Responsáveis pela investigação da Marinha levantaram a possibilidade de o sistema de alarme ter sido desligado para não atrapalhar comemoração – o mecanismo da pista de dança que espalhava gelo seco poderia fazer os sensores disparar
19 de julho de 2012 | 23h 59
Sérgio Torres, do Rio
No momento em que a base brasileira na Antártida começou a ser destruída por um incêndio, na madrugada de 25 de fevereiro, funcionários militares e civis da Marinha e cientistas de universidades brasileiras participavam de uma festa chamada Baile da Terceira Idade, na qual houve consumo de bebidas alcoólicas.
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Armada de Chile/Reuters
Base brasileira foi destruída por incêndio na madrugada do dia 25 de fevereiro
Mantida em sigilo tanto pela Marinha quanto pelo grupo de 31 cientistas que estavam na base Comandante Ferraz, a realização da festa, com bebidas como cerveja e vinho, foi apurada pelo inquérito policial militar (IPM) aberto no dia do desastre, para apurar causas e responsáveis.
Como o alarme não disparou quando o incêndio começou, os encarregados pelo inquérito suspeitavam que o sistema pode ter sido desligado por ordem do comando da base. O objetivo seria não atrapalhar a festa. Na pista de dança há um mecanismo que espalha fumaça de gelo seco, como em uma boate. Os sensores são sensíveis e poderiam disparar, anunciando um falso incêndio.
Os cientistas não souberam responder nos depoimentos se os sensores foram desligados ou não, já que a decisão, se tomada, seria de atribuição militar. Alguns deles alegaram que sequer sabiam da localização do dispositivo que os desativava.
O IPM foi concluído e encaminhado em 15 de maio à 11.ª Circunscrição Judiciária Militar, “classificado como sigiloso, em atendimento ao Artigo16 do Código de Processo Penal Militar”, de acordo com comunicado divulgado à noite pela Marinha. As perguntas encaminhadas à Marinha pelo Estado sobre as conclusões e a realização da festa não foram respondidas.
Depoimentos. Na fase de depoimentos do IPM, os encarregados pela investigação interrogaram todos os que escaparam do incêndio. Foram ouvidos militares e pesquisadores. Um dos temas em que os investigadores mais insistiram foi a comemoração, feita em homenagem à professora Therezinha Monteiro Absher, da Universidade Federal do Paraná. Agrônoma e oceanógrafa, Therezinha completou este ano três décadas de expedições à Antártida. Ela era a decana da equipe de cientistas presentes à base em fevereiro. Para comemorar os 30 anos de viagens, foi organizada a festa, batizada, de maneira jocosa, como o Baile da Terceira Idade.
O Estado tentou ouvir a cientista. No Centro de Estudos do Mar da Universidade, informou-se que ela está participando, nos EUA, de um evento relacionado a pesquisas antárticas.
Salvação. Na opinião dos pesquisadores, a realização da festa pode ter sido fundamental para que não houvesse vítimas entre eles. Isso porque, se não fosse o baile, a maioria deles estaria dormindo em alojamentos que, em poucos minutos, foram devastados pelas chamas.
Como o alarme não disparou, talvez eles não tivessem chance de escapar do incêndio, pois seriam surpreendidos dormindo. Todos estavam no salão de estar da base e em outros locais comunitários. Assim que os gritos de “fogo” começaram, conseguiram fugir. O fogo começou a se propagar da sala de geradores, uma unidade externa ligada à base pelo telhado, por onde o fogo atingiu alojamentos e demais dependências com muita rapidez.
Encarregados de combater as chamas, o sargento Roberto Lopes dos Santos e o suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo morreram no local. O sargento Luciano Gomes Medeiros sofreu queimaduras nos braços.
Extraoficialmente, os pesquisadores foram informados de que três militares podem ter sido indiciados: o comandante da base, capitão de fragata Fernando Tadeu Coimbra; o sargento ferido, responsável pelos geradores; e o sargento João Cavaci, o técnico em eletrônica da base.
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