Os ex-presidentes da República compareceram na manhã de terça-feira no Palácio do Planalto, a convite de Dilma Rousseff, para a solenidade de assinatura da instalação da Comissão da Verdade. Prestem atenção na fotografia da descida da rampa interna do Palácio do Planalto. O presidente Lula vem na frente, amparado de um lado pela presidente Dilma, e do outro lado pelo clone de chanceler Marco Aurélio "Top Top" Garcia. Qual a justificativa para "Top Top" Garcia aparecer nessa foto? Afinal, ele não é ex-presidente. Ele está ali para também ajudar a amparar Lula, que apresenta uma nova doença, neurológica, que deixou seu pé esquerdo "bobo", sem comando, como seqüela do tratamento pela quimioterapia. Lula está usando uma bota ortopédica no pé esquerdo para conviver com o "pé bobo". Mas, além disso, qual outra justificativa para "Top Top" Garcia aparecer na foto? Ah..... tudo tem seu significado no mundo da esquerda. Marco Aurélio "Top Top" Garcia foi dirigente do POC (Partido Operário Comunista) no Rio Grande do Sul, na segunda metade da década de 60. O POC é originário da fusão de uma dissidência do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB) com a minúscula organização trotskista Política Operária (conhecida como POLOP). Dilma, no início de sua militância "revolucionária" comunista, foi membro da POLOP mineira. Marco Aurélio "Top Top" Garcia "se mandou" de Porto Alegre, largando partido, companheiros, casa, tudo, no fim da década de 60, quando começaram a ser presos membros do POC. O primeiro a ser preso foi o dirigente Luiz Paulo Pilla Vares, jornalista da RBS (Marco Aurélio "Top Top" Garcia já tinha trabalhado no jornal como editor de Internacional). No DOPS (antigo Departamento de Ordem Política e Social), o delegado Pedro Seelig não precisou nem encostar um dedo no dirigente trotskista. Bastou a ameaça de ir buscar a esposa na época do jornalista. Ali a polícia política ficou sabendo tudo sobre a estrutura organizacional do POC. Eu fui o responsável, na época, para conversar como Luiz Paulo Pilla Vares na redação de Zero Hora, tão logo ele chegasse ao jornal, após ser libertado por interferência pessoal do dono do jornal, Mauricio Sirotski, que foi até o DOPS buscá-lo. Eu devia passar as informações para o partido. E passei. Recado de Luiz Paulo Pilla Vares: a polícia já sabia tudo sobre o POC e seus dirigentes. No mesmo dia o bravo dirigente Marco Aurélio "Top Top" Garcia "se mandou" de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul e do Brasil. Ele pegou sua mulher, Elisabeth Souza Lobo, e "se mandaram". Nas rodinhas em Porto Alegre comentava-se que ela partira se lamentando: "Ai, meus canapés....". Tratava-se do sofás de cana da India que ela havia acabado de instalar na casa em que moravam, na rua Barros Cassal (na quadra entre a Avenida Independência e Alberto Bins). Elisabeth Souza Lobo também deixou "órfãos" os seus estudantes de marxismo, jovens universitários militantes do POC, que faziam com ela sua instrução teóricio-revolucionária. Entre eles (além de mim), minha colega de sala de aula no Curso de História da Faculdade de Filosofia da UFRGS, Elisabeth Garcia, na época mulher de Jorge Mattoso (aquele que presidiu a Caixa Econômica Federal e comandou a operação de arrombamento do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos). Elisabeth Souza Lobo usava como material o manual de marxismo da revolucionária comunista chilena Marta Harnecker (hoje, Marta Harnecker dirige em Cuba o Centro de Recuperação e Difusão da Memória Histórica do Movimento Popular Latino-americano; ela é viúva de Manuel "Barbaroja" Piñero Losada, falecido em 1998, e vive em Havana desde 1974; ela também é mentora ideológica do Foro de São Paulo, do MST e de militantes como Emir Sader, Frei Betto e muitos outros petistas seus conhecidos; ela escreveu mais de meia centena de livros e o seu livro sobre o marxismo "Los Conceptos Elementales del Materialismo Histórico", foi fonte de orientação para várias gerações de alienados estudantes esquerdistas latino-americanos; hoje, Marta Harnecker dirige em Cuba o Centro de Recuperação e Difusão da Memória Histórica do Movimento Popular Latino-americano, que é, na realidade, um órgão de orientação político-ideológica para as ONGs que atuam na seara da “sociedade civil organizada”, integrando o novo “bloco histórico”, em oposição às classes dominantes, na visão gramsciana; seu marido, Manuel "Barbaroja" Piñero Losada, foi o grande articulador dos movimentos guerrilheiros latino-americanos, entre os quais os “rodriguistas” da Frente Patriótica Manuel Rodríguez (FPMR) e os “miristas” do Movimento de Izquierda Revolucionaria (MIR). O "livrinho" de Marta Harnecker, uma porcaria ideológica de quinta categoria, era o material usado por Elisabeth Souza Lobo para a doutrinação dos jovens militantes do POC. Marco Aurélio "Top Top" Garcia posava como um dos grandes intelectuais do POC, especialista na obra do comunista trotskista francês Louis Althusser (este "humanista", em um acesso de fúria e loucura, matou a sua mulher Hélène Rytmann, uma revolucionária de origem judaico-lituana, oito anos mais velha; ela foi sua companheira até 16 de novembro de 1980, quando foi estrangulada pelo próprio Althusser, num surto psicótico). No seu doce exílio em Paris, Marco Aurélio "Top Top" Garcia, então dirigente da 4ª Internacional trotskista, em pleno 1974, organizava o envio de companheiros para a América Latina, para que participassem das atividades armadas do grupelho argentino ERP (Exército Revolucionário Popular). Assim foram mandados para lá os militantes e dirigentes do POC gaúcho Flavio Koutzii e Maria Regina Pilla. Em Paris, na 4ª Internacional, Marco Aurélio "Top Top" Garcia e Jorge Matoso conheceram um sinistro trotskista argentino, de codinome Luis Favre. Na verdade, esse personagem se chama Felipe Belisario Wermus. Favre foi criado em um conventillo (cortiço), em Buenos Aires, filho de operários de origem judaica, simpatizantes do peronismo. Autodidata, nunca chegou a concluir o secundário. Foi expulso da escola aos 17 anos, por ter liderado uma greve de secundaristas. Na ocasião, militava no grupo trotskista Politica Obrera (atual Partido Obrero, fundado por seu irmão, José Saul Wermus (mais conhecido pelo pseudônimo Jorge Altamira). Até os 20 anos, Favre viveu em Buenos Aires, onde trabalhou como gráfico, metalúrgico e contínuo, mas sua atividade primordial era a política. Foi detido oito vezes. Na iminência de ser condenado a mais de um ano de prisão, fugiu da Argentina de navio. Mudou-se para a França, estabelecendo-se em Paris, onde passou a trabalhar na gráfica de uma das facções da Quarta Internacional. Subiu na hierarquia da organização e acabou sendo eleito para a direção, tornando-se responsável pelos grupos latino-americanos e supervisor da seção brasileira, cuja tendência estudantil, Liberdade e Luta (Libelu), teve projeção nos anos 1970 e no início dos 1980. Casou-se com uma francesa, Marie Ange, com quem teve um filho, Flavio. Naturalizou-se francês, mas não abdicou da cidadania argentina. Para acompanhar mais de perto os 1.500 trotskistas brasileiros, Favre mudou-se para São Paulo em 1985, com sua segunda mulher, a americana Alexandra, com quem teve dois filhos, Tristan e Fabrice. Na segunda metade da década de 1980, passou a criticar a tendência de Pierre Lambert na Quarta Internacional. Favre defendia que a seção brasileira se diluísse no Partido dos Trabalhadores, agrupando-se sob a liderança de Lula e de sua tendência interna, a Articulação. A posição de Lambert, entretanto, foi adotada oficialmente pela organização. Em 1987, Favre liderou uma cisão da Quarta Internacional. Com a cisão consumada, a seção brasileira da Quarta Internacional praticamente acabou pois a maioria dos seus integrantes tornou-se petista. A minoria, agrupada em torno do jornal "O Trabalho", manteve relações com a Quarta Internacional. Favre também acabou deixando a organização para se filiar ao PT. Desde 1986, tornara-se assessor do Secretariado Nacional de Relações Internacionais do PT, atendendo a vários eventos internacionais como representante oficial do partido. Separou-se de Alexandra no final dos anos 1980, passando a viver com Marília Andrade, filha de um dos proprietários da Andrade Gutierrez, uma das maiores empreiteiras brasileiras. Marília e seu irmão Flavio eram donos da Editora Joruês e da "Gazeta de Pinheiros", jornal de bairro paulistano do qual Favre foi editor-chefe. Em 1992, após a morte trágica de uma das filhas de Marília, o casal mudou-se para Paris e acabou por se separar, ainda em 1992. Favre continuou a viver em Paris, trabalhando numa empresa de comunicação, a Tiempo, que fazia projetos gráficos de manuais e catálogos e os imprimia na Espanha. Depois, com sua nova mulher, a francesa Sophie Magnone - com quem tem um filho, Lucas - montou sua própria empresa de comunicação gráfica, a Optei, sempre em Paris. Nesse período, Favre não se afastou do PT. Organizou, com a Secretaria Internacional do partido, encontros de dirigentes petistas, inclusive Lula, com ministros e parlamentares do Partido Socialista Francês, do Partido Comunista Francês e dos Verdes. Nesse contexto, conheceu Eduardo e Marta Suplicy. Favre foi apontado como pivô da separação de Marta e Eduardo Suplicy, em 2001. Em 2003, logo após a oficialização do divórcio, casou-se com Marta, de quem se separou em 2009. Luis Favre tem um grande rol de amigos. Entre eles está o jornalista Paulo Moreira Leite, que foi um militante da Libelu quando estudava na USP. A rede é grande e internacional. Assim, a presença de Marco Aurélio "Top Top" Garcia no pelotão que desceu a rampa interna do Palácio do Planalto não foi apenas para segurar o braço de Lula e dar segurança ao seu andar cambaleante, mas especialmente emblemática, para dizer à "rede" sobre a amplitude da cerimônia, e das consequências que ele e parceiros imaginam para a Comissão da Verdade. Uma coisa é certa: Marco Aurélio "Top Top" Garcia não tem qualquer história pessoal para revelar à Comissão da Verdade, em face da espantosa coragem que exibiu no final dos anos 60 e da pressurosa escafedida que cometeu
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