Por Pedro Luiz Rodrigues
Nunca ninguém foi mais querido pela mídia brasileira, por conta de sua história, espírito de luta e encanto pessoal, do que o candidato e depois presidente duas vezes pelo Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva.
Depois que ele chegou ao poder, contudo, percebeu e terá se ressentido um tanto, de que a imprensa foi aos poucos começando a lhe tratar como um presidente comum .
Isso não ocorreu porque os jornalistas tivessem passado por algum tipo de lavagem cerebral coletiva ou, de repente, por razões inexplicáveis, tivessem todos se transformados em gênios do mal. Ocorreu pela própria natureza das coisas.
Tive o privilégio de poder trocar algumas idéias sobre esse assunto, em 2006, com o Presidente Lula. Conversamos, em Abuja (capital da Nigéria) exatamente sobre o relacionamento da imprensa brasileira com o poder.
Amparado por alguma experiência no ramo, observei que autoridades em postos-chaves tendem a perceber a imprensa como uma adversária a temer, e algumas vezes, a combater.
E que a cobertura intensa e crítica da imprensa não era uma exclusividade de sua presidencial pessoa. Acontecia com ele e acontecerá com todos os que exerceram ou venham a exercer o poder, num país onde ele é tão centralizado nas mãos do (ou da ) Presidente, como no Brasil. Está aí a Presidente Dilma Rousseff, para confirmar.
E isso se dá por várias razões, a primeira delas por não serem os jornalistas cabos-eleitorais. Têm por vocação e treinamento a busca da informação, deixando de lado suas eventuais preferências ideológicas e partidárias. E querem-na veraz. Podem, algumas vezes, errar, dar com os burros n’água, produzir eventuais ‘barrigas’. Nesses casos, é pedir desculpas pelo erro – algumas vezes mesmo responder por eles na Justiça – e continuar em frente.
Os que atribuem valor à democracia sabem que a vida pode às vezes se tornar complicada com a existência de uma imprensa vigorosa e competente - que consegue levantar a sujeira que muitos prefeririam que ficasse escondida debaixo dos tapetes. Mas ruim com ela, pior sem ela.
Passemos, agora, ao fulcro deste artigo.
Respeito, mas acho deplorável a reanunciada decisão do ex-deputado e ex-ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu de se lançar em cruzada nacional para questionar o julgamento do mensalão, denunciando “a campanha da direita e da mídia contra o projeto político do PT”.
A proposta de ação de José Dirceu afronta a dignidade da sociedade brasileira, de nossas instituições e do Poder Judiciário, nenhuma das quais aceita a condição de ser pau-mandato do pequeno grupo de políticos envolvidos com as desonestas trapalhadas dos mensaleiros.
Não vivemos há 28 anos em regime de exceção, nem nossas regras são as das ditaduras populares tão ao gosto do grupo de trapalhões apanhados com a mão nas botijas mensaleiras. Trapalhões, aliás, que reconhecidamente nunca tiveram qualquer apreço pelas regras da democracia.
Se a ex-autoridade condenada não confia na Justiça brasileira, problema dele, e como réu condenado tem o direito de se esgoelar o quanto quiser.
Mas dizer que vai recorrer, principalmente, à luta política e a mobilização", isso é demais.
Antes de tudo, mobilização de quem, seu José (doutor José, Ministro José?) Vossa ex-celência acha que o PT vai encher a rua de gente em defesa dos que arruinaram a imagem do Partido? Aquele monte de jovens que admirava a agremiação, a única coisa honesta que parecia restar na política brasileira, sente-se traída até hoje pelo que vocês, mensaleiros, fizeram.
Felizmente nem o ex-Presidente Lula nem a Presidente Dilma precisam da companhia de vocês. Têm no Partido pessoas mais sólidas em quem se apoiar.
Vão lá, mobilizem-se, mandem dizer la fora dizer que a Justiça brasileira não merece confiança, que a nossa democracia é uma balela!
Pode ser que em Cuba, na Venezuela, na Argentina, no Mercosul, na Unasul, encontrem pessoas dispostas a subscrever notas de apoio. Fora desse eixo, só vão receber silencio, muito silêncio.
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