Ex-hospício virou Babel com 400 representantes indígenas
A Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, vizinha ao Projac, que já sediou o Hospital Nacional dos Alienados, um hospício, transformou-se ontem em uma Babel de etnias autóctones da América.
Quatrocentos indígenas brasileiros, representando tribos guaranis, pataxós, xerentes, parecis, caiowaas e caiapós uniram-se a siouxies do norte do Canadá, a grupos maias guatemaltecos e a astecas mexicanos em uma só aldeia, a Kari-Oca.
As línguas indígenas, tão diferentes, não se entendiam. Precisavam de tradutor. Mesmo assim, conseguiram dizer juntos que não aceitam a ideia dos créditos de carbono. 'Não aceitamos que os países desenvolvidos queiram comprar nosso silêncio, enquanto continuam destruindo o meio ambiente impunemente. O ar não tem preço, a floresta não tem preço', disse a representante mexicana, Berenice Sánchez.
Três ocas à moda das existentes no Alto Xingu foram construídas para abrigar os representantes de 25 nações brasileiras. A derrubada da mata atlântica, pelo próprios índios, mais a chuvarada que caiu sobre o Rio transformaram a colônia em pântano.
Nada que intimidasse as centenas de índios que, em seus trajes típicos, amassavam o chão dançando. Todos cantavam, indiferentes ao fato de que, ao lado, outro índio cantasse em outro idioma, outra música.
O que destoava eram os 170 soldados da Força Nacional destacados para garantir a segurança dos índios. Ontem, seis deles carregavam extintores de incêndio pela aldeia.
É que, às 17h, todo o pessoal se encaminhou para uma cerimônia chamada Acendimento do Fogo Sagrado Ancestral Indígena. Tradutores, jornalistas, antropólogos e os próprios índios desataram uma choradeira emocionada.
A Kari-Oca incluirá uma espécie de olimpíada indígena, sem pódium. 'Não gostamos dessa coisa de primeiro lugar, segundo. O vencedor de hoje não será o de amanhã, então para quê ferir as pessoas assim?', explicou o cacique Marcos Terena, 52 anos, do Comitê Intertribal.
Laura Capriglione - Folha de São Paulo – 14 de junho de 2012
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