quinta-feira, 15 de março de 2012

O rosto de um anjo


 

‘Saving Face’, o comovente documentário paquistanês sobre mulheres desfiguradas por ataques com ácido mereceu o Oscar

15/03/2012 | Enviar | Imprimir | Comentários: nenhum | A A A
O lado esquerdo do rosto de Zakia dá a impressão de ter sido apagado por uma borracha. Seu olho e bochecha foram substituídos por um pedaço de pele rosa amorfa. Cicatrizes deformam o canto esquerdo dos seus lábios. O marido de Zakia jogou em seu rosto ácido de bateria, do tipo mais forte e sem ter sido diluído, ela explica. Ela se divorciou dele após anos de abuso e ele a atacou do lado de fora do tribunal. Só foi preciso um segundo para arruinar a sua vida.
Zakia é uma das mulheres de “Saving Face”, um documentário dirigido por Daniel Junge e Sharmeen Obaid-Chinoy sobre ataques de ácido no Paquistão. Em 26 de fevereiro o filme ganhou o Oscar de curta-metragem documental. Mais de cem casos de ataques como esses são registrados todos os anos no Paquistão. Muitos outros ficam sem registro. O filme permite a essas mulheres contar suas histórias de modo doloroso, cuidadoso e corajoso.
O documentário acompanha Mohammad Jawad, um cirurgião plástico britânico-paquistanês que viaja regularmente ao Paquistão para fazer cirurgias gratuitas em mulheres desfiguradas por ataques com ácido. Lá ele conhece Rukhsana. Seu marido arremessou ácido nela. Depois sua cunhada despejou gasolina sobre ela. Por fim sua sogra acendeu um palito de fósforo e ateou fogo a seu corpo. Um véu dourado e carmim cobre a sua cabeça, o delicado glamour do acessório em extremo contraste com sua face irreconhecível. Ela ainda mora com seus agressores, ela conta, porque do contrário não teria dinheiro para cuidar de seus filhos adoentados. “Este é o cômodo em que eles me queimaram viva”, ela diz aos diretores: o que deveria ser um passeio descontraído pela casa adquire um tom macabro. O marido de Rukhsana, Yasir, nega tudo com uma risada se insinuando em seus lábios e um olhar vago. Sua mulher é temperamental e tem pressão alta, insiste. Ela ateou fogo a si mesmo, assim como 99% das mulheres que alegam ter sido vítimas de ataques de ácido.
Enquanto Mohammed Jawad tenta consertar os rostos de mulheres atacadas, Rukhsana e outras tentam consertar a lei. Aqueles que cometeram esses crimes em geral estão em liberdade. Algumas vítimas demandam a pena de morte. Outras dizem que os homens que violentam mulheres desse modo deveriam ter ácido despejado sobre seus rostos: olho por olho.

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