As manifestações de rua que eclodiram após o aumento da tarifa de ônibus urbanos em São Paulo tiveram desdobramentos tais que se alastraram pelo país como fogo de rastrilho. Como não poderia deixar de ocorrer, logo apareceram oportunistas querendo se apropriar das manifestações para delas tirar indevido proveito.
Existem também aquelas opiniões que encaram as manifestações como alvo de excessiva violência policial, dando motivo para reacender a velha reivindicação da desmilitarização da polícia. Essa gente não raciocina levando em conta a cultura de segurança pública no país que vem da nossa formação colonial. Não é de hoje que o sistema de segurança pública tem duas instituições distintas: a polícia civil e a militar. A reivindicação de desmilitarização da polícia não leva em conta o nosso legado cultural do período colonial nem mesmo as características da nossa estrutura econômico-social-institucional.
O raciocínio é simplista e reducionista ao atribuir os distúrbios de rua à violência policial. Não leva em conta que em todos os lugares nos quais a polícia interviu com violência, usando recursos tais como o gás lacrimogêneo o spray de pimenta e o cassetete, o fizeram para reprimir não a pacíficos manifestantes mas a baderneiros e bandidos oportunistas infiltrados nas multidões. E estes indivíduos malfeitores que promoveram saques de lojas, depredaram o patrimônio público e privado, incendiaram carros e lojas, e deixaram mulheres e crianças em polvorosa acabaram por fazer com que a necessária repressão ao vandalismo atingisse, também, manifestantes pacíficos. Foi possível verificar que muitas destas manifestações de rua começaram pacificamente sem nenhum atentado contra o patrimônio público e privado. E só depois de horas de pacíficas manifestações, foi iniciada a repressão com balas de borracha, bombas de efeito moral, e cassetetes.
Sugerir a desmilitarização da polícia poderia deixar o Brasil sem o recurso a uma força policial disciplinada e treinada para reprimir manifestações públicas nas quais o vandalismo é usado não por manifestantes, mas por arruaceiros criminosos infiltrados na multidão pacífica e ordeira. O que garante o êxito na repressão a tais manifestações está, exatamente, na operação de natureza militar para a repressão que, eventualmente, é chamada não para reprimir, mas para garantir manifestações públicas pacíficas. Mesmo por que ao real manifestante que faz uso do seu direito e dever de cidadania não interessa que seu ideário seja perdido e seu ardor cívico frustrado em meio à violência da repressão. Quem conturba com atos de depredação do patrimônio público e privado é o vândalo que não está comprometido com os objetivo das manifestações. E a violência da repressão só tem sido usada-- com efetividade e sem vítimas mais gravemente atingidas -- em situações de necessária repressão ao vandalismo descompromissado com os interesses maiores da nação.
Didymo Borges
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