terça-feira, 3 de julho de 2012

MÉXICO



                

O candidato é jovem e moderno, mas representa o velho velho e surrado Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México por sucessivos 71 anos.

Não foi surpresa, devido às pesquisas, mas é desconfortável ver os eleitores mexicanos, novamente colocarem no poder ao partido que os submeteu a um regime semi-ditatorial, por tantos anos

Fotos: Reuters





Enrique Pena Nieto, o novo presidente do México, eleito neste domingo, comemora ao lado de sua esposa a popular atriz de novelas, Angelica Rivera
Por Toinho de Passira
Fontes: ReutersBBC BrasilG1

O candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI), Enrique Peña Nieto, é o novo presidente do México, segundo resultado das eleições realizadas neste domingo, quando obteve quase 39% dos votos. No México as eleições são decididas por maioria simples, sem que haja um segundo turno.

Andrés Manuel López Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD), seria o segundo colocado com 32% e Josefina Vázquez Mota, candidata do PAN (Partido Ação Nacional), do atual presidente e Calderón, teria obteve cerca de 26% dos votos.

A vitória de Peña Nieto leva o PRI de volta ao poder após 12 anos. O partido governou o México de 1929 a 2000, até a vitória de Vicente Fox, também do PAN, presidente que antecedeu Calderón.

Além de seu novo presidente, os eleitores mexicanos escolheram, neste domingo, novos congressistas, alguns governadores e prefeitos, numa eleição marcada pelo debate sobre economia e a guerra às drogas.

Autoridades mexicanas afirmaram que a votação transcorreu pacificamente na grande maioria do país.

Milhares de policiais foram mobilizados para proteger quase 80 milhões de eleitores de possíveis atos de violência de cartéis em zonas eleitorais. Nas eleições além do presidente, com mandato de seis anos, renovou-se o Parlamento e foram escolhidas autoridades estaduais e municipais, um total de 2.127 cargos públicos.

Pela coincidência destas votações simultâneas, o pleito foi o maior na história do México.
Foto: Associated Press

Solados diante do Instituto Federal Eleitoral (IFE) do México, no dia da eleição presidencial
No campo econômico, as questões mais prementes na campanha eleitoral foram a pobreza extrema - que afeta quase um terço dos mexicanos - e a sensação, de grande parte da população, de perda de poder aquisitivo, apesar das taxas de crescimento recentes do país (entre 3% e 4%).

Outro tema importante do debate eleitoral foi a insegurança. O México vive sua maior onda de violência ligada ao narcotráfico, com casos de chacinas, sequestros e desaparecimentos ligados a disputas entre cartéis, e entre narcotraficantes e autoridades.

São estimados 50 mil mortos desde 2006, quando o presidente conservador Felipe Calderón foi eleito e abriu uma ofensiva contra o narcotráfico.

No entanto, não é esperada uma mudança radical na política de repressão ao tráfico, nem a retirada do Exército das ruas do país.
Foto: Getty Images

Enrique Peña, tratado pelas eleitoras com um pop star
Jovem, elegante e capaz de causar comoção como um astro da música: Enrique Peña Nieto, de 45 anos, conseguiu levar o seu polêmico Partido Revolucionário Institucional (PRI) de volta à Presidência do México no domingo.

A falta de alternância de poder no país, transformou a democracia mexicana num embaraçosa ditadura com eleições, aparentemente livres, mas, maculadas por atos tipicamente ditatoriais, fraudes, corrupção e uso da máquina publica, para atrair e comprar eleitores.

O excesso de tempo no poder, 71 anos, fez o escritor peruano Mario Vargas Llosa descrever a situação como "a ditadura perfeita".

Cansada de escândalos de autoritarismo e corrupção, a população os retirou do poder através das urnas, em 2000.

Agora, porém, muitos mexicanos parecem ter relegado esses problemas a um segundo plano, mostrando-se mais preocupados com o desemprego e a violência que assolam o país sob o governo do Partido Ação Nacional (PAN).

MARKETING MATRIMONIAL Casamento de Enrique Peña Nieto com a popular atriz Angélica Rivera. Fazia parte da campanha?


"Vamos ter um governo eficaz, honesto, transparente e que preste contas... A luta contra a violência vai prosseguir. Sim, com uma nova estratégia para proteger a vida dos mexicanos", disse o sorridente Peña Nieto no final da noite de domingo, após declarar vitória na eleição presidencial.

Ele também prometeu manter uma economia de livre mercado, mas com "consciência social".

Toda a campanha do PRI se baseou em torno da carismática figura do ex-governador do Estado do México, que não apresentou propostas mirabolantes. Mas, para afiançar sua confiabilidade, Peña Nieto valeu-se de um recurso que já havia utilizado em campanhas anteriores: registrou suas promessas em cartório.

"Você me conhece, e sabe que eu vou cumprir", dizia ele na propaganda que inundou os meios de comunicação nos últimos três meses.

O PAN contestou esse slogan dizendo que muitas obras ficaram inconclusas durante o período (2005-11) em que ele governou o Estado do México, que cerca a capital, ou então que ele dava destaque excessivo a tarefas banais da administração.

Seus adversários e alguns meios de comunicação chegaram a acusá-lo de ser um "produto de marketing", como se fosse um galã de novelas imposto pela poderosa rede de TV Televisa, e que um dos componentes do plano para promovê-lo foi seu casamento, em 2010, com a popular atriz Angélica Rivera.

Durante a campanha, Peña Nieto enfrentou a revelação de infidelidades conjugais durante o primeiro casamento, tendo inclusive dois filhos com suas amantes. Também foi alvo de um movimento estudantil que realizou várias passeatas contra ele.

Peña Nieto anda sempre com o topete engomado e de camisa branca, e seus colaboradores o definem como alguém que sabe trabalhar em equipe, ser bom gestor e se rodear de pessoas capazes.

Ele se define como um pragmático que valoriza mais os resultados que as ideologias, e disse durante a campanha que estimulará investimentos privados na petrolífera Pemex - algo que é tabu inclusive dentro do seu partido.

Peña se formou politicamente no que analistas chamam de Grupo Atlacomulco, visto como parte da velha guarda do PRI, frequentemente caricaturada como um dinossauro de rabo pesado, capaz de manipular várias administrações do partido.

O grupo, cuja existência é negada pelos líderes partidários, está supostamente composto por ex-governadores do Estado do México que nasceram na localidade de Atlacomulco nas últimas sete décadas, e que funcionaria como uma espécie de clã.

A seu redor teriam sido tecidas obscuras tramas de corrupção, e há quem diga que uma bruxa do povoado previu que dali sairiam seis governadores, e que um deles chegaria a presidente. Peña é o sétimo governador oriundo de Atlacomulco.

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