sexta-feira, 26 de julho de 2013

Campanha busca localizar últimos criminosos nazistas na Alemanha





No encalço – “Estamos falando de cerca de 60 pessoas que, dia após dia e durante um longo período de tempo, estiveram envolvidas em assassinatos em massa”, explica Efraim Zuroff, diretor do Centro Simon Wiesenthal em Jerusalém. “Não há motivos para ignorar essas pessoas só porque elas nasceram em 1919, 1920 ou 1921.”
O Centro Simon Wiesenthal ocupa-se principalmente de investigações sobre o Holocausto e tornou-se conhecido por espetaculares rastreamentos de criminosos de guerra. Operation Last Chance (Operação Última Chance) é o nome de uma nova campanha, que busca levar a julgamento os últimos criminosos de guerra nazistas que ainda vivem na Alemanha.
Para isso, mais de dois mil cartazes foram espalhados pelas ruas de Berlim, Colônia e Hamburgo na terça-feira (23), convidando a população a ajudar na localização desses criminosos. Os cartazes ficarão expostos por duas semanas.
O principal alvo da campanha são antigos guardas de campos de concentração e membros dos temidos Einsatzgruppen, grupos de intervenção criados para o extermínio de minorias étnicas e ligados à SS, a organização paramilitar do partido nazista.
Zuroff estima que o número de envolvidos possa chegar a seis mil pessoas, a maioria homens. Cerca de 98% delas já deve estar morta. Se a metade dos sobreviventes estiver velha ou doente demais para enfrentar um processo, restam ainda cerca de 60 pessoas. Segundo ele, o número de criminosos nazistas que vivem em liberdade é maior do que geralmente se supõe, ainda que ninguém saiba o número exato.
Recompensa de até 25 mil euros
O estímulo para a campanha veio da condenação de Iwan Demjanjuk, há dois anos, em Munique. O tribunal considerou que o fato de Demjanjuk ter trabalhado como guarda no campo de extermínio de Sobibor era suficiente para a condenação, mesmo que a qualidade das provas de envolvimento direto nos crimes fosse precária.
Até então, tribunais alemães vinham arquivando processos contra supostos criminosos de guerra por não haver provas suficientes de participação direta em torturas ou assassinatos: muito tempo havia passado, evidências foram destruídas e muitas testemunhas estavam mortas.
Com essa guinada na jurisprudência, o tribunal de Munique abriu a possibilidade de se fazer justiça em relação a alguns criminosos de guerra nazistas, diz Zuroff, mesmo que as provas sejam cada vez mais escassas.
A campanha agora lançada conta com a ajuda da população. “Estamos dizendo: ‘Milhões de pessoas inocentes foram assassinadas por criminosos nazistas, ajude-nos a levar esses criminosos à Justiça, oferecemos até 25 mil euros por cada informação’”, diz Zuroff.
A oferta de recompensas gerou críticas. O historiador teuto-israelense Michael Wolffsohn disse que a iniciativa é de mau gosto e nociva, já que, para ele, induz à compaixão para com velhos criminosos de guerra.
Também o professor de política Joachim Perels, cujo pai foi executado pelos nazistas e que há anos se ocupa de assuntos relacionados ao período, diz ter reservas em relação à campanha.
Embora elogie o Centro Simon Wiesenthal pela localização de criminosos de guerra e pelo apoio a autoridades, Perels lembra que já há autoridades responsáveis pela localização de antigos criminosos de guerra nazistas na Alemanha. Atualmente, na cidade de Ludwigsburg, promotores investigam 50 ex-guardas de campos de concentração.
Justiça pouco efetiva
Perels concorda com a avaliação feita pelo Centro Simon Wiesenthal, para quem, por muitos anos, a Justiça alemã não se interessou pelos crimes nazistas. “Cerca de 160 criminosos nazistas foram condenados na Alemanha, um número baixo quando pensamos na dimensão do assassinato de judeus, de sinti e roma ou nas vítimas de eutanásia”, afirma.
Perels culpa a Justiça alemã por essa situação. “Nos anos 1950 e 1960, três quartos da Justiça alemã eram juízes e promotores que haviam atuado em tribunais durante o regime nazista”, disse Perels. Essa continuidade gerou “erros terríveis”, mesmo décadas após a guerra.
Nos anos 1960, por exemplo, o líder de um Einsatzgruppe da SS, que ordenou a morte ou matou ele mesmo 15 mil judeus, foi considerado pelo Tribunal Regional de Munique como mero assistente. A justificativa para a decisão era que ele não tinha nada contra judeus.
Questão de tempo e respeito às vítimas
Que esse mesmo tribunal de Munique tenha considerado Demjanjuk culpado é, para Perels, um sinal de que muita coisa mudou na Justiça alemã desde então.
“Isso tem a ver com a mudança geracional e com a nova visão sobre o período nazista”, afirma. Não apenas a Justiça alemã mudou, graças a juristas novos e mais críticos – toda a sociedade alemã lida com o seu passado nazista de maneira muito mais crítica hoje, avalia. Ele lembra que, passados já vários anos do final da guerra, pesquisas mostravam que metade da população alemã era contra a investigação de crimes nazistas.
Tanto Perels como Zuroff concordam que, depois de todos os erros cometidos pela Justiça alemã, é necessário agora agir com rapidez, e que é uma questão de respeito às vítimas que a busca pelos últimos criminosos seja intensificada antes que seja tarde demais.
Zuroff defende a campanha e os cartazes como a abordagem mais eficiente. “Nos últimos seis meses, tentamos patrocínio para a Operação Última Chance na Alemanha. Das 86 empresas e fundações consultadas, apenas três concordaram em colaborar”, afirma. (Deutsche Welle)
  

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