Bruno Braga
21 de novembro de 2012
Claudio Fonteles assumirá temporariamente a coordenação dos trabalhos da Comissão da Verdade [1]. Assim, o grupo que propôs a consagração de sua própria Hagiografia – uma “Hagiografia da inversão” [2] – agora estará sob a direção espiritual de um sacerdote da revolução.
Durante a guerrilha, o convento dos padres de Conceição do Araguaia era utilizado como base para transmissões clandestinas de rádio, que deveriam alcançar a Albânia. Porém, os militares localizaram este núcleo operacional e, com o desmonte do equipamento, inviabilizaram a comunicação. Um dos religiosos que estava no convento protestou veementemente contra a intervenção: era Claudio Fonteles [3].
Já que a Comissão da Verdade irá investigar a atividade das igrejas – a Católica e as protestantes – “no apoio ao golpe e na repressão e também no da redemocratização” [4], o Sr. Fonteles – um dos sacerdotes da revolução – tem o dever de exemplificar a virtude em um testemunho honesto e sincero. O que ele estava fazendo no convento de Conceição do Araguaia? O Sr. Fonteles se recolheu apenas para orar? Ele estava efetivamente realizando o voto de renúncia em favor do divino? Por que ele protestou contra a interrupção das transmissões de rádio para a Albânia? A intervenção inviabilizou o seu trabalho de catequização? Ou ela interromperia o seu – e o de outros – sacerdócio da revolução? O que faziam certos padres e religiosos neste convento durante a guerrilha do Araguaia? Suplicavam pela graça divina em favor do braço armado da revolução?
Claudio Fonteles integrou a AP (Ação Popular), o grupo terrorista que nasceu do movimento revolucionário que pretendia instrumentalizar a Igreja Católica. O “bem-aventurado Alípio” foi um dos membros ilustres da organização. Ele que, além de outras obras de caridade e comiseração, foi o mentor intelectual do atentado a bomba no Aeroporto de Guararapes, em 1966 [5].
Com a proposta de redigir uma Hagiografia própria, a Comissão da Verdade poderia consagrar a Claudio Fonteles um lugar no altar da inversão. Não apenas por suas obras do passado – como a elevada e bendita atividade no convento de Conceição do Araguaia. Também pela autodivinização de um poder que hoje ele tem nas mãos: coordenar o grupo encarregado de reescrever – ou melhor, falsificar – a História. Poder para condenar até mesmo a Igreja que ele assaltou para promover a revolução. Mentira, traição e ocultamento: as virtudes do sacerdócio da inversão.
Referências.
[1]. CNV, 19 de Novembro de 2012 [http://www.cnv.gov.br/ noticias/19-11-2012-2013- claudio-fonteles-assume-a- coordenacao-da-comissao- nacional-da-verdade/].
[2]. BRAGA, Bruno. “Hagiografia da inversão” [http://dershatten.blogspot. com.br/2012/11/hagiografia-da- inversao.html].
[3]. Cf. o depoimento do Coronel Lício Maciel, “Guerrilha do Araguaia – Relato de um combatente”.
[4]. Cf. referência [2].
[5]. BRAGA, Bruno. “O bem-aventurado Alípio” [http://dershatten.blogspot. com.br/2012/11/o-bem- aventurado-alipio.html].
http://dershatten.blogspot.
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