quarta-feira, 27 de junho de 2012

BISPO FALA A VERDADE



Por Dom Henrique Soares, 
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Aracajú-SE

A situação é extremamente preocupante: no Brasil, há uma televisão de
altíssimo nível técnico e baixíssimo nível de programação. Sem nenhum
controle ético por parte da sociedade, os chamados canais abertos (aqueles
que se podem assistir gratuitamente)fazem a cabeça dos brasileiros e, com
precisão satânica, vão destruindo tudo que encontram pela frente: a
sacralidade da família, a fidelidade conjugal, o respeito e veneração dos
filhos para com os pais, o sentido de tradição (isto é, saber valorizar e
acolher os valores e as experiências das gerações passadas), as virtudes, a
castidade, a indissolubilidade do matrimônio, o respeito pela religião, o
temor amoroso para com Deus.
Na telinha, tudo é permitido, tudo é bonitinho, tudo é novidade, tudo é
relativo! Na telinha, a vida é pra gente bonita, sarada, corpo legal… A
vida é sucesso, é romance com final feliz, é amor livre, aberto
desimpedido, é vida que cada um faz e constrói como bem quer e entende! Na
telinha tem a Xuxa, a Xuxinha, inocente, com rostinho de anjo, que ensina
às jovens o amor liberado e o sexo sem amor, somente pra fabricar um filho…
Na telinha tem o Gugu, que aprendeu com a Xuxa e também fabricou um bebê…
Na telinha tem os debates frívolos do Fantástico, show da vida ilusória… Na
telinha tem ainda as novelas que ensinam a trair, a mentir, a explorar e a
desvalorizar a família… Na telinha tem o show de baixaria do Ratinho e do
programa vespertino da Bandeirantes, o cinismo cafona da Hebe, a ilusão da
Fama… Enquanto na realidade que ela, a satânica telinha ajuda a criar, te
mos adolescentes grávidas deixando os pais loucos e a o futuro
comprometido, jovens com uma visão fútil e superficial da vida, a violência
urbana, em grande parte fruto da demolição das famílias e da ausência de
Deus na vida das pessoas, os entorpecentes, um culto ridículo do corpo, a
pobreza e a injustiça social… E a telinha destruindo valores e criando
ilusão…
E quando se questiona a qualidade da programação e se pede alguma forma de
controle sobre os meios de comunicação, as respostas são prontinhas: (1)
assiste quem quer e quem gosta, (2) a programação é espelho da vida real,
(3) controlar e informação é antidemocrático e ditatorial… Assim, com tais
desculpas esfarrapadas, a bênção covarde e omissa de nossos dirigentes dos
três poderes e a omissão medrosa das várias organizações da sociedade civil
– incluindo a Igreja, infelizmente – vai a televisão envenenando,
destruindo, invertendo valores, fazendo da futilidade e do paganismo a
marca registrada da comunicação brasileira…
Um triste e último exemplo de tudo isso é o atual programa da Globo, o Big
Brother (e também aquela outra porcaria, do SBT, chamada Casa dos
Artistas…). Observe-se como o Pedro Bial, apresentador global, chama os
personagens do programa: “Meus heróis! Meus guerreiros!” – Pobre Brasil!
Que tipo de heróis, que guerreiros! E, no entanto, são essas pessoas
absolutamente medíocres e vulgares que são indicadas como modelos para os
nossos jovens!
Como o programa é feito por pessoas reais, como são na vida, é ainda mais
triste e preocupante, porque se pode ver o nível humano tão baixo a que
chegamos! Uma semana de convivência e a orgia corria solta… Os palavrões
são abundantes, o prato nosso de cada dia… A grande preocupação de todos –
assunto de debates, colóquios e até crises – é a forma física e, pra
completar a chanchada, esse pessoal, tranqüilamente dá-se as mãos para
invocar Jesus… Um jesusinho bem tolinho, invertebrado e inofensivo, que não
exige nada, não tem nenhuma influência no comportamento público e privado
das pessoas… Um jesusinho de encomenda, a gosto do freguês… que não tem
nada a ver com o Jesus vivo e verdadeiro do Evangelho, que é todo carinho,
misericórdia e compaixão, mas odeia o fingimento, a hipocrisia, a
vulgaridade e a falta de compromisso com ele na vida e exige de nós
conversão contínua! Um jesusinho tão bonzinho quanto falsificado… Quanta
gente deve ter ficado emocionada com os “heróis” do Pedro Bial cantando
“Jesus Cristo, eu estou aqui!”
Até quando a televisão vai assim? Até quando os brasileiros ficaremos
calados? Pior ainda: até quando os pais deixarão correr solta a programação
televisiva em suas casas sem conversarem sobre o problema com seus filhos e
sem exercerem uma sábia e equilibrada censura? Isso mesmo: censura! Os pais
devem ter a responsabilidade de saber a que programas de TV seus filhos
assistem, que sites da internet seus filhos visitam e, assim, orientar,
conversar, analisar com eles o conteúdo de toda essa parafernália de
comunicação e, se preciso, censurar este ou aquele programa. Censura com
amor, censura com explicação dos motivos, não é mal; é bem! Ninguém é feliz
na vida fazendo tudo que quer, ninguém amadurece se não conhece limites;
ninguém é verdadeiramente humano se não edifica a vida sobre valores
sólidos… E ninguém terá valores sólidos se não aprende desde cedo a
escolher, selecionar, buscar o que é belo e bom, evitando o que polui o
coração, mancha a consciência e deturpa a razão!
Aqui não se trata de ser moralista, mas de chamar atenção para uma
realidade muito grave que tem provocado danos seríssimos na sociedade. Quem
dera que de um modo ou de outro, estas linha de editorial servissem para
fazer pensar e discutir e modificar o comportamento e as atitudes de
algumas pessoas diante dos meios de comunicação.

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