Bertrand de Orleans e Bragança
O Brasil vive um momento de incertezas que parece rumar para a improvisação, a aventura e quiçá o caos. Em todo o mundo, grupos revolucionários de diversos matizes de esquerda buscam ressurgir das cinzas de suas falidas ideologias e capitanear anseios ou descontentamentos populares investindo contra 'tudo o que aí está'.
Iludindo incautos, visam uma democracia direta das ruas, pela qual minorias de ativistas radicais imponham à sociedade e às autoridades (acuadas ou coniventes) um difuso despotismo, contrário à propriedade privada, destruidor da família, propugnador de estilos de vida alternativos e com notas crescentes de militância anticristã. Movimentos como o Occupy Wall Street ou os chamados Indignados na Espanha são disso exemplos recentes.
Os 20 centavos foram o estopim para que, no Brasil, grupos desse naipe (como o Movimento Passe Livre, originário dos fóruns sociais mundiais) articulassem mobilizações que rapidamente degeneraram em agressões e atos de violência.
Sem representatividade social, foram, porém, erigidos em 'voz das ruas' por considerável parte da mídia e escolhidos como interlocutores oficiais, num jogo de prestidigitação político-ideológica.
Entretanto, a realidade no Brasil é sempre mais complexa do que a imaginam certos profissionais do caos. Tais ondas de choque vieram de encontro a um difuso, calado, mas autêntico e profundo descontentamento que, de há muito, fermenta na opinião pública. O que mudou, em boa medida, a conformação das manifestações de rua.
Em nossa cambaleante democracia, os reais anelos do 'homem da rua' são ignorados pelo mundo político, e os debates sobre temas de interesse nacional, bem como os processos eleitorais são reduzidos a cambalachos de bastidores.
Imaginando equivocadamente que a opinião pública anseie por instituições e leis acentuadamente progressistas, sucessivos governos foram arrastando o Brasil para uma esquerdização dissolvente. Tal esquerdização foi somando fatores de inconformidade no Brasil real, nesse Brasil em ascensão, que labuta e produz, que quer ser autenticamente brasileiro, em continuidade com seus valores e seu passado.
Por ocasião da Constituinte, em 1987, Plinio Corrêa de Oliveira alertava para o divórcio que se gestava entre o país legal e o país real: 'Quando as leis fundamentais que modelam as estruturas e regem a vida de um Estado e de uma sociedade deixam de ter uma sincronia profunda e vital com os ideais, os anelos e os modos de ser da nação, tudo caminha para o imprevisto. Até para a violência (...)'.
Por um fenômeno mais psicológico do que ideológico, a imensa maioria de nossos conterrâneos quer segurança e não aventuras. Mas a determinação do governo parece ser a de incrementar o processo de esquerdização autoritária. Propagandisticamente, pode dar certo distorcer a realidade, mas no fundo das mentalidades só se agravará o divórcio entre o país legal e o país real.
DOM BERTRAND DE ORLEANS E BRAGANÇA, 72, é trineto de dom Pedro 2º, príncipe imperial do Brasil, segundo na ordem desucessão, diretor nacional do Movimento Paz no Campo da Associação dos Fundadores da Tradição Família e Propriedade
Folha de São Paulo, 19/07/2013.
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