quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Assaltante morta no Rio cuidava de animais abandonados


Essa é a breve história de uma moça que enveredou pela trilha do crime e das drogas e pagou com a vida por sua ousadia.
O capítulo final de sua jornada terminou em 21 de agosto de 2012, no Rio de Janeiro.

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Ivone Fernandes Mendonça recolhia gatos de rua e pintava quadros.

Imagens exclusivas mostram a ação dos criminosos durante o crime.

Do G1, com informações do Fantástico
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Ivone Fernandes Mendonça, a mulher de 35 anos que morreu ao comandar a tentativa de assalto ao restaurante Brasa Gourmet, na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro, no último dia 13, dedicava-se à pintura e cuidava de animais abandonados. Em 2011, ela havia criado uma página em uma rede social onde divulgava fotos de gatos de rua resgatados por ela, além de uma série de telas de sua autoria
O carinho pelos animais também ficou registrado num vídeo gravado um mês antes do crime. As imagens exclusivas obtidas pelo Fantástico mostram Ivone e o namorado brincando com o gato de estimação Whisky, em uma praia da Zona Sul da cidade.
Apesar do perfil de mulher sensível e carinhosa, a vida de Ivone foi sempre pontuada por episódios relacionados ao crime. Nascida em Santa Catarina, cresceu no Rio Grande do Sul. Antes de ir para o Rio de Janeiro, morou em um bairro simples de Viamão, cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre. Na escola do bairro, estudou até 1994, quando completou 17 anos. Segundo funcionários, naquela época Ivone já não andava em boas companhias.
De acordo com sua ficha criminal, ela foi detida três vezes por estelionato e receptação entre 2002 e 2003. Usava cheques e cartões de outras pessoas. Mas só cumpriu pena uma vez. Passou quatro meses no presídio feminino de Porto Alegre.
Casal de assaltantes vivia juntos há cinco anos (Foto: Divulgação 18ª DP)Ivone Mendonça e o namorado (Foto: Divulgação/
18ª DP)
“No Rio Grande do Sul, em princípio, ela teria cumprido com as penas que foram impostas pelas práticas desses crime”, diz a delegada Graciela Foresti.
Rio, Stones e crack
Já tinha uma filha. Mas, em 2006, partiu sozinha para o Rio de Janeiro para ver um show dos Rolling Stones. O espetáculo reuniu 1,3 milhão de pessoas na Praia de Copacabana, mas Ivone não estava lá. Tinha recaído no uso de crack, dependência iniciada ainda no sul do país. Em um depoimento na internet, ela explica a mudança de planos.
“Eu vim para assistir ao show dos Rolling Stones. Daí eu conheci algumas pessoas. Estava rolando droga. 'Vai, gaúcha.' Não. Na segunda vez, 'vai, gaúcha'. Não. Na quinta, eu digo: ‘Está bom, vamos’. Uma hora eu tive que pagar, daí foi o pedido: tem um assalto para a gente fazer”, conta ela.
Um mês depois do show que não viu, participava do primeiro assalto. Trocou tiros com os policiais. Acabou ferida, presa e condenada a 13 anos de cadeia. Quase venceu umfestival de música na penitenciária. Depois de dois anos e dois meses no presídio, teve progressão de pena para o regime semiaberto. Foi trabalhar como recepcionista no grupo AfroReggae, que tem projetos de ressocialização de presos no Rio de Janeiro.
José Júnior, coordenador do grupo, conta que, na época, ela tentou se matar: “Ela estava caída no Parque do Flamengo. Um guarda municipal pegou o celular dela, viu o nosso telefone e telefonou”, relembra. E que, depois disso, ela sumiu: “Ela não veio mais trabalhar e ficou evadida.”
Dois anos depois, em julho de 2011, Ivone reapareceu em imagens de câmeras de segurança. De cabelo preto, ela participava de um assalto a uma agência de apostas do Jockey Club, no Centro do Rio. Segundo a polícia, um homem de barba, usando boina, é Gilberto Nascimento, o namorado de Ivone, o mesmo do vídeo gravado na praia. Nas imagens, ela aparece logo atrás dele. Esconde uma arma embaixo da roupa. Depois, enquanto os apostadores são rendidos, ela passa a arma para Gilberto. Tira os óculos escuros, solta o cabelo, dá ordens. Vai até a porta chamar outros bandidos.
'Exceção'
Gilberto leva um funcionário para o segundo andar, e Ivone começa a recolher o dinheiro nas caixas atrás do balcão. Enche a mochila com R$ 30 mil, segundo as investigações. Ivone carrega a mochila pesada, agora usa um chapéu, e continua a dar ordens. Comanda a saída da quadrilha. Logo depois, o namorado dela volta e os dois saem juntos.
“Uma mulher portando arma, liderando quadrilha, isso é exceção”, avalia o delegado Orlando Zaccone. “Ela seria uma cabeça pensante dentro daquela organização deles.”
Restaurante assaltado na Tijuca (Foto: Janaína Carvalho/G1)fachada do restaurante assaltado na Tijuca depois da troca de tiros entre criminosos e a polícia (Foto: Janaína Carvalho/G1)
Em 22 de julho de 2012, Ivone volta a aparecer. Agora, nas imagens do circuito interno de uma boate na Zona Sul do Rio. Segundo a polícia, R$ 19 mil foram levados pela quadrilha. Dias depois, em 8 de agosto, Ivone visita parentes em Laguna, Santa Catarina. Descontraída, brinca na rua com máscaras de fantasia. Passa quatro dias na cidade se divertindo.
No dia 11 de agosto, um sábado, embarca de volta para o Rio de Janeiro. Na última segunda-feira (13), dois dias depois da viagem a Santa Catarina, Ivone já estava de novo no comando da quadrilha no Rio. No restaurante Brasa Gourmet ela não se envolveu diretamente na ação. Ficou apenas coordenando os comparsas.
Seis criminosos entraram no estabelecimento Brasa Gourmet por volta das 10h30 do último dia 13. Bem vestida e com acessórios de grife, Ivone anunciou o assalto. Cerca de 20 funcionários estavam no local. Policiais do 4º BPM (São Cristóvão) foram chamados, e houve troca de tiros. Ivone e mais dois comparsas morreram. Três suspeitos conseguiram fugir pelo telhado do estabelecimento, segundo testemunhas, mas dois suspeitos foram presos na terça-feira (14). Na ação, foram apreendidas quatro armas e uma bolsa.
Bolsas e armas apreendidas em assalto na Tijuca  (Foto: Janaína Carvalho/G1)Bolsas e armas apreendidas pela polícia após o crime (Foto: Janaína Carvalho/G1)
De acordo com o tenente-coronel Ronal Freitas, comandante do 4º BPM (São Cristóvão), quando os policiais chegaram ao local, foram surpreendidos por uma dupla de criminosos, que atirou na direção dos PMs. "Nossa abordagem foi bastante técnica, por isso não houve nenhum inocente ferido", afirmou o comandante , ressaltando que, no momento que os criminosos chegaram, já havia clientes no local.
Imagens exclusivas
Nas imagens exclusivas conseguidas pelo Fantástico, Ivone manda a quadrilha invadir o restaurante. Lá dentro, as cozinheiras fogem desorientadas. A câmera de segurança do escritório do restaurante mostra um homem fazendo a contabilidade. Ele ainda não sabe do assalto. De repente, ele corre e abre a porta. As funcionárias entram e, uma delas, pede ajuda tremendo.
Nos corredores, outro funcionário é rendido. Os bandidos vão em direção ao escritório e entram no lugar onde está o dinheiro. O assaltante manda abrir o cofre, funcionárias se abraçam, tentam se proteger. Chega outro bandido. Eles recolhem o dinheiro. Ivone comandava tudo da porta do restaurante, quando a polícia chegou.
Na rua, um cinegrafista amador gravou o tiroteio. Segundo a polícia, Ivone puxou uma das armas que levava na bolsa e foi atingida antes que pudesse atirar. “Nós não temos até agora nada que desabone a conduta dos policiais, mas a investigação está só iniciando, e se por ventura nós observarmos isso, vai ser levado ao inquérito da investigação, e o promotor e o juiz vão ter acesso aos autos para poderem decidir”, explica Zaccone

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