quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Paulo Vieira, o "baixaréu", era ambicioso e almejava carreira política, diz presidente da ANA


Vicente Andreu, chefe da Agência Nacional de Águas (ANA), diz que o ex-diretor citava constantemente Rosemary de Noronha e o ex-ministro José Dirceu

Tai Nalon, de Brasília
Paulo Rodrigues Vieira, diretor de Hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA)
Paulo Rodrigues Vieira, diretor de Hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA) (Raylton Alves/Banco de imagens ANA)
O presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, afirmou nesta quinta-feira que Paulo Vieira, diretor afastado da agência, era uma pessoa "ambiciosa", que almejava cargos no governo e carreira política, mas desprovida de conhecimentos técnicos para ocupar a diretoria de hidrologia do órgão. Em audiência esvaziada no Senado, Andreu foi questionado sobre a conduta de seu ex-subordinado, indiciado pela Polícia Federal por chefiar um esquema de tráfico de influência e de venda de pareceres de órgãos públicos na cúpula do governo.
Segundo Andreu, Vieira era uma pessoa de temperamento "difícil", que, "por intimidação" dentro da ANA, tinha o hábito citar o nome de Rosemary de Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, também acusada de integrar o esquema fraudulento, e do ex-ministro José Dirceu. "Era do tipo de pessoa que queria alçar outros voos. Falava muito em ser candidato, tinha pretensões eleitorais, chegava a mencionar que estava sendo cotado para ser ministro. Esse tipo de arroubos que a gente tinha que lidar", disse. "[Vieira] Mencionava constantemente seu desejo de ser candidato a deputado estadual por outro partido. Mas ele sempre manifestou que ele concorreria por um partido que não era o PT."
Andreu não escondeu, contudo, que Dirceu ainda tem ascendência sobre a agência. Sobre as insinuações de Vieira, afirmou que chegou a procurar Dirceu para questioná-lo se ele conhecia o ex-diretor. "O Zé [Dirceu] me disse 'não conheço, apertei a mão dele duas vezes na vida, fica falando o meu nome. Faz o que você acha que deve fazer'", comentou.
O presidente da ANA relatou que Vieira "manifestava desejo" de se apresentar "de uma maneira muito fortalecida do ponto de vista político". "[Vieira] Fazia menção às situações de conhecimento de pessoas e relações que nós sabíamos que não passava de se arvorar de um conhecimento que ele não detinha", disse Andreu. Ele afirmou, contudo, que a conduta do diretor afastado nunca foi identificada como delituosa.
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Isolamento - Andreu disse ainda que Paulo Vieira "era uma pessoa desconhecida do sistema nacional de recursos hídricos e organizações do sistema". Por isso, afirmou ter atuado para isolá-lo na agência e colocou Vieira numa área de domínio técnico, para que ele não tivesse como tomar decisões de modo autônomo - no caso de Vieira, ele era supervisionado por dois superintendentes. "Os diretores têm uma supervisão, um acompanhamento cotidiano, uma responsabilidade por apressar e agilizar procedimentos. Mas nenhum diretor tem o poder de deliberar ou emitir resoluções a respeito, nem mesmo da sua área."
Durante a audiência, Andreu procurou isentar a ANA de responsabilidade e afirmou que a agência "não está sob investigação". "O que está sob investigação são procedimentos do diretor da agência  que (...) se aproveitou da 'infra' de diretor, utilizou essa 'infra', o espaço que evidentemente um cargo desse lhe proporciona, para delinquir junto a um grupo de outras pessoas de espaços públicos do nosso país", disse. Argumentou ainda que nenhum procedimento do órgão está sob suspeição ou sob investigação da PF.

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