Produtores se decepcionam com audiência de Gilberto Carvalho em Brasília
Mais
de 350 produtores rurais vieram a Brasília, nesta quarta-feira (26/6),
para acompanhar a audiência pública com o ministro-chefe da
Secretária-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, que por
quase cinco horas esteve na Comissão de Agricultura, Pecuária,
Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, para
prestar esclarecimentos sobre a política de demarcação de terras
indígenas no Brasil.
Convocado
à comissão, o ministro afirmou em seu depoimento que o governo deve
publicar uma portaria nas próximas semanas, complementando o Decreto
1775 que regulamenta as normas de demarcação de terras indígenas.
Segundo ele, o Ministério da Justiça vai criar duas novas assessorias:
uma para acompanhar processos de demarcação com participação de outros
órgãos governamentais e outra para mediar conflitos.
“Vamos
propor o diálogo. Não vamos conseguir a paz pisando em direitos”,
afirmou. Segundo Carvalho, o governo estuda mudar o processo de
concessão de indenizações. Os títulos emitidos pelo governo não serão
desconsiderados, desde que esses papéis não sejam contestados na
Justiça.
O
ministro garantiu aos parlamentares e produtores que participaram da
audiência que “o respeito à propriedade é intocável”. Afirmou que o
governo federal sabe da importância do setor agropecuário e justificou:
“Tanto é assim, que liberamos R$ 130 bilhões para financiamento aos
agricultores (médios e grandes) e mais R$40 bilhões para a agricultura
familiar”, disse.
Insegurança –
A questão indígena tem preocupado cada vez maior do setor agropecuário,
diante das recentes expulsões de agricultores de suas terras por conta
de processos de demarcação conduzidos pela Fundação Nacional do Índio
(Funai). Sem lugar no pequeno plenário onde Gilberto Carvalho depôs, as
centenas de produtores tiveram de acompanhar a audiência por um telão
instalado em um auditório próximo.
Apreensivos
com o quadro de insegurança, os produtores fizeram questão de se
deslocar de ônibus até a capital federal, percorrendo cerca de dois mil
quilômetros. Vieram das regiões onde a situação é mais tensa por conta
do aumento do número de invasões de grupos indígenas a propriedades
rurais, acirrando os conflitos. É o caso do agricultor Marcos Xavier, do
município de Mata Castelhano (RS), que faz parte da quinta geração de
uma família que vive na região há mais de 150 anos.
“Não havia índio nenhum até 2005.
Mas a FUNAI inventou um laudo, dizendo que a área onde vivemos era uma
terra indígena e, aí, começaram os tormentos.”, relata Xavier. Segundo
ele, os índios começaram a invadir e ameaçar. “Meu pai mesmo foi
agredido 20 dias atrás, e um amigo nosso morreu de infarto com medo da
situação”, relata.
Carvalho
afirmou que o caminho para solucionar conflitos como este é o respeito à
lei. “Se há contestação de laudos antropológicos e das ações do
governo, a Justiça está aí para resolver”, afirmou. Lembrou que o
Supremo Tribunal Federal (STF) deve concluir no curto prazo o julgamento
do caso Raposa Serra do Sol, em Roraima. “O governo, mais do que
ninguém, quer que esse assunto seja resolvido. Ele servirá de parâmetro
para novas demarcações”, destacou.
Invasões –
O produtor e presidente do sindicato rural de Caarapó (MS), Antônio
Humberto Maran, denuncia que a FUNAI estuda demarcar uma região
equivalente a quase 40% da área total de seu município. E no local em
análise, acrescenta, há 100 mil hectares de produção de soja.
“Querem demarcar mais 61 mil hectares”,
completa. Maran revela, ainda, que na região já há uma área invadida,
de 1,2 mil hectares, e outra reserva criada e demarcada, de 3,6 mil
hectares. Nas duas áreas, vivem cinco mil índios.
FUNAI terrorista
“A
FUNAI está querendo ganhar no grito e aumentar a reserva indígena para
tomar terra de quem está lá legalmente, com os títulos concedidos pelo
próprio governo, devidamente regularizados, e produzindo”, protesta.
Diante das críticas ao trabalho da FUNAI, o ministro saiu em defesa da
Fundação, e disse que o órgão precisa ser fortalecido.
“O
governo até sabe o que fazer, mas se faz de desentendido. Um órgão
empurra a responsabilidade pro outro e ninguém resolve nada”, queixa-se o
produtor Marcos Xavier. “Não adianta ficar só na fala. Precisamos de
coisas concretas. Se for expulso da minha propriedade, vou levar meu
rebanho nas costas?”, questiona o pecuarista Manoel Maciel, do município
de Luciara (MT). “O governo precisa entender nossa situação”, conclui
Maran.
Diante
do quadro de insegurança jurídica no campo, a expectativa dos
produtores que passaram a manhã na capital federal é de que se busquem
soluções efetivas para resolver o problema dos conflitos no campo. Entre
as reivindicações estão o julgamento dos embargos declaratórios do caso
Raposa Serra do Sol, pelo STF, a reedição da Portaria 303, da Advocacia
Geral da União (AGU), que regulamenta as 19 condicionantes
estabelecidas no caso da Raposa Serra do Sol, e a aprovação da Proposta
de Emenda Constitucional (PEC) 215, que transfere para o Legislativo as
decisões sobre demarcações de terras indígenas.
Assessoria de Comunicação CNA - 26/06/2013 | Assuntos fundiários
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