Monitoramento no Brasil
Jornal estampa na manchete o que no texto deixa claro tratar-se de uma suposição, numa aparente tentativa de influenciar opinião pública e governo brasileiros
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O Opinião e Notícia sempre defendeu o direito à privacidade e condenou programas sigilosos de espionagem que miram cidadãos comuns. Este site tem um posicionamento liberal e repudia o monitoramento ilegal de indivíduos por parte de governos leviatãs. Recentemente consideramos a notícia da retenção do presidente boliviano Evo Morales em Viena por suspeita de que ele transportava Snowden em seu avião rumo à Bolívia como um desrespeito à soberania do país vizinho, passível de ser interpretada como uma declaração de guerra. Por outro lado, parecem tendenciosas as informações trazidas pelo jornal O Globo deste domingo. As percebemos como uma tentativa de fazer lobby para indignar brasileiros já em polvorosa, desviar o foco dos problemas domésticos bradados nas ruas e influenciar o governo Dilma a aceitar o pedido de asilo do denunciador americano Edward Snowden, cuja cabeça é valiosa para os EUA.
Parece que o repórter do jornal britânico Guardian, Glenn Greenwald, (competente, mas envolvido demais na trama para exercer a imparcialidade), um jornalista que foi um dos primeiros a receber e a publicar as informações vazadas por Snowden, que mora no Rio de Janeiro e que colaborou com a matéria do Globo, influenciou o tom da matéria, uma vez que é de seu interesse indignar a população e principalmente o governo brasileiro a não somente acatar o pedido de asilo de Snowden como proteger o jornalista na improvável hipótese de o governo americano decidir ir atrás dele também, como faz, indiretamente, com seu colega de profissão Julian Assange, fundador do Wikileaks.
O que diz a matéria:
1. A manchete fala em “milhões de emails e ligações de brasileiros” monitorados pelos EUA, mas no texto descobrimos que: “Não há como determinar o número de rastreamentos ocorridos no Brasil, embora seja razoável supor que tenha ultrapassado – e muito – a casa do milhão” (página 37). Neste caso, a suposição virou afirmação na manchete, e não veio da boca de algum especialista que se arriscou na estimativa, mas do próprio Globo.
2. Endeusamento de Edward Snowden: o homem “caçado” na maior perseguição da história da inteligência americana é consagrado como o autor de um dos maiores vazamentos da história dos EUA e responsável pela confirmação “do fim da era da privacidade”. O texto traz ainda uma informação sem importância, para humanizá-lo: diz que o dia em que o chefe de inteligência dos EUA, James Clapper, se retratou após negar repetidamente a existência do programa de espionagem dos EUA foi justamente na data do aniversário de 30 anos de Snowden: “…o mea culpa foi um presente de aniversário para o ‘alvo’ da maior caçada humana empreendida pela NSA no momento: naquele dia, Snowden completou 30 anos”. E daí?
3. Por fim, O Globo faz uma infeliz comparação entre a vigilância americana e as práticas do regime militar no Brasil: ao falar sobre o fim da era da privacidade como uma certeza da atualidade reafirmada pelos vazamentos de Edward Snowden, diz que essa perda da privacidade ocorre em qualquer tempo e em qualquer lugar, mas “Principalmente em países como o Brasil, onde o ‘grampo’ já foi até política de Estado, na ditadura militar”.
Pontos interessantes da matéria:
1. Revela que a NSA tem acesso a comunicações de brasileiros (assim como outras nacionalidades) no exterior através de parcerias com grandes empresas de telecomunicações nos países-alvo: “Como resultado das suas relações com empresas não-americanas, essa operadora dos EUA [que colabora com a NSA, mas que até agora não teve seu nome exposto], tem acesso às redes de comunicações locais, incluindo as brasileiras. Ou seja, através de uma aliança corporativa, a NSA acaba tendo acesso aos sistemas de comunicação fora das fronteiras americanas” (página 36). Seria interessante descobrir quais as operadoras brasileiras (Claro? Vivo? TIM?) que estão cooperando com os espiões americanos, talvez até involuntariamente.
2. Revela que a NSA vigia “pessoas, empresas e instituições estrangeiras” há três décadas. “Mas espionagem nesse nível, e em escala global, era apenas uma suspeita até o mês passado”.
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