quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Pearl Harbor: Considerações 70 anos depois



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Foto do porta-aviões chinês Varyag no Mar Amarelo, obtida via satélite da empresa Digital Globe dia 08.12.2011 (Divulgação: AP/Digital Globe)
Por que o Japão atacou os Estados Unidos há 70 anos [7/12/1941], além das usualmente citadas razões existenciais e do fato de que acharam que poderiam ficar impunes?
Às vezes esquecemos que o seu expansionismo na Manchúria rapidamente os colocou em confronto com a União Soviética, e que durante a maior parte do verão de 1939 [no hemisfério norte, de 21 de junho a 23 de setembro] travaram uma cruel e custosa guerra de fronteira contra os soviéticos – uma guerra que acabaram perdendo, o que os levou a assinar um pacto de não-agressão com os soviéticos na primavera de 1941 [no hemisfério norte, de 20 de março a 21 de junho].
Em meio às suas provações, os japoneses queixaram-se amargamente de que sua aliada, a Alemanha nazista (supostamente anticomunista), tivesse, sem aviso, assinado um enganoso pacto de não-agressão com a União Soviética. De fato, o Pacto Ribbentrop-Molotov foi assinado em 23 de agosto de 1939, exatamente quando aconteciam os piores combates entre japoneses e soviéticos no front oriental da Rússia. Se Hitler achou que tinha a luz verde para invadir a Polônia, Stalin ficou igualmente aliviado com o fato de ter uma guerra de apenas uma frente, sem se preocupar com os japoneses enquanto devorava a sua fatia da Polônia.

A ironia ficou, é claro, por conta do fato de que quando Hitler invadiu a Rússia em junho de 1941, Stalin ficou livre para utilizar suas divisões do leste, dada a neutralidade do Japão; dando o troco na mesma moeda, os japoneses fizeram à Alemanha o que esta lhes tinha feito anteriormente. Depois da parada do avanço alemão às portas de Moscou, é estranho ler a respeito da exasperação da Alemanha com os japoneses, considerando o desprezo nazista pela guerra entre Japão e Rússia dois anos antes.
 
Quanto aos japoneses na primavera de 1941, a situação era a seguinte: com sua própria retaguarda praticamente livre de preocupações com os soviéticos e o Exército japonês relativamente desprestigiado por perder uma custosa guerra de fronteira convencional e humilhado por ter sido o mais estridente proponente da agora questionável aliança com Hitler, a Marinha Imperial japonesa estava em posição de argumentar que uma guerra de uma só frente contra os americanos, levada a cabo principalmente através de porta-aviões, fazia algum sentido, além, é claro, de ações simultâneas contra as enfraquecidas defesas das colônias europeias no Pacífico. Tais ações faziam ainda mais sentido considerando as perdas da Inglaterra, França e Holanda diante de Hitler.
 
De fato, até agosto de 1945, foram os Estados Unidos, e não o Japão, que enfrentaram a tradicionalmente temida guerra em duas frentes. Raramente falamos da duplicidade de Stalin a esse respeito: enquanto os americanos sofriam perdas terríveis enfrentando os japoneses, forneciam suprimentos à Rússia soviética, conduziam sangrentas campanhas no Norte da África, Sicília, Itália, sobre os céus da Europa e Stalin exigia a abertura de uma segunda frente na Europa, os soviéticos continuaram honrando seu pacto de não-agressão com o Japão, deixando livres centenas de milhares de experientes soldados japoneses para combater os americanos nas ilhas do Pacífico. Nunca entendi por que os livros de história dão tanto destaque à exasperação de Stalin com a supostamente tardia invasão da Normandia, ao mesmo tempo em que ele não demonstrava nenhum desejo em abrir uma segunda frente contra o Japão — isto é, não até que o Japão estivesse totalmente destruído em agosto de 1945 e houvesse presas fáceis na região [p.ex., as ilhas Sakalina e Kurilas].
 
Com frequência, dizem que o Almirante Yamamoto, arquiteto do ataque a Pearl Harbor, era um tipo de liberal (pelo menos no Japão militarista da época) e um visionário que se opunha ao Pacto Tripartite [Alemanha-Itália-Japão], que não apoiou a ocupação da Manchúria e que tinha profundas reservas quanto a atacar os Estados Unidos. As famosas citações sobre despertar um “gigante adormecido” e travar uma guerra do tipo tudo ou nada por (apenas) seis meses, são também, frequente e duvidosamente atribuídas a Yamamoto. Ele também ainda é tido como um estrategista brilhante por sua ênfase no uso de porta-aviões em vez de antiquados couraçados.
 
Talvez. Mas pode ser igualmente provável que os primeiros anos de Yamamoto nos Estados Unidos, em Harvard particularmente, em vez de convencê-lo da futilidade de atacar um colosso industrial tal como os Estados Unidos, tenham fortalecido seus preconceitos quanto à sociedade ocidental, especialmente durante os excessos dos “loucos anos 1920” [Roaring Twenties], no sentido de que o Ocidente estaria decadente e careceria da dureza marcial para uma eventual guerra com os japoneses. O fracasso de Yamamoto ao planejar mal as ações seguintes ao ataque a Pearl Harbor, cujos depósitos de combustível e estaleiros poderiam ter sido neutralizados por vários meses, e o plano estúpido de dividir suas forças em Midway ao enviar uma parte poderosa da frota para o Alasca [invasão da Ilhas Aleutas], não dão apoio à imagem de um estrategista brilhante ou a de um liberal clássico cercado por mentes militares estreitas.
 
Uma consideração final. O crescimento do Japão nos anos 1920 e 1930, o alarme que isso causou no Pacífico, sua crescente iliberalidade e nacionalismo exacerbado, o enorme progresso industrial e militar que conquistou ao emular as economias europeias e as forças armadas ocidentais, as impressões concomitantes de que os Estados Unidos da época da Grande Depressão eram uma potência declinante ao invés de ascendente e a noção geral de que o modelo centralizado japonês era superior às alternativas existentes, oferecem alguns paralelos gerais ao atual status comparativo entre a China e os Estados Unidos no Pacífico.
 
Espero que tenhamos aprendido as lições da história, ou seja, de que qualquer coisa pode acontecer a qualquer tempo, e que, no final das contas, é a dissuasão que mantém a paz; a dissuasão é uma combinação de uma reconhecida superioridade de poderio militar e uma certeza entre as partes envolvidas de que tal poder devastador será usado na defesa, deixando claro ao agressor que um seu ataque se provaria suicida.
 
Tradução: Henrique Dmyterko

Publicado originalmente na National Review Online’s The Corner em 15.12.2011. Também disponível no site do autor.

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