(*) Temer Jorge –
Há exatos 48 anos iniciava-se uma nova era para o meu Brasil.
Liderados pelo Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco e pelo banqueiro Magalhães Pinto, neste dia 31 de Março, em 1964, os militares derrubaram João Goulart e implantaram um governo de força que duraria 21 anos. Portanto, ele começou quando eu ainda não tinha 14 anos (faltavam dez dias para completar 14) e terminou quando eu já tinha 35, dessa maneira, então, posso afirmar que EU VIVI esses tempos.
Foram anos de chumbo… e eu jamais imaginei que pudesse existir coisa pior, e hoje, triste, vejo que me enganei.
Vejo hoje um Brasil em situação idêntica à vivida durante os 21 anos do militarismo, com uma diferença brutal, infelizmente, para pior.
Os militares, então governantes, cederam lugar aos seus então perseguidos, e o que temos hoje é a mesma situação conseguida por meios opostos.
Enquanto os governos militares dominavam o Legislativo pela intimidação, calavam o Judiciário pela força e iludiam o povo com promessas de desenvolvimento e fartura, os atuais governantes dominam o Legislativo com dinheiro, na forma de gordas propinas e permissão para roubar descaradamente.
Enquanto, naquela época, o Judiciário era calado pela força de leis feitas para isso e pela ameaça de armas, hoje esse mesmo Judiciário é calado por benesses, compadrios e aparelhamento.
E o povo? Ah, esse pobre povo que a cada dia fica mais pobre, nem ilusão de desenvolvimento e fartura tem mais; além das mentiras ufanistas emanadas pelo poder central e repetidas pela imprensa hoje comprada e acovardada, a nós resta receber migalhas do governo que mal nos chega para comer, e o pomposo título de “classe média”, o que nos confere o direito de assumir dívidas que não conseguimos pagar.
Muitos dos companheiros dos atuais ocupantes do poder ficaram pelo caminho, mortos ou permanentemente sequestrados, assim como do outro lado muitos foram mortos. Hoje, os companheiros que estão no poder buscam revirar o baú de ossos em busca de uma vingança que só vai lhes satisfazer o ego doentio e reabrir feridas que estavam em cicatrização, o que poderá custar muito caro para uma geração que, se sabe o que se passou naquela época, só quer esquecer e cuidar das suas subsistências.
Os militares corruptos e violentos cederam lugar aos esquerdistas (se intitulam progressistas) muitíssimo mais corruptos e violentos, sendo que aquilo que outrora foi violência em nome do estado é hoje violência por nada.
Das semelhanças às diferenças:
Nos ditos “Anos de Chumbo” a nossa cultura floresceu com uma exuberância jamais vista, Augusto Boal, Plínio Marcos, João Cabral de Melo Neto e outros mais levaram a arte cênica ao mais alto patamar, Chico Buarque (o antigo), Vinícius de Morais, João Bosco, Caetano Veloso, Geraldo Vandré e outros tantos revolucionaram a nossa música.
A imprensa era combativa e legalista, sendo que muitos jornais foram fechados, empastelados e censurados impiedosamente, jornalistas presos, alguns torturados e mortos, mas o brio e a responsabilidade de informar a verdade não lhes permitia o luxo de calar.
Na política não foi diferente: da mesma forma saíram Fernando Henrique e Lula, Aloysio Nunes Ferreira e Aloizio Mercadante, José Serra e José Dirceu, tão iguais outrora e tão diferentes hoje.
Hoje, o que temos?
O nosso teatro empobreceu a ponto de quase sumir, e por isso, teve que abandonar o povo para elitizar-se senão sumia de vez.
A nossa música, seguindo os padrões culturais e orientação desse governo, já nem pode mais ser chamada de música. É um amontoado de sons onomatopaicos misturados a palavras que lembram vagamente o idioma Português.
O nosso jornalismo que não se curvou diante das armas e da força, hoje se curva abjetamente ao dinheiro e tornou-se mero apêndice noticioso dos governantes. Da sua antiga combatividade só restaram lembranças esmaecidas e envergonhadas.
Na política não é diferente… O Executivo e o Congresso – que deveria ser a casa de leis e o grande orientador dos bons rumos da nação – eivados estão de bandidos da pior espécie. Seguindo um executivo corrupto e corruptor, o Judiciário em suas mais altas instâncias, denigre a herança de Ruy Barbosa a tal ponto que quase desacredita todas as outras instâncias, responsáveis pela manutenção do ordenamento e paz social.
Os tempos mudaram tanto, que hoje, aqueles que julgávamos bandidos pelo menos se reúnem para comemorar a data, enquanto que os que eram combatidos e julgávamos serem heróis, se reúnem para dividir o produto dos roubos e planejar novos assaltos.
Enfim, 48 anos depois, faltando dez dias para completar 62 anos, eu me arrependo de ter ido a passeatas e não às paradas militares. Temo pelo futuro dos meus netos, neste país que pensei ter ajudando a construir, quando na verdade eu o estava destruindo.
(*) Temer Jorge, paulista de Tietê, é administrador de empresas e democrata convicto. Sobrevivente da era plúmbea, agora engrossa a legião de brasileiros indignados com os rumos do País
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