Os petistas estão empenhados em criar confusão. Então acho que devemos nos empenhar em criar esclarecimento. A ministra Carmen Lúcia, presidente do TSE, promoveu um café da manhã com jornalistas nesta sexta. A Folha traz um texto a respeito, cujo título é este: “Cármen Lúcia diz ver com ‘desconfiança’ novas declarações de Valério”. Certo! Um título deve atrair o leitor. Interessei-me pela fala da ministra. Fui ler. Acompanhem um trecho. Volto em seguida.
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A ministra do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Cármen Lúcia, disse nesta sexta-feira (14) que, por ser mineira, “vê com desconfiança” as declarações feitas pelo empresário Marcos Valério e afirmou que ele só deve receber proteção se houver uma “prova cabal” de que ele corre risco de vida.
A ministra do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Cármen Lúcia, disse nesta sexta-feira (14) que, por ser mineira, “vê com desconfiança” as declarações feitas pelo empresário Marcos Valério e afirmou que ele só deve receber proteção se houver uma “prova cabal” de que ele corre risco de vida.
“Você vai perguntar para uma mineira se vai acreditar em alguma coisa. A minha característica é desconfiar de todo mundo”, disse a ministra, ao participar de um café da manhã com jornalistas, em seu gabinete no tribunal eleitoral.
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VolteiO editor que queria atrair a atenção do leitor foi bem-sucedido, mas a reportagem não entrega o que o título promete. Posso estar engando, mas me parece que Carmen Lúcia apenas exercitou a dúvida cartesiana, não é? Descartes só não duvidava de que ele próprio existisse porque, afinal, o ser que duvidava haveria de ser alguma coisa… Todo o resto estava submetido a exame. O cristão Descartes, como lembrei aqui outro dia, chegou até mesmo a especular se, em vez de Deus, não poderia haver um gênio maligno para nos confundir a inteligência.
Retomo a frase de Carmen Lúcia: “Você vai perguntar para uma mineira se vai acreditar em alguma coisa. A minha característica é desconfiar de todo mundo”. De todo mundo? Então é legítimo concluir que Carmen Lúcia desconfia também de Lula, o que me parece cartesianamente fazer sentido, não é? Se Descartes chegou a desconfiar de Deus, mais modesta, ela pode desconfiar também de Lula sem cometer sacrilégio.
Existe uma diferença entre a dúvida metódica e a dúvida na espécie, não é mesmo? Quanto à ministra atribuir esse aspecto de sua personalidade à sua mineirice, aí estamos diante daquele clichê de sempre; certos mineiros transformam o que poderia ser um saudável cartesianismo numa espécie de misticismo. Prefiro pensar, então, que todo mineiro já sai cartesiano da barriga.
Carmen e Barbosa
A petistata está tuitando a suposta desconfiança específica de Carmen Lúcia enlouquecidamente. Ela seria o exemplo de ministra independente, íntegra, séria etc. Posso endossar isso, mas não por causa dessa fala.
A petistata está tuitando a suposta desconfiança específica de Carmen Lúcia enlouquecidamente. Ela seria o exemplo de ministra independente, íntegra, séria etc. Posso endossar isso, mas não por causa dessa fala.
Confrontemos, agora, a reação a essa declaração com a que se seguiu à fala de Joaquim Barbosa quando indagado sobre as denúncias. Na verdade, fizeram-lhe uma pergunta mais específica: “O senhor acha que isso tem de ser investigado?” E o ministro deu a única resposta cabível a um homem decente: “Eu creio que sim”. Ora, dadas as circunstâncias, o que ele deveria responder? Repetir Sarney e afirmar que ninguém tem moral para acusar Lula, como se o ex-presidente, por seus feitos reais ou imaginários, houvesse alcançado um lugar na Justiça a que nenhum brasileiro antes chegou?
Assim como Barbosa não condenou Lula de antemão, Carmen Lúcia não o absolveu também de antemão; assim como Carmen Lúcia não está protegendo Lula, Barbosa não o estava perseguindo.
Isso tudo não passa de uma farsa estúpida. Isso tudo não passa de gritaria para tentar intimidar as oposições, a Procuradoria-Geral da República, a imprensa e o Poder Judiciário.
PS – Quase me esqueço: Joaquim Barbosa é mineiro. Nasceu em Paracatu. Já nasceu balbuciando: “Cogito ergo sum… Do resto, eu duvido!”
Tags: Carmen Lúcia, Mensalão
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