninas foi espetacular. Algumas tor­naram-se filiais da CAMDE; outras, como a LIMDE (Liga das Mulheres Democráticas) em Belo Horizonte, possuíam identidade própria. As mulheres de Belo Horizonte, no Estado brasileiro talvez mais ferrenhamente anticomunista, eram a coragem personificada. Quando o Congresso das Uniões dos Trabalha­dores da América Latina (CUTAL), dirigido pelos vermelhos, anunciou um comício a ser efetuado em Belo Horizonte, tendo como oradores principais dois organizadores comu­nistas vindos da Rússia, as líderes da LIMDE mandaram um recado cur­to ao CUTAL: "Favor ficar cientes que, quando chegar o avião trazen­do esses homens, centenas de mu­lheres estarão deitadas na pista!" Elas cumpriram a palavra, e o avião nunca pousou na capital mineira; em vez disso, prosseguiu para Bra­sília,
As mesmas mulheres realizaram demonstração igualmente eficaz em fevereiro de 1964. Um "Congresso de Reforma Agrária" devia reunir-se em Belo Horizonte, tendo como ora­dor principal o cunhado de Goulart. Quando o Deputado Brizola che­gou ao saguão, encontrou-o tão api­nhado com 3.000 mulheres que não conseguiu fazer-se ouvir acima do ruído dos rosários e do murmúrio das preces pela libertação da pátria. Saindo, Brizola viu as ruas igual­mente cheias de mulheres rezando até aonde a vista podia alcançar. O Deputado Brizola foi impelido para fora de Belo Horizonte, levando no bolso, sem o pronunciar, um dos mais violentos discursos da sua carreira. Em 12 meses, grupos assim atuaram em todas as cidades grandes, de Belém a Porto Alegre.

CONTINUA NA 2ª PARTE, PRÓXIMA REMESSA, QUANDO SERÁ APOSTO O
MEMENTO PERTINENTE.





[1] clarence W. hall, redator do Reader's Digest e antigo redator-chefe do Christian Herald, passou algumas semanas no Brasil quando a revolução ainda estava viva na memória de todos. Juntamente com outro redator, William L. White, entrevistou demoradamente pessoas que tomaram parte nos acontecimentos, altos funcionários do Governo, militares e cidadãos de todas as classes.

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