sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Diplomata que deu fuga a Molina quer acesso a memorandos de Dilma




Eduardo Saboia foi afastado após trazer senador boliviano sem autorização.
Na próxima semana, ele deve dar depoimento a comissão de sindicância.

Renan RamalhoDo G1, em Brasília
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Diploamta Eduardo Saboia dá entrevista ao desembarcar em Brasília (Foto: Reprodução/TV Globo)Diplomata Eduardo Saboia dá entrevista ao chegar
em Brasília, em agosto (Reprodução/TV Globo)
Para se defender em investigação interna do Itamaraty, o diplomata Eduardo Saboia pediu ao Ministério das Relações Exteriores cópia de memorandos trocados entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-ministro da pasta Antonio Patriota.
A solicitação foi feita na última segunda (2) pela defesa do diplomata, afastado do cargo após organizar a saída do senador boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil sem autorização do governo da Bolívia.
Segundo o advogado de Saboia, Ophir Cavalcanti, a intenção de obter acesso às comunicações entre a presidente e o ex-chanceler, que têm caráter sigiloso, é provar que o diplomata não agiu de forma independente.
"A ideia da defesa é demonstrar que há fortes indícios de que a presidente da República tinha conhecimento de todo o histórico que se passava em relação ao asilado político Roger Pinto Molina na Embaixada da Bolívia", disse o advogado ao G1.
No último dia 27, Dilma fez uma referência indireta ao diplomata ao afirmar que a embaixada brasileira em La Paz é tão distante do DOI-Codi (órgão de repressão da ditadura) quando "océu do inferno". O comentário de Dilma, presa política no DOI-Codi nos anos 1970, foi motivado por entrevista de Saboia ao programa Fantástico, no qual ele afirmou que se sentia no DOI-Codi por ter o senador confinado durante meses em uma sala vizinha à dele na sede da embaixada.
Eduardo Saboia trabalhava como encarregado de negócios da Embaixada do Brasil em La Paz e admitiu ter organizado a fuga de Molina para o Brasil no fim de agosto, episódio que gerou uma crise diplomática entre os dois países e levou à demissão de Patriota.
cronologia senador boliviano 27/08 (Foto: Editoria de Arte / G1)
Condenado por corrupção e acusado por diversos crimes na Bolívia, o senador recebeu asilo político do governo brasileiro em 2012, mas permaneceu na embaixada durante 15 meses, sob receio de ser preso se deixasse o local. Saboia disse que organizou a viagem de Molina para o Brasil porque "havia o risco iminente à vida e à dignidade do senador".
No Itamaraty, uma comissão de sindicância apura a conduta de Saboia para a possível abertura de um processo administrativo que pode aplicar punições que vão de uma advertência à demissão. Na semana que vem, ele deve prestar um depoimento para se defender e, para isso, pediu uma série de documentos ao ministério.
Além dos memorandos entre Dilma e Patriota, Saboia pediu toda a série histórica de telegramas diplomáticos trocados sobre o caso, de 28 de maio de 2012 a 24 de agosto deste ano, período em que Molina ficou confinado na embaixada. Saboia alega que nessas mensagens comunicou a cúpula do Itamaraty sobre a situação.
Ele quer também as atas e registros de diversas reuniões que realizou sobre o assunto em Brasília, numa comissão especialmente criada para solucionar o caso de Molina. Outro documento pedido, que alega existir, é uma proposta que teria sido feita pela ministra da Justiça da Bolívia, Cecilia Ayllon, ao ministro da Justiça brasileiro, José Eduardo Cardozo, referente à saída de Molina da embaixada.
A defesa ainda pleiteia na Justiça fazer um depoimento oficial de Molina sobre o caso, para eventual uso no processo administrativo. O objetivo é garantir uma versão documentada do senador antes que possa ser extraditado do Brasil ou se deslocar para outro país.
Fuga
Molina foi trazido para o Brasil em um carro oficial sem autorização do governo boliviano. Na ocasião, Saboia substituía o embaixador Marcelo Biato, que estava de férias. A presidente Dilma Rousseff criticou a operação que permitiu a saída do senador da Bolívia. Após o episódio, o ex-ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, foi demitido do cargo.
O senador viajou 22 horas de La Paz a Corumbá (MS), onde na madrugada de domingo, pegou um jatinho junto com o senador  Ricardo Ferraço (PMDB-ES) e desembarcou em Brasília.
Em junho deste ano, a Advocacia-Geral da União (AGU), a Procuradoria Geral da República (PGR) e o Itamaraty já tinham se posicionado contra a ajuda ao senador boliviano Roger Pinto, que manifestava desejo de deixar a Bolívia rumo ao Brasil.

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