Na semana passada, o presidente da agência, Dirceu Barbano, afirmou que o órgão não havia recebido nenhuma comunicação de problemas relacionados ao implante no Brasil
04 de janeiro de 2012 | 22h 30
Fernanda Bassette
Pelo menos duas mulheres que usaram as próteses de silicone PIP e tiveram problemas com o rompimento registraram queixas na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2010 e nunca receberam resposta.
Neco Varella/AE
A esteticista Jany Ferraz registrou queixa na Anvisa sobre problemas a PIP e nunca recebeu resposta
Em entrevista ao Estado na última semana de 2011, Dirceu Barbano, presidente da Anvisa, afirmou que, embora existam registros de reações adversas em outros países, a agência não tinha recebido nenhuma comunicação de problemas relacionados ao implante no Brasil.
Ontem, procurada novamente pela reportagem, a Anvisa não explicou os motivos de não ter respondido às queixas das pacientes sobre os problemas com as próteses. Disse apenas: “aguarde a reunião que será realizada no próximo dia 11”.
A esteticista Jany Simon Ferraz, de 54 anos, e a artista plástica Denise Villar Berretta, de 56, registraram reclamações na Anvisa em 2010 - logo após a agência ter suspendido a comercialização das próteses da marca Poly Implant Protheses (PIP) no País por causa da baixa qualidade. Desde então, nunca receberam nenhuma ligação e ainda aguardam resposta da área técnica.
Jany teve câncer de mama e fez mastectomia (retirou os dois seios). Colocou as próteses da marca PIP em 2005 por indicação do seu médico. “O plano de saúde pagaria por uma nacional, mas meu médico falou que só garantiria a cirurgia se eu usasse a prótese francesa PIP, que era melhor e mais segura. Segui a orientação dele e paguei R$ 3 mil.”
Quatro anos depois, Jany começou a sentir dor e desconforto nas mamas. Fez um ultrassom que constatou o rompimento da prótese - o que foi confirmado depois com uma ressonância magnética. “O silicone tinha se espalhado por toda a região do tórax e axilas”, conta.
Jany procurou o cirurgião que fez o implante de silicone e a EMI, empresa responsável pela importação das próteses PIP, mas nenhum deles quis se responsabilizar e arcar com os custos de outra cirurgia. Em 2010, com a suspensão da comercialização, a esteticista registrou a queixa na Anvisa.
A esteticista entrou com uma ação judicial que determinou que a EMI pagasse os custos da cirurgia e de um novo implante. Ao todo, entre exames, deslocamento e a cirurgia, foram gastos cerca de R$ 14 mil.
Mas os problemas de Jany não acabaram nessa cirurgia. Pouco tempo depois de trocar as próteses, ela voltou a ter febre e sentir dores. Teve de se submeter a outro procedimento para trocar novamente a prótese do lado direito, porque ainda havia resquícios do silicone vazado. Além disso, ela desenvolveu um tipo de reação alérgica grave - provavelmente causada pelo silicone que ficou no corpo - e toma medicamentos para controle até hoje.
“Essas próteses francesas acabaram com a minha vida. Estou sempre tensa, porque nunca sei qual será a próxima notícia ruim. É um absurdo a Anvisa, um órgão que deveria zelar pela saúde pública, dizer que não tem registro nenhum de problemas. O que eles fizeram com minha queixa? Engavetaram?”
Outro caso. A artista plástica Denise colocou as próteses em 2007 por razões estéticas. Também queria de outra marca, mas foi convencida pelo médico de que as próteses da PIP eram seguras e proporcionavam resultados estéticos melhores. Pagou R$ 4,3 mil pelo procedimento.
Dois anos depois, começou a sentir dor na axila esquerda e percebeu um caroço. Em 2010, fez exames que constataram o rompimento. “Fiquei apavorada, pois fui pesquisar sobre a PIP e descobri o escândalo na Europa. Registrei queixa na Anvisa, relatando a ruptura, e o que recebi de resposta foi um silêncio absoluto. Não é possível que a Anvisa ignore os casos.”
Denise trocou as próteses por conta própria, mas ainda sente dores e os incômodos causados pelo silicone que ficou no corpo. Um mastologista vai avaliar a necessidade de realização de outra cirurgia. Ela também entrou com uma ação judicial que ainda está em andamento.
PARA LEMBRAR
Francesas vão trocar silicone
Em dezembro, o governo francês afirmou que cobriria os custos para remover todas as próteses Poly Implant Protheses (PIP) utilizadas por mulheres francesas.
Estudos mostravam que os implantes apresentavam uma taxa de rompimento muito maior que a de outros produtos similares.
Em 2010, a venda e a utilização de implantes mamários PIP, exportados para inúmeras nações - entre elas o Brasil -, já haviam sido proibidas na França.
Descobriu-se que o fabricante utilizava nos implantes um gel de silicone diferente do declarado às autoridades sanitárias para obter a autorização de comercialização do produto. Esse gel não era autorizado para fins médicos. A empresa foi à falência.
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