domingo, 8 de abril de 2012

ENTRE SER UMA "DOUTORA" NO BRASIL DE LULA OU UMA BABÁ NOS EUA: Babá brasileira é disputada nos EUA





A babá Jaqueline passeia com bebê na região do Upper West Side - Gustavo Chacra/AE

Gustavo Chacra/AE
A babá Jaqueline passeia com bebê na região do Upper West Side


Gustavo Chacra, correspondente
NOVA YORK - Com uma média salarial variando de US$ 3 mil a US$ 4 mil por mês - e em alguns casos ultrapassando os cinco dígitos -, as babás brasileiras são disputadas por mães americanas e de outras nacionalidades em Nova York.



Suas vidas se parecem mais às do seriado de TV Supernanny, passado em Manhattan, que às de babás do filme História Cruzadas, sobre as domésticas negras que sofriam preconceito ao educar crianças brancas do Mississipi nos anos 1960. Elas viajam pelo mundo com os patrões e conseguem economizar em um ano o que demorariam uma década na mesma profissão no Brasil.

Uma delas, Zenaide Munetton, incendiou o mercado das nannies, como são chamadas em inglês, depois que seu salário de US$ 180 mil por ano, mais bônus de Natal, foi citado em artigo do jornal New York Times. Essa renda é quase o dobro do que ganham recém-formados em MBAs de universidades como Columbia e NYU.

Segundo patroas entrevistadas pelo Estado, as brasileiras são consideradas mais talentosas, carismáticas e dispostas a colaborar com serviços domésticos e na educação das crianças do que rivais hispânicas. Algumas vivem com as famílias. Outras preferem ser profissionais liberais, trabalhando para diferentes pais. Há casos de babás tão bem sucedidas que chegam a contratar outra babá para cuidar dos filhos enquanto trabalham.

Há 30 anos nos Estados Unidos, Sonia virou exemplo para babás brasileiras de Manhattan. "Sempre trabalhei para a mesma família americana. Criei quatro crianças e, quando me aposentei, a mãe delas me deu um apartamento de presente." Com o imóvel avaliado em cerca de US$ 1 milhão e o salário de três décadas, ela conseguiu educar os dois filhos, que vivem em Nova York, e dois sobrinhos órfãos no Rio de Janeiro. "Minha dica para as mais jovens é sempre perguntar aos patrões se pode mexer nas coisas da casa, levar nota de compras e manter boa aparência."

Uma de suas pupilas é Jaque, apelidada de supernanny por causa do seriado de TV. Sempre sorridente e de uniforme colorido - em Nova York, roupas brancas e mesmo uniformes são raras em babás -, ela já trabalhou na área de marketing da indústria farmacêutica Merk e da companhia aérea Continental e passou por treinamentos em Houston, onde aprendeu inglês.

"Estudei Comunicação Social, tinha casa em Cabo Frio e um ótimo emprego, mas queria vir para Nova York", afirmou, pedindo para omitir o sobrenome, como as outras, por não possuir documentos imigratórios. Ela acrescenta que não se arrepende nenhum minuto do privilégio de "ver a Nina e o Lucas crescerem", referindo-se às crianças de quem cuida. Evangélica, diz que sua igreja acabou indiretamente a ajudando a conseguir o atual trabalho.

Nadir veio do Brasil com uma família que pagava apenas US$ 200 por mês. Ao perceber que estava sendo enganada, mudou de patrões. Depois de oito anos na mesma família, também pôde ajudar os filhos que deixou para trás. Hoje um terminou o doutorado em Biologia, outro é chefe de cozinha no litoral norte paulista, a filha é formada em Relações Internacionais. "Não me arrependo de ter vindo, mesmo ficando sem vê-los por tanto tempo. Caso contrário, não poderia ter dado educação a eles", afirma a brasileira, que conversa com Gabriel e Tadeu, seus filhos adultos, todos os dias pelo Skype. Além disso, ela adora Nova York e as viagens para o luxuoso balneário dos Hamptons.

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