domingo, 1 de julho de 2012

Uma semana após impeachment, apenas um quarteirão pró-Lugo sobrevive em Assunção



MARINA DIAS
de ASSUNÇÃO
Foto de Maina Dias

As ruas de Assunção estavam praticamente desertas na tarde deste sábado, 30 de junho. Debaixo de um sol quente e alaranjado, de bonito reflexo às margens do Rio Paraguai, uma tímida manifestação a favor do ex-presidente Fernando Lugo atravessava a Rua Palma, principal via de comércio no centro da capital paraguaia.

Era uma pequena caminhonete equipada com alto-falantes e um tambor que abria caminho para não mais do que vinte ciclistas que compunham a “Pedalada pela Democracia”. Apitos e gritos de ordem tentavam conquistar os poucos pedestres nas calçadas contra o novo presidente, Federico Franco. Mas nada além disso.

"As pessoas estão se sentindo golpeadas, sem força. E, realmente, não há quase nenhuma mobilização nas ruas. A forma como Lugo aceitou pacificamente a destituição pelo Congresso desencantou os paraguaios", declarou a Terra Magazine Miguel López Perito, ex-secretário-geral da Presidência e um dos homens fortes do governo de Fernando Lugo.

As escassas bicicletas tinham como destino final a TV Pública, na Rua Alberdi, onde Lugo já concedeu coletivas após o impeachment. E é ali, naquele quarteirão, que os manifestantes encontram os poucos suspiros pró-Lugo na capital, com faixas e pichações contra Franco, acusado de "golpista" pela maioria delas.

"Não será fácil para a ala progressista do Paraguai se recuperar. Isso vai levar tempo”, desabafa López Perito. Para ele, as perspectivas políticas do país são "incertas", mas uma coisa, diz ele, é fato: seu grupo não voltará ao poder tão cedo.

A jovem funcionária do Ministério da Educação Mayeli Villalba também não consegue fazer prognósticos e não arrisca dizer se Lugo voltará à cena em breve. No entanto, é uma das organizadoras da "Frente de Trabalhadores e Trabalhadoras do Estado contra o Golpe", um movimento que surgiu com a posse de Franco com o objetivo de "assegurar que as políticas sociais do governo Lugo sejam cumpridas pelo novo presidente".

"Somos 100 pessoas, funcionários contratados – e não nomeados – de vários ministérios e também da Itaipu, e buscamos a participação cívica e social e a reparação do estado de direito no Paraguai. O que houve aqui foi um golpe e todos os novos ministros, recém-nomeados por Franco, são golpistas, não são boas pessoas", diz a ativista.

Aliados de Lugo e interlocutores do ex-presidente desejavam que discursos como o de Mayeli ganhassem força pelo país. Mas não é isso que está acontecendo e, segundo a maior parte deles, além das cicatrizes deixadas pela ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989), a culpa do povo estar tão pouco combativo é do próprio Fernando  Lugo.

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