domingo, 24 de fevereiro de 2013

Livro desconstroi personagens da história da América Latina, como Che Guevara e Simón Bolívar



Leandro Narloch e Duda Teixeira, autores do 'Guia Politicamente Incorreto da América Latina' Divulgação
Leandro Narloch e Duda Teixeira, autores do 'Guia Politicamente Incorreto da América Latina' Divulgação
RIO - O jornalista Leandro Narloch conseguiu um feito e tanto: emplacou dois livros na lista dos mais vendidos do país, segundo a lista publicada pelo Prosa & Verso, de O GLOBO. O primeiro, "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil", apresentava aspectos obscuros de personagens famosos da nossa história. E mandava na lata tijolaços como "Zumbi dos Palmares tinha escravos" e "Santos Dumont não inventou o avião". Depois do estrondoso sucesso e das polêmicas acumuladas, o jornalista chamou o colega Duda Teixeira e virou sua metralhadora giratória para as grandes personagens latinoamericanas: Simon Bolívar, Che Guevara, Perón, Allende.
Na continuação da sua saga em destruir tudo o que se sabe sobre essas figuras, o "Guia Politicamente Incorreto da América Latina" tenta aniquilar reputações: chama Che Guevara de sanguinário, diz que a experiência socialista no Chile foi uma ameaça às instituições e que o inspirador de Hugo Chávez só queria controlar as ações de negros e pardos. Revolucionários? Nem tanto, pelo menos para a dupla. Abertamente anti-esquerdas e anti-marxistas, Duda e Leandro soltam o verbo em entrevista à Livro-Pipoca. Então, ame-os ou odeie-os.
Depois de escrever o primeiro "Guia" sobre o Brasil, você partiu para a história da América Latina. Já era uma vontade sua? Quais os critérios para escolher os personagens do livro?
LEANDRO NARLOCH: A ideia era fazer o Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo. Mas de repente, conversando com o Duda, percebi que um guia da América Latina era mais necessário. Como aconteceu com o passado brasileiro, o da América Latina foi retratado por uma historiografia combatente; está encoberto por uma enorme doutrinação ideológica. Era urgente mostrar um outro lado. Escolhemos os assuntos mais desagradáveis e inconvenientes aos considerados heróis do bom-mocismo. Como no primeiro livro, o objetivo foi mostrar virtudes dos vilões e erros dos considerados mocinhos.
A América Latina possui personagens que já foram retratados muitas vezes, seja em livros, biografias, filmes e até musicais. O que vocês viram que podiam trazer de novo sobre eles?
LEANDRO: Apesar de terem sido retratados várias vezes, os personagens da América Latina aparecem sempre do mesmo jeito. Na maior locadora de São Paulo, por exemplo, há 8 DVDs sobre Che Guevara, todos elogiosos e melancólicos. Além disso, descobrimos histórias excelentes que vão contra aqueles estereótipos. Muitos índios protagonizaram ações e tiveram algum poder - e essas ações poucas vezes foram contra a ordem vigente. Revolucionários como Che e Allende, desestabilizando a economia e as instituições democráticas, aumentaram a miséria do continente. E em geral os países que mais se aproximaram dos Estados Unidos mais se deram bem.
DUDA TEIXEIRA: Também vale notar que muitos desses heróis são admirados sem que as pessoas realmente conheçam suas histórias. Em qualquer biografia do Simón Bolívar se pode ver que ele era um centralizador que queria mais poder para o governo para reprimir revoltas populares de negros e mestiços. Ele temia o que chamava de "pardocracia", o governo dos pardos. Ninguém sabe disso. Qualquer chileno esclarecido com mais de cinquenta anos vivendo no Brasil vai te contar histórias assombrosas sobre o governo do Allende. Mas não são novidades, apenas estavam escondidas.
Qual foi a principal descoberta que vocês fizeram durante a produção do livro? Vocês já imaginavam o que encontrariam?
DUDA: As investidas antidemocráticas de Allende foram uma grande surpresa. Ele perseguiu a imprensa, montou uma guarda pessoal treinada por terroristas cubanos, atropelou ordens da justiça e consentiu com invasões de fazendas. A lista de barbaridades que ele cometeu como presidente foi enorme, e isso sem contar no que tentou fazer quando foi ministro da saúde, quando promoveu uma lei de esterilização em massa, semelhante a uma lei nazista. Mas fizemos outras descobertas saborosas também sobre Che e outros personagens. Eu jamais imaginaria Che pedindo que os operários trabalhassem nas férias sem ganhar nada por isso e que pedisse cortes de salário aos mais preguiçosos. Quando o Leandro veio com essa história, fiquei alucinado.
Vocês vão atrair polêmicas com o livro. Vocês consideram o "Guia" da América Latina mais explosivo do que o anterior? Como veem as críticas?
LEANDRO: Sim, este livro está mais consistente e polêmico. Damos alguns golpes narcísicos que deixam as pessoas furiosas e desesperadas. Elas atiram para todos os lados, nos acusam de leviandade, de só querer ganhar dinheiro, mas não contestam os fatos que demonstramos no livro. É uma pena, porque sentimos falta de análises descompromissadas e imparciais.
Já houve quem reclamasse de dois jornalistas fazerem o "papel" de historiadores?
LEANDRO: Sim, muita gente reclama. Mas acredito que quem faz esse comentário não sabe qual o papel de um historiador. Historiadores são cientistas. Analisam documentos, registros, censos históricos e a partir dali tiram conclusões a despeito de suas convicções ideológicas. Nosso trabalho está bem longe disso. Como mostra o título do livro, não é uma obra imparcial, é politicamente incorreta. Além disso não é preciso ser médico ou historiador para escrever sobre medicina ou história: basta ter a orientação e a revisão dos especialista. E a gente teve esse cuidado. O livro tem revisão técnica do historiador Marco Antonio Villa.
A que vocês atribuem o sucesso do livro?
LEANDRO: Depois ao fato de muitos leitores estarem esperando uma história menos esquemática e marxista. Como nós dois, muitos leitores desconfiavam da história em que os ricos sempre são do mal e os pobres só fazem boas ações.
DUDA: O Guia da América Latina seguiu o mesmo formato do primeiro, que já era um sucesso. E nisso o Leandro realmente adquiriu um know how que só ele tem. Ele pegou no meu pé várias vezes, pedindo para suavizar algumas coisas, brincar um pouco e, principalmente, contextualizar os fatos. Essa leveza, misturada com seriedade, deixa o livro algo gostoso de ler. Muita gente vem dizer que leu o capítulo em "uma sentada", ou que devorou o livro em um final de semana. É uma receita agradável que deu certo.
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