AMÉRICA DO SUL
Sob críticas pesadas da comunidade internacional, Frederico Franco assume a presidência
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O Senado do Paraguai decretou nesta sexta-feira, 22, o impeachment do presidente Fernando Lugo, iniciado no dia anterior. Na votação final, 39 senadores votaram a favor da condenação do presidente, enquanto apenas quatro se declararam contra. Lugo é considerado responsável por confrontos que deixaram seis policiais e 11 camponeses mortos na semana passada em Curuguaty, a 250 km da capital, Assunção.
Chamado de “bispo dos pobres”, Fernando Lugo entrou para a história do Paraguai ao enfrentar a cúpula católica para se candidatar e se tornar o primeiro presidente de esquerda do país. Também fez história ao quebrar a hegemonia de seis décadas do Partido Colorado à frente do poder no Paraguai (incluindo os 35 anos do regime autoritário de Alfredo Stroessner, entre 1954 e 1989). Eleito em abril de 2008, Lugo perdeu sua base de apoio, enfrentou uma oposição ferrenha e virou personagem do folclore político, quando foram descobertos os três filhos do “presidente bispo”.
O secretário-geral da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), Ali Rodriguez Araque, classificou o impeachment de Fernando Lugo como um “golpe de Estado”. A organização afirma que não foi respeitado o devido processo legal para que Lugo pudesse se defender das acusações e que a democracia no país está ameaçada.
“Interesses mesquinhos”
“Foram agredidos todos os princípios da defesa e todos perceberam a gravidade dos fatos. Estou disposto a responder pelos meus atos, que não se negue o direito à defesa”, declarou Lugo, afirmando que o país foi vítima de “interesses mesquinhos”, e que não deixará a vida política. “Hoje eu me despeço como presidente da República, mas não me despeço como cidadão paraguaio. Fernando Lugo não responde a pressões políticas, ao narcotráfico e ao crime organizado. Eu sempre continuarei respondendo ao chamado dos mais pobres, a quem temos um dever de solidariedade”, disse o ex-presidente.
Lugo agradeceu o apoio popular, das forças armadas e o esforço para “consolidar a democracia neste país”, após os quatro anos de mandato. “Hoje saio pela maior porta da pátria, a porta do coração. Sonhemos com um Paraguai diferente e espero que possam seguir contando comigo”. No fim do discurso, o ex-presidente fez um apelo à força dos cidadãos paraguaios.
O Paraguai de Franco
Frederico Franco (centro) assumiu a presidência do Paraguai uma hora e meia após o impeachment de Fernando Lugo (Reprodução/Internet)
O vice-presidente Federico Franco, que assumiu o cargo a presidência após o impeachment de Lugo, prestou juramento em meio aos aplausos no Congresso em Assunção, cerca de uma hora e meia após a decisão do Senado afirmou que “O país vive momentos difíceis”. “Deus e o destino quiseram que eu assumisse a presidência. Fui convencido da causa democrática durante toda a vida. Jurei ratificar e assegurar a Constituição e as leis, com a melhor das intenções e com a ajuda dos senhores”, declarou Franco aos parlamentares. O novo presidente paraguaio afirmou ainda que conversou com os chanceleres da Unasul, e garantiu o respeito dos tratados políticos e econômicos com a comunidade internacional, além dos direitos humanos, da democracia e das leis nacionais.
“O Paraguai deve ser construído com a união de todos os setores, todos os partidos políticos e todos os movimentos sociais”, disse o novo presidente, declarando que a principal meta de seu governo será o desenvolvimento da agricultura familiar. “Precisamos buscar a coesão social, especialmente na questão social do campo. O nosso compromisso é facilitar o andamento do desenvolvimento sustentável da agricultura e das reformas sociais”.
Aos militares e policiais, classes que tiveram a imagem prejudicada após a crise política, disse que o tratamento será de respeito. “Manteremos a cota de serviço e a tranquilidade de quem se encarregará da segurança do povo paraguaio”.
Decisão não é vista com bons olhos pelos vizinhos
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, lembrou que a Constituição paraguaia permite que presidentes sejam processados, mas afirmou que a questão era o tempo dado a Lugo para se defender. Nicarágua, Venezuela e Bolívia criticaram a ação, que foi chamada de “um golpe encoberto”.O presidente colombiano Juan Manuel Santos lamentou a maneira como Lugo foi removido de seu cargo; os Estados Unidos recomendaram “calma e responsabilidade” aos paraguaios; Dilma Rousseff propôs que o Paraguai seja expulso do Mercosul e da Unasul – uma medida apoiada pelo presidente peruano Ollanta Humala; o México ressaltou a importância de garantir a integridade física de Lugo; o Equador se recusou a reconhecer Franco como o novo presidente do Paraguai, e até mesmo a Espanha condenou a ação que removeu Lugo da presidência.
Franco, que diz ser admirador de líderes sul-americanos como Lula, Tabaré Vasquez e Michelle Bachelet, pediu a compreensão dos países vizinhos, e sinalizou a intenção de manter o Paraguai no Mercosul. Depois de pedir a repatriação do canhão El Cristiano, usado na Guerra da Tríplice Aliança, atualmente em exposição no pátio do Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, o novo presidente paraguaio afirmou que procurará os países vizinhos, principalmente o Brasil e o Uruguai, para desfazer o mal-estar causado pela destituição de Fernando Lugo.
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