26 de setembro de 2013, em Noticiário Nacional, Opinião, Relações Internacionais, por Alexandre Galante
*Mohammad Ali
A primeira sanção contra o Irã na época contemporânea foi o embargo dos britânicos em resposta à eleição de Mohammad Mossadegh, que realizou a nacionalização da indústria do petróleo. O Reino Unido, desde então, promoveu uma série de operações de intimidações e ameaças, bem como a colocação dos seus navios de guerra nas proximidades das costas iranianas.
O passo seguinte foi o bloqueio das reservas do país na Inglaterra. Ao mesmo tempo, foram desencadeados, em território iraniano, atos prejudiciais à economia e contrários ao movimento de nacionalização do petróleo. No exterior, intensificou-se a publicidade que visava comprometer a imagem do país na comunidade internacional.
Os ingleses, para se mostrarem injustiçados no processo de nacionalização, recorreram às instâncias internacionais (como o Tribunal Internacional de Justiça) e à ONU. Em 1951, foi apresentado ao Conselho de Segurança, com o apoio de americanos e franceses, proposta de resolução cujo motivo era a ameaça à paz e à segurança mundial.
Naturalmente surgem questionamentos, Será que a nacionalização da indústria de petróleo do Irã representava risco contra a paz e a segurança do mundo? Ou é um ato contra interesses dos países poderosos? Arriscar os interesses coloniais de um país é assunto a ser tratado no Conselho de Segurança? Em 1952, o Tribunal de Haia sentenciou a favor do Irã no processo de nacionalização da indústria de petróleo.
A decisão foi golpe fatal às políticas do governo britânico. Temendo o alastramento do modelo para outros países petroleiros, Londres impôs outras medidas, como criar problemas inflacionários para provocar a insatisfação popular e debilitar o país economicamente. Mais: a Inglaterra advertiu os compradores de petróleo bruto a não negociarem com o Irã.
Mossadegh, primeiro-ministro na época, adotou a política de venda preferencial do óleo para neutralizar a conspiração britânica. Mesmo com o preço mais baixo, a medida dobrou o rendimento. Paralelamente, Mossadegh implementou política bem-sucedida de austeridade para amenizar o boicote britânico.
O Reino Unido e os Estados Unidos se aliaram contra o governo do Irã. Washington, com a desculpa de combate ao comunismo, planejou a derrubada de Mossadegh e o seu partido, o Povo, bem como o retorno de Xá Pavlavi. O golpe de 19 de agosto de 1953 e o colapso de Mossadegh, primeiro-ministro do Irã, foi a primeira experiência da CIA para derrubar um governo.
O golpe não podia se camuflar pela carta da ONU ou por outras desculpas diplomáticas. Eles não conseguiram calar o clamor do povo pela independência da indústria petrolífera. O país se tornou pioneiro de um movimento no mundo em desenvolvimento que defendia a soberania sobre as próprias riquezas.
A aplicação de novas sanções dos países ocidentais no momento atual lembra os episódios da década de 50, com o tema diferente, mas com o mesmo objetivo. Mais uma vez a padronização do modelo iraniano se tornou preocupação para os países ocidentais.
São inquestionáveis as conquistas iranianas no campo de tecnologias nucleares para fins pacíficos. O país se dispõe a mostrar total transparência, enfatizando, por um lado, o direito de possuir o saber e, por outro, de não o utilizar para fins militares.
E agora? A recente eleição presidencial na República Islâmica do Irã e a posição moderada de Hassan Rohani representam oportunidade para o Ocidente mudar de atitude e substituir o confronto pelo engajamento construtivo. Haverá a guinada? Espero que sim.
*Embaixador do Irã no Brasil
FONTE: Correio Braziliense
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