quinta-feira, 31 de maio de 2012

O silêncio de ouro do bicheiro


ESCRITO POR JOSÉ MARIA E SILVA | 30 MAIO 2012
ARTIGOS - GOVERNO DO PT

O gigantismo do poder público no Brasil está na raiz da corrupção que assola o país e esse fato é que deveria ser objeto de reflexão. Todavia, se depender de Lula e do PT, a imprensa e o governo Marconi Perillo é que serão os únicos alvos da CPI do Cachoeira.

O silêncio de Carlinhos Cachoeira – garantido pelos R$ 15 milhões de honorários do amigo de Lula – é uma prova de que no Brasil há um conluio de elites.


Os esgares do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara Municipal de São Paulo e a placidez do advogado Márcio Thomaz Bastos na CPI Mista de Cachoeira são duas provas distintas, mas complementares, de que a história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história da ascensão, queda e renovação das elites.

Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, jamais estiveram em constante oposição, muito menos travaram uma guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada, que teria sempre resultado na transformação revolucionária da sociedade ou na destruição das classes em luta. Ao contrário do mito propagado por Marx e Engels no “Manifesto Comunista” (parafraseado quase literalmente na abertura deste artigo), a luta contra a opressão exige armas que o verdadeiro oprimido nunca tem. Por isso, a “luta de classes” jamais desaguou na revolução proletária e onde o comunismo chegou ao poder foi devido a fatores externos (como as guerras) e à capacidade da elite intelectual em capitalizá-los.

O marxismo é uma mitologia. O socialismo idealizado por Marx nada tem de científico — é justamente o mais utópico entre todos os socialismos já formulados. De fato, crer na boa vontade dos homens para forjar uma sociedade igualitária, como sonhava Saint-Simon, é utopia. Mas apostar na onisciência da história para predizer o futuro da humanidade, como fazia Marx, é insanidade. Prova disso é que a dupla Marx & Engels, mesmo sustentando que a revolução proletária era uma inevitabilidade científica e que o socialismo era a incógnita revelada da equação histórica, no fundo não parece acreditar na própria tese do “Manifesto Comunista”. Já nesse clássico do movimento revolucionário, a dupla aposta claramente no voluntarismo político das vanguardas, como se reconhecesse que a história não está pré-estabelecida em fórmulas e precisa do empurrão da vontade dos homens.

Marx e Engels descrevem a formação das vanguardas revolucionárias à testa das classes em luta, mostrando a simbiose entre uma franja da classe dominante que se decompõe e um recorte da classe dominada em ascensão. Eis o que dizem no “Manifesto Comunista”: “Finalmente, nos períodos em que a luta de classes se aproxima da hora decisiva, o processo de dissolução da classe dominante, de toda a velha sociedade, adquire um caráter tão violento e agudo, que uma pequena fração da classe dominante se desliga desta, ligando-se à classe revolucionária, a classe que traz em si o futuro. Do mesmo modo que outrora uma parte da nobreza passou-se para a burguesia, em nossos dias, uma parte da burguesia passa-se para o proletariado, especialmente a parte dos ideólogos burgueses que chegaram à compreensão teórica do movimento histórico em seu conjunto”. É dessa forma, segundo eles, que “a burguesia fornece aos proletários os elementos de sua própria educação política, isto é, armas contra ela própria”.

Suicídio das elites
Para Marx e Engels, os comunistas “constituem a fração mais resoluta dos partidos operários de cada país, a fração que impulsiona as demais e teoricamente têm sobre o resto do proletariado a vantagem de uma compreensão nítida das condições, da marcha e dos fins gerais do movimento proletário”. Lenin aprofunda essa percepção e, na obra “Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo”, salienta o papel catequizador, guerreiro, mas sobretudo dirigente das vanguardas, que, para fazer a revolução e consolidá-la, deviam amalgamar-se ao proletariado e demais trabalhadores: “A arte do político (e a justa compreensão dos seus deveres no comunista) consiste, precisamente, em saber aquilatar com exatidão as condições e o momento em que a vanguarda do proletariado pode tornar vitoriosamente o Poder; em que pode, por ocasião da tomada do Poder e depois dela conseguir um apoio suficiente de setores bastante amplos da classe operária e das massas trabalhadoras não proletárias; em que pode, uma vez obtido esse apoio, manter, consolidar e ampliar seu domínio, educando, instruindo e atraindo para si massas cada vez maiores de trabalhadores”.

O sociólogo e economista italiano Vilfredo Pareto (1848-1923), em seu “Manual de Economia Política”, publicado em 1909, observa que, da mesma forma que é possível distinguir ricos e pobres numa dada sociedade, também é possível identificar uma elite (“a parte aristocrática”, no sentido etimológico de “melhor”) e a parte vulgar. “Essa elite existe em todas as sociedades e as governa, mesmo quando o regime é, em aparência, aquele da mais ampla democracia”, escreve Pareto. Mas a elite não é estática e alguns de seus membros (a “parte degenerada” da antiga elite) podem juntar-se à parte vulgar, o que resulta na “circulação de elites”, segundo Pareto. “Consta que quase todas as revoluções foram obra, não do vulgo, mas da aristocracia e notadamente da parte desprovida da aristocracia; é o que se vê na história, começando na época de Péricles até a época da primeira revolução francesa; e hoje mesmo vemos que uma parte da burguesia ajuda fortemente o socialismo, cujos chefes, aliás, são burgueses. As elites terminam comumente pelo suicídio” — escreve Pareto, como se descrevesse não apenas o seu tempo, mas também o nosso, em que intelectuais da USP, capitães de indústria e banqueiros se ajoelham aos pés de Lula e do PT.

Como observa Pareto, essa parte da elite que se rebela contra o “status quo” sempre se apresenta como porta-voz da maioria que está fora do poder, aparentando defender bandeiras universais. Entretanto, ressalta o sociólogo italiano, “o homem é guiado por interesses particulares e principalmente pelos sentimentos, ao mesmo tempo em que imagina, e faz crer aos outros, que é guiado por interesses gerais e pela razão”. Pareto não tem meias palavras para descrever uma Europa convulsionada pelos movimentos operários, que iriam desaguar na Revolução Russa, menos de dez anos depois. “O grande erro da época atual é crer que se pode governar os homens pela pura razão, sem fazer uso da força, que é, ao contrário, o fundamento de toda organização social. É até curioso observar que a antipatia da burguesia contemporânea contra a força termina por deixar o campo livre para a violência. Por estarem seguros da impunidade, os malfeitores e os amotinadores fazem quase tudo que desejam. As pessoas mais práticas são levadas a se sindicalizar e a recorrer à ameaça e à violência, única via aberta que os governantes lhes deixam para defender seus interesses” — sustenta o pensador italiano.

Imunidade moral de Lula
Pareto já percebia com muita clareza que o discurso humanitário de sua época — sem dúvida, muito menos totalitário que o de hoje — já era potencialmente perigoso, por trazer os germes de sua própria destruição: “A religião humanitária mui provavelmente desaparecerá quando tiver cumprido sua obra de dissolução social e quando uma nova elite se levantar sobre as ruínas da antiga. A inconsciência ingênua de uma burguesia em decadência faz toda a força dessa religião, que não terá nenhuma utilidade no dia em que os adversários da burguesia se tornarem bastante fortes para não mais esconder seu jogo”. Pareto percebe a impotência da razão para servir de barreira aos movimentos revolucionários: “As teorias econômicas e so­ciais das quais se servem aqueles que participam das lutas sociais não devem ser julgadas pelo seu valor objetivo, mas principalmente por sua eficiência em suscitar emoções. A refutação científica que se possa fazer não serve para nada, por mais exata que seja objetivamente”. Daí a enorme dificuldade para se propagar o pensamento liberal no Brasil, ainda que um Roberto Campos possa ter mais razão do que um Celso Furtado e um Eduardo Giannetti da Fonseca seja mui­to mais instigante do que uma Marilena Chauí.

E não são apenas os iletrados que se mostram refratários à razão — também os letrados se deixam levar pelas emoções e, dessa forma, contribuem com a vanguarda revolucionária, muitas vezes fazendo parte dela. Os recorrentes ataques de Lula à imprensa, por exemplo, só são possíveis porque ele goza de uma espécie de imunidade moral.

Apesar de ter trabalhado apenas seis anos como metalúrgico (pois com 27 anos iniciou sua carreira de sindicalista, passando a integrar a diretoria do sindicato), Lula tornou-se um mito cultivando a fama de operário — como se não houvesse uma grande diferença entre o trabalhador comum e sua elite sindical, que desfruta de uma série de privilégios. A máscara de operário e pau-de-arara protege Lula das elites tradicionais, que não se sentem confortáveis em criticá-lo. Como no Brasil a “circulação das elites” de que fala Pareto nunca ocorreu por mé­rito, o combate a Lula, com algumas exceções, nunca é feito com seriedade e tende a descambar para o folclórico, apelando, por exemplo, para seu suposto analfabetismo, quando — justiça seja feita — sua oratória é melhor e mais criativa do que a média dos políticos. Isso ajuda o próprio Lula, pois reforça sua mitológica condição de eterna vítima das elites e contribuiu para esconder aspectos muito mais deploráveis de sua trajetória política.

Há décadas, Lula deixou de ser o operário heroico em que se disfarça nos palanques. Em 2002, quando se elegeu presidente, seu patrimônio declarado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) era de R$ 422,9 mil. Em 2006, já havia dobrado, passando para R$ 839 mil. Quando entregou a Presidência para Dilma Rousseff, uma re­portagem da “Folha de S. Pau­lo”, publicada em 23 de janeiro de 2011, estimou seu patrimônio R$ 1,036 milhão. Além disso, como ex-presidente, con­ta com oito funcionários à sua disposição, pagos pelos cofres públicos. E, antes de ser diagnosticado com câncer na laringe, Lula estava cobrando cerca de 200 mil reais por palestra, a maioria delas contratadas por grandes empresas, como a LG e a AmBev. Não sendo Lula especialista em nada (tanto que seus dois governos eram administrativamente tocados pelos chefes da Casa Civil), é bem provável que esse tipo de palestra tivesse um apelo sentimental e não técnico – uma espécie de carícia do setor privado na incontornável epiderme do poder público, que parece envolver o país como a placenta envolve o feto.

O gigantismo do poder público no Brasil está na raiz da corrupção que assola o país e esse fato é que deveria ser objeto de reflexão. Todavia, se depender de Lula e do PT, a imprensa e o governo Marconi Perillo é que serão os únicos alvos da CPI do Cachoeira. Mas engana-se quem pensa que esses ataques à liberdade de imprensa decorrem apenas de uma birra pessoal de Lula, motivada pelo escândalo do mensalão, que quase o coloca no banco dos réus. Ainda que seja maior do que o PT e encarne uma face caudilhesca à moda de Vargas e Perón, Lula é também um filho da USP, cria bastarda da cruza ideológica entre o sociólogo Fernando Henrique Cardoso e a filósofa Marilena Chauí. Lula traz no seu DNA político as taras ancestrais da velha esquerda, ainda que ele próprio não pareça ter muita consciência disso. Uma dessas taras — herdada da Revolução Russa de 1917 — é a transformação da imprensa em inimiga, tão logo o Partido chega ao poder e a liberdade de expressão deixa de ser um instrumento contra o governo.

O historiador norte-americano Roberto Gellately, em seu livro “Lênin, Stálin e Hitler: A Era da Catástrofe Social” (Editora Record, 2010), descreve como foi o apoio obtido por comunistas e nazistas dos segmentos letrados da época: “Os regimes soviético e nazista ganharam seguidores entre os idealistas, os jovens e os mais educados. Essas pessoas praticamente idolatravam seus líderes, e até mesmo os frios racionalistas en­tre elas podiam se lembrar de sentir o chão balançar sob seus pés ao se encontrarem na presença desses homens”. Todavia, o apoio que re­cebeu de muitos intelectuais não foi suficiente para que Lênin, uma vez no poder, respeitasse a liberdade de pensamento: “O entendimento de Lênin de verdadeira liberdade foi logo esclarecido. A primeira liberdade civil a ser removida como um membro gangrenado foi a liberdade de expressão. Menos de 48 horas após a revolução, um ‘decreto sobre a imprensa’ foi emitido com a assinatura de Lênin. Isso aconteceu em 27 de outubro de 1917 e já marcou o fim de qualquer esperança de que o novo regime fos­se ser tolerante, quanto mais que estabelecesse a democracia”.

Com certa ironia, Gellately observa que o jornalista norte-americano John Reed, autor de “Dez Dias que Abalaram o Mundo”, registrou, sem fazer crítica, a lógica de Lênin durante um debate no Congresso dos Sovietes: “Nós, bolcheviques, sempre dissemos que, quando chegássemos a uma posição de poder, fecharíamos a imprensa. Tolerar jornais burgueses significaria parar de ser um socialista. Quando se faz uma revolução, não se pode ficar parado, é preciso avançar sempre — ou recuar. Quem agora fala sobre ‘liberdade de imprensa’ retrocede e detém nosso curso impetuoso rumo ao socialismo”. Trotsky (que acabaria assassinado no México a mando de Stálin), mesmo tendo se tornado um ídolo para milhares de intelectuais no Ocidente, tinha a mesma visão sobre a imprensa e, quando da censura imposta por Lênin, declarou seu apoio explícito a ela com essas palavras: “Se vamos nacionalizar os bancos, podemos tolerar os jornais econômicos? O velho regime tem que morrer: é preciso entender isso de uma vez por todas”.

História como farsa
Justamente por serem filhos das ideias, os marxistas são os que mais as temem. Falando sobre o Partido Comunista ao tempo da Revolução Russa, Gellately observa: “As ideias exerciam enorme apelo sobre os fiéis do partido devido às promessas que faziam e às visões de esperança que ofereciam. Que centenas de milhares de pessoas, e por fim milhões, tivessem de ser sacrificadas foi algo discreta e convenientemente ignorado pelos idealistas e utopistas”. Esse padrão revolucionário, que se assenhoreia, ao mesmo tempo, da palavra, da arma e da flor, iria se repetir na trajetória da esquerda pelo mundo afora. Por isso, todas as revoluções socialistas — da Revolução Russa, de 1917, à Revolução Cubana, de 1959, passando pelas revoluções asiáticas e africanas — sempre tiveram como ponto de partida um golpe de estado deflagrado por uma elite intelectual e militarizada, que se apresenta como porta-voz dos oprimidos, mas termina por ser fonte de opressão. No Brasil não é diferente e essa história se repete como farsa: a esquerda chegou ao poder com Lula e revolucionou corrupção, que nunca mais será a mesma.

É o que se constata na CPI do Cachoeira. Até a chegada do PT ao poder, a corrupção estava associada ao rato de esgoto; agora, ela pode ser representada por uma ave de rapina. O rato furta e se esconde, como se tivesse consciência do erro. A ave de rapina assalta e se exibe, como se tivesse orgulho do seu ato. O pragmático e ainda tímido “rouba mas faz” de Maluf foi substituído pelo metafísico e destemido “rouba mas é” do mensalão — ou seja, o sujeito desvia o recurso público, mas por “ser” de esquerda, julga que não está cometendo crime, mas fazendo a revolução. É o caso de Lula. Nas últimas semanas, tão logo se recuperou do tratamento de câncer, o ex-presidente voltou a vociferar contra as elites, como se fosse um Lênin sem armas. Lula ousa negar o próprio escândalo do mensalão — o mais documentado caso de corrupção da história do país — e afirma que a compra de parlamentares com recursos ilegais nunca existiu, não passando de uma invenção da “elite”, mancomunada com a imprensa. Essa elite, insiste Lula, não teria engolido a chegada de um operário ao poder e fez de tudo para derrubá-lo. O que é falso.

Nunca antes na história deste país um po­lítico foi tão ingrato. Lula só não caiu justamente porque a elite o segurou. Em 2005, quan­do o publicitário Du­da Mendonça confessou, numa CPI do Congresso, que havia recebido milhões de dólares numa conta no exterior, a conselho de Marcos Valério, como pagamento pelo seu trabalho na campanha do próprio Lula, bastava que a oposição tivesse insistindo nessa confissão do publicitário baiano, aprofundando as investigações sobre o caso, para que Lula não terminasse seu mandato. Mas a elite que Lula tanto condena — e à qual já pertencia, antes mesmo de se tornar milionário — foi tão respeitosa com o mito que acabou sendo condescendente com o homem. Para não ser acusada de tramar contra o suposto operário que chegou à Presidência da República, ela preferiu esquecer a grave confissão de Duda Mendonça, assim como outros fatos igualmente graves que levaram a Procuradoria Geral da República a classificar o ex-ministro José Dirceu como “chefe de quadrilha” — num inquérito que o Supremo Tribunal Federal promete julgar ainda neste ano.

Vícios privados, prejuízos públicos
É por recear o julgamento do mensalão que o ex-presidente Lula — beneficiando-se da indisposição histórica da esquerda para com a liberdade de expressão — tanto se esforça para transformar a CPI do Cachoeira num processo inquisitorial contra a imprensa. Mas esse trabalho se tornou mais difícil na medida em que ficou claro que um dos associados do bicheiro, o empresário Fernando Cavendish, sócio majoritário da construtora Delta, é amicíssimo do governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB), grande aliado de Lula. Além disso, a Delta de Cavendish era responsável por um imenso volume de obras do PAC (Pro­grama de Aceleração do Cres­cimento), a menina dos olhos do governo federal. Segundo o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), entre 2007 e 2012, a Delta teve empenho superior a 4,1 bilhões de reais no governo federal, sendo que 90% dos contratos tinham origem no Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre).

Fernando Cavendish é uma espécie de novo Duda Men­donça. Na época em que o publicitário confessou ter sido pago em dólares pela campanha de Lula através de uma conta no exterior, a investigação não foi adiante também porque a oposição, além de poupar Lula, queria poupar a si mesma. Segundo uma reportagem da revista “Veja”, publicada em 25 de janeiro de 2006, Duda Men­donça recebeu não apenas os recursos confessados do “valerioduto”, mas um total de 15 milhões de dólares em contas não declaradas no exterior — isso desde 1993, portanto, dez anos antes de Lula assumir a presidência da República. In­vestigar a origem desses recursos poderia complicar a vida de todo o mundo político, uma vez que Duda Mendonça fez caríssimas campanhas majoritárias para todos os principais partidos e líderes políticos do país. Agora, com a empreiteira de Fernando Cavendish ocorre o mesmo. Investigar a fundo a presença da Delta no setor pú­blico seria uma devassa ousada demais. Tanto que o próprio Ca­vendish optou por sair de cena e a Delta foi vendida para o Grupo JBS — que tem o BNDES­ entre seus principais acionistas.

Parece que, mais uma vez, os brasileiros estão sendo chamados a socializar, compulsoriamente, os prejuízos públicos decorrentes de vícios privados. Prova disso é que, ao lado de Cachoeira na CPI, sentou-se ninguém menos do que o advogado criminalista Márcio Tho­maz Basto, que foi ministro da Justiça do governo Lula e há muitos anos advoga para o PT, além de aconselhar os petistas, inclusive o próprio Lula. O ex-ministro está cobrando R$ 15 milhões para garantir o silêncio de Cachoeira. Resta saber se seu cliente tem como levantar esse montante de dinheiro legalmente, sem ser fruto da contravenção ou do crime. A quem interessa o silêncio de ouro de Cachoeira? Sem dúvida, àqueles que detêm o poder no país: justamente a elite — que Lula tan­to critica e da qual faz parte. E a presença de seu grande amigo Márcio Thomaz Bastos ao lado de Carlinhos Cachoeira faz o Brasil desconfiar que o silêncio do bicheiro pode ser mais caro justamente para Lula. É o conluio das elites.



José Maria e Silva é sociólogo e jornalista.

Publicado no jornal Opção.

Ato falho


ESCRITO POR OLAVO DE CARVALHO | 31 MAIO 2012
ARTIGOS - GOVERNO DO PT

A coisa mais óbvia do mundo é que o golpe de 1964 no Brasil nunca teria acontecido se o presidente João Goulart não tivesse se acumpliciado a Fidel Castro nos seus planos de revolução continental.


Um precedente histórico sangrento pode ilustrar a deformidade mental que inspira os trabalhos da Começão de Dinheiro Público, a que um lance de humorismo macabro deu o nome de "Comissão da Verdade".

O mundo inteiro sabe do genocídio ruandês ocorrido em  1994, quando, segundo a versão consagrada, a maioria de raça hutu matou a tiros, facadas e machadadas 75% da minoria tutsi – mais de um milhão de pessoas.

No curso do morticínio, os tutsis também cometeram crimes, mas o Tribunal Penal Internacional decidiu não investigá-los, sob o pretexto edificante de que estavam previamente justificados como reações compreensíveis da minoria oprimida à violência da maioria agressora.

Resultado: os hutus e principalmente seus comandantes militares entraram para os anais da crueldade universal como autores únicos e exclusivos de um massacre despropositado, politicamente inútil e moralmente abjeto.

Bernard Lugan, o maior historiador de assuntos africanos que o Ocidente já conheceu, atualmente professor da Universidade de Lyon, trabalhou como consultor do Tribunal e publicou dois livros a respeito da tragédia ruandesa, subscrevendo a narrativa oficial.

Decorridos treze anos da sentença, Lugan teve acesso a uma documentação mais completa e, num exemplo raro de coragem e honradez intelectual, confessou que ele e o Tribunal estavam completamente errados:

1) Quem começou a briga foi o general tutsi Paul Kagame, que mandou explodir com dois mísseis soviéticos o avião em que viajava o presidente ruandês Juvenal Habyarimana e, por meio de um golpe de Estado, se fez presidente de Ruanda com o apoio de uma minoria eleitoral ínfima.

2)  O massacre não foi iniciativa unilateral dos hutus, mas um conflito generalizado em que as duas facções combatentes agiram de maneira igualmente criminosa: no fim das contas, morreram 600 mil tutsis e 500 mil hutus. A denominação mesma de "genocídio" acaba se revelando inadequada para descrever os acontecimentos, mais propriamente definidos, portanto, como genuína guerra civil.

3) Na confusão que se seguiu ao assassinato do presidente Habyarimana, os militares hutus não cederam a nenhuma tentação de golpe de Estado, mas fizeram o possível para manter a ordem constitucional, acabando por perecer como vítimas de um legalismo abstrato que, naquelas condições, se revelou incapaz de controlar a fúria popular.

4)  A minoria tutsi havia governado Ruanda pacificamente durante séculos, amparada num prestígio de casta que a maioria aceitava sem reclamar. Foi a ONU que introduziu à força o critério democrático do "governo da maioria", quebrando de repente a ordem tradicional e desencadeando a crise que culminaria na guerra civil. O resultado final do conflito foi a derrota da democracia impossível e o retorno ao velho sistema africano do governo de casta... com o apoio da própria ONU.

5)  A pressão do movimento anticolonialista internacional, em que a URSS e os EUA se deram as mãos, numa estratégia conjunta para a destruição das potências coloniais europeias, forçou o exército francês a se retirar de Ruanda em dezembro de 1993, deixando o país à mercê de tropas nacionais obviamente incapazes de manter a ordem: quatro meses depois, começava a guerra civil, que jamais teria acontecido se os soldados franceses ainda estivessem ali presentes.

Ao recusar-se a investigar os crimes cometidos pelos tutsis, a ONU não fez senão camuflar, sob a infalível retórica humanitária , a sua própria parcela de responsabilidade – a maior de todas, sem dúvida -- na produção do morticínio.

Se puderem, leiam Rwanda: Contre-Enquête sur le Genocide, Toulouse, Éditions Privat, 2007, onde o grande historiador se revela também um grande homem.

Mutatis mutandis, a coisa mais óbvia do mundo é que o golpe de 1964 no Brasil nunca teria acontecido se o presidente João Goulart não tivesse se acumpliciado a Fidel Castro nos seus planos de revolução continental, chegando a acobertar as guerrilhas que já em 1963 estavam em plena atividade no Nordeste brasileiro, orientadas diretamente desde Cuba e sob a direção local do chefe das Ligas Camponesas, Francisco Julião.

Quando exclui do seu campo de investigações os crimes cometidos pela esquerda terrorista, a “Comissão da Verdade”, que não passa de uma vulgar equipe de propaganda a serviço da esquerda dominante, busca  varrer para baixo do tapete fatos essenciais que, divulgados como merecem, desfariam em pó a lenda de que as guerrilhas nacionais foram uma reação "democrática" ao regime militar instalado no País em abril de 1964 – quase um ano depois de descoberta a guerrilha de Julião.

Ao inaugurar a porcaria, o ex-ministro José Carlos Dias, que tem uma longa folha de serviços prestados à esquerda revolucionária, incorreu num ato falho freudiano quando declarou: "Não seremos os donos da verdade, mas seus perseguidores obstinados." O verbo "perseguir" tem às vezes a acepção de "buscar", porém mais frequentemente significa, segundo o dicionário Caldas Aulete, "atormentar, castigar, punir, fazer violência". A Comissão, portanto, já começou a mostrar serviço. Perseguida e acossada, a verdade histórica não tem ali a menor chance de prevalecer.



Publicado no Diário do Comércio.


A extinção da PM ou da ONU?


ESCRITO POR JULIO SEVERO | 31 MAIO 2012
ARTIGOS - GLOBALISMO

ONU, que permitiu genocídios no Sudão e Ruanda, nunca pediu a extinção do PCC.


Nesta quarta-feira (30) o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), numa medida de interferência extrema, pediu ao Brasil a extinção da Polícia Militar, acusando-a de numerosas execuções extrajudiciais.

A principal motivação da ONU foi o recente caso onde foram presos três policiais da Rota — grupo da Polícia Militar —, que, num confronto com o PCC (Primeiro Comando da Capital), na Penha, zona leste de São Paulo, mataram homens do PCC, cujos integrantes estavam armados com fuzis, submetralhadoras, pistolas e revólveres.

A morte dos membros do PCC provocou a crítica da ONU, cobrando a extinção da PM.

Essa não é a primeira vez que a ONU faz cobranças do Brasil. Em fevereiro deste ano, a ONU recomendou a extinção das leis que impedem governo, empresários médicos e mulheres de terem atendidos seus desejos de aborto legal.

A cobrança da ONU pela extinção da PM ocorre num contexto social onde mais de 50 mil brasileiros são assassinados por ano. Oficialmente, menos de 10 por cento desses crimes são solucionados. Isto é, mais de 90% dos assassinos são premiados com a impunidade.

É um caso grave onde a ONU deveria fazer cobranças diárias, pedindo ações concretas para eliminar as ações criminosas que assassinam milhares de brasileiros por ano. Pelo bem estar do da população do Brasil, a ONU poderia recomendar o armamento da população brasileira e até mesmo a pena capital, como meio de eliminar indivíduos que assassinam gente inocente.

Contudo, a ONU vem trabalhando de forma inversa, exigindo o desarmamento da população civil, numa meta esquerdista de tornar as pessoas totalmente indefesas diante dos assassinos, inclusive abolindo a pena capital para eles.

Quem abolirá a pena capital que tem eliminado mais de 50 mil brasileiros por ano? De modo particular, quem abolirá a pena capital para os bebês em gestação que está sendo promovida pela própria ONU?

A PM e até mesmo a ONU deveriam ser investigadas por excessos. Mas se a PM realmente matou integrantes do PCC, deveríamos deixar a população brasileira, que é vítima inocente desses criminosos violentos, opinar. Quem extermina exterminadores da população pode ser considerado bandido? Quem mata inocentes, seja bandido, PM ou ONU, é que deveria levar o rótulo e castigo de criminoso.

Quando centenas de milhares de crianças, mulheres e homens inocentes estavam sendo massacrados no Sudão durante mais de uma década, a ONU mal bocejava um protesto. Era um caso de genocídio. Mas a ONU não teve a coragem de cobrar a extinção das forças que estavam exterminando os sudaneses.

As vítimas eram em grande parte cristãos, e os assassinos eram forças governamentais muçulmanas. Mas suspeito que, se por um milagre, alguma nação fornecesse armas para os cristãos, de modo que eles pudessem reagir e matar seus matadores, a ONU prontamente gritaria “genocídio” e permitiria uma ação militar de várias nações contra os supostos abusos de “direitos humanos” cometidos pelos cristãos.

Centenas de milhares de cristãos foram mortos, bem debaixo do nariz indiferente da ONU.

Milhões de bebês em gestação estão sendo mortos por leis incentivadas, louvadas e promovidas pela ONU, que não quer o Brasil fora desse negócio macabro. Por isso, o Brasil vem sofrendo pressões da ONU para legalizar o aborto, de modo que governo, empresários médicos e mulheres tenham atendidos seus desejos de exterminar inocentes.

A resistência do povo brasileiro tem sido fabulosa, pois dois gigantes — ONU e governo brasileiro sob o PT — querem o aborto legalizado e o único obstáculo é o povo.

A ONU e o governo brasileiro estão também alinhados em outras questões. O governo petista quer a tal Comissão da “Verdade”, para premiar ainda mais terroristas comunistas que queriam derrubar o governo do Brasil e instalar uma ditadura sanguinária no modelo da União Soviética. Eles foram detidos pelo governo militar e hoje seus aliados reivindicam, a todo o custo, a canonização desses indivíduos que, fortemente armados, assaltavam bancos e matavam.

Em vez de serem forçados a devolver todo o dinheiro que roubaram, são premiados. Em vez de pagarem por seus assassinatos, são prestigiados.

O Dr. Alberto Thieme, que é pastor presbiteriano e era policial militar na época do governo militar, foi uma das milhares de testemunhas que viram as inúmeras atrocidades cometidas pelos comunistas terroristas do Brasil.

E a ONU, que nada fez para deter o genocídio do Sudão, apareceu para dar seu selo de aprovação para tal Comissão da “Verdade”.

E agora quer também extinguir a PM? Se a PM matou inocentes, que seja punida. Se matou assassinos, por que puni-la? O que se precisa no Brasil é diminuir o número de assassinos que incham os números de 50 mil assassinatos por ano, não sustentá-los, protegê-los e defendê-los.

Se a ONU quiser cobrar o Brasil por esses milhares de assassinatos e até mesmo pedir a extinção do governo petista por seu descaso para com a segurança da população, tudo bem. É uma cobrança e pedido perfeitamente justificáveis. Mas cobranças justas não são o forte da ONU.

Se a ONU fez algum bem à humanidade, que tentem reciclá-la. Mas com seu papel no Sudão, em Ruanda, na legalização do aborto e agora na interferência dos assuntos internos do Brasil, sua extinção seriam mais que bem-vinda.




www.juliosevero.com


EXPLICITANDO O TERROR‏


POL/ TERROR - COMPLICANDO A VERDADE

tgdalcin

COMPLICANDO A VERDADE

Alfredo Sirkis escritor e jornalista

Não vejo utilidade numa comissão da Verdade que me conforte em seu maniqueísmo. Ela pode ser útil apenas se conseguir dar à nossa democracia e às futuras gerações elementos de reflexão para entender e evitar qualquer repetição - a História pode ser cíclica - do que aconteceu. Um governo democrático, falido, uma intervenção militar galopante que se transforma em feroz ditadura, uma resistência armada que a seu modo atiça essa ferocidade, mas cujo fracasso a exime do risco considerável de se tornar, também ela, liberticida.

 Não me coloco no mesmo plano dos que suprimiram a liberdade, perseguiram centenas de milhares por motivos políticos durante mais de duas décadas, torturaram sistematicamente e fizeram desaparecer resistentes. Os que transformaram instituições militares em máquinas de repressão, monopolizaram o poder, impuseram a censura, liquidaram as eleições e promoveram um modelo de crescimento injusto e concentrador de renda cujas sequelas persistem. Mas sustento que os nossos erros, suas consequências e tudo o que resultou da nossa ideologia de então, nos países onde chegou ao poder, são discussão legítima na comissão da Verdade.

 Não há muita serventia cívica em ficar repisando o que já se sabe há tanto tempo: que houve torturas e execuções, com desaparecimentos autorizados pela cadeia de comando daquele regime. Não é mistério quem as praticou.

 A Argentina e o Chile decidiram julgar alguns dos seus torturadores e carrascos. Por outro lado, o Chile foi forçado a manter Augusto Pinochet, o ditador-comandante, à frente do Exército em toda a primeira fase de sua democracia. Outros países, como a Espanha pós-franquista e a África do Sul, optaram pelo caminho de não julgá-los. A África do Sul, em que pese a barbárie do apartheid, optou por uma comissão da Verdade didática, catártica, com o arcebispo Desmond Tutu.

 Com todo o respeito a quem sofreu o que eu não sofri - escapei da prisão e da tortura -, não vejo como politicamente positivo para o Brasil de hoje anular a "anistia recíproca" para julgá-los 40 anos mais tarde. Penso que isso, politicamente, oferece holofotes à extrema direita, facilitando o seu proselitismo no meio militar. Pavlovianamente potencializa a sua narrativa, faculta-lhe novos espaços. É um jogo de soma zero.

 Para entender toda essa história é necessário também decifrar o que diabos sucedeu com a nossa democracia da Constituição de 1946. Meu amigo darcy Ribeiro dizia que o governo de João Goulart fora "deposto por suas qualidades, não por seus defeitos". Tenho dúvidas.

 É bom examinar historicamente como um governo democrático se torna de tal forma disfuncional, incompetente e fragilizado diante de uma ambição golpista à espreita desde 1954. Como consegue alienar a classe média, tornando politicamente viável a sua própria deposição. Como, num discurso insensato para suboficiais, sargentos e marinheiros no Automóvel Club do Rio de Janeiro, Jango promove a quebra da hierarquia, mas, depois, nem tenta seriamente resistir à quartelada, apesar de seu dispositivo militar legalista ainda poderoso. Enfim, como as ações desse homem bom acabam engendrando o mal.

 E mais: como uma quartelada de um chefete distante do núcleo conspirador vence pelo telefone. Como um segmento extremista da oficialidade, sedento de poder em causa própria, por sucessivas e subsequentes quarteladas vai estabelecendo a ditadura: supressão das eleições presidenciais previstas para 1965, perseguições em massa, as primeiras torturas e, finalmente, a instituição de um poder ditatorial truculento e corrupto (lembrem-se de Yolanda Costa e Silva). Como a resistência a esse estado de coisas jamais logra unificar-se e mobilizar a maioria da população pelo restabelecimento da democracia perdida - isso só aconteceria duas décadas mais tarde -, mas parte para uma ação armada socialmente isolada.

 Nesse contexto de isolamento social, a luta armada acabou favorecendo os segmentos mais duros do regime, que superestimaram, por vezes comicamente, o nosso poderio. Só para dar um exemplo, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) no Rio de Janeiro, na época de suas ações mais espetaculares - o sequestro dos embaixadores da Alemanha e da Suíça e sua troca por 110 presos políticos -, tinha menos de 20 combatentes... e duas metralhadoras.

 Além dos erros políticos, da visão autoritária e das vítimas de nossas ações, em situação de confronto, podem-se também atribuir crimes à guerrilha urbana? Em alguns casos, sim. Um marinheiro inglês, de 19 anos, estupidamente "justiçado", na Praça Mauá. Um militante que queria deixar uma das organizações executado pelos companheiros por suspeita de poder vir a se tornar um "traidor". Dois exemplos. Não foram tantos assim, mas, a bem da verdade, aconteceram. E as dezenas de pessoas, alheias a todo aquele conflito, que estiveram em algum momento sob a mira de nossas armas quando "expropriamos" os bancos dos quais eram clientes, ou nos seus carros, tomados de empréstimo revolucionário para uma operação?



A verdade terá sua serventia se for para vacinar a sociedade brasileira contra o conjunto de erros cometidos no Brasil desde 1946, e não somente repetir, repisar e reiterar o que todos já sabemos desde os relatórios detalhados do Tortura Nunca Mais. Foi sábia, ao contrário do que pretendem alguns, a escolha do ano da Constituição pós-ditadura getulista como ponto de partida. Não faz sentido apenas apurar a verdade para concluir pela milésima vez que a ditadura militar, de 1964 a 1985, foi malvada. Faz mais sentido tentar entender por que ela durou tanto tempo, mas, sobretudo, por que antes dela havia fracassado a democracia.

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Vitoriosa a Contra-Revolução de 31 de Março de 1964, derrotando mais uma tentativa de tomada do poder pelos comunistas, o País se reorganizou e prosperou sob a batuta de Castelo Branco e seu Ministério, composto de homens honestos, verdadeiros patriotas (nunca um ministério composto de larápios deu certo, nem na Abissínia...). Não houve sangue derramado. Carlos Lacerda explicou o fato muito bem lá na França: Revolução no Brasil é como casamento na França – não corre sangue. Por aí, já vemos que o contra-golpe foi a vontade de um povo em ação, povo cansado de tanta ladroagem (milhares de vezes menor que a de hoje).

Os fanáticos raivosos, intimidados com tão fragorosa e vergonhosa derrota (teve gente fugindo fantasiada de mulher), instigados por seus líderes Che Guevara, Fidel Castro e alguns outros mais, decidiram se vingar, mas escolheram o povo como alvo: uma potente bomba acionada no meio da multidão que nada tinha com o ódio das mentes cancerosas dos comunistas – explodiu no Aeroporto do Recife, o de Guararapes, matando e inutilizando dezenas de brasileiros pacíficos, INOCENTES. Aí, a casa caiu: o sangue rolou. NATURALMENTE, tchê...


Grupo retoma buscas de corpos de guerrilheiros no Araguaia


DIREITOS HUMANOS, GUERRILHA DO ARAGUAIA30.maio.2012 18:00:11







Está prevista para o dia 10 o início de uma nova expedição de busca de restos mortais de integrantes da Guerrilha do Araguaia, organizada pelo PC do B e ocorrida entre 1972 e 1974. O grupo será composto por representantes dos ministérios da Defesa e da Justiça, da Secretaria de Direitos Humanos e da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Também participam familiares dos desaparecidos.
Mais uma vez as atenções ficarão concentradas no cemitério de Xambioá, Tocantins. No ano passado o Grupo de Trabalho Araguaia (GTA) realizou quatro expedições. Esta será a primeira de 2012.

A busca e localização dos restos mortais dos desaparecidos da Guerrilha do Araguaia foram determinadas por sentenças da 1ª Vara Federal e também da Corte Interamericana de Direitos Humanos. A União, segundo as duas sentenças, tem obrigação de informar onde foram sepultados os corpos dos desaparecidos.
Os familiares tentam obter informações sobre os locais de sepultamento desde o início da década de 1980. De um total de 62 militantes desaparecidos, até agora só foram localizados dois: Maria Lúcia Petit e Bergson Gurjão Farias. Eles tiveram seus restos mortais identificados e sepultados.
Acompanhe o blog pelo Twitter – @Roarruda

Problemas na PF podem comprometer operações




O sucesso das Operações Vegas e Monte Carlo – que levaram à prisão do bicheiro Carlinhos Cachoeira e às denúncias que podem resultar na cassação do mandato do senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) – mascara uma realidade, segundo o presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Marcos Leôncio Sousa Ribeiro. “A Polícia Federal está desamparada”, afirma ele, em entrevista ao Congresso em Foco. “E isso pode acabar comprometendo operações futuras”, adverte.

Delegados da PF premiarão combate a crime organizado
Modernização da legislação sobre crime patina no Congresso

Outros destaques de hoje no Congresso em Foco

“Se é deliberado? Não sei”, completa Leôncio. Segundo o presidente da ADPF, há uma série de situações que, nos últimos anos, vêm contribuindo para piorar a estrutura e a qualidade funcional da Polícia Federal. Cortes no orçamento, carência de pessoal, defasagem salarial. E um acanhamento, no seu entender, do empenho do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na defesa da instituição. “O ministro da Justiça precisa ser mais enfático na defesa da Polícia Federal junto ao governo e publicamente”, afirma Marcos Leôncio.

Foi no início do primeiro governo Lula que começaram a ficar famosas as grandes operações da Polícia Federal. No período, houve uma política de investimento no aparelhamento da PF e na qualificação dos policiais. Depois disso, diz o presidente da ADPF, a Polícia Federal passou a viver um momento de estagnação.

“Em 2004 e 2005, houve um processo muito grande de avanço. A PF, com isso, melhorou muito de qualidade. Mas o ritmo de investimento caiu a partir de 2009 e só piora desde então”, afirma Marcos Leôncio.

Falta de pessoal

“As Operações Vegas e Monte Carlo poderiam ter ficado comprometidas por orçamento reduzido e falta de pessoal. Há toda sorte de dificuldades”, critica o presidente da ADPF. Enquanto a Polícia Federal tem 11 mil policiais, segundo Leôncio, a Secretaria da Receita Federal tem 20 mil auditores. “A Funai tem mais DAS que a PF”, completa, citando um outro órgão vinculado ao Ministério da Justiça, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a sigla que indica os cargos de confiança dos escalões superiores da administração pública (Direção de Assessoramento Superior – DAS). “Os policiais civis de vários estados estão ganhando mais que os delegados da PF”, comenta.

Segundo Leôncio, a falta de uma Lei Orgânica da Polícia Federal agrava os problemas. Não há, por exemplo, uma política de incentivo para a ida de policiais para os postos de fronteira, como acontece nas Forças Armadas. “Qual o incentivo que tem um policial federal para atuar numa área de risco?”, questiona. De acordo com o presidente da ADPF, apesar das promessas feitas durante o lançamento do Plano Nacional de Fronteiras, há mais de um ano a PF aguarda a concretização da política para os servidores lotados nas delegacias de fronteira.

Outro fator desmotivador para a Polícia Federal tem sido a sinalização do governo de acabar com uma conquista histórica da categoria: a aposentadoria policial, a qual já tinha sido reconhecida inclusive pelo STF e TCU.

A Polícia Federal reivindica ainda a conquista de uma situação maior de autonomia diante do governo federal, nos moldes do que há na Advocacia Geral da União (AGU), na Defensoria Pública da União e na Receita Federal. “Há argumentos tolos que usam para negar a autonomia. Até o fato de que os policiais usam armas. Na verdade esconde o medo de uma polícia com maior poder de investigação contra os criminosos do colarinho branco”, argumenta.

Numa demonstração da falta de interesse com a PF, Leôncio revela que nas vésperas de ingresso de novos servidores, a corporação segue sem a nomeação do titular da Diretoria de Gestão de Pessoal. Assim como a Academia Nacional de Polícia, responsável pelo curso de formação dos futuros policiais. Depois de cinco meses de expectativa, a Corregedoria-Geral finalmente conheceu o seu novo titular, mas a Diretoria de Administração e Logística Policial ainda aguarda a nomeação do cargo.

Para Marcos Leôncio, diante da repercussão de ações como agora com os casos das Operações Vegas e Monte Carlo, a Polícia Federal mereceria maiores investimentos, e não cortes orçamentários. “Às vésperas de grandes eventos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, nós estamos com a polícia desmotivada e insatisfeita. É preocupante”, conclui ele.

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quarta-feira, 30 de maio de 2012

Reciclagem, conservação, sustentabilidade e realidade


ESCRITO POR ROY CORDATO | 29 MAIO 2012
ARTIGOS - AMBIENTALISMO

As crianças também são doutrinadas a acreditar que reciclar irá reduzir a poluição.  Mas a elas não é dito que o processo de reciclagem é, em si, extremamente poluente.

Quer salvar árvores e diminuir a poluição?  Enfie seus papeis em uma grande sacola plástica e jogue-a fora.


A reciclagem adquiriu um status moral quase que inquestionável, em grande parte porque crianças e adolescentes, doutrinados pela propaganda ambientalista continuamente regurgitada pelas escolas e universidades, chegam às suas casas munidos de informações falaciosas e as utilizam para intimidar seus pais.  Não seria exagero algum dizer que mais de 70% da juventude quer que seus pais reciclem.

Porém, aqui vai meu humilde conselho aos pais: não se envergonhem e não se deixem intimidar! Joguem fora todo e qualquer lixo.  Não há nenhuma virtude em reciclar algo que o mercado não está disposto a lhe pagar.  Se reciclagem fosse realmente uma necessidade premente, tal ato teria um enorme preço de mercado, e as pessoas seriam pagas para incorrer em tal atividade.  O que nossas crianças e adolescentes estão aprendendo nada mais é do que ideologia esquerdista, sem nenhum respaldo em fatos ou na ciência.

Um dos argumentos utilizados em prol da reciclagem é que o mundo está ficando sem aterros sanitários, pois o espaço para eles estaria acabando.  Os meios de comunicação se esmeram em propagandear, principalmente em canais voltados para o público infantil, imagens sombrias de cidades soterradas sob seu próprio lixo.  É exatamente isto o que se passa por educação ambientalista no mundo atual.

Porém, a realidade é que não há e nem nunca houve qualquer escassez de espaço para a construção de aterros. Se houvesse de fato tal escassez, o preço de mercado para tal espaço seria tão astronômico, que as pessoas estariam demolindo suas próprias casas para construir aterros em seus lugares.  Ato contínuo, elas iriam embolsar o lucro e comprariam mansões.  No entanto, a verdade é que se todo o lixo sólido a ser produzido nos próximos mil anos fosse concentrado em um único lugar, ele ocuparia apenas 114 quilômetros quadrados — o equivalente a 0,001% de toda a área dos EUA.

E o que dizer sobre a tão propalada alegação de que a reciclagem, principalmente a de papel, irá "salvar a vida" de várias árvores?  Toda criança tem este mantra na ponta da língua.  O papel, afinal, é feito da madeira das árvores.  Por que não produzir papel novo utilizando papel antigo e, assim, evitar que mais árvores sejam derrubadas?  Simplesmente porque não é assim que funciona a lógica econômica.  A oferta sempre será comandada pela demanda.  Se amanhã repentinamente pararmos de utilizar trigo para fazer pão, haveria menos trigo no mundo daqui a um ano.  A oferta de trigo cairia drasticamente.  Não mais haveria incentivos de mercado para se cultivar trigos, seus preços despencariam e o cultivo de trigo seria uma atividade totalmente deficitária.  Da mesma forma, se todo o mundo parasse de comer frango, a população de frango diminuiria, e não aumentaria, como supõem quase todos os ambientalistas.

A mesma lógica se aplica à relação entre papel e árvores. Se pararmos de utilizar papel, menos árvores seriam plantadas.  Não haveria incentivos de mercado para a conservação de florestas.  Na indústria papeleira, 87% das árvores utilizadas são plantadas para a produção de papel.  Isto significa que, de cada 13 árvores que seriam "salvas" pela reciclagem, 87 jamais seriam plantadas.  É exatamente por causa da demanda por papel que o número de árvores plantadas no mundo aumentou nos últimos 60 anos.  Eis, portanto, uma lição incômoda para os ambientalistas: se o seu objetivo é maximizar o número de árvores, não recicle papel.  Outra lição: se você quer aumentar o número de árvores, defenda o capitalismo e a propriedade privada.  Quando se é dono da sua própria terra, há vários incentivos econômicos para se cuidar muito bem desta sua terra.  Sua preocupação é com a produtividade de longo prazo.  Assim, o proprietário de uma floresta, por exemplo, irá permitir que uma madeireira ceife apenas um número limitado de árvores, pois ele não apenas terá de replantar todas as que foram ceifadas, como também terá de deixar um número suficiente para a colheita do próximo ano.

Outras declarações feitas por defensores da reciclagem são igualmente problemáticas.  Reciclar não poupa recursos.  Pelo contrário, desperdiça recursos valiosos.  Em geral, reciclar é mais caro do que construir aterros, com a única exceção para esta regra sendo o alumínio.  As crianças também são doutrinadas a acreditar que reciclar irá reduzir a poluição.  Mas a elas não é dito que o processo de reciclagem é, em si, extremamente poluente.  A reciclagem de jornais, por exemplo, requer que a tinta velha utilizada nos jornais seja retirada das páginas.  Este é um processo quimicamente intensivo que gera enormes quantidades de lixo tóxico.  Muito mais "ambientalmente saudável" seria simplesmente jogar os jornais fora.

Adicionalmente, um programa de coleta de recicláveis exige o uso de caminhões diferentes dos caminhões utilizados para a coleta de lixo comum. Isto, por sua vez, significa mais caminhões circulando diariamente (ou semanalmente) nas cidades.  E isto, por sua vez, significa mais poluição do ar.  Em Nova York, por exemplo, após instituir a reciclagem compulsória, a prefeitura teve de acrescentar duas coletas adicionais por semana. Já em Los Angeles, a prefeitura teve de duplicar sua frota de caminhões de lixo.

Mas o fato é que os recicladores têm uma agenda muito mais ambiciosa do que aquela com que doutrinam as crianças e os adolescentes.  No livro Waste Management: Towards a Sustainable Society, seus autores, O.P. Kharband and E.A. Stallworthy, chegam a reclamar que as construtoras descartam pregos envergados e que os hospitais utilizam seringas descartáveis.  "O chamado 'padrão de vida'", concluem os autores, "terá de ser reduzido".

Eis aí o real objetivo da elite defensora de programas compulsórios de reciclagem.  E, tragicamente, esta redução no padrão de vida já foi alcançada em várias cidades que construíram monstruosas e caras fábricas de reciclagem, o que levou a desperdícios inacreditáveis, impostos mais altos, e prefeituras financeiramente estropiadas.

A realidade econômica do debate ambientalista
Debates sobre questões ambientais nada mais são do que debates sobre como estamos precificando o futuro.  Em economês, diz-se que estamos atribuindo ao futuro um valor presente muito descontado.  Questões sobre "o mundo que estamos deixando para nossos filhos" e reclamações sobre a suposta miopia das gerações atuais são, em última instância, alegações de que estamos precificando o futuro de maneira incorreta e inapropriada — ou, mais especificamente, que estamos descontando acentuadamente o valor presente do futuro.

Em seu livro The Armchair Economist, Steven Landsburg apresentou um excelente ponto sobre a alegação de que temos de conservar a terra para as gerações futuras.  Ele pergunta como podemos saber com total certeza se nossos filhos e netos irão preferir uma floresta a toda a renda e riqueza que seriam geradas por, digamos, um estacionamento ou um shopping.  E a resposta é que nós simplesmente não sabemos, pois, novamente recorrendo ao economês, é impossível fazer comparações interpessoais de utilidade.  Mas podemos utilizar o princípio da preferência temporal para nortear nossas decisões.

Alguns dizem que não podemos precificar o futuro de maneira tão baixa — ou que, se o fizermos, deveríamos descontar seu valor presente de uma maneira extremamente ínfima.  Tais pessoas argumentam que, ao fazermos nossos cálculos ambientais de hoje, as gerações futuras deveriam ser incluídas nele e consideradas como tendo o mesmo peso da geração atual.  Certo, mas qual a consequência real e lógica de tal postura?  Ora, se realmente fizermos isso para todos os assuntos envolvendo o ambiente, então qualquer questão sobre a proteção do planeta irá se tornar irrelevante por causa de um fato incômodo e perturbador já apontado pelo economista Walter Block: em algum momento futuro, o sol irá desaparecer, e o planeta com o qual estamos tão preocupados hoje irá simplesmente desaparecer.  E isso é um fato para o qual não há alternativas.

Logo, se estamos tão preocupados com a preservação das espécies, e se já sabemos de antemão que, um dia, o planeta Terra irá inevitavelmente desaparecer, então temos de buscar um conjunto de ideias radicalmente distintas e uma abordagem radicalmente diferente da atual maneira de se pensar o ambiente.  Temos de levar em conta que haverá um momento em que o principal problema ambiental a ser enfrentado pela humanidade não será como reduzir a poluição da terra, do ar e do mar, mas sim como sair deste planeta ou como alterar sua posição no sistema solar, duas tarefas que estão muito além das fronteiras da nossa atual capacidade tecnológica, mas que podem ser alcançadas, pelo menos em princípio.

Uma solução para este inevitável problema seria o acúmulo de recursos e capital, algo que requer um nível muito maior de criatividade e engenho humano, e uma divisão do trabalho muito mais acentuada que a atual, de modo que as pessoas possam se concentrar nos problemas e desafios gerados por uma viagem interplanetária.  Isto significa que seriam necessárias mais pessoas habitando o planeta, e elas teriam de ser muito mais ricas do que são hoje, e teriam de enriquecer de maneira bem mais acelerada, pois isso liberaria o recursos necessários para solucionar todos estes problemas.

Embora isto — aumento populacional e enriquecimento acelerado — seja algo que vá exatamente contra as ideias ambientalistas convencionais, trata-se exatamente da consequência lógica de se dizer que as gerações futuras devem ser consideradas como tendo o mesmo valor da nossa geração atual.  A tese de que não devemos dar ao futuro — e às gerações futuras — um valor presente descontado implica que todos os outros problemas atuais devem ser relegados a segundo plano, dando-se prioridade ao urgente problema de como impedir a inevitável extinção humana que irá ocorrer quando o sol morrer.

Conclusão
À primeira vista, o objetivo de se reciclar mais e de se conservar mais pode parecer muito apropriado, até mesmo desejável.  No entanto, os defensores de tais práticas não possuem as informações econômicas necessárias para se tomar as decisões corretas nestas questões, pois não há direitos de propriedade claramente definidos sobre os recursos naturais escassos.  Não há propriedade privada sobre aterros sanitários e não há livre mercado para a reciclagem de lixo.  Adicionalmente, como mostra o exemplo de Block, se realmente nos importamos com as gerações futuras, se dermos a ela exatamente a mesma importância que damos a nós mesmos e, consequentemente, se estamos dispostos a nos sacrificar por ela — pois, afinal, damos a ela o mesmo valor que damos a nós mesmos —, então o inevitável fato de que o sol irá morrer um dia significa que, em vez de estarmos hoje preocupados com a reciclagem de lixo, deveríamos, isto sim, estar preocupados em construir colônias planetárias, exatamente como no seriado Battlestar Galáctica. Quem for contra isso, ou achar que se trata de um exagero, então tal pessoa realmente não está preocupada com as gerações futuras que presumivelmente irão habitar a terra daqui a vários bilhões de anos.

Recicladores e ambientalistas não são cidadãos melhores ou mais bem intencionados.  São apenas mal informados.  Quer salvar árvores e diminuir a poluição?  Enfie seus papeis em uma grande sacola plástica e jogue-a fora.



Colaborou para este artigo Art Carden.

Roy Cordato é vice-presidente para pesquisas e acadêmico residente da John Locke Foundation. É também pesquisador adjunto do Mises Institute.

Tradução: Leandro Roque


Publicado no site do Instituto Ludwig Von Mises Brasil.




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Atenção: Projeto anti-palmada será votado amanhã


ESCRITO POR JULIO SEVERO | 29 MAIO 2012
ARTIGOS - GOVERNO DO PT

O PL 7672/2010, projeto que remove dos pais o direito de disciplinar os filhos, já está com redação final e será votado nesta quarta-feira, 30 de maio, na Comissão de Constituição e Justiça.

O projeto, do Poder Executivo (MSC 409/2010), está sob a relatoria do Dep. Alessandro Molon e visa transformar legalmente castigos físicos aplicados pelos pais em “agressão” e “violência”.

Graças a um acordo infame entre o governo petista e a bancada evangélica, o projeto foi aprovado no final do ano passado. A bancada evangélica alegou na época que não viu nada de errado no projeto.

Se o projeto virar lei, os pais que aplicarem castigos em seus filhos, pelo que foi alegado, serão encaminhados a programas oficiais de “proteção à família” e a cursos de orientação, tratamento psicológico ou psiquiátrico, além de receberem advertência. A criança disciplinada será encaminhada a tratamento especializado, e a família ficará sob “acompanhamento” e monitoração do Conselho Tutelar.

O projeto de lei também determina que profissionais públicos, médicos e professores que lidem diretamente com crianças devem denunciar casos de castigo físico quando souberem. Caso não denunciem as famílias que disciplinam, esses profissionais poderão pagar multa de três a 20 salários mínimos. A denúncia pode ser feita ao Conselho Tutelar ou a outra autoridade competente, como delegado, Ministério Público ou juiz.

O projeto está avançando sem a aprovação do povo. De acordo com uma pesquisa divulgado pelo Jornal Nacional em 2011, entre 9.616 pessoas consultadas, 85% disseram que são contra a chamada Lei da Palmada. Mas quem levou a melhor foi a minoria de 15% que é a favor e está tendo seus desejos atendidos pela Câmara dos Deputados, que por sua vez está atendendo às determinações do governo federal de criminalizar o direito dos pais de aplicarem castigos físicos nos filhos.

Embora evangélicos e católicos de todo o Brasil tivessem feito oposição ao projeto, a bancada evangélica ignorou completamente a opinião da maioria das pessoas, aprovando o projeto do governo em dezembro de 2011.

Quando informado de que mais de 80% das pessoas são contra o projeto, o deputado evangélico Eduardo Cunha declarou, no seu Twitter na época, que as crianças é que deveriam ser consultadas.

O deputado Pastor Marcos Feliciano, representante da bancada evangélica, chamou, em seu Twitter também na época, de xiitas e fanáticos os cristãos que se opuseram ao projeto. Sua postura só mudou depois de muita pressão, inclusive do Pr. Silas Malafaia, que disse:

“Essa lei da palmada é mais uma palhaçada de deputado que não tem o que fazer e não entende nada de educação de filho… Quantos de nós já levamos uma boa chinelada, e nem por isso morremos, pelo contrário aprendemos a respeitar limites. O que estamos vendo é uma geração indisciplinada que não respeita ninguém, e ainda querem piorar as coisas. Isto está me cheirando a ideologia de governo. Querem se intrometer e determinar sobre a educação de nossos filhos. Não aceitamos!”

Depois da pressão, o Dep. Marcos Feliciano disse: “O projeto é desnecessário, iníquo e sem fundamento. A solução agora seria engavetá-lo”.

É perda de tempo citar a Bíblia para o governo de Dilma Rousseff. Mas precisamos lembrar à bancada evangélica e católica que milhões de brasileiros têm a Bíblia como referência. Sobre pais e filhos, a Bíblia ensina:

“Aquele que poupa sua vara [de disciplina] odeia seu filho, mas aquele que o ama o disciplina com diligência e o castiga desde cedo”. (Provérbios 13:24 Bíblia Ampliada)

“Os castigos curam a maldade da gente e melhoram o nosso caráter.” (Provérbios 20:30 NTLH)

“Não evite disciplinar a criança; se você bater nela e castigá-la com a vara [fina], ela não morrerá. Você a surrará com a vara e livrará a alma dela do Sheol (Hades, o lugar dos mortos)”. (Provérbios 23:13-14 Bíblia Ampliada)

“A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe”. (Provérbios 29:15 RA)

Para um estudo maior da Bíblia sobre o uso da vara da disciplina, clique aqui.

Com as palmadas agora sob ameaça de proibição legal , o que será de quem atende à orientação bíblica de corrigir com a vara?

Envie seu protesto ao Congresso Nacional
Telefone ou escreva agora mesmo ao deputado federal do seu estado. Consulte este link para ter o email e telefone dos membros da Comissão de Constituição e Justiça: http://www2.camara.gov.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/ccjc/membros

Telefone imediatamente para a Frente Parlamentar Evangélica:             (61) 3215-5315    

Faça contato com todos os membros da Comissão de Constituição e Justiça que quer aprovar o projeto do governo clicando aqui.




www.juliosevero.com


O triunfo da solidariedade


ESCRITO POR JOSÉ RENATO N. LIMA | 30 MAIO 2012
ARTIGOS - GOVERNO DO PT

Paulina Duarte, fez o favor de lembrar o país que o crack não é epidemia - não criemos pânico - porque “o governo nunca reconheceu o crack como epidemia, isso é bobagem.” Mas é claro que é bobagem. Discordar apontando os fatos é o imperdoável reacionarismo de crer nos próprios olhos.


T. S. Eliot abre seu conhecido poema 'The Hollow Man', onde fala de homens empalhados, amparados uns nos outros sussurrando palavras áridas, com a expressão: “Uma esmola para um velho”. Mesmo separado oitenta e seis anos de nossas moderníssimas políticas sociais, o escritor ofereceu, até o presente momento, sua melhor definição.

A única diferença é que na época de Eliot, os homens ocos eram produzidos principalmente por uma força difusa, atmosférica, que corrompia as almas. São eles agora produzidos pelo Estado. Antes, desligados de um princípio transcendente, limitavam-se a atravessar de olhos retos para o outro reino, o da morte. Hoje, oitenta anos mais vazio, o homem está ávido para preencher-se de alguma substância, e os cocaleiros, os políticos e os intelectuais estão prontos para cumprir o satânico plano, entregando em suas mãos o que suas almas mortas desejam.

No Brasil, os viciados em crack são os homens ocos amparados com o melhor de nossa tecnologia e política; nosso governo, objetivamente, não está ligando a mínima para a situação. Digo objetivamente porque os antropólogos, sociólogos, cientistas políticos e outros bien-pensants precisam, por força de sua profissão, considerar coisa demasiado científica o teatro de palavras das personagens envolvidas.

Entretanto, o homem comum, o cidadão das ruas, está a ver coisas que antes não via, como a fundação espontânea de centenas de novas cracolândias pelo país - só em Niterói o número dobrou -, enquanto ninguém faz a bondade de mostrar como as cargas de drogas, que abastecem estes miseráveis, entram impunemente pelas fronteiras.

O homem comum desconfia do relacionamento amoroso entre nosso governo e o governo do presidente Hugo Chávez, com sua rede de narcotraficantes. O homem comum vê a impostura no fato de uma instituição como o Foro de São Paulo, da qual Lula e Fidel Castro são fundadores, ter comprovadas relações com as Farc, a maior fornecedora de pasta base de coca do sistema solar.

Olavo de Carvalho, Graça Salgueiro e o próprio Mídia Sem Máscara são algumas das fontes - que não enchem os dedos de duas mãos - aplicadas na missão impossível de compensar a desinformação generalizada produzida pela grande mídia. É possível ler os jornais todos os dias e no fim de um ano não estar informado de nada essencial sobre os rumos políticos do continente.

Em entrevista no ano passado, a secretária nacional de política sobre drogas, Paulina Duarte, fez o favor de lembrar o país que o crack não é epidemia - não criemos pânico - porque “o governo nunca reconheceu o crack como epidemia, isso é bobagem.” Mas é claro que é bobagem. Discordar apontando os fatos é o imperdoável reacionarismo de crer nos próprios olhos. Se o governo não reconhece a epidemia, quem será o louco de reconhecer? Juiz de Fora, pacífica cidade universitária, ganhou sua própria cracolândia e isto não tem nada a ver com a epidemia de crack, evidentemente.

No seu discurso de posse, Dilma prometeu um combate severo contra “o avanço do crack que desintegra a juventude e infelicita nossas famílias”. Por hora, sua severidade oferece verbas de pesquisa para as universidades estudarem uma solução para o problema. Exatamente o lugar que abriga uma quantidade considerável de consumidores das mesmas drogas ilícitas – os financiadores do mesmo tráfico que sustenta a existência do crack. Seria embaraçoso imaginar um pesquisador empregando sua bolsa de estudos para viver sua experiência transcendente fumando um baseado. Alguns deles devem estar no meio de passeatas gritando “eu sou maconheiro com muito orgulho, com muito amor”. É a sutileza própria dos cérebros formados com tapioca e ananás.

Como outra medida de austeridade contra a epidemia inexistente do crack, a “presidenta” elegeu Paulina Duarte para um cargo de importância nacional de mentirinha: a Secretaria Nacional de Política sobre Drogas, liderada por uma secretária devotada a desmentir a existência do problema que justificou a criação do seu próprio emprego. Paulina também é contra clínicas de internação e tratamento dos dependentes químicos.

Recentemente foi incluído no cardápio o óxi, responsável pela morte de 30% dos usuários no primeiro ano de uso. A polícia já registrou apreensões da nova droga em 12 estados do país. Ela destrói os neurônios e causa um arco-íris de transtornos psiquiátricos, reduzindo o sujeito a um estado de sociopatia quase sem solução. Mas, veja, não é motivo para descontrole. Paulina pontifica que “não há nenhum relato disso. É mentira, não tem embasamento científico.”

A esquerda não prega caridade, e sim, solidariedade. A caridade é a virtude teologal descrita pelas palavras sublimes do Apóstolo. Uma virtude que não está vinculada às coisas do mundo sublunar. A solidariedade é um termo escorregadio que remonta àquela França cuja solidarité despegou algumas cabeças do corpo. É a responsabilidade mútua, aliança circunstancial a favor de um empreendimento.

Para os solidários, tudo é política; para os caridosos, a política pertence ao reino deste mundo, “cá nesta Babilônia, onde o puro amor não tem valia”. Centenas, milhares, ainda vão morrer vencidos pelas drogas no Brasil. Cá nesta Babilônia, onde os representantes do governo tiveram seu coração de aço forjado na ideologia da solidariedade. Os solidários não se comovem com a morte, mas com discursos. Aqui, o epíteto do poema de Eliot precisa ser revisado: “uma esmola para um homem morto.”


O silêncio de ouro do bicheiro


ESCRITO POR JOSÉ MARIA E SILVA | 30 MAIO 2012
ARTIGOS - GOVERNO DO PT

O gigantismo do poder público no Brasil está na raiz da corrupção que assola o país e esse fato é que deveria ser objeto de reflexão. Todavia, se depender de Lula e do PT, a imprensa e o governo Marconi Perillo é que serão os únicos alvos da CPI do Cachoeira.

O silêncio de Carlinhos Cachoeira – garantido pelos R$ 15 milhões de honorários do amigo de Lula – é uma prova de que no Brasil há um conluio de elites.


Os esgares do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara Municipal de São Paulo e a placidez do advogado Márcio Thomaz Bastos na CPI Mista de Cachoeira são duas provas distintas, mas complementares, de que a história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história da ascensão, queda e renovação das elites.

Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, jamais estiveram em constante oposição, muito menos travaram uma guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada, que teria sempre resultado na transformação revolucionária da sociedade ou na destruição das classes em luta. Ao contrário do mito propagado por Marx e Engels no “Manifesto Comunista” (parafraseado quase literalmente na abertura deste artigo), a luta contra a opressão exige armas que o verdadeiro oprimido nunca tem. Por isso, a “luta de classes” jamais desaguou na revolução proletária e onde o comunismo chegou ao poder foi devido a fatores externos (como as guerras) e à capacidade da elite intelectual em capitalizá-los.

O marxismo é uma mitologia. O socialismo idealizado por Marx nada tem de científico — é justamente o mais utópico entre todos os socialismos já formulados. De fato, crer na boa vontade dos homens para forjar uma sociedade igualitária, como sonhava Saint-Simon, é utopia. Mas apostar na onisciência da história para predizer o futuro da humanidade, como fazia Marx, é insanidade. Prova disso é que a dupla Marx & Engels, mesmo sustentando que a revolução proletária era uma inevitabilidade científica e que o socialismo era a incógnita revelada da equação histórica, no fundo não parece acreditar na própria tese do “Manifesto Comunista”. Já nesse clássico do movimento revolucionário, a dupla aposta claramente no voluntarismo político das vanguardas, como se reconhecesse que a história não está pré-estabelecida em fórmulas e precisa do empurrão da vontade dos homens.

Marx e Engels descrevem a formação das vanguardas revolucionárias à testa das classes em luta, mostrando a simbiose entre uma franja da classe dominante que se decompõe e um recorte da classe dominada em ascensão. Eis o que dizem no “Manifesto Comunista”: “Finalmente, nos períodos em que a luta de classes se aproxima da hora decisiva, o processo de dissolução da classe dominante, de toda a velha sociedade, adquire um caráter tão violento e agudo, que uma pequena fração da classe dominante se desliga desta, ligando-se à classe revolucionária, a classe que traz em si o futuro. Do mesmo modo que outrora uma parte da nobreza passou-se para a burguesia, em nossos dias, uma parte da burguesia passa-se para o proletariado, especialmente a parte dos ideólogos burgueses que chegaram à compreensão teórica do movimento histórico em seu conjunto”. É dessa forma, segundo eles, que “a burguesia fornece aos proletários os elementos de sua própria educação política, isto é, armas contra ela própria”.

Suicídio das elites
Para Marx e Engels, os comunistas “constituem a fração mais resoluta dos partidos operários de cada país, a fração que impulsiona as demais e teoricamente têm sobre o resto do proletariado a vantagem de uma compreensão nítida das condições, da marcha e dos fins gerais do movimento proletário”. Lenin aprofunda essa percepção e, na obra “Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo”, salienta o papel catequizador, guerreiro, mas sobretudo dirigente das vanguardas, que, para fazer a revolução e consolidá-la, deviam amalgamar-se ao proletariado e demais trabalhadores: “A arte do político (e a justa compreensão dos seus deveres no comunista) consiste, precisamente, em saber aquilatar com exatidão as condições e o momento em que a vanguarda do proletariado pode tornar vitoriosamente o Poder; em que pode, por ocasião da tomada do Poder e depois dela conseguir um apoio suficiente de setores bastante amplos da classe operária e das massas trabalhadoras não proletárias; em que pode, uma vez obtido esse apoio, manter, consolidar e ampliar seu domínio, educando, instruindo e atraindo para si massas cada vez maiores de trabalhadores”.

O sociólogo e economista italiano Vilfredo Pareto (1848-1923), em seu “Manual de Economia Política”, publicado em 1909, observa que, da mesma forma que é possível distinguir ricos e pobres numa dada sociedade, também é possível identificar uma elite (“a parte aristocrática”, no sentido etimológico de “melhor”) e a parte vulgar. “Essa elite existe em todas as sociedades e as governa, mesmo quando o regime é, em aparência, aquele da mais ampla democracia”, escreve Pareto. Mas a elite não é estática e alguns de seus membros (a “parte degenerada” da antiga elite) podem juntar-se à parte vulgar, o que resulta na “circulação de elites”, segundo Pareto. “Consta que quase todas as revoluções foram obra, não do vulgo, mas da aristocracia e notadamente da parte desprovida da aristocracia; é o que se vê na história, começando na época de Péricles até a época da primeira revolução francesa; e hoje mesmo vemos que uma parte da burguesia ajuda fortemente o socialismo, cujos chefes, aliás, são burgueses. As elites terminam comumente pelo suicídio” — escreve Pareto, como se descrevesse não apenas o seu tempo, mas também o nosso, em que intelectuais da USP, capitães de indústria e banqueiros se ajoelham aos pés de Lula e do PT.

Como observa Pareto, essa parte da elite que se rebela contra o “status quo” sempre se apresenta como porta-voz da maioria que está fora do poder, aparentando defender bandeiras universais. Entretanto, ressalta o sociólogo italiano, “o homem é guiado por interesses particulares e principalmente pelos sentimentos, ao mesmo tempo em que imagina, e faz crer aos outros, que é guiado por interesses gerais e pela razão”. Pareto não tem meias palavras para descrever uma Europa convulsionada pelos movimentos operários, que iriam desaguar na Revolução Russa, menos de dez anos depois. “O grande erro da época atual é crer que se pode governar os homens pela pura razão, sem fazer uso da força, que é, ao contrário, o fundamento de toda organização social. É até curioso observar que a antipatia da burguesia contemporânea contra a força termina por deixar o campo livre para a violência. Por estarem seguros da impunidade, os malfeitores e os amotinadores fazem quase tudo que desejam. As pessoas mais práticas são levadas a se sindicalizar e a recorrer à ameaça e à violência, única via aberta que os governantes lhes deixam para defender seus interesses” — sustenta o pensador italiano.

Imunidade moral de Lula
Pareto já percebia com muita clareza que o discurso humanitário de sua época — sem dúvida, muito menos totalitário que o de hoje — já era potencialmente perigoso, por trazer os germes de sua própria destruição: “A religião humanitária mui provavelmente desaparecerá quando tiver cumprido sua obra de dissolução social e quando uma nova elite se levantar sobre as ruínas da antiga. A inconsciência ingênua de uma burguesia em decadência faz toda a força dessa religião, que não terá nenhuma utilidade no dia em que os adversários da burguesia se tornarem bastante fortes para não mais esconder seu jogo”. Pareto percebe a impotência da razão para servir de barreira aos movimentos revolucionários: “As teorias econômicas e so­ciais das quais se servem aqueles que participam das lutas sociais não devem ser julgadas pelo seu valor objetivo, mas principalmente por sua eficiência em suscitar emoções. A refutação científica que se possa fazer não serve para nada, por mais exata que seja objetivamente”. Daí a enorme dificuldade para se propagar o pensamento liberal no Brasil, ainda que um Roberto Campos possa ter mais razão do que um Celso Furtado e um Eduardo Giannetti da Fonseca seja mui­to mais instigante do que uma Marilena Chauí.

E não são apenas os iletrados que se mostram refratários à razão — também os letrados se deixam levar pelas emoções e, dessa forma, contribuem com a vanguarda revolucionária, muitas vezes fazendo parte dela. Os recorrentes ataques de Lula à imprensa, por exemplo, só são possíveis porque ele goza de uma espécie de imunidade moral.

Apesar de ter trabalhado apenas seis anos como metalúrgico (pois com 27 anos iniciou sua carreira de sindicalista, passando a integrar a diretoria do sindicato), Lula tornou-se um mito cultivando a fama de operário — como se não houvesse uma grande diferença entre o trabalhador comum e sua elite sindical, que desfruta de uma série de privilégios. A máscara de operário e pau-de-arara protege Lula das elites tradicionais, que não se sentem confortáveis em criticá-lo. Como no Brasil a “circulação das elites” de que fala Pareto nunca ocorreu por mé­rito, o combate a Lula, com algumas exceções, nunca é feito com seriedade e tende a descambar para o folclórico, apelando, por exemplo, para seu suposto analfabetismo, quando — justiça seja feita — sua oratória é melhor e mais criativa do que a média dos políticos. Isso ajuda o próprio Lula, pois reforça sua mitológica condição de eterna vítima das elites e contribuiu para esconder aspectos muito mais deploráveis de sua trajetória política.

Há décadas, Lula deixou de ser o operário heroico em que se disfarça nos palanques. Em 2002, quando se elegeu presidente, seu patrimônio declarado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) era de R$ 422,9 mil. Em 2006, já havia dobrado, passando para R$ 839 mil. Quando entregou a Presidência para Dilma Rousseff, uma re­portagem da “Folha de S. Pau­lo”, publicada em 23 de janeiro de 2011, estimou seu patrimônio R$ 1,036 milhão. Além disso, como ex-presidente, con­ta com oito funcionários à sua disposição, pagos pelos cofres públicos. E, antes de ser diagnosticado com câncer na laringe, Lula estava cobrando cerca de 200 mil reais por palestra, a maioria delas contratadas por grandes empresas, como a LG e a AmBev. Não sendo Lula especialista em nada (tanto que seus dois governos eram administrativamente tocados pelos chefes da Casa Civil), é bem provável que esse tipo de palestra tivesse um apelo sentimental e não técnico – uma espécie de carícia do setor privado na incontornável epiderme do poder público, que parece envolver o país como a placenta envolve o feto.

O gigantismo do poder público no Brasil está na raiz da corrupção que assola o país e esse fato é que deveria ser objeto de reflexão. Todavia, se depender de Lula e do PT, a imprensa e o governo Marconi Perillo é que serão os únicos alvos da CPI do Cachoeira. Mas engana-se quem pensa que esses ataques à liberdade de imprensa decorrem apenas de uma birra pessoal de Lula, motivada pelo escândalo do mensalão, que quase o coloca no banco dos réus. Ainda que seja maior do que o PT e encarne uma face caudilhesca à moda de Vargas e Perón, Lula é também um filho da USP, cria bastarda da cruza ideológica entre o sociólogo Fernando Henrique Cardoso e a filósofa Marilena Chauí. Lula traz no seu DNA político as taras ancestrais da velha esquerda, ainda que ele próprio não pareça ter muita consciência disso. Uma dessas taras — herdada da Revolução Russa de 1917 — é a transformação da imprensa em inimiga, tão logo o Partido chega ao poder e a liberdade de expressão deixa de ser um instrumento contra o governo.

O historiador norte-americano Roberto Gellately, em seu livro “Lênin, Stálin e Hitler: A Era da Catástrofe Social” (Editora Record, 2010), descreve como foi o apoio obtido por comunistas e nazistas dos segmentos letrados da época: “Os regimes soviético e nazista ganharam seguidores entre os idealistas, os jovens e os mais educados. Essas pessoas praticamente idolatravam seus líderes, e até mesmo os frios racionalistas en­tre elas podiam se lembrar de sentir o chão balançar sob seus pés ao se encontrarem na presença desses homens”. Todavia, o apoio que re­cebeu de muitos intelectuais não foi suficiente para que Lênin, uma vez no poder, respeitasse a liberdade de pensamento: “O entendimento de Lênin de verdadeira liberdade foi logo esclarecido. A primeira liberdade civil a ser removida como um membro gangrenado foi a liberdade de expressão. Menos de 48 horas após a revolução, um ‘decreto sobre a imprensa’ foi emitido com a assinatura de Lênin. Isso aconteceu em 27 de outubro de 1917 e já marcou o fim de qualquer esperança de que o novo regime fos­se ser tolerante, quanto mais que estabelecesse a democracia”.

Com certa ironia, Gellately observa que o jornalista norte-americano John Reed, autor de “Dez Dias que Abalaram o Mundo”, registrou, sem fazer crítica, a lógica de Lênin durante um debate no Congresso dos Sovietes: “Nós, bolcheviques, sempre dissemos que, quando chegássemos a uma posição de poder, fecharíamos a imprensa. Tolerar jornais burgueses significaria parar de ser um socialista. Quando se faz uma revolução, não se pode ficar parado, é preciso avançar sempre — ou recuar. Quem agora fala sobre ‘liberdade de imprensa’ retrocede e detém nosso curso impetuoso rumo ao socialismo”. Trotsky (que acabaria assassinado no México a mando de Stálin), mesmo tendo se tornado um ídolo para milhares de intelectuais no Ocidente, tinha a mesma visão sobre a imprensa e, quando da censura imposta por Lênin, declarou seu apoio explícito a ela com essas palavras: “Se vamos nacionalizar os bancos, podemos tolerar os jornais econômicos? O velho regime tem que morrer: é preciso entender isso de uma vez por todas”.

História como farsa
Justamente por serem filhos das ideias, os marxistas são os que mais as temem. Falando sobre o Partido Comunista ao tempo da Revolução Russa, Gellately observa: “As ideias exerciam enorme apelo sobre os fiéis do partido devido às promessas que faziam e às visões de esperança que ofereciam. Que centenas de milhares de pessoas, e por fim milhões, tivessem de ser sacrificadas foi algo discreta e convenientemente ignorado pelos idealistas e utopistas”. Esse padrão revolucionário, que se assenhoreia, ao mesmo tempo, da palavra, da arma e da flor, iria se repetir na trajetória da esquerda pelo mundo afora. Por isso, todas as revoluções socialistas — da Revolução Russa, de 1917, à Revolução Cubana, de 1959, passando pelas revoluções asiáticas e africanas — sempre tiveram como ponto de partida um golpe de estado deflagrado por uma elite intelectual e militarizada, que se apresenta como porta-voz dos oprimidos, mas termina por ser fonte de opressão. No Brasil não é diferente e essa história se repete como farsa: a esquerda chegou ao poder com Lula e revolucionou corrupção, que nunca mais será a mesma.

É o que se constata na CPI do Cachoeira. Até a chegada do PT ao poder, a corrupção estava associada ao rato de esgoto; agora, ela pode ser representada por uma ave de rapina. O rato furta e se esconde, como se tivesse consciência do erro. A ave de rapina assalta e se exibe, como se tivesse orgulho do seu ato. O pragmático e ainda tímido “rouba mas faz” de Maluf foi substituído pelo metafísico e destemido “rouba mas é” do mensalão — ou seja, o sujeito desvia o recurso público, mas por “ser” de esquerda, julga que não está cometendo crime, mas fazendo a revolução. É o caso de Lula. Nas últimas semanas, tão logo se recuperou do tratamento de câncer, o ex-presidente voltou a vociferar contra as elites, como se fosse um Lênin sem armas. Lula ousa negar o próprio escândalo do mensalão — o mais documentado caso de corrupção da história do país — e afirma que a compra de parlamentares com recursos ilegais nunca existiu, não passando de uma invenção da “elite”, mancomunada com a imprensa. Essa elite, insiste Lula, não teria engolido a chegada de um operário ao poder e fez de tudo para derrubá-lo. O que é falso.

Nunca antes na história deste país um po­lítico foi tão ingrato. Lula só não caiu justamente porque a elite o segurou. Em 2005, quan­do o publicitário Du­da Mendonça confessou, numa CPI do Congresso, que havia recebido milhões de dólares numa conta no exterior, a conselho de Marcos Valério, como pagamento pelo seu trabalho na campanha do próprio Lula, bastava que a oposição tivesse insistindo nessa confissão do publicitário baiano, aprofundando as investigações sobre o caso, para que Lula não terminasse seu mandato. Mas a elite que Lula tanto condena — e à qual já pertencia, antes mesmo de se tornar milionário — foi tão respeitosa com o mito que acabou sendo condescendente com o homem. Para não ser acusada de tramar contra o suposto operário que chegou à Presidência da República, ela preferiu esquecer a grave confissão de Duda Mendonça, assim como outros fatos igualmente graves que levaram a Procuradoria Geral da República a classificar o ex-ministro José Dirceu como “chefe de quadrilha” — num inquérito que o Supremo Tribunal Federal promete julgar ainda neste ano.

Vícios privados, prejuízos públicos
É por recear o julgamento do mensalão que o ex-presidente Lula — beneficiando-se da indisposição histórica da esquerda para com a liberdade de expressão — tanto se esforça para transformar a CPI do Cachoeira num processo inquisitorial contra a imprensa. Mas esse trabalho se tornou mais difícil na medida em que ficou claro que um dos associados do bicheiro, o empresário Fernando Cavendish, sócio majoritário da construtora Delta, é amicíssimo do governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB), grande aliado de Lula. Além disso, a Delta de Cavendish era responsável por um imenso volume de obras do PAC (Pro­grama de Aceleração do Cres­cimento), a menina dos olhos do governo federal. Segundo o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), entre 2007 e 2012, a Delta teve empenho superior a 4,1 bilhões de reais no governo federal, sendo que 90% dos contratos tinham origem no Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre).

Fernando Cavendish é uma espécie de novo Duda Men­donça. Na época em que o publicitário confessou ter sido pago em dólares pela campanha de Lula através de uma conta no exterior, a investigação não foi adiante também porque a oposição, além de poupar Lula, queria poupar a si mesma. Segundo uma reportagem da revista “Veja”, publicada em 25 de janeiro de 2006, Duda Men­donça recebeu não apenas os recursos confessados do “valerioduto”, mas um total de 15 milhões de dólares em contas não declaradas no exterior — isso desde 1993, portanto, dez anos antes de Lula assumir a presidência da República. In­vestigar a origem desses recursos poderia complicar a vida de todo o mundo político, uma vez que Duda Mendonça fez caríssimas campanhas majoritárias para todos os principais partidos e líderes políticos do país. Agora, com a empreiteira de Fernando Cavendish ocorre o mesmo. Investigar a fundo a presença da Delta no setor pú­blico seria uma devassa ousada demais. Tanto que o próprio Ca­vendish optou por sair de cena e a Delta foi vendida para o Grupo JBS — que tem o BNDES­ entre seus principais acionistas.

Parece que, mais uma vez, os brasileiros estão sendo chamados a socializar, compulsoriamente, os prejuízos públicos decorrentes de vícios privados. Prova disso é que, ao lado de Cachoeira na CPI, sentou-se ninguém menos do que o advogado criminalista Márcio Tho­maz Basto, que foi ministro da Justiça do governo Lula e há muitos anos advoga para o PT, além de aconselhar os petistas, inclusive o próprio Lula. O ex-ministro está cobrando R$ 15 milhões para garantir o silêncio de Cachoeira. Resta saber se seu cliente tem como levantar esse montante de dinheiro legalmente, sem ser fruto da contravenção ou do crime. A quem interessa o silêncio de ouro de Cachoeira? Sem dúvida, àqueles que detêm o poder no país: justamente a elite — que Lula tan­to critica e da qual faz parte. E a presença de seu grande amigo Márcio Thomaz Bastos ao lado de Carlinhos Cachoeira faz o Brasil desconfiar que o silêncio do bicheiro pode ser mais caro justamente para Lula. É o conluio das elites.



José Maria e Silva é sociólogo e jornalista.

Publicado no jornal Opção.

Stalin, os judeus e Israel: hipocrisia, decepção e vingança



ESCRITO POR HEITOR DE PAOLA | 22 MAIO 2012
ARTIGOS - CULTURA

Um povo que durante milênios foi afastado de sua terra, rapidamente mostrou que mesmo em diáspora continuou sendo uma poderosa nação.

Foi demais para Stalin – e continua sendo para supostos aliados ocidentais.


Com as declaradas intenções nazistas de exterminar os judeus, Stalin, ele mesmo antissemita, aproveitou para mostrar-se como campeão da defesa dos judeus e outras minorias. A fábrica de mentiras comunista criou o mito de que o Pacto Molotov-Ribbentropp era uma saída stalinista para salvar a URSS e o comunismo da “reação capitalista antirrevolucionária representada pelo nazismo”, e não o que realmente era: a continuação lógica da aliança com a Alemanha na conquista e destruição dos países livres da Europa ocidental (1). Hitler seria apenas a ponta de lança da ofensiva e para tal Stalin implicitamente endossou a política de extermínio judaico. Substituiu Máxim Lítvinov, nascido Meir Henoch Mojszewicz Wallach-Finkelstein, um judeu de rica família de banqueiros de Bialystock, da função de Comissário do Povo para Assuntos Exteriores, que exercia desde 1930, por Vyácheslav Mikháilovich Mólotov.

Este não era judeu e não ofenderia aos aliados nazistas que dificilmente aceitariam um como negociador. Mólotov foi um dos signatários da resolução do Politbüro autorizando o massacre de Katyn (atribuindo posteriormente as mortes aos nazistas) e liderou pessoalmente a Comissão Extraordinária para a Expropriação de Grãos na Ucrânia, que se apossou de 4,2 milhões de toneladas, levando os camponeses ucranianos à escassez abrupta e à fome (conhecido como Holodomor, o Holocausto Ucraniano).

Na época do Holodomor a NKVD (antecessora do KGB) possuía 40% de judeus entre seus membros, sendo que mais da metade - 54% - dos generais (2). Os judeus eram a única minoria étnica super-representada na NKVD ao final do Grande Terror. Em 1936 a representação dos judeus no aparato central da NKVD em Moscou era de 64% e na Ucrânia Soviética 67%.

A possível explicação para isto eram os pogroms do período tzarista, principalmente por parte dos kossacos na Ucrânia, e durante a guerra civil o fato de que o exército Branco era ostensivamente judeofóbico enquanto o Vermelho era comandado por um judeu, Leon Trotsky, nascido Lev Davidóvitch Bronstein. Era natural que os judeus vissem o estado soviético como protetor.

A URSS se beneficiou enormemente das violências públicas na Alemanha nazista encorajando a Frente Popular, comandada pelo Partido Comunista (KPD - Kommunist Partei Deutschland) e o Front Populaire francês a mostrá-la como protetora das minorias étnicas europeias.

O Grande Terror foi uma terceira revolução soviética: a de 17 mudou o sistema político, a coletivização forçada pós 1930 mudou o sistema econômico e o Terror de 37-38 significou uma revolução mental, destruindo grande parte das teorias marxistas e leninistas.

Stalin se aproveitou desta grande participação judaica para por a culpa nos judeus. Ao final do Grande Terror, em 1938, apenas 20% da NKVD eram da minoria judaica e um ano depois não mais de 4%. Todos foram mortos a começar pelos líderes Izrail Leplevskii, Lev Raikhman e Boris Berman.

Stalin começava a mostrar suas garras antissemitas que o levariam a novos expurgos. Mas a hipocrisia ainda não chegara ao seu fim...
Stalin e as repercussões de Yom HaAtzmaut (3)

“Él término anti-semitismo fué acuñado por el pensador alemán Wilhelm Marr para amparar uma ideologia que propugna la inferioridad y malignidad de los judíos.”
Sergio Vich Sáez, Las semillas del ódio – Europa desata el terror, Revista Historia y Vida, nº 520.

O final da guerra e o conhecimento do horror do Holocausto judeu (Shoah) fez renascer esperanças, mas a volta dos sobreviventes aos seus antigos lares não foi fácil. A judeofobia continuava dominante em muitos países, como na URSS e na Polônia. Seus bens tinham agora novos donos que resistiram a lhes devolver, provocando longos e penosos processos judiciais geralmente mal resolvidos para os judeus. Para muitos a opção sionista esboçada de forma ambígua por Lord Balfour, por insistência de Theodor Herzl, parecia a mais viável. A Declaração Balfour não falava da criação de uma pátria judia, mas sim de um lugar onde poderiam regular sua convivência com as comunidades não-judias da área.

A ambigüidade levou a que as próprias autoridades britânicas, signatárias do Tratado se Sèvres, impedissem o desembarque de navios de refugiados que eram internados em campos provisórios no Chipre, numa forma mais benigna, mas não menos humilhantes que os campos de concentração.

Em mais uma medida obscura, a resolução da ONU ordenou a partição da região de um estado judeu e outro árabe, reforçando o anti-semitismo muçulmano. Os árabes trataram logo de mandar contingentes de egípcios, jordanianos, libaneses e outros para ocupar a terra, criando do nada um mitológico povo “palestino” que juraram defender contra a “entidade sionista”. Até hoje este é o nome oficioso de Israel para os muçulmanos, e grande parte culpa vem da ambiguidade e obscuridade das declarações e resoluções mencionadas acima.

Stalin percebeu a chance de se opor ao imperialismo britânico na região criando um estado comunista. Certamente a maioria dos primeiros colonos judeus era socialista e se dedicaram a incrementar um sistema que já existia há décadas nas áreas rurais, uma economia baseada exclusivamente no cooperativismo e na divisão igualitária do trabalho e dos bens: os kibutzim.

Estes primeiros colonizadores acreditavam ter uma grande gratidão com a liberdade com que exerceram suas atividades na URSS, inclusive com o apoio dado por Stalin ao Comitê Judeu Anti-Fascista e o grande número de judeus aceitos em altos cargos soviéticos, inclusive na NKVD, como vimos. O segundo homem do regime, considerado por anos como o virtual sucessor de Stalin, Lázar Káganovitch, conhecido com “o lobo do Kremlin” ou “Lázar de ferro”, era judeu. Participara, junto com Mólotov na Conferência do Partido para Toda a Ucrânia em 1930, na qual se determinaram as tarefas de implementação da política de coletivização forçada (1932-33) que causou o Holodomor. Supervisionou pessoalmente o confisco de grãos. Políticas similares foram infligidas às Repúblicas Centrais Soviéticas, como o Cazaquistão, Kuban, Criméia e baixo Volga.

A participação de judeus até no Comitê Central (5 de 210 membros) e a ajuda inicial da URSS na fundação do Estado de Israel, o treinamento de soldados na Polônia comunista, o envio de armas tchecas para a lutar contra os invasores árabes e o fornecimento de víveres enganou os primeiros colonizadores de ter na URSS e nos seus satélites da Cortina de Ferro amigos fiéis e duráveis. Não se deram conta de que Stalin apenas perseguia uma estratégia de dominação do Oriente Médio, pois inicialmente os países árabes recém-descolonizados foram dirigidos por governos títeres do Ocidente.

Naqueles tempos iniciais mais judeus viviam na URSS do que em Israel. Os russos, judeus ou não, parecem ter adorado a carismática embaixadora Golda Meir, nascida em Kiev. O Rosh Hashanah foi naquele ano uma das festas mais concorridas de Moscou nos últimos vinte anos. Polina Zhiemchuzhina, mulher de Mólotov encorajou Golda a voltar a frequentar a sinagoga e as tradições religiosas e, falando em iídiche sugeriu a unidade nacional judia sem fronteiras. Ekatierina Gorbman, mulher de Klímient Voróshilov exclamou: “Agora nós também temos nossa própria Terra Natal”.

A pergunta que Stalin se fez era se devia continuar apoiando Israel contra o Ocidente, ou se o estabelecimento de uma pátria para ser considerada sua colocava em risco a lealdade dos judeus soviéticos para com a URSS, e deveria ser não apoiada, mas temida. No final de 1948 decidiu que os judeus estavam influenciando mais o estado Soviético do que este conseguia influenciar o estado judeu.

Em 1948 e início de 49 começaram as medidas antissemitas na URSS: acabara-se o efeito da hipocrisia stalinista, veio a decepção e, como não poderia deixar de ser numa personalidade cruel e totalitária, que não aceitava decepções mesmo de seus mais próximos colaboradores (por isso os grandes expurgos na cúpula civil e militar dos anos 30), surgiu a vingança.
Decepção e vingança: a repressão interna e o antissionismo

“A lo largo de los siglos, aquellas antiguas tribus hebreas iban a resisitirse a todo intento foráneo de asimilación. Su obstinación les granjeó muchos enemigos”.
Sergio Vich Sáez, Las semillas del ódio – Europa desata el terror, Revista Historia y Vida, nº 520

Não obstante tenha havido – e ainda haja - coincidência ideológica de muitos judeus com o comunismo, mais uma vez as “tribos hebréias” não se deixaram assimilar pelo stalinismo. E agora tinham uma terra para orgulhosamente chamar de sua! Às identidades étnicas, culturais e religiosas, somava-se agora a identidade pátria. Não só identidades, mas principalmente solidariedades e sentimento de irmandade. Um povo que durante milênios foi afastado de sua terra, rapidamente mostrou que mesmo em diáspora continuou sendo uma poderosa nação.

Foi demais para Stalin – e continua sendo para supostos aliados ocidentais.

Na verdade, a repressão stalinista começou antes da fundação de Israel. Já em janeiro de 48, Solomon Mikhoels, chairman do Comitê Judeu Antifascista e Diretor do Teatro Yiddish de Moscou, foi brutalmente assassinado em Minsk por ordem direta de Stalin (4) a Lavrienty Tsárvana, chefe da polícia bielorrussa. Mikhoels estava lá para julgar uma peça para o Prêmio Stalin de Teatro. Como ele escrevia uma história dos partisans judeus que lutaram contra a Wermacht e o Livro Negro do Judaísmo Soviético, ambos sumiram. Os judeus foram sem dúvida os que mais sofreram em Minsk durante a guerra, mas a liberação pelos comunistas não terminou com seus sofrimentos e isto não poderia ser mostrado.

Retroativamente Viktor Abákumov, chefe do então MVD, concluiu em março que Mikhoels era um perigoso nacionalista judeu a serviço dos Estados Unidos.

O Holocausto não podia fazer parte da história oficial soviética, pois esta teria que admitir sua cumplicidade: implícita, pela aliança com a Alemanha até 41 e dissolvida por Hitler, não por nenhuma ação soviética explícita, já que muitos russos se apresentaram à polícia como voluntários para tomar conta dos guetos e guarnecer os campos de Treblinka, Sobibór e Bełżec. Tal colaboração, maciça em alguns lugares, minava a crença no mito de uma população soviética unida na defesa da honra da Rodina (5) na resistência ao odiado invasor fascista. Portanto, o extermínio em massa dos judeus tinha que ser esquecido.

Uma distorção mais profunda da história, especialidade marxista, já estava em andamento: a mudança da própria data do início da guerra. Esta não poderia ser admitida como tendo começado em 1939 com a invasão e participação conjunta germano-soviética na divisão e destruição da Polônia derivada do Pacto Mólotov-Ribbentropp (6), mas sim pela invasão alemã em 1941. Tomou forma a história oficial soviética: a Grande Guerra Patriótica é confundida como sendo uma versão russa do nome do conflito em substituição ao consagrado II Guerra Mundial, quando não é: é a total distorção da verdade histórica para livrar a URSS e Stalin do fato de terem sido co-partipantes, e até mesmo a verdadeira raíz da guerra contra a Polônia e o Ocidente. Assim, os territórios absorvidos através da agressão soviética passaram a “ser” partes da Rússia desde sempre, e o morticínio soviético no leste polonês, igual ou mais brutal ainda que o germânico a Oeste, foi disfarçado de baixas soviéticas causadas pelos alemães. No número “oficial” de baixas soviéticas estão incluídos poloneses, ucranianos, lituanos, bielorrussos e de outras regiões, que foram na verdade, assassinados pelos russos durante o Grande Terror, na coletivização forçada ou em atos de guerra. Assim se faz a história segundo os cânones da distorcida dialética marxista (7).

Uma das mais absurdas distorções foi a aplicação ao levante do gueto de Varsóvia em 1943, uma luta desesperada dos judeus que acabou numa das maiores tragédias da guerra, onde inúmeros judeus demonstraram um heroísmo ímpar ao enfrentar a morte inevitável.

Pode-se notar neste feito comunista um exemplo do que recentemente fazia furor no Brasil e na França, o desconstrucionismo e a “construção” de uma mentira em seu lugar: o levante foi descrito pelo judeu polonês comunista Hersh Smólar segundo a fórmula “dialética” de Andréi Zhdánov segundo a qual existiam dentro do gueto dois grupos: o progressista e o reacionário. Este último era constituído pelos sionistas de esquerda ou direita e o Bund, União Judaica Trabalhista, o primeiro pelos comunistas. Segundo a fábula de Smólar só os comunistas lutaram contra as tropas nazistas: “Toda a resistência contra o fascismo era, por definição, comandada por comunistas, caso contrário não seria resistência” (8).
A oficialização do antissemitismo

A jornal do Partido, Pravda (A Verdade) sempre foi o veículo que anunciava a “nova linha” decidida pelo Politbüro. A população soviética aos poucos se acostumou a modular suas opiniões pelas mudanças ideológicas expressadas em suas páginas, não apenas nos editoriais como também no próprio tom das notícias, inclusive, no que viria a ser consagrado como Ministério da Verdade, por Orwell, às súbitas mudanças no teor das mesmas, dando início ao que hoje chamamos de politicamente correto.

Em 28 de janeiro de 1949, um ano após a morte de Mikhoels, o Pravda publicou um artigo sobre “críticos teatrais não patriotas”, defensores do “cosmopolitismo apátrida” iniciando uma campanha de denúncia de judeus em todas as áreas profissionais. Em março o Pravda dispensou todos os colaboradores judeus, assim como o Exército Vermelho e o próprio Partido Comunista. O Comitê Judaico Anti-Fascista foi dissolvido em novembro por ter se tornado uma “agência a serviço do imperialismo americano”.

Mais uma vez a “dialética” marxista conseguia acusar os judeus simultaneamente de nacionalistas e cosmopolitas. Abákumov desencadeou uma verdadeira caça aos judeus nas mais altas posições no Estado e no Partido. Stalin, por razões políticas, não permitiu que Káganovitch, o único judeu ainda no Politbüro, fosse preso, mas a mulher de Mólotov, Polina Zhemchuzhima, foi presa, seu marido vergonhosamente se divorciou e ela foi exilada para o Kazaquistão. De nada adiantou: Mólotov foi expurgado do Partido pouco depois.

Stalin havia justificado o Grande Terror para remover qualquer ameaça em potencial contra a URSS antes de dar início à guerra em 1939. Depois desta, Stalin estava convencido de que uma terceira grande guerra contra o Ocidente seria inevitável e precisava se livrar dos judeus soviéticos, supostamente espiões americanos. Em 1951, Stalin, já fisicamente doente, inventou que havia uma conspiração de médicos judeus para matar os líderes soviéticos e declarou que “todo judeu é um nacionalista e agente da inteligência americana”. Em 30 de janeiro o Pravda anunciou oficialmente o complô.

Na Polônia comunista o antissemitismo se estabeleceu com a mesma incongruência “dialética”: os judeus foram divididos em duas classes, os “sionistas” eram a favor do Estado de Israel e os “cosmopolitas” tendiam a favorecer os Estados Unidos, mas ambos os grupos eram aliados do imperialismo e, portanto, inimigos do Estado. A liderança comunista polonesa identificava Israel com a Alemanha Nazista e o sionismo com o nacional-socialismo. Israel representava o campo reacionário: judeus milionários ligados aos monopólios americanos.

É impressionante como esta interpretação, simplória e idiota, ainda é a dominante na esquerda, inclusive judia, sessenta anos depois!


Notas:

1 - A aliança soviética com as forças armadas alemãs começou em 1922, corroborando a oferta de Erich von Ludendorff, chefe do Estado-Maior na Frente Oriental, de transportar Lenin da Suíça para Petrogrado e declarar a paz em separado (Tratado de Brest-Litovski) eliminando a frente oriental da I Guerra Mundial. Ver: The Red Army and the Wehrmacht: How the Soviets Militarized Germany, 1922-33, and Paved the Way for Fascism, the Secret Archives of the Former Soviet Union, de Yuri Dyakov & Tatyana Bushuyeva, Prometheus Books, 1995.

2 - Todas as informações desde que não sejam referidas a outras fontes, são do livro Bloodlands: Europe Between Hitler and Stalin, de Timothy Snyder, Basic Books, 2010.

3 - Yom HaAtzmaut (do hebraico יום העצמאות) é o Dia da Independência de Israel, e cujo feriado ocorre no dia 5 de Iyar, que correspondeu a 14 de Maio de 1948, dia no qual David Ben-Gurion declarou o fim do Mandato Britânico da Palestina e a fundação do Estado de Israel.
4 - Segundo testemunho de sua filha Sviétlana Allíuieva, Stalin pessoalmente sugeriu que o assassinato fosse disfarçado de “acidente de carro”.

5 - (РОДИНА), a palavra russa para a Mãe-Pátria, não confundir com a atual partido político ultra-nacionalista com o mesmo nome.
6 - Até a estratégia tinha sido previamente combinada: em primeiro lugar nazistas e comunistas deviam eliminar todos os intelectuais poloneses, tarefa não muito fácil, pois a Polônia era dos países com mais intelectuais de primeira grandeza do que os russos e alemães somados.

7 - Certamente a mesma que está orientando a Comissão “da Verdade” aqui no Brasil.

8 - Esta mesma fórmula já tinha sido empregada na Guerra Civil espanhola, negando ter havido resistência a Franco por parte de inúmeros liberais, como Miguel de Unamuno, e outras forças de esquerda, anarquistas, trotskystas, independentes e outros. O próprio Federico Garcia Lorca, republicano com vagas idéias humanitárias confusamente socialistas, foi transformado em comunista post mortem. As demais forças de esquerda foram dizimadas pelo comunistas por ordem expressa de Stalin e endossadas até a morte por canalhas do tipo Pablo Picasso. Depois da guerra a fórmula foi tentada na França: só os comunistas lutaram de verdade na Resistánce, os demais movimentos nada fizeram. Assim os comunistas são sempre os únicos heróis e as únicas vítimas.