quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Mortos tiveram ficha criminal checada antes de crimes, diz delegado


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COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Atualizado às 15h49.
O delegado-geral Marcos Carneiro Lima, chefe da Polícia Civil de São Paulo, afirmou que algumas das vítimas de assassinato na Grande São Paulo tiveram suas fichas criminais verificadas pelo sistema interno da polícia momentos antes de os crimes serem cometidos. Ele disse ainda que as mortes vem ocorrendo na periferia porque a sociedade acha que "matar pobre é matar o marginal de amanhã".
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"Em vários crimes de homicídio nós detectamos que as vítimas, antes de serem mortas, tiveram seus atestados de antecedentes pesquisados pela polícia. Isso é muito emblemático", disse Carneiro.
Questionado sobre a participação de policiais nos crimes após as consultas, o delegado-geral se esquivou, mas afirmou que "não dá para identificar o policial [que fez a busca] porque eles alegam que são feitas milhares de pesquisa e não dá para detectar. Isso é uma falha e nós vamos mudar", afirmou,
As declarações foram feitas hoje durante cerimônia de posse de Fernando Grella Vieira como novo secretário de Segurança Pública de São Paulo. Seu antecessor, Antonio Ferreira Pinto, saiu após os altos índices de violência --o número de homicídios em outubro aumentou 92% em comparação ao mesmo período em 2011.
De acordo com Carneiro, a informação reforça a tese que as mortes de civis teriam relação com assassinatos de policiais --95 desde o início do ano.
Desde setembro, foram registrados casos com assassinatos em sequência --cometidos em sua maioria por suspeitos em motos, com trajes escuros e o rosto cobertos-- que ocorreram poucas horas após a morte de policiais militares na mesma região do crime. Segundo o delegado-geral, "há indícios que há ações de extermínio em São Paulo. Quem são esses grupos que a polícia ainda não pode afirmar".
Carneiro disse ainda que há registros no passado de grupos de PMs responsáveis por assassinatos. "Isso não pode prevalecer", afirmou.

Marcelo Camargo/Agência Brasil
O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Marcos Carneiro de Lima, na cerimônia de posse do novo secretário de Segurança Pública de São Paulo.
O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Marcos Carneiro de Lima, na cerimônia de posse do novo secretário de Segurança Pública de São Paulo.
Em outubro, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) informou que os assassinatos de civis poderia ter ligação com as mortes de policiais. "A hipótese de que possa ter um policial envolvido também é investigada. Por isso, estabelecemos que, em qualquer morte de civil, o DHPP [Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa] acompanhe".
Na época, ele também afirmou que caso algum policial tenha ligação com os assassinatos que acontecem no Estado, o oficial será demitido imediatamente. "Caso o envolvimento seja comprovado, é demissão sumária", disse.
'MATAR POBRE'
Ao confirmar que as chacinas ocorrem nas periferias, o delegado-geral criticou ainda a sociedade. Para Carneiro Lima, ela legitima a ação dos criminosos responsáveis pela onda de violência na Grande São Paulo.
"A gente nunca teve chacina nos Jardins aqui em São Paulo. Por que será? Por que é tão fácil matar pobre na periferia. Por que ainda existe uma grande parcela da sociedade que acha que matar pobre na sociedade é matar o marginal de amanhã. Isso é uma visão preconceituosa da própria sociedade que encara que essa ação de matar é uma ação legítima. Não é legítima", afirmou.
Segundo Carneiro, a polícia tem dificuldade em solucionar os crimes porque eles são cometidos de maneira diferente. "O homicídio no mundo inteiro tem um padrão de investigação. Você parte da vítima para chegar no assassino. Aqui em São Paulo existe um diferencial. Quem tem interesse em matar um único alvo no boteco, muitas vezes mata mais dois ou três inocentes. Daí a dificuldade da polícia chegar na autoria", afirmou.
NOVO SECRETÁRIO
Durante evento em que assumiu a pasta de Segurança Pública, Grella afirmou que defenderá os policiais. "As instituições policiais terão em mim o primeiro aliado na defesa permanente das carreiras policiais do Estado de São Paulo", disse.
Grella também ressaltou que buscará novas formas de atuação exigidas pelo momento para combater a onda de violência que atinge o Estado. "O tempo agora é de trabalho, de muito trabalho", declarou.
O novo secretário afirmou ainda que vai aplicar inovações no programa de segurança estadual, utilizando a transparência e destacará a integração da atuação entre as polícias Militar, Civil e Científica.
Uma das principais missões do novo secretário será fazer com que setores da Polícia Civil voltem a investigar, controlar o que até o governo chama de "excessos da Polícia Militar" e melhorar o diálogo de sua pasta com entidades da sociedade civil.
Também há expectativa que ele consiga melhorar a imagem das polícias junto à opinião pública, graças à interlocução que acumulou com entidades da sociedade civil ao longo da carreira. O novo secretário, dizem aliados, não é dado a polêmicas.
Grella também recebeu a incumbência de botar uma "focinheira" na PM --o termo está sendo usado dentro do Palácio dos Bandeirantes. Alckmin teme que seu governo passe para a história como truculento e letal.
Alckmin afirmou durante a solenidade que São Paulo reduziu os índices de crimes e chegou a nível comparado aos países desenvolvidos. "São Paulo não vai admitir a regressão nesse campo", disse.
De acordo com o governador, o objetivo agora é fortalecer o trabalho de segurança para conter a onda de violência. Ele relacionou os ataques contra policiais com uma tentativa de intimidar o Estado. "Venceremos porque já vencemos antes", afirmou.
O novo secretário foi procurador-geral do Ministério Público por quatro anos, órgão ao qual pertence desde 1984.
Nomeado chefe da Promotoria pelo ex-governador José Serra em 2008 e reconduzido ao cargo em 2010, é conhecido por ser discreto e técnico. "Um diplomata do Ministério Público", disse Serra a aliados, no fim de sua gestão.
Foi exatamente a fama de conciliador que pesou para que Alckmin o convidasse para o cargo. O governador aposta em Grella para contornar o descontentamento de parte da Polícia Civil e fazer a corporação reassumir os trabalhos de inteligência e combate ao crime organizado.

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