Por Pedro Luiz Rodrigues
O general Lino Oviedo, morto há dias em queda de helicóptero no Paraguai, foi uma pessoa controvertida. Conheci-o, por razões profissionais, nos dias seguintes à queda do ditador, e também general, Alfredo Stroessner, ocorrida nos dias de Carnaval de 1989.
Aquele golpe, que pôs fim a 34 anos de governo Stroessner foi arquitetado no mais completo segredo. Para iniciá-lo, seus cabeças esperaram a véspera de um feriado longo, como é o Carnaval, quando todos desaparecem de Assunção. A cidade estava vazia, mas a dispensa habitual não fora concedida aos militares do I Exército, sediado nos arredores da capital.
Na manhã daquele dia, em conversa de cabeleireiro, a mulher de um oficial muito cheio de medalhas comentou a existência do estado de prontidão a uma outra senhora, esposa de um veterano diplomata brasileiro aposentado. Por esse canal, nas horas seguintes, a Embaixada ficou em estado de alerta. Nas como as repartições estavam fechadas não havia o que se apurar.
Na verdade. ninguém achava que fosse possível acontecer qualquer coisa na esfera militar que não fosse controlável pelo governo, pois o comando mais forte do Exército – baseado nas cercanias da capital - estava nas mãos de um homem da mais absoluta confiança de Stroessner, o General Andrés Rodríguez.
No meio da noite, começou o tiroteio. Na busca de informação, sintoniza-se uma estação de rádio, onde se tem o próprio Oviedo falando, dando instruções, passando ordens.
Na verdade, quem não fosse paraguaio, não tinha como entender o que se passava. A informação estava ali, disponível aos nossos ouvidos, mas o grande protagonista, Lino Oviedo, falava metade em espanhol e metade em guarani.
Contato foi feito com o Presidente José Sarney e o Embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, que estavam em Caracas em visita oficial, sequiosos por informações. Mas dados mais claros só pudemos passar um quadro mais claro no dia seguinte: o General Rodríguez havia traído Stroessner, que era mais do que um amigo, pois a filha de um era casada com o filho do outro.
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Acho que em muita gente errando ao escrever que Oviedo esteve refugiado no Brasil durante algum tempo. Se não me falha a memória a história é outra: ele foi detido com uma arma no Paraná, onde estava esperando as coisas esfriarem para seu lado, e se ficou no Brasil tanto tempo foi por conta da lentidão do processo. Depois, o governo paraguaio fez um pedido para sua extradição. A alturas tantas do processo, o Ministro Marco Aurélio Mello, que então presidia o STF, autorizou Oviedo a aguardar em casa o final do julgamento. Foi então transferido do local da reclusão – o 3º Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal – para a casa de parentes, no Lago Sul (bairro aqui de Brasília).
Muita gente aqui na capital o conheceu. De vez em quando ia praticar seu esporte preferido, a equitação, a Sociedade Hípica de Brasília onde, ironia da vida, iam também com frequência a filha e os netos de Stroessner. Gostava muito também de ir comer, com os amigos que ia fazendo facilmente, um sanduíche na Padaria Delícia.
Como o guarani torna difícil aos brasileiros compreender o que se passa no país vizinho, e como a política lá costuma ser ainda mais complicada do que o guarani, ficamos aguardando a intervenção de algum notável historiador para desvendar a verdadeira história de Oviedo. As perguntas são inúmeras: traiu o Presidente Wasmosy, ou foi por ele traído? Quis promover um novo golpe de Estado em 1996? Mandou eliminar o líder do Partido Colorado, José Maria Argaña, ou foi tudo uma armação? Pensou também em derrubar o presidente interinoGonzález Macchi, em 2000? E de pergunta em pergunta, se vai chegar à última. A queda do helicóptero, em momento que a candidatura de Oviedo começava a despontar, foi acidente ou atentado?
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